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Proveitos do exercício físico na
prevenção e tratamento da obesidade infanto-juvenil

  *Professora do SESI-Aracaju
**Professor Assistente da Universidade Federal de Sergipe
(Brasil)
Profª. Edisangela Fonseca Alves* (autora)
Prof. Msc. Afrânio de Andrade Bastos** (orientador)
aabastos@se.senai.br

 

 

 

 
Monografia apresentada na conclusão do curso de Educação Física na Universidade Federal de Sergipe

Resumo:
    Nossa pesquisa tem como objetivo verificar se a prática regular de exercícios físicos contribui na redução do percentual de gordura. Onde desenvolvemos esta produção científica como uma pesquisa de campo, com cunho experimental. A qual foi realizada com um grupo constituído de 14 crianças e adolescentes, com faixa etária entre 9 e 17 anos, previamente diagnosticados como obesos e com sobrepeso, sendo estes alunos do Grêmio Escolar Graccho Cardoso localizado na cidade de Aracaju-Sergipe. Dividimos a fase de experimentação em três etapas: pré-teste, execução de atividades e pós-teste, tendo como variável controle apenas o exercício físico. Realizamos o pré-teste onde coletamos as medidas de nove dobras cutâneas, sete circunferências, o peso e a estatura. A segunda etapa da fase experimental foi realizada com a nossa interferência pedagógica. E no pós-teste coletamos os mesmos dados do pré-teste. Os resultados foram estudados de acordo com cinco variáveis: percentual de gordura médio, peso corporal (Kg), gordura corporal (Kg), excesso de gordura (Kg) e massa magra corporal (Kg). Esses resultados foram submetidos a cálculos pela inferência estatística do teste t de Student com nível de significância 5%. O resultado encontrado confirma a hipótese de que a prática regular de exercícios físicos reduz o percentual de gordura e consequentemente previne a proliferação das células adipócitas durante a infância e adolescência, assim como trata a obesidade.
    Unitermos: Obesidade. Prevenção. Exercício físico
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 7 - N° 39 - Agosto de 2001

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Introdução

    Este artigo tem por intuito apresentar um breve relato a cerca do grau de obesidade em crianças dos 09 aos 17 anos da classe média em Aracaju, quais as suas causas, enfim desenvolver um trabalho prático de exercícios físicos através destes conhecimentos.

Traçamos nosso objetivo da seguinte forma: verificar se a prática regular do exercício físico contribui na redução do percentual de gordura para a prevenção e tratamento da obesidade infanto-juvenil .

    Tivemos por meta concretizar uma pesquisa de campo, através de um método experimental com abordagem quantitativa, para um grupo de 14 pessoas entre crianças e adolescentes obesos e com sobrepeso, alunos do Grêmio Escolar Graccho Cardoso, sendo este um colégio da rede particular de ensino da cidade de Aracaju. E para selecionarmos este grupo se fez necessário medirmos peso e altura dos 324 alunos do colégio, dentre estes 61 foram diagnosticados com sobrepeso e 24 com obesidade.

    Para fundamentarmos esta pesquisa firmou-se a problematização: A prática regular de exercícios físicos previne e trata a obesidade precoce? Tentando refletir a cerca das possíveis respostas a esta pergunta, surgem as seguintes hipóteses:

  • Ha - A prática de exercícios físicos eleva o gasto energético, favorecendo a redução das reservas lipídicas;

  • Ho - A prática de exercícios físicos não eleva o gasto energético que favorece a redução das reservas lipídicas.

    Como preeminência este trabalho servirá de base científica para posteriores estudos a cerca da obesidade infanto-juvenil na cidade de Aracaju. Bem como, vimos através desta pesquisa enfatizar a importância do exercício físico para a prevenção e tratamento da obesidade precoce, já que, geralmente "as crianças obesas têm propensão de ser um adulto obeso" como disse MENEZES citado por DANTAS (1999:32). Ao que concerne a obesidade infanto-juvenil, segundo o Consenso Latino Americano de Obesidade (COUTINHO, 1999:56) ...

...a obesidade é o resultado de um desequilíbrio permanente e prolongado entre ingestão calórica e gasto energético, onde o excesso de calorias se armazena como tecido adiposo. O gasto energético total em crianças e adolescentes se compõe de metabolismo basal, termogênese, atividade física e crescimento.

    A obesidade pode ser classificada de acordo com a dimensão e o número de células adiposas. Quando ocorre um aumento na dimensão das células adiposas já existentes, este processo é determinado de hipertrofia , o qual ocorre em maior freqüência na fase adulta. Já quando o número de células adiposas aumentam denomina-se de hiperplasia, o que acontece na infância e adolescência. (McARDLE, KATCH & KATCH, 1985:380)

    Conforme DÂMASO, TEIXEIRA & NASCIMENTO (1994:102)

...observa-se que na infância deve ser iniciado o processo de prevenção da obesidade, pois nesta fase verifica-se tanto o aumento no tamanho, quanto no número das células adiposas. É neste período portanto, que a obesidade hiperplásica/hipertrófica é desencadeada à nível central e periférico.

    O processo de hiperplasia é mais identificado nas fases de desenvolvimento, onde o Consenso Latino Americano de Obesidade identifica três períodos críticos: "o primeiro período ocorre durante a gestação e primeiro ano de vida; o segundo entre os 5 e 7 anos de idade, o chamado período de rebote; e o terceiro na adolescência" (COUTINHO, 1999:56). Por essa razão se faz necessário e relevante um trabalho de conscientização para prevenção durante estas fases, já que o período de proliferação das células adiposas acontece exatamente na infância e adolescência. No tocante à conscientização nos referimos justamente ao auxílio dos pais para o incentivo à prática de exercícios físicos e no controle da alimentação.

    Várias são as causas da obesidade, destacamos o sedentarismo, hereditariedade, a hiperfagia, disfunções glandulares e os problemas psicológicos. Já o que diz respeito as consequências da obesidade nas crianças e adolescentes são bastante avassaladoras, pois de acordo com o Consenso Latino Americano de Obesidade, citado por COUTNHO (1999:57), ocorre a nível:

Psicossocial: apresentam transtornos de conduta, signos de depressão e angústia com baixa auto-estima. Ainda mais, tornam-se introvertidas para participar de atividades físicas e para relacionarem-se socialmente, refugiando-se ao sedentarismo e alimentando-se de uma maior ingestão com sentimento de culpa. Ortopédicos: podem apresentar pé plano, escoliose, epifisiólises, coxa vara, ginus valgo e tíbia vara. Dermatológicos: Infecções cutâneas, furunculosis, acntosis nigricans. Cardiorrespiratórios: Entre a hipertensão arterial e a apnea do sono. Problemas endócrinos: hiperinsulinemia ou insulina resistência; triglicerídeos e Apo B, diminuição de HDL colesterol e Apo A; diminuição da secreção do hormônio de crescimento; diminuição da resposta da prolactina aos estímulos; ritmo circundante normal do cortisol, elevação de andrógenos e da DHEA, menarca prematura; diminuição da globulina transportadora dos esteróides sexuais, aumento da aromatização da testosterona e estrógeno (na feminização); nos meninos hiperandrogenismo, hirsutismo e poliquistoses ovárica e nas meninas aumento da progesterona).

    Diante de todos conhecimentos adquiridos sobre a obesidade e os benefícios do exercício físico citamos GUEDES & GUEDES (1997:163), o qual diz que

"os programas de exercícios físicos podem provocar importantes modificações com relação aos parâmetros de composição corporal, tais como: a quantidade de gordura tende a diminuir, ocorre um maior desenvolvimento da massa magra e há poucas alterações no peso corporal".

    Como resultado dos efeitos potenciais do exercício na criança obesa ROWLAND (1990) citado por DÂMASO, TEIXEIRA & NASCIMENTO (1994:107) acrescenta o seguinte: "Diminui a percentagem de gordura corporal; Aumenta a massa magra; Potencializa a termogênese (dieta); Diminui a pressão arterial; Aumenta a condição cardiovascular; Beneficia a saúde psico-social".


Metodologia

    Desenvolvemos nosso trabalho através de uma pesquisa de campo com cunho experimental e uma abordagem quantitativa. Para o critério de seleção da amostra nos embasamos em dados estabelecidos pelo Consenso Latino Americano de Obesidade, o qual dá como parâmetro cálculos por percentil de gordura corpórea. Segundo COUTINHO (1999: 56) "a criança é considerada obesa quando seu Índice de Massa Corporal (IMC) se encontra acima da média para a sua idade". Para diagnosticar a obesidade e sobrepeso, o autor supracitado indica a fórmula para se calcular e os resultados por percentual.

    O percentual será 100 em uma criança de peso e altura média. Será considerada com sobrepeso em IMC 110%, e com obesidade se o IMC é de 120% ou acima deste percentual.


Pré-teste

    Começamos o programa com a aplicação do pré-teste, o qual tratou-se de uma avaliação antropométrica, que consistiu em medir nove dobras cutâneas (subescapular, tríceps, bíceps, peito, subaxilar, supra-ilíaca, abdominal, coxa e perna), sete circunferências (tórax, abdome, quadril, braço, punho, coxa e tornozelo) sendo todas as medidas do lado direito, o peso corporal total e a estatura.

    O pré teste foi executado em 14 crianças e adolescentes, onde os dados foram lançados no software Avaliação Física Versão 1.2.

    As dobras cutâneas foram medidas nos referentes pontos anatômicos através de um Compasso de dobras cutâneas chamado plicômetro da marca LANGE, cuja característica é uma pressão idêntica em todas as aberturas.

Variável controle 1: Exercício Físico

    Para executarmos a principal fase da nossa pesquisa (aplicação dos exercícios físicos) foi necessário adaptarmos conhecimentos da área fisiológica ao tipo de do grupo específico que trabalharíamos (crianças e adolescentes obesos).

    O conteúdo foi distribuído por um período de três meses, executado em três sessões semanais com duração de cinquenta minutos cada aula. Dentre as atividades desenvolvidas realizamos jogos recreativos incluindo iniciação desportiva (ALBERTI & ROTHENNBERG, 1989), atividades aquáticas, atividades com música, circuitos contendo exercícios que desenvolvem flexibilidade, força e equilíbrio e caminhadas coletivas.

Variável controle 2: Reeducação alimentar

    Através desse programa procuramos estimular as crianças e adolescentes que participaram da pesquisa para um estilo de vida mais ativo, mostrando além das atividades, como aferir a frequência cardíaca, qual a sua importância durante a execução dos exercícios físicos. E apesar de não ter acompanhamento de uma nutricionista apresentamos quais os alimentos que eles ingeriam os que possuem valor nutritivo e ainda sugerindo maior consumos de frutas e verduras na alimentação.

    Não foi possível realizar este processo porque não contamos com o auxílio de uma nutricionista.

Variáveis de estudo

    De acordo com o programa de avaliação física que utilizamos, concentramos nossa pesquisa nas seguintes variáveis de estudo: Percentual de gordura médio, Peso Corporal (Kg), Gordura Total (Kg), Excesso de Gordura (Kg) e Massa Corporal Magra (Kg).

Pós-teste

    Após 41 sessões de atividades física orientadas realizamos o pós teste. Aqui medimos as mesmas dobras cutâneas e circunferências, assim como o peso e a estatura.


Resultados e análise dos resultados

    Para encontrar os resultados foi utilizada a inferência estatística através do teste t de student. Estabelecemos um nível de significância de 5% (valor que especifica a margem de erro indicado pela letra P, ou seja, P = 0,05).

Tabela nº 1 Resultado da avaliação do percentual de gordura médio


Gráfico nº 1 Resultado da avaliação do percentual de gordura médio

    Analisando a tabela e o gráfico nº. 1, o valor encontrado através do teste t foi P = 0,037. Este valor é considerado estatisticamente significativo, pois, para obter significância, o valor de P deve ser menor que 0,05. Assim, concluímos que, a nível de significância de 5% ( P< 0,05), houve redução do percentual de gordura médio do grupo.

Tabela nº 2 Resultado da avaliação do peso corporal


Gráfico nº 2 Resultado da avaliação do peso corporal

    Na análise da tabela e do gráfico nº. 2 resultado da avaliação do peso corporal, o valor encontrado foi P= 0,37, com este valor a um nível de significância de 5% (P< 0,05) podemos concluir que não houve redução do peso corporal grupo.

Tabela nº 3 Resultado da avaliação da gordura corporal


Gráfico nº 3 Resultado da avaliação da gordura corporal

    Na análise da tabela e do gráfico nº. 3, resultado da avaliação da gordura corporal, o valor encontrado foi P= 0,43, a nível de significância de 5% ( P< 0,05) podemos concluir que não houve redução da gordura corporal grupo.

Tabela nº 4 Resultado da avaliação do excesso de gordura

    Também na análise da tabela e do gráfico nº. 4, resultado da avaliação do excesso de gordura, o valor encontrado foi P= 0,12, a nível de significância de 5% (P< 0,05) podemos concluir que não houve redução do excesso de gordura corporal do grupo.


Gráfico nº 4 Resultado da avaliação do excesso de gordura

Tabela nº 5 Resultado da avaliação da massa corporal magra

    Na análise da tabela e do gráfico nº 5, resultado da avaliação da massa corporal magra, o valor encontrado foi P= 0,73, a nível de significância de 5% (P< 0,050 podemos concluir que não houve diferença significativa na massa corporal magra do grupo de alunos entre o pré e o pós teste.


Gráfico nº 5 Resultado da avaliação da massa corporal magra


Discussão dos resultados

    Ao compararmos os dados da tabela e gráfico n° 01 entre o pré e pós teste sobre a avaliação do percentual de gordura médio, o qual é estatisticamente significativo, conseguimos provar que a prática de exercícios físicos reduz o percentual de gordura. O que também pode confirmar os autores DÂMASO; TEIXEIRA & NASCIMENTO (1994) e GUEDES & GUEDES (1997) que dizem que a quantidade de gordura tende a diminuir quando associados aos Programas de Exercícios Físicos.

    E por fim, concretizando a conjetura afirmativa que diz a prática regular de exercícios físicos eleva o gasto energético favorecendo a redução das reservas lipídicas e conseqüente diminuição do percentual de gordura corporal.

    Portanto, houve uma diminuição do percentual de gordura em média do grupo, bem como individual o que pode ser detectado pelo gráfico n° 01.

    Analisando o Peso Corporal (Kg) observamos que houve redução, entretanto, não foi estatisticamente significativo (tabela e gráfico n° 02). O que pode ter acontecido pelo aumento da massa magra, ou pelo aumento da ingesta calórica, já que não houve controle alimentar. Considerando esse resultado, de acordo com GUEDES & GUEDES (1997) estes confirmam que com a execução de programas de exercícios físicos se têm poucas alterações no peso corporal.

    Uma observação fazemos para um dos alunos, que diminuiu 9Kg do seu peso inicial, onde este fator foi desfavorável para o tratamento, pois o mesmo fez uma dieta sem orientação específica. O que infelizmente não ficamos a par durante a execução do programa de exercícios físicos.

    Com relação a gordura corporal (em Kg), comparamos a média do pré e pós-teste do grupo, onde o resultado (tabela e gráfico n° 03) não foi estatisticamente significativo. Apesar disso foi constatado uma redução da quantidade de gordura em cada um dos alunos. Como podemos exemplificar através de um dos alunos que diminuiu a metade da espessura de quase todas as dobras cutâneas, por exemplo, no pré-teste tinha 42 mm de espessura para supra-ilíaca e no pós-teste estava com 21 mm.

    Analisando a quantidade do excesso de gordura, também o resultado (tabela e gráfico n° 04) não foi estatisticamente significativo, e podemos nos valer da explicação anterior. Contudo, os alunos não tiveram acompanhamento nutricional para um melhor controle alimentar. O que afetou os resultados no que diz respeito a uma maior redução da quantidade de gordura para diminuir o excesso.

    Uma outra possibilidade, é a freqüência de cada aluno pois os mais assíduos foram os que conseguiram melhores resultados. Isso porque a prática regular é que vai repercutir com êxito e almejar os benefícios do exercício físico, quando nos reportamos da revisão de literatura onde citamos autores DÂMASO; TEIXEIRA & NASCIMENTO (1994) e McARDLE; KATCH & KATCH (1985) os quais dizem que os exercícios físicos devem ser desenvolvidos numa frequência de 3 a 4 vezes, para que não haja perda de condicionamento orgânico.


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