A influência da prática da natação na aptidão cardiorrespiratória dos portadores de Síndrome de Down residentes no Distrito Federal - Brasil Swimming practice’s influences in cardiorespiratory functions of individuals with Down Syndrome living in Distrito Federal - Brazil |
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*Professora da Faculdade de Educação Física-UnB **Professor da Faculdade de Educação Física Professor e Orientador do Programa Stricto Sensu da Faculdade Ciências da Saúde - UnB |
Rita de Cássia Pereira Pinto Homem* ritah@unb.br Jônatas de França Barros** jonatas@unb.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 54 - Noviembre de 2002 |
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1. Introdução
Buscando aumentar a qualidade de vida dos portadores de Síndrome de Down, residentes no Distrito Federal, este estudo verifica seus níveis de aptidão cardiorrespiratória e procura diferenças de variáveis metabólicas entre os praticantes regulares de natação e os praticantes de outras seis modalidades esportivas: handebol, atletismo, hóquei sobre o solo, tênis de campo, futebol de salão e escalada.
A aptidão cardiorrespiratória é a capacidade que o organismo tem de captar, suprir e manter a musculatura com energia (McARDLE & KATCH & KATCH, 1992).
A Síndrome de Down apresenta uma significativa incidência sobre a população geral: cerca de um a dois para cada mil nascidos vivos, independentes de raça, gênero ou nível sócio-econômico (GALLAGHER, 1990).
Segundo o MINISTÉRIO DA SAÚDE (1998), nascem no Brasil, cerca de oito mil bebês portadores de Síndrome de Down, por ano. Os índices de incidência aliados aos poucos estudos sobre o tema justificam esta pesquisa.
PITETTI (1993) relata dificuldades em realizar estudos com a população especial, que vão desde os cuidados éticos até a falta de compreensão de alguns sujeitos para executar as tarefas propostas.
A Síndrome de Down resulta de uma constituição biológica alterada por um fator genético. (MANTOAN, 1993). Dentre as características físicas dos portadores de Síndrome de Down, SHAPIRO (1983) cita que algumas podem determinar um baixo grau de aptidão física, por exemplo: anomalias congênitas do coração, hipotonia muscular, hipoplasia pulmonar, estreitamento da artéria aorta, instabilidade atlanto-axial e deficiência mental.
MARINO (1996) afirma que malformações cardiovasculares encontram-se presentes em cerca de 40% das crianças portadoras da Síndrome de Down.
MUSTACCHI & ROZONE (1990) recomendam a realização periódica de radiografias cervicais laterais, antes de se autorizar o portador de Síndrome de Down à prática desportiva, procurando evitar acidentes que possam desencadear quadros neurológicos produtores de deficiência neuro-motora dos membros, devido à instabilidade atlanto-axial que acomete alguns portadores de Síndrome de Down.
BURNS (2000) e CORRÊA (2000) concordam que as doenças do aparelho respiratório são as de maior incidência na Síndrome de Down, sendo a pneumonia a mais freqüente causa de óbito.
Se algumas características fisiológicas representam problemas que podem ocorrer associados à Síndrome de Down comprometendo o desenvolvimento da aptidão cardiorrespiratória, apresentamos alguns benefícios das atividades físicas sistemáticas beneficiam o sistema cardiorrespiratório.
BARROS (1998) define o consumo máximo de oxigênio como o maior volume de oxigênio por unidade de tempo que o indivíduo consegue captar, respirando o ar atmosférico durante o exercício. O autor comenta que o aumento do consumo máximo de oxigênio é a principal conseqüência da adaptação ao exercício. Para ele, o consumo máximo de oxigênio varia conforme a genética e o nível habitual de atividade física.
McARDLE (1992) cita valores em torno de 40 ml/kg.min-1 para o consumo máximo de oxigênio de homens normais de aproximadamente 40 anos de idade. Autores como COUNSILMAN (1986), PÁVEL (1990), MAGLISCHO (1990) e PALMER (1990) consideram a natação como o esporte que trabalha com maior eficiência no desenvolvimento do sistema cardiorrespiratório.
NAVARRO (1995) admite a natação como o esporte ideal pelo seu valor formativo e totalizador, por trabalhar a respiração forçada no meio aquático, diferente do meio em que vivemos, em uma posição que não é a vertical e com novos apoios, tornando necessário ao praticante, tirar a boca e o nariz da água para inspirar, e soprar para vencer a resistência da água na expiração.
SKINNER e THOMSON (1985) afirmam que a água possui características e propriedades físicas como sua massa, peso, densidade, pressão e viscosidade, que interferem na ação humana, não só no corpo, mas em todo o seu universo de vida.
McARDLE (1992) indica a prática de exercícios físicos para melhorar as funções respiratórias em geral. O autor afirma que a ventilação pulmonar aumenta proporcionalmente ao aumento do consumo de oxigênio. O aumento da necessidade de oxigênio pelos músculos durante o exercício provoca um aumento de velocidade de transferência das moléculas desse gás dos alvéolos ao sangue.
McARDLE (1992) cita que durante a respiração em repouso, a freqüência respiratória pode ser, em média, de 12 incursões por minuto, enquanto o volume corrente alcança uma média de aproximadamente 0,5 litro de ar por incursão respiratória. Nessas condições, o volume de ar respirado, a cada minuto, ou ventilação-minuto (VE), é de seis litros por minuto.
Aumentos significativos na ventilação-minuto resultam de um aumento quer na profundidade, quer na freqüência da respiração, ou em ambas. Durante o exercício intenso, a freqüência respiratória de adultos jovens sadios costuma aumentar para 35 a 45 incursões por minuto. São observadas freqüências respiratórias de até 60 a 70 incursões por minuto, em atletas de elite durante um exercício máximo. Volumes correntes de dois litros e até maiores são comuns durante o exercício. Conseqüentemente, a ventilação-minuto pode alcançar facilmente 17 vezes o valor em repouso. (McARDLE, 1992)
Três principais questões levaram ao desenvolvimento deste estudo:
As variáveis cardiorrespiratórias dos portadores de Síndrome de Down comportam-se de maneira semelhante às variáveis cardiorrespiratórias dos indivíduos não-portadores?
Que níveis de desenvolvimento cardiorrespiratório alcançam os indivíduos portadores de Síndrome de Down, de idades entre 14 e 43 anos, que regularmente praticam atividades físicas, no DF?
A natação desenvolve a aptidão cardiorrespiratória mais do que as outras atividades físicas praticadas pelos portadores de Síndrome de Down do DF: tênis de campo, atletismo, handebol, hóquei sobre o piso, escalada, e futebol de salão?
2.1 ObjetivosO objetivo geral da pesquisa é determinar o nível de aptidão cardiorrespiratória dos indivíduos portadores de Síndrome de Down, residentes no DF, de idades entre 14 e 43 anos, que praticam atividades físicas sistemáticas.
Para determinar-se o nível de aptidão cardiorrespiratória, três objetivos específicos foram estabelecidos:
Verificar o consumo sub-máximo de oxigênio, a ventilação-minuto sub-máxima e percentual de freqüência cardíaca sub-máxima predita pela idade, dos portadores Síndrome de Down, residentes no DF, institucionalizados, de idade entre 14 e 43 anos.
Investigar o comportamento das variáveis dependentes: consumo de oxigênio e ventilação-minuto, em relação às variáveis independentes: idade, gênero, estatura, peso corporal e índice de massa corporal.
Verificar na população Down, institucionalizada do DF, diferenças entre a aptidão cardiorrespiratória dos praticantes de natação e dos praticantes das outras seis modalidades esportivas: tênis de campo, atletismo, escalada, hóquei sobre piso, handebol e futebol de salão, oferecidas pelo Núcleo de Atendimento Esportivo para Pessoas Portadoras de Deficiência Mental (NAEPPDM) da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília (UnB).
2.2 HipóteseA prática da natação desenvolve a aptidão cardiorrespiratória dos indivíduos portadores de Síndrome de Down, residentes no Distrito Federal, de idades entre 14 e 43 anos, tanto quanto a prática das modalidades oferecidas pelo Núcleo de Atendimento Esportivo para Portadores de Deficiência Mental da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília: tênis de campo, atletismo, escalada, hóquei sobre o piso, futebol de salão e handebol.
2.3 Limitação do EstudoA população Down possui limitações físicas que impossibilitam alguns sujeitos de praticar atividades físicas sistemáticas. Portanto o número de sujeitos aptos a submeterem-se ao Teste de Aptidão Física pode não ser suficiente para observar-se uma distribuição normal da amostra.
Segundo WEST (1996), a respiração requer atividade constante dos músculos intercostais internos e externos e do escaleno, e a hipotonia muscular limita esta função, prejudicando a oxigenação dos tecidos e órgãos, e pode levar alguns sujeitos à exaustão antes de alcançarem o percentual de 65% da FCmppi,, enquanto que outros podem alcançar este percentual, sem demonstrar sinais de cansaço.
3. MetodologiaO estudo seguiu o método observacional transversal, porque após a avaliação da capacidade cardiorrespiratória da amostra da população, por meio de ergo-espirometria direta, realizada durante o teste sub-máximo de aptidão física em ciclo-ergômetro, foram constituídos o grupo de estudo e o grupo controle PEREIRA (1997).
Segundo o American College of Sports Medicine (1996), um valor estimado do consumo máximo de oxigênio (VO2máximo) pode ser obtido a partir da resposta da freqüência cardíaca a um teste de esforço sub-máximo padronizado, realizado em ciclo-ergômetro. O procedimento baseia-se na relação linear que existe entre a freqüência cardíaca e o consumo de oxigênio (VO2), onde a freqüência cardíaca máxima predita pela idade e o VO2máximo tendem a ser atingidos a um mesmo valor de carga do exercício.
O grupo de estudo foi composto por 11 indivíduos portadores de Síndrome de Down, praticantes de natação há mais de seis meses, com freqüência de três sessões por semana, e com duração de 50 minutos por cada sessão. O grupo controle foi composto por 12 indivíduos portadores de Síndrome de Down, praticantes de seis modalidades esportivas, diferentes da natação, com a mesma freqüência de três sessões por semana, e com a mesma duração de 50 minutos por cada sessão.
3.1 Seleção dos sujeitosA pesquisa envolveu a população de indivíduos portadores de Síndrome de Down residentes no DF, de idades entre 14 e 43 anos, regularmente matriculados e freqüentando aulas de natação da Secretaria de Esportes e Lazer do Governo do Distrito Federal ou as aulas de Educação Física das Instituições Filantrópicas: Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE-DF), Sociedade Pestalozzi-DF e Associação de Mães, Pais, Amigos e Reabilitadores de Excepcionais (AMPARE-DF).
Os critérios de inclusão foram:
Apresentar comprometimento mental leve ou moderado, de modo a compreender e a realizar as tarefas propostas;
Ter idade compreendida entre 14 e 43 anos;
Estar freqüentando aulas de Educação Física de sua Instituição no segundo semestre letivo do ano 2000, com menos de 25% de faltas, na data da coleta de dados;
Apresentar Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelo responsável;
Apresentar laudo médico do exame de ecocardiografia, sem recomendação contrária à realização de esforço físico, conforme as recomendações do American College of Sports Medicine (1996).
Os critérios de exclusão foram:
Apresentar deficiência mental profunda ou grave;
Apresentar, no cadastro da Instituição, recomendação médica para não realizar esforço ou exercício físico;
Ter utilizado, na data da coleta de dados, medicamento capaz de alterar qualquer função vital;
Possuir idade inferior a 13 anos, ou superior a 50 anos.
Atendendo aos critérios de inclusão e de exclusão, chegamos a um número da amostra: n = 23, dos quais cinco é da Secretaria de Esportes e Lazer-Governo do distrito Federal e 18 são das Instituições Filantrópicas do DF. Sendo 12 são do gênero feminino e 11 do gênero masculino.
3.2 Procedimentos para a realização da pesquisaApós a aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília, uma carta de apresentação e um resumo do projeto da pesquisa foram entregues para os diretores de cada Instituição Filantrópica do DF. Todos os diretores concordaram com a participação de sua Instituição na pesquisa, por meio de assinatura do Termo de Consentimento Institucional.
Foram enviados aos responsáveis pelos portadores de Síndrome de Down matriculados nas Instituições do DF, uma carta, um resumo do projeto de pesquisa, um questionário e um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para ser assinado, se concordasse com a participação do indivíduo na pesquisa.
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