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Análise estatística de jogos
de basquetebol: o fator “mando de jogo”

   
Professor Associado do Departamento de Esporte
Escola de Educação Física e Esporte - USP
 
 
Dante De Rose Junior
danrose@usp.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
     O presente artigo é sequência do trabalho anteriormente publicado neste periódico (año 8, no. 49, junio-2002) no qual foram analisadas estatisticamente as 15 equipes participantes do Campeonato Paulista de Basquetebol Masculino Adulto - 2001, sob o ponto de vista de vitórias e derrotas. No presente trabalho essas mesmas equipes e seu comportamento estatístico em jogo foram analisadas sob o ponto de vista do “mando de jogo” associado a duas outras variáveis: vitórias/derrotas e categorias de jogos (diferenças de pontos no resultado final). Nos 210 jogos analisados (disputados na fase de classificação do referido campeonato os resultados mostraram que os “mandantes” venceram 130 jogos (62%) com diferença média de 13,6 pts (93.6 x 80.0), enquanto que os “visitantes” venceram 80 jogos (38%) com diferença média de 11,5 pts (91,0 x 79,5). Os “mandantes” venceram, predominantemente, os jogos com diferenças acima de 4 pontos, enquanto que nos jogos muito equilibrados (até 3 pts) houve igualdade de vitórias (18) entre eles e os “visitantes”. Analisando-se os dados estatísticos de maneira geral, os mandantes predominaram sobre os visitantes na maioria dos indicadores de jogo, com exceção aos lances livres tentados e convertidos. Utilizando-se ANOVA (p < 0.05), foram verificadas diferenças estatisticamente significativas a favor dos mandantes nos seguintes indicadores de jogo: pontos feitos, % de aproveitamento, 3 pts certos, rebotes de defesa, total de rebotes, tocos, bolas recuperadas, bolas perdidas e assistências. Quando à condição de “mando de jogo” associa-se a variávael vitória/derrota, os mandantes vitoriosos mantém o predomínio sobre os visitantes vitoriosos, exceto na % de aproveitamento de arremesso. Quando consideram-se mandantes e visitantes na condição de derrotados, não há praticamente diferenças estatisticamente significativas dos indicadores de jogo. É importante ressaltar que a análise estatística deve ser mais um fator a ser considerado na análise global do jogo e das equipes, juntamente com aspectos físicos, psicológicos e táticos.
    Unitermos: Basquetebol. Estatística de jogo.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 54 - Noviembre de 2002

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Introdução

    Nos jogos esportivos coletivos, a observação do jogo tem se mostrado como uma arma imprescindível para a caracterização das exigências específicas que são impostas aos jogadores e que definem a dinâmica desse jogo, levando ao aperfeiçoamento dos programas de preparação dos atletas e, consequentemente, a melhora do desempenho coletivo (Janeira, 1999; Barbero Álvarez, 2001).

    A modernização dos meios empregados para a observação e desenvolvimento de metodologias avançadas, através de programas pré-concebidos, tem facilitado a tarefa dos técnicos no que tange a análise das diferentes situações individuais e coletivas que fazem parte do complexo contexto competitivo desses esportes, permitindo-lhes intervir, quase que imediatamente, para a correção ou modificação de estratégias que objetivem a melhora do desempenho do atleta e da equipe.

    A evolução dos métodos de análise permitiram uma melhora na qualidade da observação e também um aumento na quantidade de aspectos a serem observados, fato que também aumentou a confiabilidade dos dados e a disponibilidade dos mesmos (Sampaio, 1999).

    Nesse contexto, o basquetebol caracterizado como um esporte de cooperação e oposição, invasivo, com ocupação de espaços comuns e com participação simultânea dos atletas, proporciona uma gama infindável de situações que podem ser observadas e analisadas com o objetivo de melhorar a capacidade de jogo dos atletas e, consequentemente, das equipes (Hernandez Moreno, 1998).

    Dentro dessas possibilidades de análise dos componentes observáveis de um jogo pode-se considerar diferentes dimensões: tática, motora, energética, morfológica e psicológica (Tavares, 2001).

    Todos esses aspectos são importantes e merecem um aprofundamento em suas abordagens, mas neste artigo o foco será centrado na análise das habilidades específicas e sua utilização em situações competitivas, através da análise dos dados extraídos das estatísticas oficiais de jogos de basquetebol.

    Mais especificamente, serão analisados os indicadores de jogo1 que estão relacionados ao desempenho coletivo em função do mando de jogo e diferença de pontos das partidas.

    Segundo vários autores, o mando de jogo tem sido fator preponderante para a determinação do resultado final dos jogos em diferentes modalidades esportivas, inclusive o basquetebol. Ao longo da história da análise estatística de situações competitivas, as equipes “da casa” têm obtido vantagem em cerca de 65% dos jogos disputados, percentual este que aumenta nos jogos das fases decisivas dos campeonatos (“play-offs”). Além da vantagem em relação ao resultado final dos jogos, no basquetebol mais especificamente, os mandantes apresentam melhores desempenhos em todos os indicadores de jogo analisados. (Varca, 1980; Gayton et alii, 1987 a; Gayton et alii, 1987 b; Silva e Andrew, 1987; Couneya e Carron, 1992; McGuire et alii, 1992; Oliver, 1996; Sampaio, 2001).

    Alguns fatores são citados como determinantes dessa vantagem: as viagens realizadas pelos visitantes, as acomodações, os locais de jogos (piso, iluminação, equipamentos), influência da torcida, pressão sobre a arbitragem, entre outros.

    Cottrell(cit. por Silva e Andrew, 1987) destaca algumas hipóteses que definem estatisticamente o fenômeno “mando de jogo”: os mandantes são melhores em rebotes, têm melhor percentual de arremessos, perdem menos bolas e cometem menos faltas.

    A partir dessas considerações, este estudo teve como objetivo definir, estatisticamente, o perfil das equipes que disputaram o Campeonato Paulista de Basquetebol Masculino Adulto de 2001 em função do mando de jogo, considerando condições como vitórias e derrotas e diferença de pontos nos resultados finais dos jogos.


Metodologia

    Este estudo foi realizado com base em 210 jogos do Campeonato Paulista de Basquetebol Masculino Adulto de 2001, que teve a participação de cerca de 200 atletas representantes de 15 equipes. O campeonato foi disputado em regime de turno completo (fase de classificação), na qual cada equipe realizou 28 jogos (14 como mandante e 14 como visitante). A pós o término desta fase, as oito melhores equipes participaram dos “play offs” que definiu a classificação final. Para o estudo foram considerados somente os jogos da fase de classificação, para preservar o princípio de equidade de partidas entre elas.

    Os indicadores de jogo analisados foram os seguintes:


* Pontos possíveis = (tentativas de 3 pts x 3) + (tentativas de 2 pontos x 2) + (tentativas de lances-livres)
** Aproveitamento Geral: (pontos feitos/pontos possíveis) x 100

    As equipes foram divididas em função do mando de jogo: mandantes (M) e visitantes (V). Houve uma sub-divisão em função do mando e de vitórias e derrotas: mandantes vitoriosos (MV) mandantes derrotados (MD) visitantes vitoriosos (VV) visitantes derrotados (VD).

    Para uma análise mais detalhada em função do resultados finais, os jogos foram categorizados de acordo com a diferenças de pontos no resultado final, com base em estudos já realizados e adaptados para esta finalidade (Sampaio, 2001;De Rose et alii, 2002):

  • jogos com diferença até 3 pontos (cat.1)

  • jogos com diferença de 4 a 10 pontos (cat.2)

  • jogos com diferença de 11 a 20 pontos (cat.3)

  • jogos com diferença acima de 20 pontos (cat.4).

    Os dados foram extraídos das estatísticas oficiais dos jogos, coletados por equipes da Federação Paulista de Basketball, utilizando os critérios internacionais da FIBA (Federação Internacional de Basquetebol) e que foram padronizados para o Brasil pela Confederação Brasileira de Basketball. A estatística de cada jogo foi processada em um programa Excel, de onde foram obtidos os totais individuais e por equipe e posteriormente tratada pelo programa Statistics para a efetuação dos cálculos, comparações e correlações.

    Para comparação de médias e determinação das diferenças estatisticamente significativas foi ANOVA (p < 0.05).


Resultados

    As tabelas 1, 2 e 3 mostram uma perfil do campeonato em função das variáveis estudadas: mando de jogo, vitórias e derrotas e diferença de pontos no resultado final

Tabela 1: Número de vitórias das equipes mandantes (man)
e das equipes visitantes (vis) no Campeonato Paulista Masculino - 2001


Tabela 2: Número de jogos e percentual de acordo com a
diferença de pontos


Tabela 3: Número de vitórias das equipes mandantes (man)
e das equipes visitantes (vis) de acordo com as
categorias de jogos

    Como se percebe pela tabela 1, há uma nítida vantagem dos mandantes em relação aos visitantes no quadro geral de vitórias do campeonato (62% x 38%), resultado este que encontra respaldo na literatura específica do basquetebol e também de outros esportes, conforme relatado por autores como Varca (1980), Silva e Andrew (1987), Gayton et alii (1987, a-b), Courneya e Carron (1992), McGuire et alii (1992) e Oliver (1996). No Brasil, os Campeonatos Nacionais Masculinos de 1999, 2000, 2001 e 2002 também apresentaram a mesma tendência, de acordo com as estatísticas oficiais da Confederação Brasileira de Basketball2.

    A tabela 2 mostra que a maior concentração das diferenças de resultados dos jogos (cerca de 64%) aconteceu entre 4 e 20 pontos, o que pode ser considerado um quadro normal em uma campeonato longo e com um número excessivo de jogos. Os jogos mais equilibrados (até 3 pontos) e os jogos muito desequilibrados (acima de 20 pontos) aconteceram com frequência menor sendo que, no primeiro caso, foram basicamente disputados entre as equipes que, posteriormente, viriam a se classificar para a fase final do campeonato (1º a 8º lugar) ou entre as equipes que ocupariam posições abaixo da linha de classificação (9º ao 15º lugar).

    Na tabela 3, observa-se igualdade nas vitórias de mandantes e visitantes quando os jogos terminaram com resultados até 3 pontos (cat 1). Nas demais categorias de jogos (2, 3 e 4) os mandantes tiveram um numero maior de vitórias do que os visitantes.

    A partir da tabela 4 são demonstrados os valores médios e percentuais dos indicadores de jogo em relação ao mando, em diferentes condições: vitórias e derrotas e categorias de jogos.

    A tabela 4 mostra esses resultados de forma geral de acordo com o mando de jogo.

Tabela 4: Médias dos indicadores de jogo (geral e por mando de jogo)

    Observa-se uma tendência das equipes mandantes terem melhor desempenho do que as visitantes em quase todos os indicadores de jogos, ficando as exceções por conta dos lances-livres certos e lances livres tentados que têm uma relação direta com o número de faltas cometidas (no caso a equipe mandante é mais faltosa do que a visitante, propiciando um número maior de tentativas, apesar de não haver diferenças estatisticamente significativas).

    Os mandantes também não obtiveram resultados numéricos melhores nas bolas perdidas. Este fator, no entanto, deve ser considerado como positivo, pois a perda de bolas, quer por erros técnicos ou por violações, significam uma deficiência da equipe. Este indicador apontou resultados com diferença estatisticamente significativa (p < - 0.03).

    Os indicadores de jogo que apresentaram diferenças estatisticamente significativas (p < 0.05) a favor dos mandantes foram:

  • pontos feitos (p < 0.001)

  • % de aproveitamento (p < 0.03)

  • 3 pts certos (p < 0.02)

  • rebotes de defesa (p < 0.03)

  • total de rebotes (p < 0.02)

  • tocos (p < 0.0001)

  • bolas recuperadas (p< 0.004)

  • assistências (p < 0.0001)

    Esses resultados mostram claramente quão importante é a eficiência no aproveitamento de arremessos (mesmo não havendo diferenças significativas nos 2 pontos e nos lances - livres) para a definição do resultado, juntamente com os rebotes de defesa pois, assegurando a posse de bola após arremesso não convertido pelo adversário, a equipe eficiente leva grande vantagem sobre aquela que mesmo tendo obtido um bom número de rebotes não consegue transformar esta posse de bola em cesta. Além disto a recuperação de bolas e as assistências (passes bem direcionados que facilitam a ação do arremessador) podem contribuir para a melhor eficiência no aproveitamento dos arremessos.


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