v. 30 n. 330 (2025)
A Divisão Global e o Espetáculo Infinito
Segundo várias estimativas, o 1% mais rico do mundo controla mais de metade da riqueza e dos recursos do planeta, e esta desigualdade tem-se aprofundado nas últimas décadas. Ao mesmo tempo, na maioria dos países, os salários reais têm vindo a diminuir gradualmente, e a confluência de múltiplas crises (geopolítica, inflacionista e climática) explica, em parte, uma alteração das relações de poder no mercado de trabalho que favorece os grandes grupos económicos.
Coincidentemente, há uma crescente cobertura desportiva na televisão: mais jogos, mais competições, mais eventos, refletindo um fenómeno social complexo com muitas facetas. Por um lado, os eventos desportivos têm o potencial de serem utilizados, e são-no frequentemente, como uma distração em massa, transmitindo um produto de entretenimento profundamente entrelaçado com interesses comerciais e políticos (grandes corporações, patrocínios, soft power dos governos para melhorar a imagem global e donos de equipas multimilionárias). Ao mesmo tempo, são uma fonte genuína de alegria, identidade e coesão para milhões de pessoas.
Testemunhamos também como, em muitas ocasiões, os acontecimentos de massas se tornaram plataformas para protestos sociais, defesa dos direitos humanos e sensibilização para causas justas. Estas expressões devem ser amplificadas na defesa dos direitos universais: investimento em direitos básicos (educação de qualidade, saúde universal), infraestruturas com serviços essenciais (água, saneamento, habitação e conectividade) e políticas laborais e salariais que garantam trabalho digno e o usufruto dos tempos livres. É necessário abordar estas prioridades e exigir ações por parte das autoridades públicas, dedicando a mesma intensidade com que torcemos e apoiamos a nossa equipa e os nossos atletas.
Túlio Guterman, Diretor – Novembro de 2025




