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Os Horizontes de uma teoria
e metodologia cientifica do treinamento esportivo

  Yury Verchoshanskij
(Italia)

 

 

 

 
    Gli orizonti di uma teoria e metodologia cientifiche dell'allenamento sportivo. Scuola Dello Sport. Roma, a. XVII, n. 43, lug-ott 1998, p. 12-21. Trad. Prof. Guilherme Locks Guimarães e Lúcio Bernard Sanfilippo, da UERJ (Brasil).

    Após a exposição do que seja a essência do processo de treinamento no desporto, e quais características deva ter a teoria do treinamento esportivo, são ilustradas as bases científicas e o enfoque moderno à elaboração desta teoria. Serão tratados portanto as partes principais e a estrutura dos conceitos fundamentais da teoria do treinamento, as principais orientações da programação e o modelo geral do sistema de treinamento no grande ciclo da adaptação (GCA).
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 7 - N° 34 - Abril de 2001

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Introdução

    A preparação de um atleta é um processo multilateral, caracterizado por conteúdos e formas de organização específicos que o transformam em um conjunto também específico de ações sobre a personalidade, sobre o estado funcional e sobre a saúde do atleta, dirigido à sua educação multilateral e, em particular, à aquisição de uma ampla bagagem de conhecimentos, habilidades e capacidades especiais, ao aumento da capacidade de trabalho do seu organismo e a assimilação da técnica dos exercícios esportivos e da arte de competir (32, 43, 57, 70, 72, 73, 74, 77, 88, 92).

    A maestria esportiva é sobretudo uma arte do movimento para a qual a educação ou a preparação do atleta é realizada, sobre a base e durante o processo de uma atividade motora especializada. Por tanto, o seu aumento é determinado e, simultaneamente, limitado das possibilidades físicas do organismo, isto é, da sua capacidade de desenvolver o necessário nível de potência física e de tolerar a carga de treinamento indispensável ao melhoramento desta capacidade. Disto deriva que os princípios metodológicos do treinamento, alem da orientação educativa, devem exprimir também as bases biológicas do processo de formação da maestria esportiva. (10 -13, 94-97, 102, 106, 107).

    Isto não representa um apelo a biologizacao da teoria e metodologia do treinamento desportivo ( de agora em diante TMTD), mas reforça a especificidade do desporto, que consiste no fato de que, neste, o processo educativo advém a um nível muito elevado (ou máximo) de tensões psíquicas e físicas, desconhecido a qualquer outro tipo de processo pedagógico, nos quais não podemos permitir 'achismos' e cometer erros, porque o preço deles é a saúde do atleta. Próprio por esse motivo, o aspecto biológico deve ter a prioridade na pesquisa cientifica direcionada na solução dos problemas da organização racional do processo de treinamento. (10, 12, 13,18, 67, 84-86, 93, 104).

    Neste artigo vêm formuladas as bases lógico-conceituais da moderna TMTD. Considerados os limites de espaço, vêm analisados somente os seus aspectos gerais aquela parte desses diretamente ligadas aos princípios e a tecnologia da organização do sistema do treinamento. Uma exposição mais detalhada destes problemas se encontra na obra do autor citadas na bibliografia.

1. Qual é a essência do processo de treinamento no desporto

    Antes de falar da TMTD como uma disciplina de caráter aplicativo, ocorre ter uma idéia clara sobre qual seja a essência do processo de treinamento no desporto, compreender os fatores casuais, os mecanismos e as leis do processo de formação da maestria desportiva durante o treinamento plurianual, definir exatamente os requisitos principais aos quais devem corresponder os conteúdos e a organização do processo de treinamento. Em outros termos , ocorre haver uma idéia clara de como a TMTD deve funcionar e de como pode ajudar concretamente o treinador.

    Os resultados das pesquisas fisiológicas, desenvolvidas seja por especialistas da ex. União Soviética (6, 18, 35, 58, 64, 81, 82), seja de outros países (4-86, 89, 90) e os resultados das nossas pesquisas ao longo dos anos (10,11, 91, 94-101) permitem-nos afirmar que o aumento da maestria desportiva (S) é ligado principalmente a dois fatores:

  1. ao aumento do potencial motor do atleta (P);

  2. è capacidade do atleta utilizar eficazmente este potencial nas condições de treinamento e competição (T) (figura 1). Visto que com o aumento da maestria desportiva (S) o atleta utiliza sempre melhor as suas crescentes possibilidades funcionais (e isto pode ser demonstrado pela aproximação continua da curva T daquela P), é natural que uma melhoria progressiva dos resultados da performance venha sempre mais determinado pelo aumento destas possibilidades funcionais (10, 11, 94-97).


Fig. 1 - Tendência do aumento do potencial motor do organismo(P) e da capacidade do atleta de utilizá-lo (T) com o aumento da maestria desportiva do atleta (S). R é a dinâmica do aumento da intensidade dos estímulos do treinamento sobre o organismo.


    Portanto, o aumento constante do potencial motor e a melhoria da capacidade do atleta de utilizá-lo eficazmente de um modo finalizado devem ser considerados a invariável principal do processo de treinamento, enquanto o grau de utilização deste potencial é um dos critérios da sua eficácia (10, 48, 69).Todos os outros numerosos e importantes objetivos e todas as outras componentes do processo de treinamento representam condições e fatores que favorecem a realização da sua invariável principal. Um desses fatores é representado, particularmente, pelo aumento da intensidade dos estímulos de treinamento sobre o organismo do atleta (fig. 1), que pode ser descrito pela curva R que cresce de modo exponencial, significando que, com a melhoria dos resultados da performance (S) para incrementar o potencial motor do organismo (P) será necessário aumentar, também, aquele da intensidade dos estímulos de treinamento(R).

    O esquema sucessivo (fig. 2) demonstra que o potencial motor e a capacidade do atleta de utilizá-lo eficazmente determinam principalmente a denominada potência 'efetiva' (em senso físico) de trabalho do organismo nas condições especificas de uma atividade motora concreta e, em definitivo, o resultado da performance. A melhora deste representa uma conseqüência do aumento da potência 'efetiva' de trabalho do organismo que, em pratica, é assegurado pelo melhoramento da capacidade de competição e pelo aumento do nível de preparação técnico-tática, psicológica e física especial do atleta. A este propósito ocorre chamar à atenção o seguinte fato: que a preparação física especial se encontra na base do esquema da figura 2 e representa o fator principal que assegura o aumento da intensidade dos estímulos de treinamento necessários para incrementar o potencial motor do organismo e para criar condições favoráveis para resolver os problemas da preparação técnico-tatica com o simultâneo aumento dos resultados da performance (11, 99, 100).

    Agora passaremos ao esquema sucessivo (fig. 3) que mostra a curva que caracteriza a potência de trabalho do organismo do atleta (N) nas condições da atividade desportiva, no que diz respeito a sua duração (t). A cada disciplina esportiva corresponde um determinado ponto desta curva.

    Quanto maior é a potência pedida (por exemplo, no levantamento de peso) mais este ponto é vizinho das coordenadas e vice-versa, quanto mais é prolongado o trabalho (corrida de fundo), menor será a potência de trabalho e, portanto, mais longe este ponto será do inicio das coordenadas.

    Portanto, a preparação do organismo para o trabalho em um regime determinado de potência representa um dos mais importantes objetivos finais do treinamento. As modernas aquisições da ciência do desporto permitem individualizar muito facilmente todas as características ergométricas, biomecânicas e fisiológicas do correspondente regime de trabalho do organismo (10, 12, 19, 57, 64, 81, 82, 84-86, 90, 105).

2. Qual deve ser a teoria do treinamento desportivo

    Agora, podemos colocar o problema de quais devem ser os conteúdos e a organização dos meios e dos métodos de todas as componentes do treinamento desportivo, para garantir a necessária potência 'efetiva' de trabalho do organismo em um determinado exercício esportivo. Exatamente aqui vêm verificados, seja a importância cientifica, seja o valor pratico da TMTD. Se, no que diz respeito aos seus conteúdos, a TMDT é adequada as exigências da prática desportiva, então os treinadores encontrarão bases suficientes para responder a todos os problemas pelos quais é interessado. Em particular, por aqueles que dizem respeito à concepção metodológica da preparação, à linha estratégica principal e ao programa de treinamento do atleta (fig. 2) no regime concreto de potência do trabalho orgânico, típico de um determinado esporte ou disciplina desportiva, em geral, e de um determinado nível de maestria desportiva, em particular. Voltaremos a analisar estes conceitos mais adiante. Agora iniciamos por ilustrar o esquema representado na figura 4 que desenvolve idéias contidas na figura precedente e concretiza os requisitos aos quais devem corresponder os conteúdos da TMTD, lembrando sempre da necessidade de conhecer a fisiologia da atividade muscular.


Figura 2 - Fatores principais que determinam ou limitam a performance



Figura 3 - Esquema do principio sobre o qual se baseia a relação entre a teoria do treinamento desportivo e a organização da preparação do atleta.



Figura 4 - Esquema sobre o qual se baseia a relação entre a teoria do treinamento desportivo e a organização da preparação do atleta.



    A partir do esquema proposto é evidente que a TMDT pode oferecer pressupostos objetivos e essenciais para a escolha dos estímulos de treinamento e para a sua organização racional somente se:

  1. baseada em uma idéia global sobre a especificidade dos movimentos de uma concreta disciplina desportiva.

  2. baseada nos conhecimentos sobre as possibilidades funcionais e sobre a possibilidade de adaptação do organismo inteiro e dos sistemas fisiológicos.

    Só assim a TMDT pode oferecer conselhos seguros no que diz respeito à melhora da função e da estrutura dos sistemas fisiológicos do organismo, e também ao melhoramento da maestria técnica, necessários à mudança das interações externas do organismo nas condições da própria atividade desportiva (10_13, 94-97, 99). Além disto, levando em consideração as particularidades do desenvolvimento do processo de adaptação, a TMDT deve, antes de tudo, classificar e distinguir todos os meios e métodos de treinamento conhecidos na prática desportiva em dois grupos principais:

  • intensivos, isto é, dirigidos a uma intensificação das funções do organismo;

  • extensivos, isto é, dirigidos à ativação das transformações morfológicas do organismo; e fornecer informações de como utilizá-los no sistema de treinamento (13, 14, 99, 106, 107).

3. As bases científicas da teoria do treinamento desportivo

    Portanto, de acordo com a particularidade especifica da atividade desportiva acima utilizada, os fundamentos científicos da moderna TMDT devem ser constituídos deste conjunto de conhecimentos (8-11, 94-97, 106, 107) :

  1. as leis gerais do desenvolvimento do processo de adaptação do organismo do atleta a um trabalho muscular intenso nas condições da atividade desportiva. Estas leis:

    1. fornecem idéias sobre os mecanismos fisiológicos e seus parâmetros quantitativos e temporais de desenvolvimento das relativas transformações de adaptação do organismo e

    2. representam pressupostos objetivos, por formularem objetivos finais precisos para tomar decisões concretas diretas para definir, em geral, os conteúdos e a organização do processo de treinamento.

  2. as leis especificas do processo de formação da maestria desportiva (PFMD) em cada desporto, em cada sua disciplina.
    Tais leis caracterizam, objetivamente, as condições necessárias e as relações de causa e efeito entre esses, que asseguram o progresso dos resultados das competições e determinam a sucessão racional segundo a qual mudam os conteúdos e a organização do processo de treinamento durante a preparação plurianual.

  3. As leis da especialização morfo-funcional (EMF) do organismo no treinamento plurianual. Estas representam a expressão externa da componente especifica do processo de adaptação a longo prazo de uma atividade muscular intensa e constituem a base objetiva para a planificação da preparação plurianual.
    Esta parte da TMDT compreende também os modernos conhecimentos sobre as capacidades motoras do homem, sobre os seus mecanismos fisiológicos, sobre as leis da sua formação e do seu melhoramento.

  4. As leis da formação da maestria técnica.
    Estas estão na base do processo de aquisição daquele sistema racional de movimento que é típico da atividade da competição das leis do seu aperfeiçoamento e daquelas de sua reprodução estável nas condições de treinamento e de competição, isto é, em condições de velocidade e intensidade máxima das exigências de força.

  5. As leis da relação reciproca, existente entre a dinâmica do estado funcional do atleta nas etapas de longa duração e as cargas de treinamento estabelecidos (conteúdos, volume, intensidade e organização). Estas leis fornecem as bases para a escolha das formas racionais de organização do processo de treinamento no ciclo anual.

4. Um enfoque moderno à elaboracao da teoria de treinamento desportivo

    Graças a uma ampla utilização dos conhecimentos biológicos, a TMDT se enriquece continuamente de novos conceitos que lhe aprofundam a base cientifica e mudam de modo radical os princípios de organização do processo de treinamento. Entre estes podemos citar, por exemplo (10-13, 15, 102) os seguintes conceitos:

  • de reserva atual de adaptação do organismo,

  • de grande ciclo de adaptação,

  • da especificidade das reações do organismo aos estímulos do treinamento,

  • do principio da organização programada e finalizada do treinamento

4.1. A reserva atual da adaptação do organismo (RAA)

    É a reserva de energia de adaptação que oferece ao organismo a possibilidade de uma adaptação temporária, mas muito estável, em condições extremas que exigem a máxima intensidade do seu funcionamento (15,102). As idéias sobre a existência da RAA do organismo colocam em evidencia, sobretudo, que, nas condições de um trabalho muscular intenso, o processo de adaptação não pode durar infinitamente. Existe de fato um limite, muito determinado por possibilidades do organismo de responder, com reações adequadas, a estímulos de treinamento que se sucedem continuamente, porém condicionado por fatores genéticos. Pode-se presumir que este limite que caracteriza a capacidade da reserva atual de adaptação(RAA) venha determinado, seja pela reserva funcional dos sistemas hormonais (18, 35, 60, 78, 103-105), seja pelo nível absoluto das transformações de adaptação (transformações morfo-funcional) alcançados pelo organismo (10,15, 102).

    Também a qualidade, intensidade e o volume dos estímulos de treinamento, assim como a dinâmica do seu aumento no tempo e a duração da sua utilização objetivamente necessária para a completa realização da RAA do organismo são caracterizados por determinados valores quantitativos. Se estes são inferiores a um determinado valor, a RAA não é realizada, e se são superiores as reservas vem excessivamente exauridas. Em ambos os casos haverá um efeito de treinamento escasso (12, 13). Por esse motivo, pode ser considerada uma organização eficaz de treinamento aquela que garanta a realização completa da RAA do organismo, que se obtêm com a utilização do volume e da intensidade de estímulos de treinamento, a uma velocidade ótima de aumento dos estímulos de treinamento.

4.2. O grande ciclo de adaptação (GCA)

    Trata-se de uma componente estruturalmente integrada e relativamente independente do processo de treinamento, cujos conteúdos, organização e duração são dependentes da realização da RAA do organismo. Em outros termos, o GCA é uma fase completa de desenvolvimento do processo de adaptação caracterizada pela transformação morfológica relativamente estável do organismo, e, sobre esta base, da passagem deste a um novo, e mais elevado, nível de capacidade especifica de trabalho (12, 13, 99, 102).

    Representa a principal forma de organização do treinamento, que deve ser precisamente individualizada do ponto de vista organizativo no âmbito do processo de treinamento. Além disso, o GCA deve ser programado de modo adequado, e repetido com uma certa sucessão no tempo, a um nível cada vez mais elevado de intensidade de funcionamento do organismo. Do ponto de vista organizativo, a solução dos objetivos metodológicos deve ser adaptada à estratégia geral do treinamento, que é dependente da realização da RAA e, convém salientar de modo especial, deve-se basear nas transformações morfo-funcionais do organismo.

    Observações realizadas nas condições de atividade desportiva(2, 14, 20, 21, 29, 30, 46, 52, 79, 80) e experiências da prática desportiva (10, 11) confirmam que, na presença de cargas de volume e intensidade como aquelas utilizadas pelos modernos atletas de alto nível, de acordo, com o calendário de competições e com os objetivos da preparação, nos desportos com uma etapa de competições, a realização completa da RAA acontece, aproximadamente, em 40 a 45 semanas. Para os desportos que prevêem duas etapas de competição, são necessárias 18 a 24 semanas, para outros que prevêem três etapas de competição, são necessárias de 14 a 16 semanas (11-13, 106, 108, 109). Portanto, de acordo com a especificidade de um desporto ou disciplina desportiva, o GCA pode durar um ano, um semestre ou um período inferior a esses. (12,13).


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