ISSN 1514-3465
Prevalência de sintomas depressivos entre idosas
fisicamente ativas e insuficientemente ativas
Prevalence of Depressive Symptoms among Physically
Active and Insufficiently Active Elderly Women
Prevalencia de síntomas depresivos en mujeres mayores
físicamente activas e insuficientemente activas
Moisés Augusto de Oliveira Borges
*m.oliveiraborges@hotmail.com
Gabriela Simões Silva
**gabssimoes9@gmail.com
Maria de Lourdes Augusta de Oliveira
***mlou.ped@gmail.com
Rafael dos Santos Pereira
****rsp544@gmail.com
Leonardo da Silva Santos
+leonardo.santos@ufrrj.br
José Camilo Camões
++camilocamoes@gmail.com
Wanderson Fernandes de Souza
+++wanderson.souza@gmail.com
*Graduado em Educação Física
pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Especialista em Atividade Física e Fisiologia do Exercício,
ênfase em Psicofisiologia e Recuperação Pós-Exercício
MBA em Gestão de Projetos. Mestre em Psicologia da Saúde,
do Programa de Pós-graduação em Psicologia
na UFRRJ (PPGPSI - UFRRJ), ênfase em Psicologia do Esporte
Gestor de Projetos Esportivos e de Saúde
Membro pesquisador e orientador
no Laboratório de Avaliação e Saúde (LAVs)
Membro pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisa
em Gestão do Esporte (GEPGE)
**Licenciatura em Educação Física pela UFRRJ
Mestra em Educação pelo Programa de Pós-Graduação
em Educação, Contextos Contemporâneos
e Demandas Populares (PPGEduc/UFRRJ)
Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Pedagogia
da Educação Física e do Esporte (GPPEFE/DEFD/UFRRJ)
***Especialista em Psicomotricidade
Especialista em Neuropsicopedagogia
Especialista em Psicopedagogia Institucional
Graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia pela UFRRJ)
Professora de Ensino Fundamental da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
****Licenciada em Educação Física pela UFRRJ
Especialização em Ciências da Performance Humana pela UFRRJ
Bacharelado em Educação Física pela Universidade do Grande Rio
+Licenciatura Plena em Educação Física pela UFRRJ
Especialista em Educação Física Escolar
Atualmente Mestrando do Programa de Pós-Graduação
em Psicologia na UFRRJ (PPGPSI - UFRRJ),
ênfase em Psicologia do Esporte
Membro do grupo de pesquisa Processos psicossociológicos:
memória, representações e identidade social (LAPPSO)
++Professor adjunto IV da UFRRJ
Graduado em Educação Física pela Universidade Castelo Branco
Mestrado em Bases Biomédicas da Educação Física
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
Pós-graduado em Ciências do treinamento Desportivo pela UGF
+++Professor Adjunto da UFRRJ
e do Programa de Mestrado e Doutorado
em Psicologia da UFRRJ (PPGPSI)
Graduado em Psicologia pela UFRRJ
Mestre em Ciências pelo Departamento de Epidemiologia
e Métodos Quantitativos em Saúde (Epidemiologia)
da ENSP (Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz)
Doutor em Saúde Pública pela ENSP/Fiocruz
(Brasil)
Recepção: 09/03/2023 - Aceitação: 24/04/2023
1ª Revisão: 17/04/2023 - 2ª Revisão: 20/04/2023
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
Este trabalho está sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt |
Citação sugerida
: Borges, MAO, Silva, GS, Oliveira, MLA, Pereira, RS, Santos, LS, Camões, JC, e Souza, WF (2023). Prevalência de sintomas depressivos entre idosas fisicamente ativas e insuficientemente ativas. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(300), 92-104. https://doi.org/10.46642/efd.v28i300.3900
Resumo
Esse estudo objetivou comparar a prevalência de sintomas depressivos entre idosas fisicamente ativas e insuficientemente ativas, de diferentes faixas etárias. Para isso, adotou-se uma pesquisa transversal, descritiva e com abordagem quantitativa. Para a coleta de dados, recorreu-se a Escala de Depressão Geriátrica (EDG). Participaram da pesquisa 78 idosas residentes em domicílio, as quais foram divididas em grupos de acordo com a faixa etária (entre 60 e 69 anos; ou entre 70 e 79 anos) e a prática de exercício físico regular (fisicamente ativas ou insuficientemente ativas). Os resultados indicaram que 3 idosas (7,9%) fisicamente ativas e 10 idosas (25%) insuficientemente ativas apresentaram sintomas depressivos leves. Não foram detectados casos de sintomas depressivos graves. A análise do teste Qui-quadrado identificou existência de diferença estatística significativa entre os percentuais de depressão leve no comparativo entre os grupos (p=0,04), sendo os menores escores de sintomas depressivos referentes a idosas que praticam exercício físico. Desta forma, indicando que há influência positiva do exercício físico regular na prevenção da depressão geriátrica. Para novas investigações, os autores sugerem pesquisas de delineamento longitudinal e com controle de outras variáveis, como a intensidade e frequência das práticas esportivas.
Unitermos:
Envelhecimento. Transtorno mental. Exercícios físicos. Qualidade de vida. Depressão geriátrica.
Abstract
This study aimed to compare the prevalence of depressive symptoms among physically active and insufficiently active elderly women, of different age groups. For this, a cross-sectional, descriptive research with a quantitative approach was adopted. For data collection, the Geriatric Depression Scale (EDG) was used. Seventy-eight elderly women living at home participated in the research, which were divided into groups according to the age group (between 60 and 69 years old; or between 70 and 79 years old) and the practice of regular physical activity (physically active or insufficiently active). The results indicated that 3 elderly women (7.9%) physically active and 10 elderly women (25%) insufficiently active had mild depressive symptoms. No cases of severe depressive symptoms were detected. The analysis of the Chi-square test identified the existence of a statistically significant difference between the percentages of mild depression in the comparison between the groups (p=0.04), with the lowest scores of depressive symptoms referring to elderly women who practice physical exercise. Thus, indicating that there is a positive influence of regular physical activity in the prevention of geriatric depression. For further investigations, the authors suggest research with a longitudinal design and with control of other variables, such as the intensity and frequency of sports practices.
Keywords:
Aging. Mental disorder. Physical exercises. Quality of life. Geriatric depression.
Resumen
Este estudio tuvo como objetivo comparar la prevalencia de síntomas depresivos entre mujeres mayores físicamente activas e insuficientemente activas de diferentes grupos de edad. Para ello, se adoptó una investigación transversal, descriptiva con enfoque cuantitativo. Para la recolección de datos se utilizó la Escala de Depresión Geriátrica (GDS). Participaron del estudio un total de 78 mujeres mayores residentes domiciliarias, las cuales fueron divididas en grupos de acuerdo al tramo de edad (entre 60 y 69 años; o entre 70 y 79 años) y la práctica de ejercicio físico regular (físicamente activa o insuficientemente activo). Los resultados indicaron que 3 ancianas (7,9%) físicamente activas y 10 ancianas (25%) insuficientemente activas presentaban síntomas depresivos leves. No se detectaron casos de sintomatología depresiva severa. El análisis de la prueba de Chi-cuadrado identificó la existencia de diferencia estadísticamente significativa entre los porcentajes de depresión leve en la comparación entre los grupos (p=0,04), con las menores puntuaciones de síntomas depresivos refiriéndose a las ancianas que practican ejercicio físico. Así, indica que existe una influencia positiva del ejercicio físico regular en la prevención de la depresión geriátrica. Para nuevas investigaciones, los autores sugieren estudios con diseño longitudinal y con control por otras variables, como la intensidad y frecuencia de las prácticas deportivas.
Palabras clave
: Envejecimiento. Trastorno mental. Ejercicios físicos. Calidad de vida. Depresión geriátrica.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 300, May. (2023)
Introdução
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), em 1982, durante a Primeira Assembleia Mundial das Nações Unidas sobre o Envelhecimento da População, definiu-se que, em países desenvolvidos, deve ser considerada como pessoa idosa os indivíduos a partir de 65 anos de idade e, em países em desenvolvimento, indivíduos a partir de 60 anos (ONU, 1982). Nesse sentido, no Brasil, o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741, de 1 de outubro de 2003), destina-se a assegurar os direitos de pessoas com idade a partir de 60 anos. (Brasil, 2003)
O envelhecimento é marcado pelos efeitos e/ou consequências da passagem do tempo, sendo um processo da vida em que ocorrem mudanças de forma individual e variável no organismo (Meireles et al., 2007). Para além de fenômenos biológicos e naturais, o processo de envelhecimento também é influenciado pela cultura (Ferreira et al., 2010), adoção de hábitos saudáveis, características do meio ambiente, situação nutricional e estilo de vida, sendo único para cada pessoa. (Ávila, Guerra, e Meneses, 2007)
Segundo Ferrari, e Dalacorte (2007), a depressão é o problema de saúde mental mais comum na terceira idade, tendo impacto negativo em todos os aspectos da vida, tornando-se de grande relevância na saúde pública. Encontra-se associada há elevado grau de sofrimento psíquico e que compromete intensamente a qualidade de vida na terceira idade (Teixeira et al., 2016). Devido a isso, ocorre a diminuição de resposta emocional (erosão afetiva), acarretando o predomínio de sintomas como a: diminuição do sono, perda de prazer nas atividades habituais, ruminações sobre o passado e perda de energia. (Gazalle et al., 2004)
A Organização Pan-Americana de Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS, 2016, on-line) definem a depressão como “[...] um transtorno mental caracterizado por tristeza persistente e pela perda de interesse em atividades que normalmente são prazerosas, acompanhadas da incapacidade de realizar atividades diárias, durante pelo menos duas semanas”. De forma consoante, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, os transtornos depressivos são caracterizados comumente pela “[...]” presença de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo.” (p. 155). Em suma, envolve alterações na cognição, no afeto e em funções neurovegetativas. (American Psychiatric Association, 2014)
Esse transtorno mental tem como característica uma alteração bioquímica no cérebro, causada por déficit no metabolismo de serotonina, considerada o principal neurotransmissor responsável pelo equilíbrio do humor e da sensação de bem-estar do indivíduo (Soares, Coelho, e Carvalho, 2012). No que diz respeito a categorização, um episódio depressivo pode ser leve, moderado ou grave, considerando a intensidade dos sintomas (OPAS, [s.d.]). O quadro depressivo gera um conjunto de sintomas caracterizados por: alteração de humor, relacionado ao sentimento de tristeza e/ou culpa; comportamental, como o isolamento; alteração de padrões cognitivos e autoimagem, sendo comum menor concentração e baixa autoestima; queixas físicas frequentes, podendo envolver sono constante e sensação de cansaço constante; e o alto risco de suicídio (Furegato, Santos, e Silva, 2008)
A OPAS ([s.d.]) afirma que a depressão é fruto da interação de diferentes fatores, sendo eles: biológicos, sociais e psicológicos. Portanto, considera-se a existência de uma relação entre a depressão e a saúde física, sendo a prática de exercício regular, mesmo que uma caminhada curta, considerada uma estratégia no enfrentamento dos sintomas depressivos (OPAS/OMS, 2016). Deste modo, acredita-se que o exercício físico regular possa proporcionar um auxílio no tratamento da depressão, exigindo um comprometimento ativo do indivíduo, melhorando a confiança em si, bem como em melhoras nas adaptações metabólicas e psicológicas (Souza, Serra, e Suzuki, 2012; Zuntini et al., 2018). Este papel protetor do exercício físico tem sido descrito mesmo em indivíduos saudáveis. (Dias et al., 2014)
O exercício possui efeitos agudos e crônicos, dentre eles: melhora no condicionamento físico, diminuição da perda de massa óssea e muscular, redução da incapacidade funcional e atua na prevenção e tratamento de algumas doenças, principalmente de doenças crônicas não transmissíveis (Melo et al., 2019). Ainda, promove melhorias neurais, de bem-estar e humor (Moraes et al., 2007). Durante a prática de exercícios físicos ocorre a liberação de endorfina e dopamina proporcionando um efeito tranquilizante e analgésico que, frequentemente, o idoso se beneficiará dos efeitos relaxantes pós exercício mantendo-se em um estado de equilíbrio psicossocial mais estável. (Cheik et al., 2003)
Como supramencionado, a depressão provoca danos à saúde, afetando milhões de pessoas, incluindo a população idosa. Deste modo, a prática regular de exercícios poderá produzir efeitos benéficos, no entanto, seus resultados devem ser monitorados, como no caso da proposta de investigação desse estudo com praticantes de exercício físico do município do Rio de Janeiro. Pelo exposto, esse estudo objetivou comparar a prevalência de sintomas depressivos entre idosas fisicamente ativas e insuficientemente ativas, de diferentes faixas etárias.
Métodos
Adotou-se uma pesquisa transversal, descritiva e com abordagem quantitativa (Thomas, Nelson, e Silverman, 2012). O método mais comum na pesquisa descritiva é o survey, realizado pela aplicação de questionário. Utilizou-se um questionário como forma de coletar dados no campo do exercício físico e da saúde mental, a fim de obter resultados comparativos.
Participantes
A amostra foi selecionada de forma intencional. Participaram deste estudo 78 idosas residentes em domicílio, do município de Nova Iguaçu/RJ, com idade mínima de 60 anos, máxima de 79 anos e média de 69,2±5,72 anos. A amostra foi dividida em quatro grupos, a saber: Grupo A (n=19), compreendendo a faixa etária entre 60-69 anos e que pratica exercício físico regular (64,11±2,92 anos); Grupo B (n=19), abrangendo a faixa etária de 70-79 anos e que pratica exercício físico regular (73,84±2,61 anos); Grupo C (n=20), compreendendo a faixa etária entre 60-69 anos e que não pratica exercício físico regularmente (64,25±2,85 anos); e Grupo D (n=20), abrangendo a faixa etária de 70-79 anos e que não pratica exercício físico regularmente (74,45±2,95 anos).
Neste estudo, foram consideradas como praticantes de exercício físico regular as idosas que praticavam exercício físico há, pelo menos, seis meses, com frequência mínima de duas vezes por semana e 50 minutos por sessão, podendo ser realizada em espaços abertos, academias, condomínios ou clubes. Para todos os grupos, foram excluídas as idosas que estivessem com limitações físicas que impossibilitassem o exercício físico e/ou fizessem uso de medicamentos antidepressivos.
Aspectos éticos
Essa pesquisa está de acordo com as normas do Conselho Nacional de Saúde (CNS), previstas na Resolução nº 466/12 para pesquisas com seres humanos, tendo todos os participantes preenchido o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), assim como lhes foi garantido que todas as informações concedidas permaneceriam em anonimato. De igual forma, os acordos da Declaração de Helsinque em sua revisão de outubro de 2000 foram respeitados. Cabe destacar que esse estudo se iniciou somente após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (COMEP-UFRRJ), aprovado com o parecer de nº 1318/19. A coleta de dados ocorreu nos meses de dezembro de 2019 e janeiro de 2020, antes dos decretos de lockdown e das medidas sanitárias em resposta a pandemia da COVID-19 serem implementadas.
Procedimentos de coleta de dados
Para a coleta de dados, recorreu-se a Escala de Depressão Geriátrica (EDG), utilizada e validada como instrumento de rastreio diagnóstico para depressão em pessoas idosas (Gonçalves, e Andrade, 2010). Trata-se de um questionário composto por 15 perguntas com respostas objetivas (“sim” ou “não”) a respeito de como a pessoa idosa tem se sentido durante a última semana, a exemplo: D. 1) “Você está basicamente satisfeito com sua vida?”, tendo como opção de resposta “(0) Sim” ou “(1) Não”. A avaliação é feita de forma que seja 0=Quando a resposta for diferente do exemplo entre parênteses ou 1=quando a resposta for igual ao exemplo entre os parênteses. O resultado total indica caso provável de Depressão quando a pontuação for >5 e como Depressão Grave quando a pontuação for >11.
Análise estatística
Os dados são apresentados por valores percentuais do nível de depressão por grupo e pela média e desvio padrão dos escores por resposta. O teste de normalidade de Shapiro-Wilk determinou que os dados são paramétricos sendo aplicado o teste t para amostras independentes (p≤0,05). Além disso, foi utilizado o teste Qui-quadrado para verificar a existência de diferença estatística significativa entre a diferença percentual de depressão entre os grupos.
Resultados e discussão
Do total de participantes deste estudo, apenas três idosas (15,8%) do Grupo A (60-69 anos), seis (30%) do Grupo C e quatro (20%) do Grupo D apresentaram depressão leve (Tabela 1). Assim, do total de idosas praticantes de exercício físico, apenas 7,9% (n= 3) apresentam sintomas depressivos leves, enquanto as idosas insuficientemente ativas somam 25% (n= 10). Em nenhum dos grupos foram detectados casos de depressão grave.
Tabela 1. Porcentagem dos resultados da EDG por divisão de faixa etária
Resultados da EDG |
Grupo A |
Grupo B |
Grupo C |
Grupo D |
|
84,2% |
100% |
70% |
80% |
|
15,8% |
0% |
30% |
20% |
|
0% |
0% |
0% |
0% |
Fonte: Dados da pesquisa
Ao realizar um comparativo entre os grupos A e C, quanto ao número de idosas com depressão leve, uma diferença percentual de 14,2% é percebida. Já no comparativo entre os grupos B e D, a diferença percentual é de 20%. Ainda, a análise do teste Qui-quadrado atestou a existência de diferença estatística significativa entre os percentuais de depressão leve no comparativo entre os grupos (p= 0,04), comprovando a influência positiva da prática de exercício físico regular na prevenção da depressão geriátrica.
Nesse sentido, estudos têm apontado para maior prevalência de depressão em idosos com menor nível de exercício físico (Hernandez, e Voser, 2019; Borges et al., 2020). A exemplo, o estudo de Rossetto et al. (2012), realizado em uma instituição de longa permanência, no qual não havia um programa de exercícios físicos para os idosos, os autores constataram que 75% dos participantes apresentaram sintomas de depressão.
Outro estudo similar, realizado por Siqueira et al. (2009), verificou-se que 51% dos idosos que não praticavam regularmente exercícios físicos apresentaram sintomatologia depressiva. Os resultados são significativos e corroboram com a literatura existente, que aponta à importância do exercício físico como auxiliar na prevenção e tratamento da depressão (Schuch et al., 2018; Melo et al., 2019). Ademais, além de níveis de depressão reduzidos, os idosos que praticam exercício físico revelam níveis de autoestima mais elevados. (Teixeira et al., 2016)
Na Tabela 2 é possível observar a média e o desvio padrão da pontuação referente a cada uma das perguntas e respostas da EDG. Para fins de verificação da existência de diferença estatística significativa, foi aplicado o teste t para amostras independentes (p≤ 0,05). Os resultados indicaram a existência de diferença significativa entre os Grupo A e C, em relação aos questionamentos “Aborrece-se com frequência?” (p=0,02) e “Sente-se feliz a maior parte do tempo?” (p=0,02). E entre os Grupos B e C, em “Satisfeito (a) com sua vida?” (p=0,01) e “Sente-se de bem com a vida na maior parte do tempo?” (p=0,04). Nas demais verificações, não foram encontradas diferenças estatísticas significativas, inclusive no comparativo do escore total.
Tabela 2. Média e desvio padrão dos escores por pergunta
|
Grupo A |
Grupo B |
Grupo C |
Grupo D |
Md ± DP |
Md ± DP |
Md ± DP |
Md ± DP |
|
1. Está satisfeito(a) com sua vida? |
0,11
± 0,31 |
0
± 0** |
0,20
± 0,40 |
0,25
± 0,43** |
2.
Interrompeu muitas de suas atividades? |
0,47
± 0,50 |
0,37
± 0,48 |
0,30
± 0,46 |
0,30
± 0,46 |
3.
Acha sua vida vazia? |
0,32
± 0,46 |
0,37
± 0,48 |
0,40
± 0,49 |
0,25
± 0,43 |
4.
Aborrece-se com frequência? |
0,11
± 0,31* |
0,21
± 0,41 |
0,40
± 0,49* |
0,35
± 0,48 |
5.
Sente-se bem com a vida na maior parte do tempo? |
0,05
± 0,22 |
0
± 0** |
0,20
± 0,40 |
0,15
± 0,36** |
6.
Teme que algo ruim lhe aconteça? |
0,32
± 0,46 |
0,32
± 0,46 |
0,25
± 0,43 |
0,15
± 0,36 |
7.
Sente-se alegre a maior parte do tempo? |
0
± 0* |
0,05
± 0,22 |
0,20
± 0,40* |
0,15
± 0,36 |
8.
Sente-se desamparado com frequência? |
0,05
± 0,22 |
0,11
± 0,31 |
0,15
± 0,36 |
0,10
± 0,30 |
9.
Prefere ficar em casa a sair e fazer coisas novas? |
0,53
± 0,50 |
0,37
± 0,48 |
0,30
± 0,46 |
0,25
± 0,43 |
10.
Acha que tem mais problemas de memória que outras pessoas? |
0,16
± 0,36 |
0,26
± 0,44 |
0,25
± 0,43 |
0,25
± 0,43 |
11.
Acha que é maravilhoso estar vivo(a)? |
0,11
± 0,31 |
0,05
± 0,22 |
0,20
± 0,40 |
0,15
± 0,36 |
12.
Sente-se inútil? |
0,11
± 0,36 |
0
± 0 |
0,20
± 0,40 |
0,10
± 0,30 |
13.
Sente-se cheio(a) de energia? |
0,16
± 0,36 |
0,26
± 0,44 |
0,30
± 0,46 |
0,40
± 0,49 |
14.
Sente-se sem esperança? |
0,11
± 0,31 |
0,11
± 0,31 |
0,15
± 0,36 |
0,15
± 0,36 |
15.
Acha que os outros têm mais sorte que você? |
0,37
± 0,48 |
0,16
± 0,36 |
0,25
± 0,43 |
0,15
± 0,36 |
Legenda: *teste t: Grupo A em relação ao Grupo C (p<0,05);
**teste t: Grupo B em relação ao Grupo D (p<0,05). Fonte: Dados da pesquisa
De acordo com as projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), em 2060, aproximadamente um quarto da população brasileira deverá ter mais de 65 anos. Além disso, os resultados do Censo Demográfico (IBGE, 2010) evidenciaram que há uma tendência de envelhecimento da população brasileira, sendo o aumento da proporção de idosos na população consequência da redução da taxa de fecundidade e aumento da expectativa de vida. Ainda de acordo com o censo, a população brasileira ultrapassa os 180 milhões de pessoas, sendo a população idosa correspondente a quase 10%.
Considerando as condições previdenciárias, de assistência à saúde e sociais no Brasil, cada vez mais se verifica a importância do planejamento e intervenções por parte dos profissionais da saúde e dos programas com ações direcionadas a população idosa (Piani et al., 2016). Ainda mais considerando as previsões e taxas de crescimento consideráveis desta população para os próximos anos.
Assim, além dos benefícios fisiológicos, outros benefícios podem ser experimentados por meio da prática regular de atividades físicas, como destaca o estudo de Lucca, e Rabelo (2011), realizado em uma instituição de longa permanência, em Ipatinga/MG, no qual quinze idosos participaram de dez sessões de atividades recreativas (duas por semana). Na ocasião, as taxas de normalidade subiram 13,3% após as intervenções, enquanto as taxas de depressão leve reduziram 6,6%. Os autores acreditam que as atividades aumentaram as opções recreativas dos idosos, estimularam a interação com outras pessoas, propiciando, assim, um ambiente mais alegre.
Já em um estudo com idosos que frequentavam encontros semanais de exercício físico, verificou-se que 88,1% não apresentaram sintomas de depressão e apenas 11,9% apresentaram depressão leve (Casagrande, Silva, e Carpes, 2013). O resultado deste estudo se aproximou aos resultados obtidos com o grupo investigado, que também apresentou uma baixa sintomatologia de depressão em idosas fisicamente ativas (15,79%).
De fato, a literatura aponta para uma maior prevalência de depressão em idosas com menor nível de exercício físico (SSDSD). Assim, idosos praticantes de exercício físico têm, consequentemente, menor tendência a quadros depressivos (Silva& Santos, 2019), sendo o exercício físico capaz de contribuir na prevenção e tratamento da depressão em pessoas idosas (Herrera Jaureguí et al., 2021), podendo intervir de forma positiva e ativa na promoção de saúde mental do grupo em questão (Lacerda Júnior et al., 2022; Hernandez, e Voser, 2019). Não somente isso, idosos fisicamente ativos tendem a apresentar maior nível de capacidade funcional. (Silva et al., 2020)
Ainda, em relação aos grupos – fisicamente ativas e insuficientemente ativas, Oliveira Afonso et al. (2018) ressaltam os benefícios do exercício físico para a manutenção da capacidade funcional de idosos. Os autores indicam que idosas fisicamente inativas tendem a sentir, com maior impacto, os efeitos do envelhecimento. De forma oposta, idosas fisicamente ativas tendem a manter sua autonomia funcional e, por conseguinte, melhor qualidade de vida.
Conclusões
A partir dos resultados encontrados para a amostra estudada, concluiu-se que as idosas residentes em domicílio e praticantes de exercício físico (grupos A e B) apresentaram prevalência de depressão menor do que as idosas insuficientemente ativas (grupos C e D). Estes achados sugerem menores escores de sintomas depressivos em idosas que praticam exercício físico, independente da faixa etária.
Para novas investigações, os autores sugerem pesquisas de delineamento longitudinal e com controle de outras variáveis pertinentes a essa investigação, tais como as experiências com a prática de exercícios físicos (intensidade, duração, frequência e modalidades esportivas).
Referências
American Psychiatric Association (2014). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.). https://doi.org/10.1176/appi.books.9780890425596
Ávila, A.H., Guerra, M., e Meneses, M.P.R. (2007). Se o velho é o outro, quem sou eu? A construção da auto-imagem na velhice. Pensamiento Psicológico, 3(8), 7-18. https://revistas.javerianacali.edu.co/index.php/pensamientopsicologico/article/view/70
Borges, L.A.R., Costa, B.C., Loiola, E.F., e Oliveira, K.L.X. (2020). Exercício físico como intervenção terapêutica na depressão em idosos. Brazilian Journal of Development, 6(9), 64288-64297. https://doi.org/10.34117/bjdv6n9-021
Brasil (2003). Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras previdências. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm
Casagrande, G., Silva, M.F., e Carpes, P.B. (2013). Qualidade de vida e incidência de depressão em idosas que frequentam grupos de terceira idade. Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, 10(1), 52-65. https://doi.org/10.5335/rbceh.2012.2940
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