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Espaços de esporte & lazer na literatura específica contemporânea publicada no Brasil
José Roberto Gnecco

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 5 - N° 27 - Noviembre de 2000

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    Os macroequipamentos caracterizam-se por serem amplos, neles convergindo vários interesses, com destaque "a uma continuada valorização das atividades ao ar livre. Evidentemente, sua característica principal é o verde e a natureza". São compostos por parques, jardins e clubes de campo. Sendo em menor número, devem ser localizados estrategicamente. São criados para o lazer de fim de semana.25

Os equipamentos em espaços extra-urbanos são os estabelecidos no campo ou no litoral, destinados também ao lazer de fim-de-semana, mas juntamente com o lazer de temporada ou de férias. Objetivam o desfrute pelo usuário de atividades de lazer e de tarefas diferentes das rotinas vividas no cotidiano.


Considerações finais

    Em 1973 Dumazedier previu que "o espaço de lazer será cada vez mais necessário para o equilíbrio humano de cidades cada vez maiores, constituídas por uma população cada vez mais rica, cada vez mais instruída, e que trabalha cada vez menos".26

    Em seu otimismo afirma que "o lazer é uma revolta contra a cultura repressiva".27

As cidades, amanhã, serão cada vez mais inabitáveis, se não se transformarem de maneira radical sob a pressão das novas necessidades. À medida que a sociedade se torna mais produtiva, mais rica, mais instruída, é a necessidade maciça de estada e migração de lazer que se torna o maior devorador de espaço. Apesar de todos os obstáculos financeiros e ideológicos que se lhe opõem, a edificação ambiciosa, progressiva, planificada de um espaço de lazer, à medida das novas necessidades do Homo ludens, é talvez a mais séria das operações, a mais indispensável, se quisermos construir cidades habitáveis para os homens de 1985, nossos filhos. 28

    Quanto aos equipamentos, se Dumazedier 29 considera "as necessidades sempre mais dispendiosas de equipamentos coletivos" como um dos entraves à aplicação de uma política de lazer passando pelo aumento do tempo livre, mesmo assim Requixa30 entende que "na construção de equipamentos de lazer, deve-se adotar um padrão que vise a durabilidade, e, especialmente, ao baixo custo de manutenção"; Queiroz31 o acompanha: "sempre é preferível que o ter gasto maior inicialmente, do que ter despesas de manutenção, posteriormente" [sic].

    Considerações sobre o uso de escolas como equipamentos de Esporte & Lazer

    Para Marcellino:

Na perspectiva da "pedagogia da animação", a Escola - como equipamento e como organização de educadores - funcionaria com "centro de cultura popular".
Sua tarefa educativa seria efetuada, em termos de abrangência, ultrapassando o âmbito dos alunos "regularmente matriculados", mas se estendendo a toda a comunidade local, através da participação comunitária ... como possibilidade de influenciar conteúdos, calendários, programações, uso de equipamentos.
Sua tarefa educativa seria efetuada, em termos de espaço, ultrapassando os limites dos muros dos prédios escolares, estendendo-se a outros equipamentos da comunidade próxima, procurando dessacralizá-los. 32

    Uma política de disseminação de equipamentos públicos de Esporte & Lazer pelo município passa pela abertura das escolas fora do horário escolar, entendendo as mesmas como centros de cultura e lazer. São elas que podem proporcionar o lazer diário e de alcance estritamente local, enquanto que os campos de futebol de várzea e equipamentos não-específicos adaptados podem proporcionar o lazer em determinados dias e horários.


Considerações sobre a influência da televisão no espaço de lazer

    Mas o ambiente cultural brasileiro homogeneizado por 35 anos de "monocultura televisiva" faz com que se padronize a forma como a cultura do tempo livre é vivenciada nas cidades brasileiras. Sobre a unidimensionalização do Homem através da "monocultura televisiva", o mesmo Marcellino assim se manifesta:

a grande maioria do tempo disponível é usufruído nos próprios locais de moradia, dentro das casas, o que propicia a formação de um "público cativo" da televisão. É notadamente através desse veículo que os padrões dos grandes centros, em especial do eixo Rio-São Paulo, vêm sendo impostos a todo o país, em virtude dos surgimento das redes, alternativa econômica para a produção. Esse fato, aliado a outros, como o crescente processo de urbanização, vem contribuindo para o desaparecimento de manifestações culturais autênticas, nos vários gêneros, notadamente das festas, tanto lúdico-religiosas como lúdico-folclóricas.
A necessidade do estímulo para o consumo rápido faz com que o nível da maioria das obras veiculadas seja elementar e fragmentário. A pobreza de conteúdo é uma constante da produção oferecida ao grande público, nos vários gêneros culturais, notadamente naqueles mais consumidos, caso dos filmes feitos para televisão, das fotonovelas, da música "pop" e dos "best-sellers". É uma enfadonha repetição de estilos, de ritmos, de temas, de estrutura.
Contudo, não podemos negar a importância dos meios de comunicação de massa na difusão das atividades de lazer, levando-as até mesmo à casa das pessoas. O que se questiona é o baixo nível dessas programações. Se por um lado é certo que as manifestações da indústria cultural poderiam cumprir pelo menos alguns dos requisitos que contribuíssem para o desenvolvimento cultural, é também verdadeiro que, na prática, as decisões são tomadas em termos de rentabilidade financeira, evidenciando à homogeneização do consumo.
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    É criado um ambiente cultural disseminado pela televisão que "dispensa" os equipamentos e espaços públicos de lazer - pela disseminação de uma cultura do espaço privado ao invés de uma cultura do espaço público, representado pela academia de ginástica privada e particular, ao contrário da praça e do parque público -, esvaziando a procura por estes.

    Os cidadãos não se reconhecem no espaço coletivo e público, mas sim em seu nicho isolado e privado! Tal fenômeno não acontece somente no Esporte, passa pela transformação do cinema aos home theaters, das praças públicas e o antigo footing aos shopping centers...

    As tendências do lazer presentes na ideologia disseminada pela mídia na sociedade contemporânea instituem a mudança do lazer coletivo para o lazer individual, do lazer ativo para o lazer passivo, do lazer público para o lazer privado, e do lazer gratuito para o lazer pago.34

    As limitações que o Poder Público tem para intervir nas questões do Esporte & Lazer são de tal monta, que cabe observar esta citação retirada de Marcellino.

Por todos esses fatores, concordo com Gabriel Priolli Neto, na sua argumentação: "Quando se admite um controle monolítico dos meios de comunicação por parte de quem os detém, aceita-se a idéia de que não é possível fazer nada em seu interior e que as tentativas de uma ação contra-ideológica são facilmente neutralizáveis. Em decorrência, desloca-se o eixo central da luta para fora dos meios de massa, sustentando-se a tese de que a ação possível está nas formas de comunicação direta, artesanais. Desse modo, mantém-se o trabalho político em escala sempre reduzida, enquanto a televisão segue 'fazendo a cabeça' de 60 milhões de pessoas todos os dias, e o rádio de 90 milhões. É um combate desigual, onde um dos lados já entra no ringue com a vitória". 35

    Concluindo este trabalho destaco que a intervenção do Poder Público garantindo a preservação dos espaços de Esporte & Lazer é necessária para que o próprio lazer possa subsistir, seja pela garantia da existência do espaço onde ele possa se realizar, seja pela garantia do caráter público deste espaço ou, mais ainda oferecendo oportunidades da própria cidade se tornar um espaço público de lazer, contrariando o clima cultural disseminado na mídia e predominante na sociedade brasileira que valoriza o espaço privado em detrimento do espaço público, pela valorização do foro individual e privado em detrimento do foro coletivo e público.


Notas

  1. Jorge Wilheim, O substantivo e o adjetivo, p.96.

  2. Ibid., p.102.

  3. Jofre Dumazedier, Questionamento teórico do lazer, p.54.

  4. Idem, Sociologia empírica do lazer, p.172.

  5. Helmut Troppmair, Estudo biogeográfico das áreas verdes de duas cidades médias do interior paulista, p.76.

  6. Jofre Dumazedier, Op.cit, p.165.

  7. Ibid. , p.167.

  8. Jorge Wilheim, Op.cit. , p.101.

  9. Ibid., p.102.

  10. Jofre Dumazedier, Op.cit., p.166.

  11. Ibid., p.167.

  12. Ibid., p.168.

  13. Ibid., p.168-9.

  14. Antonio C.M. Prado, Educação Física de tempo livre, p.142-3.

  15. Jofre Dumazedier, Op.cit., p.v169-70.

  16. Idem, Valores e conteúdos culturais do lazer, p.55.

  17. Heloísa Bruhns, Introdução aos estudos do lazer, p.113.

  18. Renato Requixa, Sugestão de diretrizes para uma política nacional de lazer, p.76-83.

  19. Luiz Octávio L. Camargo, O que é lazer.

  20. Renato Requixa, Op.cit., p.76.

  21. Odaléia Queiroz, O desenvolvimento do lazer em Rio Claro, p.149.

  22. Renato Requixa, Op.cit., p.76-80.

  23. Ibid. p.77.

  24. Ibid, p.77-8.

  25. Ibid, p.78-9.

  26. Jofre Dumazedier, Sociologia empírica do lazer, p.171.

  27. Ibid., p.173.

  28. Ibid. , p.172.

  29. Ibid., p.164.

  30. Renato Requixa, Op.cit., p.72.

  31. Odaléia Queiroz, Op.cit., p.163-4.

  32. Nelson Marcellino, Pedagogia da animação, p.147-8.

  33. Ibid. , p.70-1.

  34. Direito ao lazer, p.333-6.

  35. Nelson Marcellino, Op.cit. , p.76-7.


Bibliografia

  • BRUHNS, Heloísa. Introdução aos estudos do lazer. Campinas: Unicamp, 1997.

  • CAMARGO, Luiz Octávio L. O que é lazer. São Paulo: Brasiliense, 1986.

  • DIREITO ao lazer. In: CARTA, Mino & PEREIRA, Raimundo Rodrigues (Ed.) Retrato do Brasil. São Paulo: Política, 1984. p.333-6.

  • DUMAZEDIER, Jofre. Sociologia empírica do lazer. São Paulo: Perspectiva, 1979. Original: Sociologie empirique du loisir, 1974.

  • ___. Questionamento teórico do lazer. Porto Alegre: PUC-RS, 1975.

  • ___. Valores e conteúdos culturais do lazer. São Paulo: SESC, 1980.

  • MARCELINO, Nelson. Pedagogia da animação. Campinas: Papirus, 1990.

  • PRADO, Antonio C.M. Educação Física de tempo livre: tendências para capacitação profissional. São Paulo, 1988. 191p. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Escola de Educação Física, Universidade de São Paulo.

  • QUEIROZ, Odaléia T.M.M. O desenvolvimento do lazer em Rio Claro. Rio Claro, 1986. 175p. (Trabalho de Graduação em Geografia e Estágio de Iniciação Científica apresentado ao Instituto de Geociências e Ciências Exatas, UNESP, Campus de Rio Claro).

  • REQUIXA, Renato. Sugestão de diretrizes para uma política nacional de lazer. São Paulo: SESC, 1980.

  • TROPPMAIR, Helmut. Estudo biogeográfico das áreas verdes de duas cidades médias do interior paulista: Piracicaba e Rio Claro. Geografia (Rio Claro), v.1, n.1, abr. 1976. p. 63-78.

  • WILHEIM, Jorge. O substantivo e o adjetivo. São Paulo: Perspectiva/ EDUSP, 1976.


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