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A influência da prática da natação na aptidão cardiorrespiratória
dos portadores de Síndrome de Down residentes no Distrito Federal - Brasil
Swimming practice’s influences in cardiorespiratory functions of individuals with Down Syndrome living in Distrito Federal - Brazil
Rita de Cássia Pereira Pinto Homem y Jônatas de França Barros

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 54 - Noviembre de 2002

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    Os sujeitos, voluntários, submeteram-se ao exame de ecocardiograma no Hospital Universitário de Brasília. Todos os sujeitos que realizaram o ecocardiograma obtiveram parecer favorável do médico cardiologista para realizar o teste sub-máximo de aptidão física em ciclo-ergômetro.

    Finalmente realizou-se a avaliação antropométrica de estatura e peso no Laboratório de Medidas do Centro de Excelência em Educação Física da FEF-UnB e mensurou-se a pressão arterial dos sujeitos que, após estes procedimentos realizaram o teste sub-máximo de aptidão física em cicloergômetro ligado ao analisador de funções metabólicas Teem 100, no Laboratório de Fisiologia do Centro de Excelência em Educação Física da FEF-UnB .

    Após a coleta dos dados, foram formados os grupos de estudo e os grupos controle, equivalentes quanto às variáveis faixas etárias, nível de deficiência mental e carga de atividade física semanal, mas diferenciados pela prática sistemática da natação ou de outra modalidade esportiva. Aqueles que praticavam natação formaram o grupo de estudo e os que praticavam as outras modalidades formaram o grupo controle.


3.3 Variáveis de estudo

  • Variáveis independentes: Idade; Estatura; Peso Corporal e Índice de Massa Corporal.

  • Variáveis dependentes: VO2sub-máximo e VEsub-máximo.


3.4 Instrumentação

    Para coletar dados referentes às características individuais como idade, hábitos de vida e comprometimentos, utilizou-se um questionário de sondagem enviado ao responsável.

    As aferições de estatura, peso e pressão arterial dos sujeitos foram efetuadas no Laboratório de Medidas da FEF-UnB, com a utilização de um estadiômetro, balança eletrônica da marca FILIZOLA e manguito com estetoscópio.

    Para a aferição das variáveis dependentes VEsub-máximo e VO2sub-máximo pelo método de espirometria direta, utilizou-se o teste sub-máximo de aptidão física em ciclo-ergômetro, conforme as recomendações do ACSM (1996), no Laboratório de Fisiologia da FEF-UnB.

A) Protocolo do teste sub-máximo de aptidão física

    A pesquisa utilizou a medida direta do consumo de oxigênio no momento em que o sujeito alcançou 65% da freqüência cardíaca máxima predita pela idade, ou no momento em que o teste foi interrompido, segundo os critérios de interrupção.

    O teste foi realizado em ciclo-ergômetro ligado a um analisador das funções metabólicas, sistema Teem - 100, e, durante o tempo de sua realização, os sujeitos pedalaram numa freqüência entre 45 e 55 rpm.

    Os sujeitos iniciaram pedalando durante 3 minutos com carga de 25 watts. Após os 3 minutos iniciais, considerados como aquecimento, a carga foi aumentada em 25W a cada 2 minutos, até que o sujeito alcançasse um dos critérios para a interrupção do teste, ou até que a sua freqüência cardíaca alcançasse o valor sub-máximo, correspondente a 65% de sua freqüência máxima predita para a idade, que foi calculada de acordo com a equação expressa pela fórmula:

B) Freqüência cardíaca máxima predita pela idade

    Ao atingir a freqüência cardíaca sub-máxima, correspondente a 65% da FCmppi , a carga foi retirada. Os sujeitos continuaram a pedalar, com carga de zero watts, por mais três minutos, considerados como volta à calma.


3.5 Coleta de dados

    A coleta de dados ocorreu entre junho e setembro de 2001.

    No Distrito Federal, existem três Instituições Filantrópicas atendendo à população especial, incluindo portadores de Síndrome de Down, no período da coleta de dados: a Sociedade Pestalozzi-DF, a APAE-DF e a AMPARE. Estas Instituições oferecem aulas de Educação Física, por meio do Núcleo de Atendimento Esportivo para Pessoas Portadoras de Deficiência Mental da FEF-UnB, nas modalidades handebol, futebol de salão, escalada, hóquei sobre o piso, tênis de campo e atletismo.

    A Secretaria de Esportes e Lazer do Governo do Distrito Federal oferece uma turma de natação para a população exclusivamente especial, numa freqüência de três aulas por semana com 1 hora de duração por aula.


3.6 Análise dos dados

    A análise de normalidade da amostra, realizada para verificar a distribuição em relação às variáveis independentes, utilizou os testes de normalidade de Kolmogorov-Smirnov e de Shapiro-Wilk.

    A estatística descritiva foi utilizada para calcular as médias e os desvios-padrão das variáveis de estudo.

    A inferência estatística foi realizada pelo teste ANOVA Two-way.

    Para controlar a variável de confundimento gênero, os grupos foram estratificados segundo o gênero, formando quatro grupos relacionados no Quadro 1.

Quadro 1. Estratificação dos grupos segundo o gênero


4. Resultados

    Os testes de Kolmogorov-Smirnov e de Shapiro-Wilk, aplicados para verificar a distribuição das variáveis independentes na amostra, demonstraram uma distribuição normal das variáveis independentes: idade e estatura, como pode ser observado na tabela 1.

Tabela 1. Resultado do teste de normalidade entre as variáveis independentes:
idade e estatura dos sujeitos

Fonte: Teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov & Shapiro-Wilk

    A inferência estatística, pelo Teste de Análise de Variância ANOVA TWO-WAY, do SPSS, versão 8.0, verificou diferenças estatisticamente significativas (p < 0,05) das duas variáveis dependentes deste estudo, consumo sub-máximo de oxigênio (VO2sub-máx) e ventilação-minuto sub-máxima (VEsub-máx), para a variável independente gênero. Para o VO2sub-máx foi encontrado um F calculado igual a 8,838 e um F significativo de 0,008, e para a ventilação-minuto foi encontrado um F calculado igual a 17,304 e um F significativo de 0,001, indicando que os portadores de Síndrome de Down do sexo masculino apresentaram aptidão cardiorrespiratória estatisticamente superior ao sexo feminino.

Tabela 2. Resultado da análise de variância

  • R2 VEsub-máximo = 0,485 ( ajustado = 0,404)

  • R2 VO2sub-máximo = 0,349 ( ajustado = 0,281)


Fonte: SPSS versão 8.0

    A média do consumo sub-máximo de oxigênio para o gênero masculino foi de 14,71 ml/kg.min-1 com desvio-padrão de 4,17 ml/kg.min-1, enquanto que para o gênero feminino foi de 9,74 ml/kg.min-1 com desvio-padrão de 5,17 ml/kg.min-1. A média da ventilação-minuto para o gênero feminino foi de 12,89 l/min com desvio-padrão de 6,26 l/min, enquanto que para o gênero masculino foi de 22,11 l/min com desvio-padrão de 7,09 l/min.

Tabela 3. Comparação de vo2sub-máximo e de vesub-máxima entre os gêneros


FONTE: SPSS versão 8.0

Gráfico 1. Valores médios das variáveis metabólicas do estudo
com Síndrome de Down no Distrito Federal


5. Discussão

    McARDLE (1992) cita uma relação linear entre o percentual de FCmppi , o VO2máximo e o VEmáximo , que são alcançados ao nível máximo de carga. O percentual de 65% da freqüência cardíaca máxima predita pela idade, talvez não tenha sido suficiente para que as diferenças observadas fossem estatisticamente significativas.

    Pode-se observar que muito embora sem significância estatística, os grupos de praticantes de natação demonstraram maiores níveis de aptidão cardiorrespiratória, tanto de VO2sub-máximo quanto de VEsub-máximo , comparados aos grupos dos praticantes das outras modalidades: futebol de salão, atletismo, tênis de campo, hóquei sobre o piso e handebol.

    Os praticantes de natação alcançaram o percentual da freqüência cardíaca máxima predita pela idade (FCmppi) proposto como o objetivo do teste, enquanto que os praticantes das demais modalidades interromperam o teste antes de alcançar este percentual, por motivos que representam uma aptidão cardiorrespiratória muito fraca.

    Alguns sujeitos deste estudo alcançaram valores de VO2sub-máximos exatamente iguais em cargas diferentes, como pode ser observado no apêndice número dois deste trabalho. Segundo McARDLE (1992) o sujeito que alcançou a maior carga com o menor VO2sub-máximos possui a melhor aptidão cardiorrespiratória. Para facilitar esta comparação foi realizada uma razão entre o VO2sub-máximos sobre a carga, tendo como unidade ml/kg.min.W-1 e, pode-se observar que o menor resultado desta razão equivale à melhor aptidão cardiorrespiratória.

    Diferenças significativas na aptidão cardiorrespiratória entre os gêneros são comprovadas em estudos com a população normal (MCARDLE, 1992) e com a população especial (PITETTI, 1990) incluindo portadores e não-portadores de Síndrome de Down.

    Exclusivamente com a população de portadores de Síndrome de Down, esta pesquisa demonstrou, pela primeira vez, que a aptidão cardiorrespiratória dos portadores de Síndrome de Down do gênero masculino tende a ser significativamete maior (p < 0,05) do que a aptidão cardiorrespiratória das portadoras de Síndrome de Down do gênero feminino.


6. Conclusões

    Com os resultados deste estudo pode-se afirmar que dos indivíduos portadores de Síndrome de Down, residentes no DF, de idade entre 14 e 43 anos, que praticam atividades físicas sistemáticas, os indivíduos do gênero masculino possuem uma aptidão cardiorrespiratória significativamente maior (p < 0,05) do que as portadoras do gênero feminino.

    Embora os resultados das variáveis cardiorrespiratórias deste estudo tenham sido inferiores aos valores médios encontrados na literatura para a população normal, estes resultados comprovam que as variáveis cardiorrespiratórias dos portadores de Síndrome de Down tendem a comportar-se de maneira semelhante às variáveis cardiorrespiratórias dos indivíduos não-portadores de Síndrome de Down.

    Conclui-se que dentre as atividades esportivas oferecidas à população portadora de Síndrome de Down do DF, de faixa etária compreendida entre 14 e 43 anos, o tipo de modalidade esportiva não faz diferença significativa para o desenvolvimento da aptidão cardiorrespiratória.


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