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Análise comparativa entre o método analítico
e o método situacional no processo de
ensino/aprendizagem/treinamento do passe no futebol

   
Professor de Educação Física.
UNIJUI - Universidade Regional. Ijuí RS
(Brasil)
 
 
Hed Vilson Pires
hpires@sesc-rs.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
    O objetivo do presente estudo foi comparar as contribuições dos métodos analítico e situacional no processo de ensino/aprendizagem/treinamento do passe no futebol, em crianças com idade de 08 a 10 anos. Participaram deste estudo 32 crianças, divididas aleatoriamente em 02 grupos, método analítico (n=16) e método situacional (n=16). Cada grupo desenvolveu atividades durante 08 semanas, com 02 sessões semanais de 90 minutos. Sendo que estas sessões foram divididas em quatro partes (15’ aquecimento, 30’ fundamentos básicos, 30’ passe, 15’ jogo livre). Na terceira parte trabalhamos o passe de forma diferenciada entre os dois grupos, ou seja, num grupo utilizando-se do método analítico e no outro utilizando-se do método situacional. Enquanto que as outras partes foram trabalhadas em um mesmo enfoque em ambos os grupos. Para verificar os efeitos de cada método analisamos estes grupos ao final da 4ª e 8ª semanas.
    Unitermos: Análise comparativa. Métodos de ensino. Futebol.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 50 - Julio de 2002

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Considerações iniciais

    Uma das principais preocupações do profissional de Educação Física durante o processo de ensino/aprendizagem/treinamento diz respeito ao método a ser utilizado. Uma boa proposta não é aquela que demonstra gestos a serem imitados ou automatizados, mas sim aquela que permite ao aluno vivenciar um processo de ensino onde por meio de situações e ações, possa aumentar sua compreensão do jogo (Scaglia apud Nista-Picollo, 1999).

    Nosso interesse, como profissionais de Educação Física, vai muito além da escolha de uma determinada proposta metodológica que venha a ser útil para a formação de atletas para a prática desportiva. Este interesse deve estar centrado na possibilidade de oferecer uma metodologia adequada, que seja motivadora, e que permita à criança e ao adolescente a construção do jogo, da sua “capacidade de jogo”, mesmo que eles não venham a ser atletas (Greco, 1998).

    A escolha que este profissional vir a fazer por um determinado método de ensino é de grande importância para o sucesso na formação de jogadores inteligentes (Greco & Souza, 1998; Greco & Benda, 1998; Bayer, 1994; Lassierra et al, 1993), capazes de resolver as diversas situações-problema impostas durante a prática dos jogos esportivos coletivos. Esta preocupação vem aumentando o interesse pela busca de novas propostas metodológicas nos últimos anos. Desde a década de oitenta vem sendo comparado as repercussões de dois enfoques metodológicos (Sánchez, 1988), um enfoque baseado nos métodos tradicionais e outro enfoque baseado nos métodos ativos.

    Segundo Bayer (1994), consideramos como métodos tradicionais aqueles que se baseiam num princípio de simplicidade, de análise e de progressão (decompõe-se em elementos a matéria a ensinar, a memorização e a repetição são fundamentais nesta proposta. Enquanto que os métodos ativos são aqueles que levam em conta os interesses presentes na criança e que solicitam a partir de situações vividas, a iniciativa, a imaginação e a reflexão pessoal favorecendo desta forma a aquisição de um saber adaptado.

    O enfoque baseado nos métodos alternativos (ativos), busca superar as desvantagens dos modelos tradicionais, colocando ênfase nos componentes táticos. Sendo recomendados os jogos simplificados e modificados ou um treinamento que apresente situações reais de jogo (Chavez, 2001).

    Apesar das diversas denominações dadas a estes dois principais enfoques utilizamos como base para estudo em nossa pesquisa o método analítico (enfoque tradicional) e o método situacional (enfoque alternativo - método ativo).

    Buscamos, através da comparação entre o método analítico (integrante das propostas metodológicas tradicionais) e o método situacional (integrante das propostas metodológicas ativas), analisar suas contribuições no processo de ensino/aprendizagem/treinamento do passe na modalidade de futebol.

    A modalidade esportiva utilizada como referência para o desenvolvimento deste projeto de pesquisa é o Futebol. Tendo em vista o fato de ser considerado como um fenômeno de elevada magnitude no quadro da cultura esportiva contemporânea e se constituir em um meio formativo por excelência devido à riqueza de situações que proporciona a seus praticantes (Graça & Oliveira, 1997).

    Dentro desta modalidade centramos nossa atenção para a habilidade técnica e a tática individual do passe, por ser considerado, dentre do Futebol atual, essencial por possibilitar a realização do jogo em conjunto, sendo a base e o fundamento dos jogos coletivo. Pode ser considerado também como a maneira mais rápida de avançar a bola entre duas posições. Sendo menos fatigante que a condução de bola. Serve para melhorar posições, dar velocidade ao jogo e resolver situações de dificuldades. Por fim, considerado como uma das principais ferramentas de comunicação entre os jogadores durante as diversas situações de jogo (Camí, 2000). Tecnicamente considerado como um elemento inerente ao fundamento do chute, caracterizado como o ato de impulsionar a bola para um companheiro de equipe (Greco, 1998).

    Nosso principal objetivo é analisar e comparar a influência dos métodos analítico e situacional no processo de ensino/aprendizagem/treinamento do passe no futebol, em crianças com idade entre 08 e 10 anos. Relatando quais contribuições obtidas pelos métodos analítico e situacional no processo de ensino/aprendizagem/treinamento da habilidade técnica e da tática individual do passe na modalidade de futebol, descrevendo também as principais dificuldades apresentadas durante este processo de ensino.


Metodologia

    Os procedimentos metodológicos desta investigação foram baseados nos procedimentos utilizados por Souza (1999); Darido & Bonfogo (1993); Gonzalez (1996); Gimenez (1998 e 1999); Sisto & Greco (1995), de caráter quantitativo e também descritivo. As analises, interpretações e comparações das contribuições obtidas pelos dois métodos de ensino utilizados no processo de ensino/aprendizagem/treinamento do passe, na modalidade de Futebol, foram feitas tendo como referência, as experiências descritas por estes autores. Descrevemos não só as contribuições, mas também as dificuldades encontradas pelos dois grupos durante o desenvolvimento do projeto de pesquisa.

    A população do estudo foi composta de aproximadamente 160 crianças, matriculadas na 3ª e 4ª série do primeiro grau, da Escola Técnica Getúlio Vargas do Município de Santo Ângelo, RS, com idades entre 08 e 10 anos, do sexo masculino e feminino. Moradores na zona urbana e de famílias de classe média.

    A amostra contém um grupo de 32 crianças que foi dividido por sorteio, em dois subgrupos. O GRUPO I contendo 16 crianças (13 meninos e 3 meninas) e o GRUPO II, também com 16 crianças (14 meninos e 2 meninas). Sendo que a quantidade de alunos com idades de 08, 09 e 10 anos foi igual nos dois grupos.

Gráfico 01 - Idades Grupo I y Gráfico 02 - Idades Grupo II

    No projeto trabalhamos a modalidade de Futebol durante oito semanas, em duas sessões semanais de 90 minutos, perfazendo um total de 16 sessões por grupo de crianças. As sessões foram divididas em quatro partes principais. Sendo que apenas a terceira parte da aula foi enfocada com métodos diferentes para cada grupo, onde adaptamos as atividades propostas por Melo (2000) e Frisselli & Mantovani (1999), para elaborarmos os planos de aula para o Grupo I, e através das propostas de Camí (2000), Ocanã (1998), Mendes (1984) e Garganta & Pinto apud Graça & Oliveira (1995), elaboramos os planos de aula para o Grupo II.. No grupo I trabalhamos o passe em um enfoque tradicional (Método Analítico) e no grupo II trabalhamos o passe em um enfoque alternativo (Método Situacional).

Quadro 01 - Descrição das atividades do Grupo I (Método Analítico).

Quadro 02 - Descrição das atividades do Grupo II (Método Situacional).

    Os registros das atividades desenvolvidas pelos Grupos I e II foram feitos através fichas de coleta de dados, relatórios diários e gravação das atividades em fitas de vídeo.

    Antes do início das atividades foi feita uma avaliação/diagnóstico visando levantar dados sobre o nível de desenvolvimento da habilidade técnica e da ação tática do passe nos dois grupos para servir de ponto de referência para as avaliações seguintes que aconteceram ao final da 4ª e da 8ª semana visando relatar as contribuições obtidas no nível de desenvolvimento da habilidade técnica e da tática individual do passe após o início das atividades específicas. Estas avaliações foram feitas em dois tipos de atividades:

    Atividade I - Jogo motor de situação, desenvolvido em um espaço de 10 x 20m, onde 5 crianças jogam 3 x 2, sendo que 3 no papel de atacantes e 2 no papel de defensores. O jogo tem 5 min. de duração, tendo como objetivo dos atacantes superar os defensores, através da troca de passes e cruzar a linha de fundo adversária em posse de bola. E aos defensores cabe o objetivo de evitar o êxito dos atacantes.

    A atividade I foi dividida em dois momentos:

  1. Momento - Equipes de 3 crianças do grupo I e equipes de 2 crianças do grupo II, jogando entre si, onde o grupo I desempenha o papel de atacante ( Aa ), enquanto que o grupo II desempenha o papel de defensor ( Ds ).

  2. Momento - Equipes de 3 crianças do grupo II e equipes de 2 crianças do grupo I, jogando entre si, onde o grupo II desempenha o papel de atacante ( As ), enquanto que o grupo I desempenha o papel de defensor ( Da ).

    Atividade II - Jogo de precisão no passe desenvolvido em um espaço de 10 x 20m onde as crianças trocam passes, divididos em duplas. Distantes 20 metros um do outro, os participantes farão 20 passes cada um, tendo como objetivo fazer a bola passar entre dois cones, afastados 1 metro um do outro, situados entre os dois participantes a uma distância de 10 metros.

    Os dados referentes aos comportamentos individuais no desenvolvimento das atividades I e II foram coletados em fichas, com base na observação de fitas de vídeo, e analisados segundo os itens descritos em fichas de avaliação.

Quadro 03 - Ficha de avaliação do Jogo de Precisão.
Fonte: Adaptado de Gimenez (1998).

Quadro 17 - Ficha de avaliação do Jogo Motor de Situação (com posse de bola).
Fonte: Adaptado de Gimenez (1998).

Quadro 04 - Ficha de avaliação do Jogo Motor de Situação (sem posse de bola).
Fonte: Adaptado de Gimenez (1998).


Análise e descrição dos dados

    Antes de iniciarmos as atividades do projeto de pesquisa, foi feita uma avaliação baseada nos dados contidos na “Ficha de Avaliação do Jogo de Precisão”, numa versão adaptada de Gimenez (1998).

    Esta primeira avaliação teve como objetivo fornecer dados que estabelecessem um diagnóstico do desempenho dos alunos, dos dois grupos, no Jogo de Precisão que indicamos no projeto de pesquisa como sendo a atividade II. Apresentaremos a seguir os valores que se referem ao desempenho obtido pelos dois grupos na atividade II, o jogo de precisão no passe desenvolvido em um espaço de 10 x 20m onde duas duplas de crianças trocam passes. Distantes 20 metros um do outro, os participantes farão 20 passes cada um, tendo como objetivo fazer a bola passar entre dois cones, afastados 1 metro um do outro, situados entre os dois participantes a uma distância de 10 metros.


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