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A moral e a ética do carrinho no futebol:
uma visão histórica e atual

   
*Mestrando na área da motricidade humana
Universidade Castelo Branco - RJ
Arbitro de futebol profissional CBF - FERJ
**Universidade Castelo Branco RJ
(Brasil)
 
 
Prof. Luiz Antonio Leitão*
Prof. Dr. Manoel J. G. Tubino**

roerafa@ig.com.br 
 

 

 

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 47 - Abril de 2002

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1. Introdução

    Estamos diante de um enunciado, onde o objetivo deste trabalho foi criar uma reflexão sobre a interferência de uma jogada desnecessária e violenta, que está no contexto do futebol.

    A reflexão tratar-se-á de uma simples abordagem, onde os questionamentos e as respostas poderão encaixar-se nas peças conforme uma metodologia comprovada e um modelo pré-estabelecido.

    Temos entidades objetivas que precisam ser relacionadas no decorrer existencial do futebol. A primeira analisa as principais relações históricas do futebol. A segunda seria uma análise da dinâmica da jogada, e qual a sua característica específica que contribui para sistematização da violência que envolve a natureza do futebol. Finalmente a terceira seria o E, cuja a função gramatical está relacionada à agrupar elementos em uma realidade. De um lado temos a ética e a moral, sendo amplamente familiar e recebendo um discurso futebolístico, incorporando-se aos grandes temas utópicos, que foram inspirados na convivência com a comunidade científica e a sociedade.

    O carrinho no futebol, pode levar a violência dentro do campo, numa dimensão onde os segmentos envolvidos deveriam conscientizar das mudanças emergentes, o aprimoramento profissional das entidades envolvidas, estariam relacionadas para o embelezamento do jogo.

    Como o título demonstra, este estudo tem como objetivo elaborar uma interpretação histórica, sociológica e filosófica sobre a violência do futebol, principalmente o carrinho.

    Antes de entrar no mérito desta polêmica e permanecendo na literalidade do enunciado, ética, moral e o carrinho, tem-se a preocupação didática, quase mecânica e funcional. Afinal que problemas encontraríamos em aproximar algumas realidades que fazem parte do nosso discurso acadêmico.

    O certo e o errado, o bem e o mal, legal ou ilegal, moral e o imoral, encontraremos a necessidade de julgar, no que excede, então teremos o carrinho gerando a violência.

    Após estas considerações preliminares, começaremos a refletir a violência do carrinho como fato em que envolve desde a aplicação da regra do futebol até as manifestações encontradas na mídia, ou em ambientes em que ele está relacionado e discutido.


2. Nasce o jogo da bola

    Na verdade, existe uma variante do mais antigo esporte de bola com os pés que se conhece. Nascido na China, no ano de 2600 antes da nossa era, e seu inventor, Yang- Tsé, pertencia à guarda do jovem imperador Huang-ti, que foi talvez o primeiro nobre a interessar-se pelo futebol.

    A bola, freqüentemente representada nos monumentos Gregos, simbolizava a juventude ou a arte de curar. Os nobres que se dedicavam a ela, o faziam mais para aperfeiçoar a estética do corpo, em geral nos ginásios. As crianças, divertiam-se nas ruas ou no campo, com bexigas de boi insufladas de ar.

    Já os romanos, o jogo era disputado também com uma bola de bexiga de boi, coberta por uma capa de couro, a que os romanos chamavam de follis.

    O gosto pelos jogos de bola desenvolveu-se ao mesmo tempo na França e na Inglaterra, durante toda a idade média O jogo variava muito em relação ao número de participantes e nas dimensões do campo, havia sempre uma linha de meta a transpor, fosse com o simples arremesso da bola, fosse fazendo com que esta passasse entre 2 bastões fincados no chão. Com esse jogo ou com o seu posterior bretão, começam as renhidas disputas de bola, dando origem à primeira fase de violência do futebol.

    Durante muito tempo, o futebol teve para o povo Inglês um sentido essencialmente cívico, sendo disputado apenas nos festejos anuais.

    Ingleses e Escoceses, em dias comuns, entregam-se ao futebol com uma violência que parece crescer, em pleno século XVI. Não era a toa que alguns historiadores referiam-se ao futebol como sendo um jogo bárbaro, que só estimulava a cólera, a inimizade, o ódio, a malícia e o rancor. Pernas quebradas, dentes arrancados, homens atirados ao solo na fúria da luta pela bola e roupas rasgadas. Na Inglaterra onde centenas de homens se matavam por uma bola, a sua popularidade cresceu indefinidamente, talvez a resposta esteja no fato de que o futebol vive em razão das paixões que desperta.

    O futebol foi oficialmente codificado a 1 de dezembro de 1863, a partir das nove regras (atualmente são dezessete) estabelecidas por Cambridge e submetidas aos representantes dos clubes e universidades numa reunião a 24 de novembro daquele ano.

    Em 1863, o arremesso lateral, o ato de cabecear, a cobrança do tiro de canto, e etc.. O futebol ensinou a geração posterior de 1863, que nada e definitivo em termos de técnica e mesmo de regras.

    O futebol não seria hoje um esporte tão técnico se desde as primeiras regras, não se procurasse estabelecer normas para a disputa da bola, diferenciando o jogo viril do jogo violento. O calço, o carrinho, o pontapé, o uso dos braços, o tranco por trás, a joelhada, a obstrução e a sola, já eram recursos proibidos aos jogadores do século XIX.

    Em 1886 é criada a International Board, que até hoje regula as leis do jogo no mundo inteiro. Nos anos seguintes foi institucionalizado a figura do árbitro, autoridade máxima em campo. No ano de 1904 foi criada a FIFA.

    O futebol chega ao Brasil através de Charles Miller, em 1895.

    Por ser jogado com os pés e com uma bola, o futebol está ligado à cultura brasileira. Moderno (1998), afirma que o pé é uma invariante na cultura brasileira, indo do futebol ao samba, passando pela capoeira e pelas artes marciais coreanas, japonesas e chinesas que foram bem assimiladas no Brasil. Portanto, podemos destacar o futebol e o carnaval como fenômenos culturais da nossa população. Apesar de alguns cientistas sociais afirmarem que o futebol e o carnaval são alienações sociais.

    Gordon Jr.(1995) confirma que:

"No caso brasileiro, o futebol é o fenômeno que se impõe como forma imperativa, capaz de penetrar intensamente no cotidiano de nossas vidas, influenciando hábitos e costumes."

    A forma de vida cultural do brasileiro, tem nesse jogo a sua seqüência e o seu ponto de estudo. Murad (1995), afirma que o futebol, é a síntese dinâmica da estrutura social maior e, portanto, uma via de acesso privilegiada para a investigação sociológica acerca das forças sócio-históricas dominantes da realidade brasileira.


3. O futebol e o sagrado

    O futebol é um esporte moderno onde, apesar da sua integração no funcionamento da sociedade industrial conserva traços muito evidentes da sua ligação profunda ao ludismo arcaíco, aos fenômenos míticos e ao universo religioso.

    Para J. Huizinga (1977), por exemplo, o jogo e a religião são semelhantes. Por um lado temos o estádio, o jogo e a ação lúdica; por outro lado temos o santuário, o culto e a liturgia. Ambos os fenômenos exercem na sociedade uma função análoga.

    O futebol, enquanto jogo, é um universo bem misterioso e talvez a presença do mistério que dá força e toda a magia a este fenômeno ludodesportivo.

    No universo mítico do esporte, encontramos o mito vivo. As lutas primordiais são realizadas através dos combates desportivos, os heróis míticos são incarnados pelos ídolos esportivos.

    A estrutura espacio-temporal do esporte tem um funcionamento simbólico, de natureza mítico religiosa. Os estádios são templos e alguns designados como majestosas catedrais, e o terreno de jogo é visto como sagrado; o tempo do jogo é verdadeiramente festivo e os encontros esportivos são vividos como autênticas romarias populares, algumas comparadas as grandes concentrações religiosas.

    A realização de uma partida de futebol, está marcada pela ritualização de movimentos e gestos de uma obra, ou a cena teatral de um espetáculo: na entrada em campo das equipes, existe uma manifestação de carinho com os seus jogadores, que estão representando a sua pátria ou o seu clube de coração, o canto do hino nacional, o quarteto de arbitragem com todo o seu ritual, o cara ou coroa para a escolha dos campos, as jogadas emocionantes que podem ou não resultar em gol. Do outro lado temos a torcida, o espectador mesmo sem estar dentro das formas geométricas internas do campo de jogo é monopolizada pela geometria dos estádios, convivendo com as mesmas emoções que cercam os jogadores e árbitros.

    A ritualização do culto no futebol, foi comparado por Murad (1995), da seguinte maneira:

"O culto a uma equipe esportiva, como culto a um animal, faz com que todos os participantes se tornem altamente conscientes de pertencerem a um coletivo. Ao aceitarem que uma equipe em particular os represente simbolicamente, as pessoas desfrutam de um parentesco ritual, baseado nesse vínculo comum."


4. A violência é um universo sócio-antropológico

    A violência se encontra nas origens do mundo e da nossa história e que ela constitui uma componente essencial da vida humana. A violência está inscrita no coração do homem e no ser do mundo.

    Sendo assim, quando se trata de refletir sobre a questão da violência e principalmente do carrinho no futebol, o problema está em saber como eliminar a violência e a fazer desaparecer da sociedade futebolística. Um dos meios para conseguir isso, poderá ser a aproximação da prática mítico-religiosa ou então a materialização da violência pela sua ritualização, evitando assim que ela seja ainda mais nociva ao futebol.

    No futebol encontramos uma perfeita ritualização da violência. E nos seus rituais, não falta, como vamos ver o famoso mecanismo arcaico do "bode expiatório". Nas equipes, este papel é freqüentemente representado pelo treinador, mas no ritual dos jogos, o papel ritual e mítico do bode expiatório é normalmente o árbitro. Marcuse (in Singer, 1979) cita:

"Essa cultura no e para o indivíduo, o sistema de inibições que gerava e regenerava os valores e instituições predominantes. Sendo o futebol gerador de paixões, mobilizador das massas, catalizando em torno de si tanta atenção e interesses, um meio de manipulação do povo, é inevitável que a violência esteja presente, e seja vista até como coisa natural, pois diz-se sempre que futebol é coisa para homens."

    Segundo a teoria de Norbert Elias (1992), a violência nas sociedades é devido a:

  1. A formação do Estado e o seu respectivo fortalecimento como responsável pela mediação das forças de uma sociedade.

  2. Aumento das cadeias de interdependência.

  3. Democratização funcional referindo-se ao fato de haver uma mudança niveladora no equilíbrio de poder entre classes e grupos sociais.

  4. A elaboração e o refinamento das condutas e dos padrões sociais.

  5. Aumento consciente da pressão social sobre as pessoas para que estas exerçam autocontrole na sexualidade, agressão, emoções de um modo geral e, principalmente, nas relações sociais.

  6. Em relação à personalidade do indivíduo, aumento da importância da consciência como reguladora do comportamento, ou seja, incremento de um superego forte.

    Existem tentativas de mudanças com experiências em alguns esportes e principalmente no futebol com a finalidade de diminuir a violência das pessoas participantes. Para Singer (1986), as regras do esporte não permitem ao atleta expressar-se livremente, entretanto as regras desportivas freqüentemente entram em conflito com metas e meios de alcançar a vitória. Os conflitos internos e as pressões externas simuladas criam uma situação que confunde o atleta com respeito à expressão de suas emoções.

    Muitas vezes, a técnica e a tática desportiva são desprezadas em função da violência exercida pelas equipes. Assim sendo, Ramos (1984) acrescenta que o interesse pela agressividade é bastante sintomática. Fortalece o futebol, como catarse. Á exigência não incide na técnica. Não está na jogada bem - acabada, nem gol. Ela gravita na possibilidade da fuga da realidade. A medida que ocorrem agressões, os torcedores liberam os seus impulsos violentos. No estádio, há uma coleção de bodes expiatórios à disposição. Xinga o juiz, vaia e grita palavrões.


5. O árbitro e suas oposições

    A sociedade é contraditória para o próprio homem, ela funciona a base de oposições, na língua a vida do homem é povoada de conflitos. Descobrimos então o papel social do árbitro, que representa o mundo das contradições, de paradoxos e oposições, seria uma espécie de ator ritual que dá vida nova ao modelo mítico considerado indispensável para a compreensão e análise da regra do jogo ,e sua avaliação instantânea no momento da jogada, especialmente no contexto da nossa reflexão, o carrinho.

    Ao analisar os fatos morais do carrinho, Beresford (1994) enfatiza que como a maioria dos árbitros ou guises fazem "vistas grossas", esse fatos vão se tornando corriqueiros.

    O problema é que no campo, a questão é subjetiva: o árbitro é que decide se dá cartão para o carniceiro do carrinho e, portanto, se o cita na súmula.

    Portanto no futebol, a figura do árbitro é contestada, e sendo o símbolo de um mundo que tem que assumir a dialética dos contrários e de tentar o seu equilíbrio.

    Assim, o árbitro é o guarda de uma lei reconhecida necessária, mas que queremos sempre interpretar; ele é o símbolo de um poder, mas sempre contestado, sendo a imagem de um destino implacável, mas que nos podemos em certa medida, construir.

    O árbitro, absorve na lei desportiva a concretização das sentenças e dos valores atribuídos ao seu julgamento de magistrado. Sendo a atividade comparada a de um juiz togado.

    Ao apreciar ou interpretar todos os meios legais do jogo, ele pode ser considerado o sacerdote das solenidades, proibindo as profanações existentes no campo da religiosidade futebolística e, desta maneira, visualiza o seu sacramento funcional.


6. O carrinho e sua "subjetividade"

    O carrinho é instituição internacional há anos. Os Ingleses são os pais da idéia. A jogada chama-se TACKLE FROM BEHIND e tem as mesmas conseqüências desastrosas em todos países em que o futebol é praticado.

    Segundo Holanda (1988), a palavra carrinho também pode significar, argola de ferro, que se aplicava por castigo, à perna dos soldados.

    Sendo o futebol, concebido como um jogo visando essencialmente a competição, oferece o meio lícito de interpretar as suas regras.


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