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Currículo como Fato

• caracteriza-se por conceber a educação como transmissão cultural e como socialização em determinados valores e habilidades;

• abstrai o conhecimento dos homens que historicamente o criam e dos professores e alunos aos quais se destina;

• entende o currículo como objetivos socialmente prescritos, externos ao aluno, prontos para serem adquiridos;

• considera o papel do professor como transmitir conhecimentos produzidos por outros e incultar valores pré-estabelecidos;

• valoriza a disciplina como a forma mais adequada de organização do conhecimento escolar.

Currículo como Prática

• concebe a educação como uma atividade prática, que ocorre através da interação humana, possibilitando ao aprendiz significado a sua vida e ao seu mundo;

• considera o conhecimento como uma construção social, como produto do engajamento ativo dos homens na história e de suas tentativas de organizar suas relações com a natureza e com os outros homens;

• entende o currículo como uma seleção arbitrária, feita pelos que detém o poder;

• enfatiza a responsabilidade de professores e alunos pelo que sabem, negociam, trocam e criam quando trabalham juntos;

• rejeita o isolamento normalmente existente entre as disciplinas escolares e defende uma abordagem mais integrada do conhecimento curricular

Currículo como Crítica

• enfatiza que outros aspectos, não ligados às escolas, sejam também envolvidos nas ações dos professores e alunos para que estas se tornem uma possibilidade real de luta pela emancipação do homem;

• que as ações dos professores e alunos não fiquem restritas aos cenários educacionais e se articulem a estratégias mais amplas;

• criar, no interior da escola, conteúdos novos que correspondam a uma representação cultural prévia de um futuro melhor;

• examinar criticamente os conhecimentos que são trazidos para a escola, não romantizando o saber popular, nem idealizando o saber erudito.

    Essa visão tridimensional de currículo e, portanto, de conteúdo, é apresentada num quadro síntese elaborado por José Erasmo Campello (1995), adaptado por Sidney Forghieri Zimbres (1997).

QUADRO SÍNTESE : DIMENSÕES DA VIDA HUMANA E CURRÍCULO
Michael Young/ J.Habermas/ R.Macdonald/ J.L. Domingues

3. Conclusão

    A discussão dos conteúdos das disciplinas do ensino fundamental no Brasil é a tônica do momento. O Ministério da Educação e do Desporto apresenta, através dos parâmetros Curriculares Nacionais, novas propostas. Os profissionais de Educação Física tem que aproveitar este momento para refletir e propor novas concepções quanto aos conteúdos da ginástica, esportes, lutas, jogos, etc.

    É necessário estender as reflexões da concepção histórico-crítica da educação à Educação Física e socializar o saber elaborado (socialização da cultura erudita).

    A primeira preocupação deverá estar voltada para a organização dos conteúdos. Temos que romper com o sistema tradicional, a organização compartimentada dos conteúdos - organização clássica do saber elaborado - onde a disciplina Educação Física fica isolada da proposta educacional da escola. É necessário optar por uma proposição ou modelo - tanto os modelos organizativos disciplinares ou os métodos globalizados - que estejam voltados para a interdisciplinaridade ou, ainda mesmo que utópico, para a transdisciplinaridade.

    A Educação Física deve romper com suas concepções exclusivamente tecnicista de ensino e voltar-se para a construção de um ensino que privilegie e descomposição analítica e a reconstrução imaginativa. Mesmo no ciclo fundamental, é necessário e urgente, como coloca de forma magistral Unger (2000), as práticas de crítica, experimentalismo, cooperação e dialética, que caracterizam os estágios mais avançados da aprendizagem e da pesquisa nos países mais adiantados.

    Finalmente, o professor de Educação Física para contribuir na formação do futuro cidadão deverá proporcionar aos alunos, ao ministrar sua disciplina no âmbito escolar, além dos aspectos inerentes da natureza da própria disciplina, conhecimentos práticos e teóricos que ofereçam aos alunos a incorporação dos valores da atividade física e dos esporte e consequentemente, a capacidade de se auto-gerenciar na atividade física em sua vida. Ou seja, devemos adotar uma política, na construção dos nossos conteúdos, que garanta simultaneamente a aquisição de conhecimentos básicos para o mundo de hoje e a formação da cidadania. Como muito bem coloca Werthein (1999), é necessário o fortalecimento das pessoas pela educação cidadã de qualidade.

Bibliografia consultada

• Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental - Brasília: MEC/SEF, 1997, 126p.

• Brasil. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394, de 1996, 46p.

• COVRE, Maria de Lourdes Manzini. O que é Cidadania. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Editora Brasiliense S/A, 1999, 79p.

• Ética e cidadania: Caminhos da Filosofia: Elementos para o ensino de filosofia / [coordenação Sílvio Gallo] - Campinas, SP : Papirus, 1997, 111p.

• GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. Educação Física e pedagogia: a questão dos conteúdos. UFRGS (texto), 1990, 7p.

• Maranhão. Secretaria de Estado da Educação. Educação Física Escolar: guia curricular para elaboração de proposta pedagógica/ Maranhão: Secretaria de Educação. São Luís:SEEDUC, 1998, 64p.

• MOREIRA, Antonio Flávio B. Escola Currículo e Construção do Conhecimento. In Coletânea CBE.USP:São Paulo, 1992.

• RODRIGUEZ. Alejandro López. La Asimilación de Conocimientos Teóricos en la Educación Física. Uma Proposta Metodológica. In El Planeamiento Curricular en la Ensenanza Superior [ organizado por O González Pacheco ] Dpto. de Pedagogia y Psicologia / Centro de Estudios para el Perfeccionamiento de la Educación Superior.Universidad de la Habana : PSM Publicaciones, 1997.

• SYKORA, Frantisek. La efectividade de los conocimientos teóricos para la actividade deportiva. Teoria y Práctica de Cultura Física. Vol. 1, Berlin, 1985.

• UNGER, Roberto Mangabeira. A Prioridade de São Paulo. Folha de S. Paulo:Tendências e Debates, Opinião, 1-3, 25 de abr, 2000.

• WERTHEIN, Jorge. Educação, emprego e cidadania. Folha de S. Paulo: Tendências /Debates, Opinião, 1-3, 3 de fev, 1999.

• YOUNG, Michael. Mudança de Currículo: Limites e Possibilidades. [ Trad. De Bárbara Ann Newman ] in Série Estudos, nº 4. Universidade Católica Dom Bosco: Campo Grande, 1996.

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