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Os Horizontes de uma teoria e metodologia cientifica do treinamento esportivo
Yury Verchoshanskij

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 7 - N° 34 - Abril de 2001

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    Aqui é importante chamar a atenção que a carga de treinamento não pode existir e não pode ser considerada sem fazer referencia a um período de tempo, enquanto a sua sistematização (organização) não pode ser realizada sem levar em consideração os tempos reais. O tempo representa um dos instrumentos mais importantes de controle dos estímulos de treinamento sobre o organismo, já que determina, seja a sua duração, seja o regime da sua repetição cíclica.

    Portanto, o tempo e a modalidade de organização das cargas de treinamento representam os principais parâmetros interdependente das formas de organização dos conteúdos do processo de treinamento. Existe de fato, por um lado, as necessidades da realização dos objetivos finais da preparação do atleta que pedem um determinado período de tempo para que seja efetuado o volume da carga necessária e para a organização racional de todos os conteúdos do treinamento. Por outro, se consideramos as condições reais e o calendário de competições , o tempo representa o fator limitante da organização do treinamento, influenciando de um determinado modo, a sua escolha. Então, o conceito de forma de organização do treinamento ocupa a posição central no sistema das idéias sobre a tecnologia da programação do treinamento. A competência do treinador se exprime pela capacidade de encontrar uma forma racional de organização do treinamento em uma situação real e traduzi-la em um programa concreto (10,11).

    Do ponto de vista organizacional e temporal são individualizadas seis formas principais de organização do treinamento (fig. 5) : o ciclo anual, o grande ciclo de adaptação (CGA), o microciclo (MC), o treinamento de um dia, a unidade de treinamento e a sessão de treinamento (10-13). Duas destas formas, o dia de treinamento e a sessão de treinamento, pedem uma explicação particular:

  • o dia de treinamento é uma parte da organização do processo de treinamento que não foi ainda suficientemente estudada. Esta forma de treinamento prevê o desenvolvimento de duas a três unidades de treinamento diária. Os seus conteúdos e a sua organização são determinados com base nos fins prioritários das cargas de treinamento administradas no dia anterior e daquelas que estão planificadas para o dia sucessivo.

  • a sessão de treinamento é o período de tempo necessário à realização, sem interrupção, dos meios de treinamento, normalmente com o mesmo fim prioritário, com base naquela relação reciproca entre as reações a curto prazo do organismo que transforma as repetições do trabalho muscular em uma quota de estímulos de treinamento com um fim concreto. Uma sessão de treinamento pode ser constituída por uma parte da unidade de treinamento, ou por toda a unidade de treinamento que faz parte de uma jornada de treinamento. Na moderna TMTD representa uma forma muito importante da organização do processo de treinamento.

    A individuação desta forma de organização do processo de treinamento é determinada sobretudo pelo objetivo de garantir de modo ótimo um estimulo de treinamento elevado sobre o organismo, através de uma carga de volume relativamente baixa com o mínimo dispêndio de tempo e de energia da parte do atleta, e também dos requisitos aos quais deve corresponder a cultura metodológica do treinamento :

  • dosagem dos exercícios,

  • regulação da sua variação ou da sua alternância,

  • duração das pausas de recuperação e caráter do repouso entre as repetições do estimulo.

Os princípios do controle e da correção do processo de treinamento em quanto uma das mais importantes condições de realização da concepção da sua programação foram analisados por vários autores (5,10 19, 61, 62, 74, 94--97, 108, 110).

7. Os pressupostos para elaboracao de um sistema de treinamento

    Estes são os princípios metodológicos que devem determinar a organização do treinamento.

  1. A forma principal de organização do treinamento é representada pelo grande ciclo da adaptação, cujo objetivo consiste no aumento contínuo do nível da maestria esportiva sobre a base da realização da reserva atual de adaptação (RAA) do organismo.

  2. O mais importante resultado final do treinamento é aquele que determina principalmente o aumento da maestria desportiva (performance) e é representado pelo aumento da potência do trabalho do organismo no regime motor especifico.

  3. No processo de treinamento, o principal objeto de controle é representado pela dinâmica do estado funcional do atleta que é avaliada com base nos parâmetros funcionais do seu organismo, levando em consideração a eficácia da maestria técnico-tática.

  4. A concepção metodológica da preparação baseia-se nos seguintes princípios lógicos: sem o aumento do nível da preparação física especial do atleta não se pode esperar um notável progresso da maestria técnico-tática, um aumento da potência de trabalho do organismo e da velocidade de execução do exercício de competição, enquanto sem um elevado nível destes parâmetros baseados num suficiente nível de preparação física especial, torna-se pouco provável o melhoramento da capacidade de competição e o aumento planificado do resultado desportivo.

  5. A linha estratégica geral do treinamento prevê a sintonia com o objetivo principal em três direções fundamentais do próprio treinamento, nas quais encontramos uma ampla gama de responsabilidades parciais:

    • o incremento do potencial motor do atleta ( responsabilidade da preparação física);

    • o melhoramento da capacidade do atleta de utilizar eficazmente o potencial motor no exercício de competição (responsabilidade da preparação técnico-tática);

    • a melhoria do nível e da estabilidade da maestria desportiva ( responsabilidade da preparação para a competição e psicológica).

  6. O principal objetivo metodológico do treinamento consiste na organização, isto é, sistematização no tempo dos seus conteúdos, em modo tal que, o trabalho dirigido ao aumento da potência de trabalho especifico do atleta, não seja limitado pelas suas possibilidades condicionais e pela técnica desportiva, e, ao mesmo tempo não impeça o trabalho sobre a técnica e sobre a velocidade do exercício da competição.

  7. O sistema de treinamento baseia-se sobre os seguintes princípios (10-13, 94-97, 99, 100, 106,109) :

    1. o principio segundo o qual as indicações metodológicas para a organização do treinamento devem corresponder às leis do desenvolvimento do processo de adaptação do organismo a uma atividade muscular intensa;

    2. o principio da sistemática dos estímulos de treinamento sobre o organismo;

    3. o principio da sobreposição das cargas com diversos fins de treinamento;

    4. o princípio da prioridade da preparação física especial no sistema de treinamento.

8. As orientaçoes principais da programacao do treinamento

    Os resultados metodológicos do material exposto acima manifestam-se através das principais orientações que representam as regras concretas da organização do processo de treinamento ( 10, 11, 94-97, 99, 100, 106, 109).

  1. A orientação para a realização da RAA do organismo se endereça a uma organização da carga de treinamento baseada nas leis da adaptação do organismo a um trabalho muscular especializado.

  2. A orientação à utilização sistêmica dos meios e métodos de treinamento garante que se obtenha a necessária especificidade do efeito do treinamento de todas as cargas.

  3. A orientação para a manutenção do potencial de treinamento da carga se direciona-se a um aumento planificado da intensidade e da especificidade dos efeitos de treinamentos sobre o organismo, assim que aumenta o nível da sua capacidade de trabalho.

  4. A orientação à concentração de utilização dos meios da preparação física especial se endereça à criação de um efeito de treinamento concentrado sobre o organismo com o objetivo de aumenta a minimização r notavelmente a sua capacidade de trabalho.

  5. A orientação a uma separação cronológica dos volumes das cargas de diversos fins dimensiona-se à eliminação ou à minimização das relações recíprocas negativas entre os efeitos do treinamento dos estímulos com diversos fins prioritários, por exemplo: estímulos dirigidos à preparação física especial ou estímulos dirigidos ao melhoramento da técnica ou aumento da velocidade de execução do exercício de competição.

  6. A orientação à antecipação da utilização da preparação física especial (Pfe) coloca em evidencia que a Pfe representa o papel principal no aumento dos resultados dos atletas de alto nível, e se endereça àquela organização de treinamento segundo a qual a Pfe precede o trabalho de polimento sobre a técnica e sobre a velocidade de exercício de competição e assegura as condições necessárias para o melhoramento seja de uma ou da outra.

  7. O ordenamento à utilização do efeito retardado do treinamento a longo prazo do volume concentrado das cargas da Pfe se endereça à criação das condições favoráveis à preparação técnica, à preparação de velocidade, e à participação nas competições.

  8. A orientação à modelização (reprodução) no treinamento da atividade da competição se endereça à reprodução em treinamento do regime de trabalho do organismo nas condições de competição com um gradual (de acordo com a etapa de treinamento) aumento de intensidade das solicitações de força, respeitando o regulamento das competições. Este modo representa uma forma muito eficaz de preparação especializada do atleta que melhora o nível de preparação física, psicológica, técnico -tática e de competição.


Figura 7. Modelo Geral do Sistema de Treinamento do CGA


9. O modelo geral do sistema de treinamento no grande ciclo de adaptação

    O modelo geral do sistema do treinamento no grande ciclo de adaptação (10, 13, 48, 69, 108, 109), representado na figura 7, foi elaborado no fim dos anos 70 com base nas pesquisas organizada com este fim (2, 4, 16, 21, 24, 41, 46, 48, 49, 52, 69, 108, 109). Este modelo foi aperfeiçoado continuamente em razão da contribuição de informações cientificas (sobretudo fisiológicas) e prático-metodológicas , tendo em consideração os conselhos e as observações dos treinadores e de especialistas, expostas durante congressos e seminários de estudos internacionais em mais de quinze países .

  1. O modelo compreende estas componentes principais:

    • O modelo da dinâmica da velocidade ou da potência de trabalho do organismo no regime motor especifico (W),

    • O modelo da dinâmica do estado funcional do atleta expresso através dos mais importantes parâmetros funcionais (f)

    • O modelo do sistema das cargas (blocos A, B e C).

    O modelo prevê estes parâmetros :

    • W1 - o nível máximo da velocidade ou da potência de trabalho do organismo alcançado na precedente etapa de preparação;

    • W2 - o nível planificado da velocidade ou potência de trabalho do organismo;

    • f1 - o nível máximo dos parâmetros funcionais mais importantes alcançados na precedente etapa de preparação.

    • f2 - o nível planificado dos parâmetros funcionais,

    • DW e Df - o aumento planificado da velocidade ou da potência de trabalho e dos parâmetros funcionais do organismo;

    • A - as cargas da preparação física especial,

    • B - o trabalho de velocidade e o trabalho técnico,

    • C - as cargas de competição,

    • P - o volume total das cargas

    • t - a duração do grande ciclo de adaptação.



  2. O grande ciclo de adaptação é dividido em três blocos (etapas) que, na sua sucessão, são reunidos em uma determinada lógica:

    • O bloco A (etapa de base) é dedicado à ativação dos mecanismos do processo de adaptação e à orientação deste à especialização morfo-funcional do organismo na direção necessária ao trabalho no regime motor especifico. O objetivo principal deste bloco é o aumento do potencial motor do atleta, considerando a sua sucessiva utilização na competição.

    • O bloco B (etapa especial) é principalmente dirigido ao desenvolvimento da potência de trabalho do organismo no trabalho motor especifico em condições correspondentes àquelas de competição. O objetivo principal deste bloco consiste na assimilação da capacidade de utilizar o crescente potencial motor em condições de intensidade gradualmente crescente de execução do exercício de competição. Nesta etapa deve ser prevista a participação em competições.

    • O bloco C (etapa das competições mais importantes) prevê a conclusão do ciclo de adaptação e a passagem do organismo ao máximo nível da potência de trabalho no regime motor especifico. O objetivo principal deste bloco consiste na assimilação da capacidade de realizar, com a máxima eficácia, o potencial motor nas condições próprias de competição.

    No modelo do GCA, as curvas A,B e C simbolizam o diverso objetivo do efeito de treinamento das correspondentes cargas de treinamento em uma determinada etapa de treinamento, mas não o seu volume.

  3. A idéia da organização do GCA se exprime, em uma determinada sucessão, na intensificação do regime de trabalho do organismo que inicia com a utilização dos meios da Fe (bloco A) e sucessivamente é continuada com os meios da preparação técnica e da velocidade (bloco B), e enfim, com a atividade de competição (bloco C). No momento em que os meios da Fe transferem ao exercício de competição o seu papel de fator de intensificação no processo de treinamento, começam a desenvolver a função de manutenção. Além disso no bloco B é melhorada não só a velocidade de execução do exercício de competição, quanto a capacidade do organismo do atleta de desenvolver potência no regime especifico de trabalho. Isto conclui a preparação da base energética para o trabalho de máxima intensidade (potência) na etapa de competição (bloco C).

    O aumento da potência de trabalho do organismo deve ser regulado e dosado rigorosamente de modo a não provocar fadiga excessiva e prolongada (over training) do organismo. Então é oportuno distinguir três níveis de potência (intensidade) de trabalho:

    • a intensidade ótima com a qual é desenvolvido o volume principal da carga de treinamento na etapa de base;

    • a intensidade máxima que o atleta tem possibilidade de alcançar, em um dado momento na etapa especial, graças a uma preparação adequada que não provoque fadiga excessiva das funções orgânicas e a piora da estrutura motora dos movimentos;

    • a intensidade limite que representa o objetivo principal do treinamento e que deve ser alcançada no momento das competições mais importantes.

  4. É importante salientar que o grande ciclo de adaptação não prevê um período preparatório e um período de competição na sua interpretação tradicional, que dividia o processo de treinamento em duas partes praticamente pouco coligadas entre elas: uma, a preparação com grande volume de cargas de treinamento, a outra a participação nas competições.

    Concretamente, isto se exprimia na idéia segundo a qual era como se, no período preparatório, o atleta 'acumulasse', e no período de competição 'realizasse' o seu potencial físico, isto é, o mantivesse e o recuperasse depois das competições, sem desenvolvê-lo. Por isso, segundo esta idéia, o atleta deveria desenvolver um elevadíssimo trabalho de cargas no período preparatório, para criar uma reserva de capacidade de trabalho que deveria ser suficiente até o final do período de competição.

    Uma interpretação assim grosseira da idéia principal do treinamento desportivo, baseada sobre a concepção da periodização de Matveev, excluía uma utilização eficaz das possibilidades da adaptação do organismo do atleta e comportava um dispêndio enorme e irracional de energia. Isto orientava o processo de melhoramento do sistema prático de treinamento para uma direção caracterizada pelo aumento do volume de treinamento (43).

  5. O grande ciclo da adaptação é uma forma completamente nova de organização do treinamento, desportivo. Ele prevê uma relação orgânica, reciproca e interdependente entre a atividade de competição e o desenvolvimento constante do processo de adaptação. Em outros termos, as competições e as atividades imediatas a essas são inseridas no processo contínuo de melhoramento morfo-funcional do organismo, no qual representam o papel de um potente fator de adaptação. Os deveres deste fator consistem na intensificação máxima do regime de trabalho do organismo na fase conclusiva do ciclo de adaptação, fato que leva o atleta ao máximo nível funcional, no qual se realiza o principal objetivo da sua preparação.

  6. A novidade principal do GCA é que inclui uma nova etapa não tradicional (bloco B), que tem um papel extremamente importante no processo de treinamento. A sua função consiste na passagem gradual através o trabalho especializado de treinamento, das soluções dos deveres da Fe à participação nas competições. Na figura 7, a este bloco corresponde o ponto de mudança da curva da intensidade (potência) (W), isto é, o ponto no qual inicia-se a intensificação do trabalho do organismo no regime especifico do exercício de competição.

    Além disso e isto deve ser ressaltado em modo particular, o bloco B permite de utilizar o sistema de treinamento sobre a forma de GCA no desportos nos quais encontramos estrutura e duração diversas do calendário de competição. Por exemplo, no caso de uma estação competitiva longa, o sistema de preparação prevê um só ciclo (futebol, ciclismo de estrada, etc.), a participação as competições podem ser iniciadas na primeira metade do bloco B. Quando em um ano de treinamento são previstos duas etapas de competição, na primeira, a duração do bloco A pode ser aumentada através uma ligeira redução da duração dos blocos B e C. Na segunda etapa, ao contrario, a duração do bloco A pode ser reduzida, com um aumento na intensidade do trabalho correspondente, e, de acordo com o objetivo da preparação, pode ser aumentada a duração dos blocos B e C. Porém em todos os casos deve ser mantida a estrutura geral do grande ciclo de adaptação (2, 13, 99, 100).


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