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Uma proposta teórica para a formação dos futuros profissionais de educação física
Ana Cristina Arantes

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 5 - N° 26 - Octubre de 2000

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O currículo de Educação Física
     Ainda que nossa especificidade seja o currículo e a formação profissional em Educação Física, em maior ou menor grau os aspectos gerais sobre esta área de investigação também nos diz respeito. Assim sendo, na nossa área de atuação, pode-se verificar questões inerentes a essa área de conhecimento através dos estudos de ZAIS, (1976), LOGSDON, (1977), JEWETT & MULLAN 1977, CORBIN (1983), e de GALLAHUE (1989), dentre outros.

     Genericamente falando, no Brasil a área “currículos e programas” apresenta um maior número de publicações após a década de 1960 - quando Brasil ocorrem as primeiras manifestações de uma política pública de educação escolar massificada (CARDOSO, E. A. et alli, 1987). Em 1970 ampliou-se a oferta dos cursos elementares e médios; vinte anos depois, por decorrência do aumento significativo dos primeiros houve maior oferta de cursos de graduação os quais, por sua vez, favoreceu a criação dos primeiros cursos de Pós graduação em Educação Física no país.


O curso de graduação em Educação Física na Universidade de São Paulo
     No Brasil, mais especificamente em São Paulo, a implementação do curso de pós graduação na Escola de Educação Física e Esporte da USP. em 1977, favoreceu a criação, dentre outros aspectos, de nova concepção sobre a área acadêmica e profissional culminando com alteração da sua curricular. Esse processo iniciado em 1988, dividiu o único curso até então existente (de cunho generalista), em dois cursos compostos por seis semestres de duração mínima:

  1. Bacharelado em Esporte - destinado à formação de recursos humanos capazes de planejar, implementar e avaliar e supervisionar programas visando o alto rendimento, os medalhistas e um outro curso;

  2. Bacharelado em Educação Física; voltado para a formação de profissionais qualificados para planificar, realizar, avaliar e orientar programas de qualidade de vida nos diversos segmentos tais como clubes, hotéis, academias e ruas de lazer.

     Quanto ao curso de (c) Licenciatura que forma professores, realizado no final do curso de Bacharelado em Educação Física, visa a capacitação de pessoas que trabalhem na realização dos conteúdos ou dos cinco elementos que a constituem qual sejam dança, ginástica, jogo, luta e esporte no âmbito escolar. Estes elementos humanos devem preocupar-se em oferecer um programa que tenha como centro interesse os estudos e aspectos referentes a motricidade humana mas, que considere como variáveis importantes os domínios intelectual e relacional e que estabeleçam através dos conteúdos ministrados forte relação com os temas tratados pelos demais componentes curriculares.

     Propõe-se esta divisão dos cursos de graduação em Educação Física, por entender que cabe somente à escola a responsabilidade de transmitir, difundir, formar e fazer-se produzir conhecimento de maneira intencional.

     Assim sendo, os programas de Educação Física desde a Educação Infantil (LDB. No. 9394/96), devem incluir a discussão dos diversos aspectos e domínios intelectual, relacional e motor. Portanto, os elementos que compõe a Educação Física - dança, luta, ginástica jogos e esportes devem ser consumidos desde o anos iniciais de escolarização. Vale dizer que a responsabilidade da transmissão, do consumo do conhecimento a formação de atitudes não pertence aos bacharéis.


A construção do curso de Educação Física no Brasil
     Historicamente falando, os cursos de formação em Educação Física no Brasil, desde o século passado, receberam (e ainda podemos observar), sua forte influência médica e militar apontados por CASTELANI FILHO (1988), SOARES, (1994) e ARANTES (1996), até ou dias de hoje.

     A partir da preocupação em capacitar fisicamente as milícias, implementou-se nos quartéis, programas de orientação da Escola Francesa e Sueca cujos exercícios de ginástica analítica favoreciam a manutenção da saúde física e o vigor orgânico. Esta influência pode-se depreender no texto do Ministério de Educação e Cultura (MEC 148/67) que em seu Artigo 1o. resolve

     “O programa de Educação Física constituir-se-á em um conjunto de ginástica, jogos, desporto e recreação, capaz de promover o desenvolvimento harmonioso do corpo e do espírito e, de modo especial, fortalecer a vontade, formar e disciplinar hábitos sadios, adquirir habilidades, equilibrar e conservar a saúde e incentivar o espírito de equipe de modo que seja alcançado o máximo de resistência orgânica e de eficiência individual” (SE/ CENP. 1985:158).

     Os exercícios físicos vinculados aos aspectos de higiene pessoal e fortalecimento da moralidade, portanto, completavam a formação do jovem soldado. Esta orientação de uma prática ligada aos aspectos motores e de rendimento para a manutenção física gerada no ambiente militar, originou a nossa primeira forma de entendimento dos conteúdos da Educação Física e é por essa razão que muitas vezes observa-se redução de seus programas no aspectos da habilidade motora e no rendimento máximo incluindo os alunos da educação infantil ou também conhecida como pré-escola.

     Essa realidade existente em muitas instituições de educação formal brasileiras, parece não concordar com a nova orientação política de democratização e de acesso a informação e no oferecimento do processo de alfabetização de todos os conteúdos construídos pela humanidade à todos os estudantes.

     Essa orientação encontrada nas instituições de ensino fundamental de 1ª à 8ª série), em muitas escolas brasileiras, advém de um equivoco curricular dos cursos de graduação. Ou seja, muitos cursos de graduação em Educação Física, defendem a prática dos aspectos denominados “técnicos”(esportivos), em detrimento dos outros domínios desconsiderando, portanto, os importantes as recomendações legais e dos especialistas que passaremos a discutir.


A proposta para o um currículo atual
     Partindo das orientações legais, e afastando-se das práticas eminentemente desportivas e de alto rendimento, praticadas com muita ênfase nas décadas anteriores, propõem-se para os estudantes de graduação em Educação Física, o oferecimento de quatro blocos de informação de modo a cumprir as várias recomendações dos órgãos governamentais e reforçada pelos especialistas. O primeiro bloco de conteúdos versa sobre os (a) aspectos filosóficos e especulativos - articulando a teoria à prática pedagógica conhecimentos sobre o homem, sociedade e técnica aplicados à Educação Física. O segundo bloco, denominado (b) conhecimento do ser humano - formado pelos conteúdos que favoreçam o conhecimento dos aspectos biológicos e psicológicos abarcando todo o ciclo vital do ser humano.

     Um terceiro grupo de disciplinas denominado (c) conhecimento da sociedade, destinado a discussão dos aspectos humanos, históricos e sociológicos, incluindo-se neste o estudo, o conhecimento da natureza e dos propósito das instituições, sistemas e processos ligados ao indivíduo e sociedade. E, o último grupo, conhecimento técnico - formado pelas orientações e aspectos técnicos da motricidade propriamente ditos atividades motoras coletivas e individuais.

     A partir desse postulado, sugere-se que o curso de graduação seja composto por dois anos básicos e comuns independente da futura área de atuação profissional escolhida. Vale dizer portanto, que o profissional necessitará dos conhecimentos dos aspectos filosóficos, biológicos e humanísticos para a sua formação.

     Quanto ao conhecimento dos aspectos técnicos, a prática das atividades motoras sistematizadas, as sínteses, os estágios supervisionados bem como as práticas de ensino, ministradas em maior porcentagem nos dois últimos anos do curso, deverão ser eleitas pelo estudante em função da sua área de futura atuação profissional (alto rendimento, qualidade de vida ou área escolar), nas quais, em maior ou menor porcentagem, seriam analisados de forma articulada entre a teoria e a prática, os cinco elementos constituintes da Educação Física citados anteriormente.

     Também recomenda-se que o curso ofereça aos estudantes disciplinas de complementação (enriquecimento curricular) cujo conteúdo possibilitaria uma visão ainda mais ampla de diferentes aspectos conceituais e pragmáticos.

     Sugere-se que haja contínuo planejamento e articulação dos programas entre todos os professores. Recomenda-se que haja supervisão das estratégias utilizadas pelos docentes de modo a facilitar uma melhor compreensão dos temas por parte dos alunos bem como o recrutamento dos recursos físicos; laboratórios, salas ambiente, biblioteca por exemplo.

     É desnecessário afirmar que é muito importante na implementação do curso, o atendimento dos aspectos legais, das necessidades dos discentes e da sociedade, o favorecimento do espírito de investigação e a crítica pertinente.

     Vale dizer que é necessário que os professores formadores de profissionais, preocupem-se em oferecer aos alunos habilidade e competência técnica em um ambiente de compreensão e de reciprocidade entre todos.

     De alguma forma, para além da tarefa de elaborar e de construir um currículo para os estudantes do próximo milênio, “precisamos ensinar e aprender sobre a motricidade humana, aprender a viver a solidariedade, apreciar sinceramente a competência, valorizar a justiça, favorecer a criação de talentos e de liderança, dar oportunidade aos desfavorecidos àqueles que têm dificuldade, e dentre tantos aspectos, cultivar a alegria, a auto estima e o conhecimento". (ARANTES, 1995:26)


Referências bibliográficas

  • ARANTES A.C. & MEDALHA, J. Uma visão teórica de currículo: definições abordagens históricas e modelos específicos em educação física. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo. V3., n5, p. 45-50. 1989.

  • ARANTES, A.C. Educação física escolar: temos o que ensinar? Revista paulista de Educação Física. São Paulo, supl. 1 p. 25-26. 1995.

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  • BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais PCN. Versão preliminar para a discussão nacional. Brasília. Outubro. 1997. 171p .

  • COLL. C. Psicologia e currículo: uma aproximação psicopedagógica à elaboração do currículo escolar. São Paulo. Ática. 1996. 200p.

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  • ECO, H. Como se faz uma tese. Perspectiva. 14ª ed. 1998. 170p.

  • FONSECA, F. G. (Parecerista) Conselho Federal de Educação Resolução no. 3 (16 de junho de 1987) Diário da União 10/9/87. p. 13-15.

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  • SÃO PAULO (ESTADO) Secretaria da Educação. Coordenadora de Estudos e Normas Pedagógicas. Legislação Básica. (Federal e Estadual) São Paulo. SE/CNP. 1985. p 158.

  • SÃO PAULO (ESTADO) Secretaria da Educação. Coordenadora de Estudos e Normas Pedagógicas. Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Lei 9394/96 São Paulo. SE/CNP. 1996. 40 p.

  • SOARES, C. L. Educação Física: raízes européias e Brasil. Campinas. Autores Associados. 1994. 167p.

  • TABA, H. Elaboración del currículo: teoria y práctica. Buenos Aires. Troquel. 1974.

  • TRALDI. L. Currículo: metodologia e avaliação. São Paulo. Atlas. 1997. 87p.

  • TYLER, R.W. Princípios básicos de currículo e ensino. Porto Alegre. Globo. 9ª ed. 1986. 119p.


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