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Análise estatística de jogos de basquetebol: o fator 'mando de jogo'
Dante De Rose Junior

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 54 - Noviembre de 2002

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    Um dado que também chama a atenção é o número de faltas cometidas não ser diferente entre mandantes e visitantes. Há uma crença estabelecida no basquetebol que os mandantes, pelo fato de jogar “em casa” e com a pressão da torcida, possam ser favorecidos pela arbitragem no que diz respeito à marcação de faltas. Analisando-se pelo aspecto numérico, esta crença não procede, apesar de não terem sido aqui considerados outros aspectos como por exemplo: momento do jogo, tipo de falta, situação na qual a falta foi marcada, entre outras.

    O melhor desempenho dos “times da casa” também foi verificado em outros estudos:

    Varca (1980) mostrou que os times mandantes tiveram melhores resultados no percentual de arremessos (exceto lances-livres), bolas recuperadas, tocos e total de rebotes. Já os visitantes cometeram mais faltas e perderam mais bolas. Esse estudo foi baseado nas estatísticas de 90 jogos entre dez equipes universitárias norte americanas da Divisão I da NCAA3, em 1978.

    Silva e Andrew (1987) analisaram a estatística de 418 jogos em 10 anos da Atlantic Cost Conference (Divisão I da NCAA) e obtiveram o mesmo resultado da pesquisa citada anteriormente. Os autores definiram que % de arremessos, total de rebotes, bolas perdidas e faltas são os melhores preditores de vitória dos mandantes.

    De Rose Jr. et alii (2002), analisando a mesma amostragem de jogos do presente estudo, sob o ponto de vista de equipes vencedoras e derrotadas, definiram que as equipes vitoriosas apresentavam maior eficiência em todos os indicadores de jogo (exceto bolas perdidas e faltas), como era de se esperar. Este resultado ficou mais evidente na divisão dos jogos por categoria em função da diferença de pontos em seu resultado. Ou seja, à medida que a diferença aumentava, maior o nível de significância estatística das diferenças em favor dos vitoriosos. São positivos (ou seja, acima da média) e os índices à esquerda, são negativos (abaixo da média).

    O comportamento das equipes em cada um dos indicadores de jogo, em função do mando e da condição de vitoriosos e derrotados pode ser observado na tabela 5.

Tabela 5: Médias dos indicadores de jogo: do campeonato e por
mando de jogo nas vitórias e nas derrotas

    Os resultados das partidas mostram que os mandantes venceram seus jogos por uma diferença média de 13,6 pontos (93,6 x 80,0), enquanto que os visitantes venceram seus jogos por uma diferença média de 11,5 pontos (91,0 x 79,5). Interessante notar que, apesar de terem volume de jogo maior e converterem mais pontos do que os visitantes vencedores, os mandantes vencedores apresentaram um aproveitamento ligeiramente menor de arremessos (51,9% x 52,3%), apesar de estatisticamente não significativo.

    Esse dado pode ser explicado pelo fato de que jogar “em casa”, normalmente, leva a equipe a ser mais agressiva e procurar definir o ataque mais rapidamente, enquanto que a equipe visitante tenta “controlar” de maneira mais adequada a posse de bola com uma seleção mais segura das opções de arremesso, pois comprovadamente os mandantes vitoriosos são mais efetivos nos rebotes, o que lhes proporciona maiores chances de terem a posse de bola e tentar novos ataques. Essa possível agressividade reflete-se também pelo maior número de bolas recuperadas por parte dos mandantes vitoriosos.

    A comparação dos resultados gerais entre mandantes e visitantes mostraram que :

  1. Mandantes vitoriosos, quando comparados aos visitantes vitoriosos tiveram melhor desempenho nos seguintes indicadores de jogo (com diferenças estatisticamente significativas - p<0.05): pontos possíveis, tentativas de 3 pts, bolas recuperadas e assistêncas.

  2. Mandantes vitoriosos tiveram melhor desempenho que os visitantes vitoriosos, sem diferenças estatisticamente significativas nos seguintes indicadores de jogo: pontos feitos, 3 e 2 pontos certos, tentativas de 2 pts, % de 2 pts e de lances-livres, rebotes de defesa e de ataque, total de rebotes, tocos e bolas perdidas.

  3. Os visitantes vitoriosos desempenharam melhor nos seguintes indicadores de jogo (sem diferenças estatisticamente significativas): % de aproveitamento, % de 3 pts, lances-livres certos, tentativas de livres e faltas cometidas.

    Esses resultados ficam mais evidentes, à medida que aumenta a diferença de pontos no resultado final do jogo, conforme mostram as tabelas 6 e 7.

    Interessante ressaltar que, em todas as situações, os pontos possíveis não estão relacionados com a vitória, fato que comprova a importância da eficiência do arremesso e não do volume de jogo, fato já apontado por De Rose Jr. et alii (2002).

Tabela 6: Porcentagem de aproveitamento de arremessos de
acordo com mando e categorias dos jogos.


Tabela 7: médias dos indicadores de jogo de acordo com mando e categorias dos jogos

    As figuras 3 e 4 mostram, graficamente, o comportamento das equipes mandantes e visitantes, na condição de vitoriosas e derrotadas em alguns dos indicadores de jogo.


Fig. 3: Comportamento dos mandantes e visitantes em função de vitórias e
derrotas nos percentuais de arremessos e de aproveitamento



Fig. 4: Comportamento dos mandantes e visitantes em função de vitórias e derrotas nos rebotes,
bolas recuperadas, assistências, bolas perdidas e faltas cometidas


Considerações finais

    Ao se analisar uma partida de basquetebol sob o ponto de vista estatístico, deve-se tomar o devido cuidado para que os números apresentados sejam interpretados em um contexto que permita a técnicos e atletas entenderem o significado dos mesmos e relacioná-los com outros parâmetros que são comuns ao jogo mas, ao mesmo tempo, específicos de cada equipe.

    Não se deve dissociar os índices de desempenho técnico, em cada indicador de jogo, com fatores situacionais que são importantes como a estrutura tática das equipes, o contexto no qual o jogo acontece (local, classificação, momento do campeonato, momento da equipe, entre outros) e também as questões relacionadas à individualidade dos jogadores e sua importância para a equipe.

    Considerando-se os resultados dos 210 jogos da fase de classificação do Campeonato Paulista Masculino Adulto de 2001, pode-se delinear algumas conclusões.


I - Comparando-se mandantes e visitantes de uma maneira geral:

  1. Os mandantes venceram 130 jogos (cerca de 62% dos jogos disputados), sendo a grande maioria concentrada na faixa de resultados, cujas diferenças variarem de 4 a 20 pontos (64%). Os jogos muito equilibrados (diferenças até 3 pontos apresentaram número idêntico de vitórias tanto para mandantes, quanto para visitantes (18). No caso dos visitantes, esses jogos foram vencidos quando essas equipes tinham a condição de favoritas (melhores classificadas do que seus adversários na classificação geral do campeonato)

  2. Na maioria dos indicadores de jogo, os mandantes tiveram melhor desempenho, exceto nos lances livres tentados e bolas perdidas. Nesse caso específico, a maior quantidade de bolas perdidas significa pior desempenho. Nesse indicador houve diferença estatisticamente significativa (p < 0.03)

  3. As diferenças estatisticamente significativas (p < 0.05) ocorreram, em favor do mandantes, nos seguintes indicadores de jogo: % de aproveitamento geral, 3 pts certos, rebotes de defesa, total de rebotes, tocos, bolas recuperadas e assistências

  4. Ao contrário do que se imagine, não houve diferenças entre o número de faltas cometidas por mandantes e visitantes


II - Comparando-se mandantes e visitantes associado-se as variáveis vitória/derrota e categoria de jogo (em função da diferença de pontos no resultado final):

  1. Os mandantes vitoriosos tiveram melhor desempenho, com diferenças estatisticamente significativas (p < 0.05), nos seguintes indicadores de jogo: pontos possíveis (volume de jogo), tentativas de 3 pts, bolas recuperadas e assistências

  2. Visitantes vitoriosos destacaram-se na % de aproveitamento geral de arremessos (p < 0.05).

  3. Esses resultados confirmam-se com o aumento da diferença de pontos nos resultado final dos jogos, evidenciando as diferenças estatisticamente significativas entre vitoriosos e derrotados, independentemente do mando de jogo

    Dessa forma, o que se pretendeu neste trabalho foi contribuir de uma maneira mais objetiva para que os responsáveis pelas equipes possam utilizar esses dados, relacionando-os com suas realidades e para que possam estabelecer parâmetros e metas para futuros desempenhos individuais e coletivos.

    Fica reforçada a necessidade de se estudar o jogo de forma mais aprofundada, considerando-se as diversas variáveis que podem interferir no resultado final da partida.

    Novos estudos devem ser realizados para oferecer maiores subsídios a técnicos e atletas, sempre visando a melhora do desempenho individual e coletivo.


Notas

  1. Os indicadores de jogo são um conjunto referencial das principais ações técnico táticas do jogo. Podem ser representados pelas situações ou ocorrências possíveis de serem observadas e quantificadas em situação de jogo (Comas, cit. por Sampaio, 1998).

  2. Site oficial da CBB: www.cbb.com.br

  3. National Collegiate Athletic Association. A Divisão I da NCAA é a principal divisão do basquetebol universitário nos Estados Unidos.


Referências bibliográficas

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