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A moral e a ética do carrinho no futebol:
uma visão histórica e atual
Prof. Luiz Antonio Leitão e Prof. Dr. Manoel J. G. Tubino

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 47 - Abril de 2002

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    O carrinho está inserido na regra 12 (faltas e conduta antidesportiva) e segundo a International Board, foi adicionada a regra a seguinte interpretação:

  1. Um jogador que execute um carrinho por trás, deve ser punido com o cartão vermelho;

  2. Um carrinho por trás colocando em perigo a segurança de um adversário deve ser punido como uma falta grave;

  3. Toda ação que constitui numa falta grave é punida com cartão vermelho.

    Para Nazareno(1997), permitido atacar com deslizamento sobre o terreno de jogo, empregando uma ou as duas pernas sem que, na opinião do árbitro, a ação não chegue a ser perigosa para o adversário. Todavia, se o jogador que efetua o ataque não chega a tocar na bola e derruba (atinge) o seu adversário, o árbitro deverá marcar um tiro livre direto e expulsar o agressor.

    Alguns árbitros de futebol, interpretam o carrinho de uma forma subjetiva, porém está situação é contestada por muitos adeptos da arbitragem. O árbitro deve proteger a arte no futebol e punir os violentos.

    Para Beresford (1994), o carrinho, portanto é legalmente permitido, faz com que assistamos a muitas cenas de verdadeira ignorância e desumanidade.

    Interpretamos o carrinho como sendo uma jogada, quando com os pés rente e levantado no gramado, acerta um adversário pela frente, lados ou por trás, tendo este a posse de bola, praticando uma jogada violenta, capitulada no artigo 308 da Comissão Brasileira Disciplinar de Futebol-CBDF, sendo o agressor punido com suspensão de 1 a 2 partidas.


7. O carrinho e suas vítimas

    Não há dúvida entretanto, que o carrinho oferece perigo aos atletas e, portanto fazendo uma longa lista de vítimas, que serão exemplificadas agora:

    Recentemente, tivemos alguns casos de violência em que os atletas que foram atingidos pelo carrinho e, ficaram impedidos de praticar a sua profissão. Começaremos analisando o caso do jogador Juninho paulista (24 anos) 1 de fevereiro de 1998.

    O meia juninho, do Atlético de Madri, fraturou o tornozelo na partida em que seu time empatou em 1 a 1 com o Celta pelo Campeonato Espanhol. Juninho, que até se contundir, era um dos melhores em campo, foi vítima da jogada mais condenável no futebol: o carrinho por detrás, que a FIFA manda punir com cartão vermelho imediatamente. O jogador adversário, foi apenas advertido com o cartão amarelo.

    O atleta Juninho, que disputava uma vaga de titular na seleção Brasileira, para a copa da França, ficou impedido de participar do maior evento esportivo no mundo. A sua contusão foi analisada pelos médicos da seguinte forma:

O jogador teve uma fratura de fíbula, ruptura da membrana que liga a fíbula a tíbia e dos ligamentos do tornozelo esquerdo que determinaram de uma placa com cinco parafusos. Tempo mínimo para jogar: entre 5 a 8 meses".

    Mais um caso, que deixou toda a comunidade esportiva apreensiva, principalmente as pessoas ligadas ao futebol, foi a contusão do jogador Pedrinho do C.R. Vasco da Gama. Ao ser atingido por um carrinho, desferido pelo zagueiro do Cruzeiro que o deixou de fora do Campeonato Brasileiro e do Mundial de clubes, com uma lesão no ligamento cruzado anterior do seu joelho, com previsão para a sua recuperação entre seis a nove meses para voltar a correr.


8. A descrição da situação ética

    É bom fazer uma distinção, para caracterizar o tipo de descrição, entre o problema ético e as questões da moralidade.

    Para viabilizar a nossa reflexão podemos começar perguntando, se existe realmente uma ética pronta e acabada para aproximá-las do carrinho no futebol? ou se ainda queremos tratar o carrinho em nome da ética? ou se o carrinho carece de uma autonomia teórica e de uma práxis específica?

    A ética diz respeito especificamente ao modo de ser do homem, onde é construído o sistema de significações que sustentam a ordem social, cujas as fontes primordiais são a magia, os mitos e a religião.

    No seu contexto a ética interioriza os fundamentos que regem as relações do indivíduo consigo mesmo, mas especialmente nas relações entre os homens. Especificamente o jogador ao atingir um adversário com um carrinho, estará pensando ele, nas relações envolvidas pela ética profissional?

    Portanto, hoje o problema ético, está ligado a natureza, tendo suas raízes mais profundas nas misteriosas forças que regem, unem e entrelaçam o jogo do homem e o jogo do mundo.

    Já a moralidade, é expressa na preocupação de saber como o homem deve agir, e esteve sempre presente na história da humanidade.

    O problema ético, propriamente dito, surgiu tardiamente. Para Freitag (1992), só aparece quando a pergunta que o homem se fazia, "como devo agir, transformou-se numa série de outras dúvidas que exigiam esclarecimentos.

    Ao interpretar o carrinho, podemos acrescentar que é uma jogada anti-ética e amoral, pois nem tudo que é legal é moral ou ético . É tolerável.

    O imperativo categórico de Kant tornou-se o grande apoio as éticas cognitivas, que asseguram a possibilidade de que as questões práticas são passíveis de verdade.

    Na moralidade, seguindo o raciocínio de Freitag (1992), é centrada na pergunta: "como devo agir"?, coloca em destaque o sujeito que age. E como toda ação pode ser submetida a julgamento que somente poderá ser feito em nome de critérios e de valores que, por sua vez podem ser traduzidos em princípios orientadores das ações.

    Entendo que o problema básico do carrinho no futebol, é que a jogada sendo de alto risco, pode tomar proporções irremediáveis, ou seja, o jogador atingido pode ficar inutilizado para exercer a sua função, perdendo a sua estabilidade emocional e social. O jogador após uma lesão grave não será mais o mesmo craque, estaríamos criando uma legião de miseráveis que foram atingidos pela violência do carrinho. Por este motivo considero a jogada amoral.

    Com tantas controvérsias, entre a ética e o carrinho, não é de estranhar que a sociedade acabe pedindo a construção de um código de disciplina novo e mais punitivo em relação a violência no futebol.

    Atualmente existem duas correntes para julgar o carrinho. A primeira é a favor da eliminação total do carrinho, por achar que um ato de alta periculosidade, onde o "agressor ", põe em risco o atleta. Na segunda é quando o carrinho é dado, o "agressor" deveria ficar o mesmo tempo parado que o agredido, em caso de uma lesão grave. Em relação e esta Segunda, deveremos tomar cuidado, pois não existe punição condicionada.

    Neste intervalo de tempo, exemplificando ao que foi citado anteriormente, Beresford (1994) esclarece que um jogador, ao transformar a bola em um fim (quando esta é apenas um meio de se atingir o objetivo do futebol que é o gol) e a pessoa humana em meio e não considerá-la como um fim em si mesmo, novamente está retirando o valor ou desvalorizando o ser humano, reduzindo-o a um simples objeto ou "coisa."

    Em relação à moral, Kant (citado por Nascimento, 1984), afirma que:

"Não é propriamente dito a doutrina que nos ensina como devemos nos tornar felizes, mas como devemos nos tornar dignos da felicidade."

    Assim sendo, existe a ética em que o chefe máximo ou chefe da família, estimula a luta até a destruição do oponente. Desta maneira, o local da batalha, a organização do jogo e do torneio, pertencem à jurisdição do chefe ou patriarca que se articula com o vencedor da batalha, para introduzi-lo no grupo ou na sua tribo que representa. À vista disso, o perdedor pode ser destruído pela sua tribo.

    No futebol, a ética é importante na evolução da consciência do comum. Neste jogo, as regras restringem e ajudam na codificação do certo ou do errado, bem ou mal que está no fundo da alma. A discussão de argumentar em relação a ética, torna-se viva em proporção ao conflito gerador da relação em que é situado os integrantes, e a sua consciência. À vista que, a ética reponta, possui movimento próprio e norteia a transformação do jogo.

    Os lances de uma partida são geradores de transformações vividas e da reponta que levam as emoções mais significativas. Acreditamos que a ética nomeia e marca o movimento, por onde a dramatização torna-se relativa e próxima as altitudes emocionais nos registros térmicos e, sejam importantes para serem vivenciados na consciência, e no sazonamento da personalidade e do comportamento.

    A habilidade do jogador está ligada à ética, Para Beresford (1994), certos jogadores por serem menos habilidosos tecnicamente que outros, utilizam-se de determinados recursos considerados por muitos legais, ou até mesmo apontados como normais por outros. Porém, o limite para tal interpretação extrapola, na grande maioria das vezes qualificações para o imoral.

    Para Sartre (1964), o homem é responsável por ele e pelos outros a partir do que decide ser e fazer. Pela minha decisão do que quero ser e do quero fazer sou responsável por mim e por todos.


9. Conclusão. O que fazer

    No final desta apresentação e conforme o estilo de abordagem, a conclusão não pretende ser uma solução e nem um decálogo de preceitos, mas apenas, um indicativo de caminhos possíveis para se agir eticamente nos campos de futebol.

    Diante da impossibilidade de se ter um sistema de valores universalmente válido, surge uma sabedoria oriental como instigamento de nossa responsabilidade na instauração do que é bom ou mau, justo ou injusto.

    Onde então, encontrar a fonte da verdade e a inspiração moral que fundamenta nossa decisão responsável? Esta também é uma escolha do homem, pois o homem precisa saber que está sozinho na imensidão indiferente do universo.

    Talvez tenhamos medo desta responsabilidade. Nós somos das definições claras e precisas que nos garantam o que é bom e o que é mau, o que é certo e o que é errado, o que é justo e o que é injusto.

    Já existem estudos para melhoria da qualidade interpretativa as regras e punitivas para os agressores no futebol, com o objetivo de criar a uniformidade na arbitragem, onde todos os árbitros terão um acompanhamento da interpretação da regra do jogo.

    Também no Tribunal de Justiça Desportiva, estão sendo feitos estudos para a punição do carrinho. Quando um mesmo jogador ao ser expulso de campo por ter atingido um adversário com um carrinho, ele deverá ser suspenso por seis partidas e caso ele for reincidente ele deverá ser afastado entre 30 a 180 dias e se ele incapacitar o seu adversário ele deverá ser eliminado do futebol, sendo que o agressor ou seu clube deverão ser responsabilizados pelos danos morais e materiais, ao atleta lesionado.

    Minha conclusão é muito pessoal, ou seja, este estudo não é um ponto final e sim um início. Não é o apito final de um jogo, mas sim o seu começo.

    A ética no futebol precisa ser inventada, em todos os segmentos que ele envolve . Começando pela mídia e principalmente na arbitragem.


Referências bibliográficas

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  • GORDON JR., C.C. História Social dos negros no futebol brasileiro. Rio de Janeiro UERJ, (SR-3), nº 2, pesquisa de campo, 1995.

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  • HOLANDA , A - Dicionário da Língua Portuguesa - Ed. Globo - 1988

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  • MODERNO, J. R. Estética do futebol. Rio de Janeiro: Revista Práxis da Educação Física e dos desportos, vol. 2, UERJ, p.52, 1998.

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  • _________ Futebol e violência no Brasil. Rio de Janeiro: UERJ, ( SR-3 ), nº 3/4, pesquisa de campo,1996.

  • NAZARENO, A - Fundamentos da Arbitragem de Futebol - Ed. Sulina - 1997

  • RAMOS, R. Futebol: Ideologia do poder. Petrópolis : Vozes, 1984.

  • SARTRE , J.P. - O Existencialismo é um humanismo - Presença - 1964

  • SINGER, R. N. Psicologia dos esportes. 2ª ed. São Paulo: Harbra, 1986

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