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Postura. Uma revisão dos problemas, educação
e avaliação em ambientes escolares

La postura. Una revisión de problemas, educación y evaluación en ámbitos escolares

Posture. A review of problems, education and evaluation in school settings

 

*Especialista em Ergonomia, Faculdade Ávila

**Especialista em Fisiologia do Exercício, FACIMAB

(Brasil)

Lilian da Gama Golobovante*

Luiz Carlos Rabelo Vieira**

luizcrvieira@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do presente estudo foi promover uma revisão narrativa da literatura a respeito dos problemas posturais, educação e avaliação postural em ambientes escolares. Realizou-se um levantamento não sistemático da literatura referente ao tema. Evidências epidemiológicas mostram prevalentes/incidentes os problemas posturais em escolares, associados a hábitos inadequados de postura sentada, uso errado de mochilas e de mobiliários das instituições escolares. As disciplinas de Educação Física e Ciências, ao abordarem temas relacionados ao conhecimento sobre o corpo no ambiente escolar, devem contemplar os aspectos posturais para o estímulo de hábitos adequados.

          Unitermos: Postura. Educação Física. Avaliação postural.

 

Abstract

          The objective of this study was to provide a narrative review of the literature regarding postural problems, postural education and evaluation in school settings. Evidence shows prevalence / incidence of postural problems in school, associated with poor habits of sitting posture, improper use of backpacks among others factors. At school, Physical Education and Sciences broaden the knowledge about the body in the school environment. Should also address the postural aspects to the stimulus of proper habits.

          Keyword: Posture. Physical Education. Postural assessment.

 

Recepção: 18/08/2014 - Aceitação: 02/11/2014

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 200, Enero de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A posição sentada é a mais adotada nos ambientes de trabalho, assim como nos escolares e nas atividades de lazer (MARQUES; HALLAL; GONÇALVES, 2010).

    Há algumas décadas as Escolas Posturais são uma opção para atenuar os problemas de má postura, possibilitando a modificação de atitudes diárias que conduzem a danos na coluna vertebral. Essas Escolas são oferecidas a públicos distintos (idosos, crianças, adolescentes e jovens) e tem como objetivo a ampliação dos conhecimentos teóricos sobre a coluna vertebral, favorecendo a adoção de atitudes posturais salutares (CANDOTTI et al., 2009, 2011; SOUZA; VIEIRA, 2003). Vale ressaltar que, no ambiente escolar, esses conhecimentos devem ser abordados, particularmente, nas disciplinas de Educação Física e Ciências, uma vez estipulados nos Parâmetros Curriculares Nacionais.

    Assim, o objetivo do presente estudo foi promover uma revisão narrativa da literatura a respeito dos problemas posturais, educação e avaliação postural em ambientes escolares.

Epidemiologia dos problemas posturais em escolares

    A postura pode ser definida como o estado de equilíbrio dos músculos e ossos (BRACCIALLI; VILARTA, 2000). Nesse sentido, uma forma de possibilitar a obtenção de dados de tal variável seria através da avaliação postural. A partir dela é possível a definição de um diagnóstico e, caso necessário, a escolha da conduta de reabilitação (GUENNO et al., 2001; PEREIRA, 2003). Isto é importante quando se observa que padrões posturais corretos na vida adulta estão relacionados à postura adequada na infância ou à correção precoce de desvios posturais nessa fase (MARTELLI; TRAEBERT, 2006).

    Dentre as alterações que comumente se desenvolvem na infância e adolescência está a hiperlordose ou postura lordótica. Conforme Barbosa et al. (2002), nessa alteração há um aumento na inclinação pélvica anterior e flexão do quadril e, comumente, é acompanhada da cifose torácica.

    Para Calvete (2004), a obesidade na infância e adolescência apresenta relações com as lesões nas atividades físicas e esportivas.

    Quanto aos resultados de pesquisa sobre alterações posturais em escolares, Pereira et al. (2005) observaram, em alunas entre 10 e 12 anos de idade, prevalência de 48,4%. Em alunas, entre 13 e 15 anos, a prevalência foi de 49,5%. Ambos os resultados foram de desvios laterais da coluna.

    Resende e Borsoe (2006), ao analisarem as alterações posturais de 13 escolares de seis a oito anos, notaram ocorrência de hiperlordose lombar, hipercifose torácica, ombros protrusos, escápulas aladas e ombros assimétricos.

    Detsch et al. (2007), em estudo realizado com 495 alunas de 14 a 18 anos na cidade de São Leopoldo, Rio Grande do Sul, encontraram prevalência de 66% de alterações posturais laterais e de 70% de alterações anteroposteriores da coluna vertebral.

    Em estudo também realizado em Rio Grande do Sul, cidade de Novo Hamburgo, Detsch e Candotti (2001) analisaram 154 escolares, de 6 a 17 anos, e verificaram 70,78% de casos de alteração postural na coluna vertebral.

    Rego e Scartoni (2008), ao analisarem alunos de 5ª e 6ª séries do ensino fundamental, com idade média de 13±2 anos, notaram prevalência (51%) de escoliose e o desnivelamento de espinha ilíaca anterior superior, entre outros resultados.

    Na cidade de Jaguariúna, interior do Estado de São Paulo, Santos et al. (2009) avaliaram a postura de 247 escolares do ensino público fundamental. Dentre os resultados, encontraram protrusão (11,7%) e inclinação cervical (15,4%), cifose torácica (9,7%) e hiperlordose lombar (26,3%), entre outros relacionados a demais regiões corporais.

    Ainda em consideração de a obesidade estar relacionada com desequilíbrios posturais de crianças e adolescentes, Rosell et al. (2010), utilizando o protocolo do Software de Avaliação Postural – SAPo, investigaram 35 pessoas com sobrepeso, entre 10 e 15 anos de idade, de ambos os gêneros. Dentre as alterações posturais encontradas foram evidentes: calcâneos valgos, hiperextensão e valgismo de joelhos, anteroversão pélvica e protração de cabeça. Os autores concluíram que o deslocamento do centro de gravidade pode levar à adoção de posturas compensatórias buscando redistribuir o peso corporal.

    Em 288 escolares, entre 15 e 18 anos de idade, da rede federal de ensino de Florianópolis/SC, Graup, Santos e Moro (2010) analisaram prevalência de 53,8% alterações posturais sagitais na coluna lombar, sendo que 90,9% corresponderam à retificação da curvatura lombar, acometendo mais o sexo masculino. A presença de dor lombar esteve associada à prática de esportes ou atividades vigorosas e a permanência durante longos períodos de tempo na posição sentada.

    Souza Junior et al. (2011) encontraram prevalência de 8,8% de desvios laterais e 2,4% de gibosidade em 670 escolares, de 11 a 19 anos, também da rede federal de ensino de Florianópolis/SC.

    Em 211 estudantes, com idade entre 09 e 16 anos (12,23±1,60), de uma escola de ensino fundamental de Santarém/PA, França et al. (2011) detectaram maior prevalência de escoliose torácica, dentre os desvios posturais investigados.

    Considerando os resultados epidemiológicos de pesquisas que apontam altas prevalências de alterações posturais e dores em regiões da coluna em pessoas na idade escolar, tem-se a importância da educação postural, um conteúdo obrigatório no ensino básico que está contemplado nos Parâmetros Curriculares de Educação Física.

Educação postural e Educação Física escolar

    Tem sido cada vez mais numerosa a quantidade de pesquisas fomentando a importância do ensino de conhecimentos de anatomia e biomecânica, assim como de hábitos posturais adequados na infância, uma vez evidente que padrões posturais adequados na vida adulta são possibilitados pela postura adequada ou a correção precoce de desvios posturais nessa fase da infância e adolescência (CARDON et al., 2000; MARTELLI; TRAEBERT, 2006; ZAPATER et al., 2004).

    No ambiente escolar, observa-se que a anatomia e a biomecânica, entre outros temas sobre saúde, devem ser trabalhados nas disciplinas de Educação Física e Ciências, uma vez estipulados nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Apesar disso, são escassas as pesquisas, na perspectiva de publicação nacional sobre o tema, que investigaram e apresentaram dados que demonstrassem se o ensino de conhecimentos sobre postura e hábitos relacionados é realmente contemplado nos planos de ensino das disciplinas citadas, o modo como o tema é tratado e se repercussões positivas nas atitudes individuais do alunado são possibilitadas pelo ensino desses conteúdos.

    Candotti, Rohr e Noll (2011) verificaram que a educação postural é negligenciada por grande parte de professores de Educação Física de 5ª a 8ª séries, mesmo que reconheçam a importância de serem ensinadas e praticadas questões sobre tal conteúdo.

    Pode-se definir a educação postural, com base em Souza e Vieira (2003), Rebolho, Casarotto e Amado (2009) e Candotti et al. (2011), como uma prática educativa baseada em experiências de aprendizagem que fomenta a aquisição de conhecimentos sobre o corpo e atitudes positivas que podem modificar os hábitos posturais adquiridos ao longo da vida e o desenvolvimento da má postura.

    Em um programa de extensão intitulado Escola Postural oferecido à comunidade na EsEF/UFRGS, Vieira e Souza (2002), ao entrevistarem dez participantes inscritos no programa, compreenderam que a concepção de boa postura dos sujeitos se distancia das concepções mais atuais relacionadas à percepção corporal e se assimila à difundida na literatura a partir do século XIX, a qual prioriza o alinhamento e posicionamento dos segmentos corporais, a força e tensão muscular, o controle e disciplina corporal.

    Em outro estudo realizado também com 10 participantes do programa de Escola Postural na EsEF/UFRGS pelos autores supracitados, foi conclusivo que a combinação de explicações teóricas e vivências corporais mostrou-se benéfica aos participantes no que se refere ao conhecimento de si (SOUZA; VIEIRA, 2003).

    Zapater et al. (2004) avaliaram como positivo um programa de educação sobre os conhecimentos de 71 estudantes da 1ª série do ensino fundamental, em Bauru/SP, a respeito da postura sentada. O programa constou de aulas expositivas, técnicas de demonstração e feedback, associado a um programa de reforço ministrado por professoras treinadas.

    Em um projeto direcionado a crianças, Candotti et al. (2009) verificaram o efeito de um programa de Escola Postural em 28 delas. Os resultados apontaram que os participantes do programa aprenderam a conhecer e identificar a coluna vertebral, suas partes e a manter as suas curvaturas naturais durante as atividades do dia a dia.

    Os efeitos de oito meses de um Programa de Educação Postural (PEP) para 34 crianças e adolescentes foi avaliado por Candotti et al. (2011). Estes verificaram que o PEP, quando avaliado imediatamente após seu término, promoveu efeito positivo apenas no conhecimento teórico e na postura das atividades do dia a dia. Porém, o efeito positivo do Programa não foi estendido ao período de follow-up, após oito meses do término do programa. O PEP contemplou os seguintes temas nas aulas: as curvaturas da coluna vertebral; a posição sentada; os mecanismos de compensação postural; permanecer em pé e caminhar corretamente; estrutura e função dos discos intervertebrais; sentar e levantar corretamente; sobrecarga sobre a coluna – início de hérnia de disco; agachar, apanhar e levantar objetos corretamente; sobrecarga sobre a coluna – hérnia de disco dolorosa; rotações ou torções da coluna; posição ideal para dormir e altura do travesseiro; deitar e levantar corretamente; musculatura e postura – músculos eretores da coluna, abdominais e flexores do quadril.

Considerações sobre a avaliação postural em ambientes escolares

    Apesar dos avanços nos métodos e técnicas para mensurar a avaliação postural, a nosso ver ainda continua sendo um grande desafio medi-la com precisão e acurácia, sobretudo, em estudos epidemiológicos com grandes amostras.

    Dentre as pesquisas que focaram e focam a epidemiologia dos problemas posturais em escolares foi notado que a utilização do simetrógrafo é recorrente para detecção de alterações posturais laterais e sagitais. Questionários também são utilizados para a obtenção das informações individuais dos sujeitos avaliados. Importante ressaltar que, em menor número de casos observados em estudos, são utilizadas metragens em paredes as quais se assemelhariam a simetrógrafos. Tais adaptações, somadas à falta de experiência do avaliador, condições inadequadas de iluminação do ambiente, ausência de uso de veste sumária por parte dos avaliados, entre outras, são fatores que, a nosso entender, estariam relacionados à subestimação ou superestimação dos referidos problemas em estudos epidemiológicos com grandes amostras.

    Estudos vêm apontando importantes resultados quanto à utilização da análise computadorizada como método de avaliação das alterações posturais (IUNES et al., 2005; PEREIRA, 2003; SACCO et al., 2003, 2007). Dentre esses recursos está a biofotogrametria (fotogrametria computadorizada), a qual apresenta, para várias medições posturais, bons resultados de reprodutibilidade e validade. Nesse método os sujeitos são fotografados nos planos sagitais direito e esquerdo, frontal anterior e posterior com uma câmara digital com perfeita resolução por registro fotográfico, a qual deve estar posicionada paralela ao chão, a certa distância do avaliado. Os cálculos fotogramétricos dos ângulos de interesse são possíveis a partir de softwares, como o Corel Draw e o SAPo.

    A reprodutibilidade reflete a sua capacidade em produzir o mesmo resultado ou resultados semelhantes entre réplicas de mensuração (mensuração 1 e 2), em condições semelhantes. No entanto, apresentar uma reprodutibilidade elevada, necessariamente, não assegura que o instrumento apresenta níveis satisfatórios de validade. Esta, por sua vez, se refere ao grau em que o teste ou uma estimativa baseada em um teste é capaz de determinar o verdadeiro valor do que está sendo medido. A validade concorrente é o método mais adotado para estimar os níveis de validade de instrumentos. Consiste na comparação entre a medida obtida a partir do instrumento que se pretende testar com àquela obtida por um critério de referência (padrão ouro). Pressupõe-se que um critério de referência esteja livre de erro ou forneça uma medida com a menor margem de erro possível (PEREIRA; ANDRADE; 2003).

    Foi comentado que, por meio da avaliação postural, é possível a definição de um diagnóstico e, caso necessária, a escolha da conduta de reabilitação (GUENNO et al., 2001; PEREIRA, 2003). Traumatismos, fatores emocionais, sócio-culturais e hereditários no período de crescimento e desenvolvimento corporais são fatores relacionados às várias alterações posturais, em especial àquelas relacionadas com a coluna vertebral. Em idade escolar, a utilização de mochilas, posturas inadequadas, dentre outros, contribuem para essas alterações (BUNNELL, 2005).

Considerações finais

    Evidências epidemiológicas mostram prevalentes/incidentes os problemas posturais em escolares. Tais desfechos apresentam-se associados, principalmente, aos hábitos inadequados de postura sentada, uso errado de mochilas e de mobiliários das instituições escolares. Sintomas de dor lombar podem ser gerados pela manutenção prolongada da posição sentada estática, onde cargas atuam sobre a coluna vertebral. A má postura seria mais um fator desencadeante da fadiga dos músculos extensores lombares.

    As disciplinas de Educação Física e Ciências, ao abordarem temas relacionados ao conhecimento sobre o corpo no ambiente escolar, devem contemplar os aspectos posturais para o estímulo de hábitos adequados.

    Importante ressaltar que a disponibilização de carteiras escolares ergonomicamente apropriadas favoreceria o conforto, a diminuição da atividade muscular, dos hábitos inadequados e de dores nos educandos.

Referências

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