O corpo como sujeito de conhecimento em Educação Física: uma perspectiva kantiana e fenomenológica

Resumo

Este artigo examina o papel do corpo como sujeito do conhecimento no campo da educação física, articulando a epistemologia transcendental de Immanuel Kant com a fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty. Recorrendo a uma abordagem teórica e reflexiva, analisa-se como estas correntes filosóficas fornecem fundamentos para repensar a educação corporal para além dos modelos mecanicistas tradicionais. O principal objetivo é argumentar que educar o corpo passa por ativar a sua dimensão sensível e subjetiva, superando abordagens meramente técnicas ou quantificáveis. O método empregue é uma análise comparativa de conceitos-chave, como as formas a priori (espaço e tempo) e as categorias de compreensão de Kant, juntamente com a noção de percepção corporizada de Merleau-Ponty e o reconhecimento do corpo como sujeito perceptivo. Examina-se também a diferença entre a estrutura formal do conhecimento de Kant e a dimensão existencial e situada proposta pela fenomenologia de Merleau-Ponty, aplicando ambas as abordagens ao campo da educação física. Exemplos situados em contextos motores, como a antecipação perceptiva durante um jogo desportivo, são apresentados para ilustrar como o espaço, o tempo e a percepção incorporada moldam o conhecimento corporal. Os resultados teóricos realçam que tanto as categorias a priori kantianas como a experiência perceptiva merleau-pontiana nos permitem compreender o movimento humano como uma forma de conhecimento ativo e situado. Conclui-se que a Educação Física deve ser entendida como uma prática que não só treina competências, mas também desenvolve a capacidade do sujeito para compreender, interpretar e transformar o seu meio através da incorporação.