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Os Horizontes de uma teoria e metodologia cientifica do treinamento esportivo
Yury Verchoshanskij

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 7 - N° 34 - Abril de 2001

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    Na organização do GCA é necessário respeitar duas condições indispensáveis:

  1. dar um fim concreto às cargas de treinamento (isto é, deve-se estabelecer sobre quais sistemas energético e fisiológico, sobre quais mecanismos e a que capacidades funcionais deve ser dirigida a carga de treinamento);

  2. a formulação exata dos objetivos do treinamento, isto é, o resultado concreto que se quer obter.

     Portanto, na escolha e na organização das cargas de treinamento o ponto de partida é representado:

  1. pelos conhecimentos sobre as possibilidades funcionais dos sistemas fisiológicos e energéticos que são principalmente responsáveis pela capacidade especifica do trabalho do atleta;

  2. pelas idéias sobre a sua inércia de adaptação;

  3. pelos conhecimentos sobre a heterocronia do desenvolvimento das reações de adaptação no âmbito dos diversos sistemas fisiológicos do organismo

4.3. A especificidade das reações do organismo aos estímulos do treinamento

    Trata-se de um fenômeno biológico conhecido que se exprime na transformação das características qualitativas das ações externas exercitadas sobre o organismo em capacidade interna do mesmo organismo (11, 12, 15). A condição para que se produza este fenômeno é representada pelos denominados “resíduos metabólicos", ou pelo acúmulo de metabolitos, isto é pelos produtos do metabolismo, que representam os indutores principais da síntese protéica que ocorre no período de tempo imediatamente sucessivo ao trabalho muscular.

    São estes a determinar em modo especifico qual é o "pool" de proteínas do qual é produzida a síntese em virtude da maior atividade muscular. A síntese protéica diz respeito predominantemente àquelas proteínas que são utilizadas para construir estruturas celulares ativas e enzimas que catalisam as reações bioquímicas das quais dependem as respectivas funções celulares (18, 81). Deste modo é garantida a correspondência qualitativa entre a atividade motora do atleta e o caráter do melhoramento morfo-funcional do seu organismo. Exatamente por isto, na preparação dos atletas de alto nível, é extremamente importante, não só, um elevado potencial de treinamento dos estímulos, como também o caráter qualitativo dos mesmos, isto é, especifico da indução da síntese protéica provocado pelo próprio estimulo (11-13, 69, 100, 101)

    Praticamente, isto demonstra:

  1. a necessidade de prever qual será o efeito fisiológico (resíduos metabólicos) da carga de treinamento estabelecido.

  2. a importância da organização do estímulo que garante a necessária especificidade do seu efeito de treinamento.

  3. a necessidade de escolher aquele regime e aquela duração do período imediatamente sucessivo ao trabalho que são objetivamente necessários para que se desenvolvam e se completem os processos de restauração, e em parte o processo da síntese protéica (11, 12, 18, 82).

4.4. O principio da organização finalizada e programada do treinamento

    O aprofundamento dos conhecimentos sobre os mecanismos fisiológicos do processo de formação da maestria desportiva muda de maneira radical a idéia da organização do processo de treinamento, em particular, o principio analítico-sintetico, que por tanto tempo foi o dominante na teoria do treinamento esportivo. Este é substituído pelo princípio da organização finalizada e organizada ( 10, 11, 48, 69, 99-101).

    Segundo o princípio analítico-sintético, típico da concepção da chamada periodização do treinamento (43), o processo de treinamento é subdividido em elementos distintos, isto é, em microciclos (MC), que são considerados a forma principal de organização de treinamento (7). Esta concepção representava o treinamento como uma soma de microciclos alinhados em uma cadeia. A lógica da sucessão linear desta cadeia era determinada de modo puramente teórico, sem levar em consideração o objetivo geral do processo de treinamento, sem ter uma idéia clara sobre o papel concreto representado por estas ou aquelas "cadeias" de microciclo na sua realização. Destas "cadeias", como em um Lego, eram construídas formas maiores de organização do processo de treinamento, denominadas mesociclo.

    Segundo a concepção da periodização, a dinâmica da forma desportiva deveria ser garantida pelas "ondas" do volume e da intensidade total das cargas de treinamento (43) que eram organizadas seguindo o tradicional principio "complexo", pelo qual, vinham desenvolvidos todos os trabalhos típicos do processo de treinamento simultaneamente (nas distintas unidades de treinamento e microciclos) e paralelamente (nas distintas etapas e no ciclo anual) (43, 57, 73, 77). Atualmente, esta concepção é ultrapassada e não corresponde às exigências do desporto moderno (ler artigo a respeito em SDS- Scuola dello Sport, 41 - 42).

    Segundo a idéia da organização finalizada e programada, o processo de treinamento é considerado não como um somatório composto de pequenas partes (microciclo) combinadas nesta ou naquela sucessão linear, mas como um conjunto monolítico que prevê diversos níveis e que é diferenciado em partes (etapas e microciclos). Os seus conteúdos e a sua organização são determinados pelos objetivos finais e pelos pressupostos do treinamento, baseados nas leis do desenvolvimento do processo de adaptação do organismo a um regime concreto de trabalho muscular. Neste contexto, o microciclo é considerado não mais como o elemento principal estrutural do processo de treinamento (43), mas como e isto deve ser bem claro a forma funcional de organização daquela quota do volume total da carga de treinamento a esse determinada em conformidade com objetivos finais e com a linha estratégica geral da organização do treinamento.

    Neste caso, o fator que forma o sistema é representado pelo objetivo concreto do treinamento que se projeta sobre todas as suas etapas e se reflete nos seus conteúdos e na sua organização (10-13, 48, 69, 99, 100).

    Segundo o principio da organização finalizada e programada, na programação do treinamento, inicialmente, são formulados os objetivos finais da preparação, e, sucessivamente, são escolhidos os conteúdos, o volume e a modalidade de organização dos estímulos de treinamento objetivamente necessários para a sua realização. Portanto, o proceder da programação consiste não em uma formal combinação no tempo de uma "cadeia" de microciclos com nomes diversos (43), mas sobretudo na criação das condições necessárias para alcançar aquele efeito de treinamento que representa o pressuposto para a realização dos objetivos finais da preparação do atleta.

    Esta é a base sobre a qual é tomada a decisão sobre a escolha dos conteúdos e das formas de organização do processo de treinamento adequados.

    Então, não é difícil notar que o principio da organização finalizada e programada não somente muda de modo radical as idéias sobre os princípios e sobre a tecnologia da organização do processo de treinamento, mas a leva ao nível de decisões quantitativas (parâmetros mensuráveis) que se baseiam sobre o patrimônio da ciência moderna.

5. As partes principais da moderna teoria e metodologia do treinamento desportivo

    Neste parágrafo trataremos principalmente a parte central da TMDT que diz respeito diretamente ao fenômeno do treinamento e estuda principalmente os seus aspectos científicos aplicativos. Não trataremos os aspectos sociais, educativos e didáticos, médicos-higiênicos, técnicos, etc., que já foram analisados detalhadamente em outras publicações (43, 57, 72-74, 77).

    Portanto, a moderna TMDC deve compreender estas componentes principais:

  • a teoria do training,

  • a teoria da carga de treinamento,

  • a teoria da técnica desportiva,

  • a teoria da organização do treinamento,

  • a teoria da programação do treinamento,

  • a teoria do controle do processo de treinamento.

5.1. A Teoria do training

    O training é a componente principal do processo de treinamento que garante o fenômeno da especialização morfo-funcional do organismo do atleta e o aumento do seu nível de capacidade especial de trabalho (10, 95, 99, 101). A teoria do training concentra em si um sistema de conhecimentos dos fatores que determinam a passagem do organismo de um estado funcional a outro, produto do efeito dos estímulos do treinamento.

    A teoria se baseia nos conhecimentos biológicos que dizem respeito, sobretudo, às leis da adaptação a breve e a longo prazo do organismo a uma atividade muscular intensa. E se baseia no estudo do mecanismo fisiológico do fenômeno ação do treinamento - efeito do treinamento (10,11,18,19,44,67,71,81, 85, 89, 99).

5.2. A teoria da carga do treinamento

    Segundo esta, a carga de treinamento é considerada uma categoria fisiológica, um meio fisiológico de ação sobre o organismo, exercitada por um trabalho muscular especializado que se manifesta no organismo sob a forma de reação morfo-funcional de adaptação, caracterizada por uma determinada profundidade e estabilidade (10-13, 71, 89, 99, 105, 108, 109). Inclui as bases objetivas (princípios, condições, conselhos) que são necessárias para criar, no treinamento, as condições ótimas para a realização do fenômeno training, isto é, para a definição dos conteúdos, do volume e da organização dos efeitos do treinamento em todos os níveis e em todas as formas de organização do processo de treinamento. Baseia-se nas tendências da dinâmica do estado funcional do atleta, dependente da carga de treinamento (10, 11, 14,16, 48, 69, 100),

5.3. A teoria da técnica desportiva

    Inclui e estuda dois conceitos principais:

  • aquele da técnica desportiva;

  • aquele da maestria técnico-desportiva do atleta.

    Por técnica desportiva, entende-se um sistema de movimentos típico de um concreto exercício de competição, a sua composição motora e a sua estrutura, e representa o objeto de estudo da biomecânica (8, 10, 27, 70). Por maestria técnico-desportiva se entende a capacidade do atleta de utilizar eficazmente o seu potencial motor nas condições de treinamento e competição. Disto deriva que a maestria desportiva não é um estado que é alcançado para sempre, mas é o resultado atual de um processo continuo e interminável de evolução (10, 11).

5.4. A teoria do controle do processo de treinamento

    Representa o conjunto dos conhecimentos metodológicos que dizem respeito às regras (os princípios) da organização do processo de treinamento em todos os seus níveis. Baseia-se nas leis da adaptação do organismo em presença de uma atividade muscular intensa, nas leis especificas do processo de formação da maestria desportiva e da especialização morfo-funcional do organismo (8-13, 94, 97, 99, 100, 108, 109). Inclui os fundamentos e os conselhos para a criação das condições ótimas destas leis e o correspondente modelo geral, ou os modelos, da importação do sistema de treinamento nas diversas formas de organização ( trataremos isto em detalhes mais adiante).

5.5. A teoria da programação do processo de treinamento

    Elabora os fundamentos (ordenamentos principais) da sistematização dos conteúdos do processo de treinamento em conformidade com os objetivos finais da preparação do atleta, com o calendário de competições e com os princípios específicos que determinam as formas racionais, de organização das cargas de treinamento no âmbito dos períodos concretos de tempo ( 10,11, 44, 48, 68, 94-9799, 108, 109).

5.6. A teoria do controle do processo de treinamento

    Inclui os fundamentos e os conselhos para a organização do controle do andamento do processo de treinamento, e da sua correção, quando necessário, em conformidade com os critérios de eficácia e com os modelos estabelecidos antecipadamente (2, 5, 10, 42, 44, 62, 82, 99, 108, 109).

6. A estrutura dos conceitos principais da teoria do treinamento desportivo.

    Na figura 5 está representado o quadro dos conteúdos e a estrutura dos conceitos da TMTD que se baseiam na sua destinação pratica e têm em conta a exigência da capacidade profissional do treinador. Trata-se de conceitos que além de ter sua importância cientifica e teórica, são destinados a solicitar e a sistematizar o pensamento profissional (teorico-metodologico) do treinador (10, 13, 39).


Figura 5. Estrutura dos conceitos principais da concepção da programação do treinamento


    Por hierarquia dos objetivos finais entendemos o conjunto dos mais importantes parâmetros (ou resultados), classificados de acordo com a sua importância, que devem ser alcançados em uma determinada sucessão.

    Por exemplo, depois de haver estabelecido qual deve ser a entidade do aumento do resultado desportivo (que é o objetivo final mais importante), o treinador deve definir exatamente os requisitos aos quais devem corresponder o melhoramento da capacidade de competição e da capacidade técnico-tatica do atleta, o aumento da potência de trabalho do organismo no regime motor especifico, e também as mudanças do nível de preparação física especial para obter o objetivo.

    No controle do andamento do processo de treinamento, o treinador, nas suas reflexões, deve seguir uma sucessão inversa. Porque, se não garantirá o necessário aumento do nível de preparação física especial do atleta, não poderá resolver os problemas do aumento de maestria técnico e tática do atleta e aumento da potência de trabalho do organismo. Ao mesmo tempo sem realizar esta condição, não lhes será possível assegurar a necessária estabilidade na competição. Portanto, se um dos objetivos parciais não é realizado, ou se não é realizado completamente, a probabilidade de alcançar o mais importante objetivo final (melhora da performance) diminui notavelmente.

    As características do 'modelo' dos objetivos finais são os mais importantes parâmetros do nível de preparação especial do atleta que devem ser alcançados no treinamento; ao mesmo tempo representam os critérios para a avaliação da sua eficácia. Atualmente em práticas é possível definir quantitativamente modelos dos objetivos finais, e isto permite levar o processo de treinamento a um nível que prevê um controle e uma direção objetiva do seu andamento.

    Por concepção metodológica entendemos o sistema das idéias sobre a modalidade de organização do processo de treinamento que exprime o projeto geral do treinador sobre a organização da preparação do atleta. As concepções metodológicas, normalmente, estão ligadas a nomes de grandes treinadores, por ex:

    Counsilman na natação, Lydiard, Cerrutty, Gerscheler, Dijackov, Nikiforov, Alekseev no atletismo, Adam na canoagem, etc...

    São muito conhecidas também concepções científico-teóricas (10, 47, 87, 88, 92). Por exemplo: a concepção da organização complexa do treinamento, segundo a qual os trabalhos necessários são desenvolvidos paralelamente utilizando meios e métodos destinados à solução de um espectro restrito de problemas. Sucessivamente, através do denominado treinamento integrado, os resultados alcançados são reunidos em um conjunto caracterizado pela harmonia e a eficácia da sua expressão complexa (53, 57);

  • a concepção analítico-sintética da "periodização do treinamento", segundo a qual, unindo os microciclos são construídas cadeias que, sucessivamente, a sua vez, vêm reunidas em estruturas maiores (43);

  • a concepção da organização do treinamento anual com uma distribuição uniforme das cargas (92);

  • a concepção biologicamente argumentada do treinamento desportivo;

  • o sistema a blocos, que prevê uma etapa de concentração das cargas da preparação física especial e a utilização, do seu efeito retardado a longo prazo nas etapas de competição (10, 11).

    A linha estratégica geral do treinamento é representada pela idéia metodológica central que determina o fim principal da organização do processo de treinamento em todas as suas etapas. Esta idéia realiza na prática a concepção metodológica da preparação do atleta, e reúne todas a suas componentes com o fim de atingir o objetivo final. A linha estratégica geral do treinamento é elaborada pensando nos objetivos finais e prevê, antes de tudo, uma sucessão racional na preparação do atleta às competições, através do aumento planificado da potência especifica de trabalho do organismo, baseado no melhoramento coordenado do nível de preparação física especial do atleta e da sua maestria técnico-tatica. Esta determina as decisões do treinador, no tocante a todos os problemas de organização do processo de treinamento em todas as suas etapas.

  • A linha estratégica geral pode ser representada, por exemplo, pela tendência ao aumento da velocidade sobre a distância ou da intensidade dos estímulos de força no exercício de competição no ciclo anual (fig 6).


Figura 6. Exemplo da expressão da linha Estratégica Geral


    Espelhando-se na concepção metodológica geral, o objetivo principal final (of) se projeta em todas as etapas do ciclo anual na figura: 1-4 e se exprime nesse sob a forma de uma idéia guia da organização dos seus conteúdos. Além disso, em cada etapa, o nível de velocidade ou de intensidade (potência) planificado representa o relativo objetivo final que lhe determina os conteúdos e a organização (11, 99, 108, 109).

    A organização do processo de treinamento compreende toda a bagagem dos conhecimentos que dizem respeito à tecnologia da organização do treinamento (as orientações principais, os conselhos metodológicos, as regras e as formas de organização do processo de treinamento). Baseia-se nos princípios do treinamento e nos princípios finais da preparação do atleta e prevê a utilização racional e sistemática de todo o conjunto das cargas, entendendo, com isso, a combinação e a sucessão das cargas que garantem o necessário efeito do treinamento com um dispêndio ótimo de energia e de tempo da parte do atleta.

    A organização do processo de treinamento prevê a solução de dois problemas fundamentais:

  1. a utilização sistemática dos meios escolhidos;

  2. a otimização dos conteúdos das cargas de treinamento nas formas concretas espaço-temporais de organização do treinamento.


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