Determinação de padrões de referência nas variáveis neuro-motoras em portadores com deficiência mental no Distrito Federall |
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* Professor da Faculdade de Educação Física e do Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Ciências da Saúde da FS/UnB ** Professor da FEDF e da Faculdade de Educação Física da UnB *** Bolsista de Iniciação Científica e Acadêmica da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília **** Professor do Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Mestrando do Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Ciências da Saúde da FS/UnB (Brasil) |
Jônatas de França Barros* Odiel Aranha Cavalcante** Fabiola Ferreira Francelino*** Romilson de Lima Nunes**** paty91@persocom.com.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 7 - N° 36 - Mayo de 2001 |
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Introdução
A problemática das pessoas deficientes esteve sempre presente na história da humanidade. A cada época e cultura o entendimento e conveniência social destas pessoas assumiram características diferenciadas. Porém, a eliminação, o isolamento e a segregação prevaleciam na antiguidade.
Com o cristianismo a ação piedosa atenuou a situação dos deficientes. Já na idade média a marginalização reinou (FONSECA, 1987).
Atualmente com o paradigma da inclusão a visibilidade e as necessidades das pessoas deficientes pelo mundo que vislumbram. Neste sentido a presente pesquisa se justifica como avanço do conhecimento específico (aplicável) para subsídio aos profissionais de educação física e áreas afins no planejamento e controle das atividades físicas e desportivas para Pessoas Portadoras com Necessidades Educativas Especiais.
Este estudo utilizou o sistema Peak Perfomance para a coleta dos dados referentes aos valores neuro-motores: força, agilidade, potência, velocidade e flexibilidade. A pesquisa tem sua característica direcionada para as pessoas portadoras com necessidade educativa especial (deficiência mental) leve e moderada.
Deficiência Mental: conceitos e características
Deficiência mental designa-se um conjunto de fenômenos complexos, relacionados a causas diversas, nas quais a inteligência inadequada ou insuficientemente desenvolvida constitui o denominador comum. Caracteriza-se também, pelo déficit no comportamento adaptativo, e manifestando-se durante o período de desenvolvimento, necessitando quase sempre de uma supervisão, controle ou apoio externo (KIRK, 1972; KADCLEK, 1984).
A deficiência mental constitui, estatisticamente, uma das mais importantes enfermidades crônicas da infância. Ela trata-se de um complexo conjunto de síndromes das mais diversas etiologias e quadros clínicos diferentes, cuja única característica em comum é o comprometimento intelectual, o problema da deficiência mental agrupa vários aspectos: os fatores biológicos, os psicológicos e os sociais (KRYNSKI, 1969).
Além dos testes pedagógicos existem testes psicológicos para identificar o grau de deficiência mental (leve, moderada, severa e profunda), seus resultados são convertidos em Coeficiente de Inteligência (QI).
Críticas diversas são feitas quanto ao uso deste coeficiente de inteligência. Dois testes cientificamente aceitam e usados para a determinação do coeficiente de inteligência são: a escala Wechler de inteligência - WISC (ASSUNÇÃO, 1994) e o teste da figura humana - Goodenough (CUNHA, 1989).
Crescimento e Maturação
Segundo BÖHNE (1986) o crescimento corresponde ao fenômeno dinâmico, quantitativo, que se traduz pela variação progressiva das diversas medidas corporais como estatura, peso, perímetro e comprimento. Já a maturação corresponde às características qualitativas, traduzindo por uma série de modificações na estatura, composição e morfologia corporal, que se sucedem pela idade adulta. O desenvolvimento corresponderia à junção de processos complexos pelos quais o organismo passa, onde estão inseridos o crescimento e a maturação, a qual levará o indivíduo a desenvolver seu potencial biopsicossocial, tornando-o capaz de integrar-se de modo satisfatório ao ambiente social em que está inserido, em qualquer fase da vida.
Estudos realizados por GUEDES (1997), mostram que a correlação entre força e maturação esquelética e sexual masculina tende a ser de moderada a alta, apresentando valores mais elevados entre 13 e 16 anos idade. Ao contrário das moças, que a correlação é de moderada para baixa, com os valores mais elevados ocorrendo até os 13 anos de idade. Analisando o desempenho motor, de rapazes em maturação biológica avançada com os de maturação precoce, observou que os primeiros apresentaram resultados maiores em várias tarefas motoras (particularmente na que envolve força e potência muscular). Já o desempenho motor das moças com maturação precoce e avançada não houve diferenças significativas.
Capacidade Motora e Aptidão Física
A capacidade motora segundo GUEDES (1997), pode ser classificada de duas formas: a primeira constitui o conjunto de capacidades que têm como fator limitante à disponibilidade de energia, e consequentemente, as condições orgânicas-musculares do indivíduo. Estas seriam a força, a resistência, a velocidade e suas combinações.
A Segunda caracteriza-se pelas capacidades coordenativas, sendo definida como a responsável pela organização e pelo controle na realização dos movimentos. Esta se baseia no controle da execução dos movimentos por meio dos analisadores táteis, visuais, acústicos, estáticos-dinâmicos e cinestésicos.
A aptidão física constitui àqueles aspectos fisiológicos e psicológicos relacionados à capacidade de realizar movimento, considerando que, em relação à capacidade motora, podem ser identificados sete componentes da aptidão: agilidade, potência, resistência, resistência cardiorrespiratória, velocidade, força muscular, flexibilidade e equilíbrio (FALLS, 1980).
A aptidão física relacionada à saúde envolve apenas aqueles componentes que em questões motoras podem ser creditadas alguma proteção contra doenças do tipo degenerativas, como as cardiopatias, a obesidade, a hipertensão e vários distúrbios músculo-esqueléticos, e que podem ser influenciadas pela atividade física regular. Neste contexto, a resistência cardiorrespiratória, a força/ resistência muscular e a flexibilidade seriam os componentes que caracterizam a aptidão física relacionada à saúde (PATE, 1983).
Flexibilidade
Entende-se por flexibilidade a qualidade física relativa à capacidade funcional das articulações movimentarem-se dentro de limites numa determinada ação.
Existem dois tipos de flexibilidade, a estática e a dinâmica. A primeira refere-se a amplitude de movimento ao redor de uma articulação; e a segunda, é definida como a oposição ou resistência de uma articulação ao movimento (FOX, 1989).
Para GUEDES (1997), o teste de “sentar e alcançar” vêm sendo o de maior aceitação na obtenção de informações com relação à capacidade de flexibilidade. Isso se deve ao fato de esse teste motor solicitar em sua execução a participação dos mais importantes grupos musculares e articulação do corpo humano. No entanto, deve-se levar em consideração que um elevado índice de flexibilidade na região do quadril não reflete necessariamente um bom índice de flexibilidade em qualquer outra região. Desse modo, quando for possível a utilização de um único teste de flexibilidade, sugere-se que o teste de “sentar e alcançar” sejam o escolhido.
O teste prático de sentar e alcançar - Wells e Dillon - apesar de possuir alta reprodutividade (SILVA et al., 1985), esse teste bem como as maiorias das mensurações práticas são imprecisas, pois avaliam várias articulações e não se utilizam as unidades de medida indicadas pela maioria dos autores. Sua popularidade é mútua, pois utiliza um movimento do cotidiano freqüentemente associado a problemas de flexibilidade.
Rasch apud BARROS (1998), afirma que a flexibilidade relaciona-se diretamente com o tipo corporal, o sexo, a idade, a estatura óssea e articular e com outros fatores, que fogem do controle do indivíduo, e é, predominantemente, uma função habitual dos movimentos, da atividade e da inatividade. A falta de flexibilidade normal reduz a extensão e a qualidade de desempenho, ela ocorre devido ao envelhecimento que ocasiona redução de um movimento numa amplitude completa.
SILVA et al. (1985), citam a importância de uma boa flexibilidade para o esporte; pois está relacionada normalmente a uma boa performance e a um bom desenvolvimento do sistema motor, sendo apontada como auxiliadora na manutenção da boa postura e como fator preventivo de lesões musculares. Atualmente, a flexibilidade é considerada uma qualidade específica da articulação e do movimento, aspecto esse que implica nas formas de mensuração existentes, pois em decorrência do mesmo conceito, surgiam diversas classificações de flexibilidade e várias maneiras de avaliar essa qualidade.
Força e Potência
POLLOCK et al. (1993) citaram que força refere-se à capacidade de trabalho de um músculo ou de um grupo muscular. A força se define quanto à capacidade máxima possível de trabalho. E que uma pessoa é capaz de gerar com uma única contração isométrica e de duração ilimitada.
O autor diz o aprimoramento da força muscular ou da potência aeróbica pode ter um impacto positivo na resistência muscular. Este aprimoramento é necessário para maximizar a resistência muscular. Com isto, os procedimentos de treinamento de força podem ser classificados de acordo com a contração, ou seja, se ela é estática ou dinâmica, ou ainda, se ela é concêntrica (encurtamento) ou excêntrica (alongamento).
A força pode ser importante para as pessoas com retardo mental, pois já existe uma relação boa entre a performance no trabalho, nível de independência e força muscular nesse grupo (FERNHALL, 1994).
Pessoas com deficiência mental, dos ambos os sexos e de todas as idades, comenta (FERNHALL, 1994) que possuem baixos níveis de resistência muscular comparados com pessoas ditas normais. O baixo nível de força muscular pode ser devido ao estilo de vida.
A medição da altura do salto vertical é ponto de grande interesse e estudo uma vez que esta medida é largamente utilizada como estimativa de variáveis tais como: potência de membros inferiores, porcentagem de tipos de fibras e potencial elástico do músculo (PEREIARA et al., 1986).
SILVA (1985), estudou indivíduos adolescentes ditos normais do sexo masculino, com média de 16 anos de idade, obtendo valores médios de 39,29 metros, e para o sexo feminino obtendo valores médios de 33, 13 metros, com média de 16 anos de idade.
MATSUDO (1995) estudou que o padrão de maturação das impulsões horizontal e vertical parece estar fortemente influenciado pelo crescimento somático e estrutural, tanto na força estática como na força de membros inferiores que não são explicadas apenas pelo aumento da massa corporal.
O salto vertical terá sua altura determinada pela velocidade vertical do centro de gravidade do corpo no momento do impulso. O salto em altura eficiente, portanto, deve ser visto como um movimento linear (direto para cima) do centro de gravidade do corpo como resultado de uma série de movimentos angulares que ocorrem nas articulações dos tornozelos, joelhos e quadril (ADAMS, 1988). O tempo de vôo é um dado preciso para qualificação da altura deste salto (PEREIRA &38; D’ANGELO, 1986).
Velocidade
A capacidade motora velocidade caracteriza-se pela dimensão neuro-coordenativa, haja vista que seus resultados implicam basicamente a transmissão dos estímulos nervosos, o recrutamento das unidades motoras e o controle harmonioso das sinergias musculares.
Os testes motores que envolvem a capacidade motora velocidade para GUEDES (1997), deverão utilizar um empenho orgânico máximo por um período de tempo muito curto, de tal magnitude que em termos fisiológicos a velocidade e a potência anaeróbica possam distinguir-se, em parâmetros externos (aspectos físicos).
Com relação à velocidade, MATSUDO (1995) diz que as meninas tendem a estabilizar seu desempenho depois dos 12 anos. Em termos percentuais o estudioso verificou que as meninas aos sete anos atingem 73 % do padrão adulto, sendo que aos 12 anos de idade este valor chega a ser de 95 %. Então, a velocidade nas meninas tem que ser trabalhada precocemente devida sua maturação ser precoce. Já nos rapazes a maturação da velocidade ocorre até os 16 anos de idade.
Agilidade
Ao definir agilidade como a capacidade de mudar a posição do corpo no espaço, do ponto de vista de desempenho motor, em razão do repertório de possíveis mudanças de posição do corpo no espaço ser bastante grande, deverão ser encontradas enormes dificuldades em padronizar uma tarefa motora que possa fornecer algum indicador dessa variável (GUEDES, 1997). De acordo com estudos do MATSUDO (1995), resultados do teste de Shuttle-run demonstraram que o sexo feminino apresentou um desempenho inferior ao sexo masculino. Em relação à maturação funcional as moças foram mais precoces que os rapazes. Por volta dos 12 anos de idade, a agilidade tende a diminuir de forma acentuada, considerando a porcentagem de maturação, o grupo das moças alcançou nessa idade cerca de 90 %.
Segundo SILVA (1985) adolescentes do sexo masculino ditos normais alcançaram tempos de 10,61 segundos no teste de agilidade e do sexo feminino 11,60 segundos, e ambos com idade média de 16 anos. FERREIRA et at. apud em BARROS (1998) analisaram indivíduos ditos normais praticantes de atividade física com idade entre 11 e 14 anos de idade, alcançando tempos médios de 11,30 segundos.
Método e Material
Tipo de PesquisaEsse estudo segue o método transversal causal-comparativo, pois procura analisar o problema, já mencionado, que se refere ao fenômeno observado (CAMPBELL &38; STANLEY, 1971).
Material
Os participantes da pesquisa são portadores de deficiência mental, de ambos os sexos, com idade a partir dos 16 anos, e Instituições Filantrópicas (APAE, AMPARE, PESTALOZZI) do Distrito Federal (N = 39). A coleta de dados da pesquisa foi aplicada em duas fases, sendo a primeira, correspondente ao 2º semestre de 1999 e a segunda fase no 1º semestre de 2000.
Os deficientes mentais foram selecionados de acordo a alguns critérios e condições, como:
Cada aluno admitido na realizarão dos testes de habilidades físicas e foram encaminhados mediante consentimento informado por escrito pelos seus pais.
Todos os alunos tiveram o seu tratamento e condutas clínicas estabelecidas por seu médico. Coube ao médico de cada aluno a conduta de seu caso clínico, no que diz respeito às medidas higiênicas - dietéticas, medicamentos, exames e todos os demais procedimentos necessários junto ao Laboratório de Aptidão Física e Movimento/ FEF.
A aplicação dos testes de habilidade física de cada aluna (o) foi realizada mediante o total e irrestrito conhecimento e aprovação de seus familiares e do coordenador geral de educação física da instituição que estiver realizando os testes, que terá acesso aos testes executados, bem como aos bancos de dados com informações sobre os alunos.
Sistema Peak-Motus
O Sistema Peak Motus é Fabricado pela Peak Performance. O sistema é composto dos seguintes itens:
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Câmera de Vídeo S-VHS
Gravador/Reprodutor de Vídeo (VCR)
Monitor de Vídeo
Placa de Aquisição de Imagens
Computador Software
Princípios de Operação
As imagens dos movimentos a serem analisados são gravadas em fita pela câmera. Através da placa de aquisição de imagens, estas imagens são transferidas em forma digital para o disco rígido do computador, onde são analisadas pelo software Peak Motus.
Através do software é efetuado o desdobramento da imagem em movimento em quadros estáticos. Um sistema de calibração permite a conversão das unidades métricas do "mundo real" para as do sensor eletrônico da câmera.
Em cada quadro é feita a seleção de pontos e segmentos corporais e, a partir destes, a determinação de dados espaciais e temporais, tais como distâncias, ângulos, velocidades e acelerações lineares e angulares, e duração de movimentos.
Grupos de Pesquisa
Os deficientes mentais praticantes de modalidades esportivas e educação física serão divididos em grupos de acordo com o sexo e nível mental, como citado abaixo:
Grupo (DML - M), deficiente mental leve do sexo masculino (QI entre 50 a 70);
Grupo (DML - F), deficiente mental leve do sexo feminino (QI entre 35 a 50);
Grupo (DMM - M), deficiente mental moderado do sexo masculino (QI entre 20 a 35);
Grupo (DMM - F), deficiente mental moderado feminino (QI inferior a 20).
Variáveis de Estudo
Para obtermos resultados mais fidedignos, utilizamos o método da videografia, isto é, uma técnica que visa analisar os movimentos. Os testes realizados foram digitalizados, e foram estabelecidos pontos que permitiram registrar os valores para as coordenadas X e Y. Contamos com a ajuda da câmara filmadora nas nossas coletas. E para calculo dos resultados contamos com um computador, utilizando o programa PEAK PERFORMANCE.
Descrições:
A câmara filmadora utilizada foi uma Panasonic AG - 456 60 Hz com tripé 3047 BONGEN - MANFROTTO.
Impulsão Horizontal
Equipamentos utilizados: Fita crepe para demarcar local do teste; trena (em centímetros) para medir a distância das fitas e a câmara filmadora (encima do tripé). Será utilizada “obréias” para demarcar ponta do pé e calcanhar (para facilitar os cálculos). O avaliado terá que está de camiseta, short ou calça e tênis.
Lecturas: Educación Física y Deportes · http://www.efdeportes.com · Año 7 · Nº 36 | sigue Ü |