v. 29 n. 318 (2024)
Chepngetich e um novo marco rumo à igualdade de género no desporto
Numa altura em que estamos prestes a testemunhar que um ser humano consegue correr a maratona em menos de duas horas, uma mulher, Ruth Chepnegtich, acaba de bater 2 horas e 10 minutos. Para muitos, uma marca impossível de imaginar, mas ao mesmo tempo um marco que antecipa que se esta tendência se mantiver, dentro de alguns anos algumas mulheres irão igualar ou mesmo ultrapassar o recorde masculino nesta disciplina.
Se considerarmos que só em 1984 é que a maratona feminina foi incluída pela primeira vez nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, enquanto a masculina participou desde o início em 1896, há uma diferença de experiência competitiva na prova de quase 90 anos. Pegando neste parâmetro, a evolução das atletas tem sido surpreendente. É evidente que a diferença é cada vez menor, considerando que o recorde da atleta queniana seria marca absoluta em 168 países se a prova fosse realizada sem segregação de género.
Se o acesso a recursos, formação especializada e oportunidades de competição não forem poupados às mulheres, os seus registos continuarão a melhorar à medida que mais atletas se dedicam a competir ao mais alto nível. Certamente a disputa centímetro a centímetro ocorrerá mais cedo do que a matemática complexa pode prever. Desta forma, estamos às portas de um novo cenário competitivo que nos obriga a repensar pressupostos e preconceitos profundamente enraizados no desporto, que prejudicam claramente as mulheres, já superados noutras áreas da cultura.
Tulio Guterman, Diretor – novembro de 2024