Lecturas: Educación Física y Deportes
http://www.efdeportes.com/ · revista digital

1 / 2

Aspectos dos jogos romanos:
observações acerca do Etymologiarum XVIII
André Mendes Capraro (Brasil)
Mestrando em História. Universidade Federal do Paraná
andre.capraro@bbs2.sul.com.br


Resumo
Este artigo analisa uma fonte antiga denominada Etymologiarum XVIII que discorre sobre as práticas físicas e alguns tipos de jogos praticados pelos romanos no auge do império. Também será pontuado como os "grandes jogos" faziam parte do cotidiano romano e sua utilização como meio de sociabilidade.
Unitermos: Etymologiarum. Romanos. Prática física.


Introdução
O Etymologiarum XVIII propicia uma boa oportunidade de contextualizar fatores referentes a prática dos jogos e outras atividades físicas. Tal fonte descreve com clareza de detalhes os locais onde eram realizadas tais atividades, como elas aconteciam e as virtudes e defeitos dos praticantes. Ilustra também como eram vistos os jogos de azar na sua conturbada relação com as concepções religiosas.

A sociedade romana concebe o corpo como um elemento fundamental para o desenvolvimento das virtudes no cidadão, uma virtude tão importante que era essencial até para o Imperador. Assim De La Vega considera

[...] que el soberano deve ser el servidor y el guardián de las leys, deve poseer unas qualidades físicas1 , morales e intelectuales, por las que se distingua del tirano vulgar, convirtiéndose, de esta forma, en el salvador y protector del Estado, que custodia las leyes existentes; cualificando para extinguir las discordias civiles, las malas costumbres, el lujo y el vicio2 .

Não é de estranhar então que as práticas físicas fossem tão valorizadas ao ponto de serem construídos locais apropriados para sua prática – os anfiteatros – que eram diferentes dos circos pela sua finalidade, forma e disposição interna, mas se nivelavam pela grandiosidade dos espetáculos e pela capacidade de lotação. Consistia numa arena circular ou elíptica onde eram realizados combates envolvendo gladiadores, feras e, em algumas circunstâncias até para se executar sacrifícios3 . (RAMOS, Os Exercícios Físicos na História e na Arte, p. 160).

A finalidade dos anfiteatros era propiciar diversão aos cidadãos, porém, os governantes romanos também o utilizavam com fins políticos, nos dias que... eran de fiesta popular, habiéndose introducido las representaciones teatrales en tablados de madera. Los músicos y mímicos recorrían las calles. El oficio de cantor, poeta, bailador y arlequín impedía a quien lo ejercía el acceso a la milicia y votar en las Asambleas populares4 .

Às vezes a finalidade política era mais explícita, a grande capacidade de comportar o público, chegando a caber em alguns anfiteatros aproximadamente 180.000 pessoas, facilitava o contato dos governantes com o povo, desta forma é exemplificado:

Ora, uma estrela não é mais uma pessoa privada, o público a devora. Ademais, a relação de um benfeitor de cidade com seu público era física, face a face, como fora a dos políticos da República romana que tomavam decisões diante dos olhos do povo, em pé na frente do palanque, visíveis como os generais de outrora no campo de batalha. Encerrados em seus palácios, os imperadores desejarão dar a impressão de que continuam esse republicanismo tomando a precedência pessoalmente no Circo ou no anfiteatro de Roma, onde a plebe vigiava sua atitude e os queria atentos e complacentes aos desejos do público, o único juiz verdadeiro5 .

A forma como os jogos eram oferecidos ao povo, com todo seu dinamismo, é comparada até à postura política dos romanos na época, transpondo este dinamismo das competições aos tribunais:

[...] el monopolio de la iniciativa legisladora: forma aún más exultante sin duda, pero también más peligrosa, de atraerse las miradas y el favor de un pueblo que, por ejemplo, atiborrarlo de juegos y espetáculos en el momento de una fastuosa edilidad. [...] Más tarde, claro, la elocuencia judicial se entremeterá, el arte de enterneceral jurado – y a los espectadores – de manipular a los testigos, de convencerles a cualquier precio; en fin, de poner en marcha esse gran espectáculo que es un juicio criminal romano: transcurre en el Foro, en el miesmo espacio y com los miesmos actores, el juego es próximo a la política; naturalmente, la imita en lo bueno y lo malo6 .

Alguns governantes chegaram a atuar de forma mais dinâmica nas competições romanas, por exemplo o imperador Cômodo entre outras excentricidades fez a... modificación de los nombres de los meses del año adaptándolos a sus propios títulos, identificación con Hércules, autoproclamación como pater senatus, participación en los juegos como un gladiador más, etc7 .


Os jogos
As festividades realizadas nos anfiteatros chamavam jogos8 , geralmente eles eram realizados em alguma data comemorativa. Sua importância e grandeza foram gradativamente sendo ampliadas, por exemplo... Los grandes juegos romanos (Ludi Maximi) existentes con la monarquía, duraban un solo día. Com el tiempo se les fueron añadiendo días (un día el 387 a.C., otro el 260 a.C. y otro el 245 a.C.) y se paso a los cuatro días. Su organización se encomendó a los Ediles Curules9 .

Estes jogos eram as distrações mais empolgantes na época, tanto os combates eqüestres quanto as lutas entre gladiadores despertavam grande interesse no público presente10 .

As lutas eqüestres11 consistiam num combate entre dois cavaleiros que armados adequadamente combatiam até a morte de um, observa-se que, ao contrário dos valores morais gregos que enalteciam o derrotado com as honras de morrer lutando, os romanos consideravam que... el que sucumbía se hacía acreedor a la desgracia, mientras su matador obtenía la gloria12 .

A outra forma de combate era a que envolvia os gladiadores13 , podendo ser entre eles ou contra animais. Geralmente os gladiadores eram escolhidos entre os prisioneiros ou escravos dotados de maior força física, rebeldia e ferocidade, os quais aprendiam o manejo do armamento numa escola própria para isto chamada "lutus gladiatoris". Da mais conhecida delas (Cápua) se originou a rebelião dos escravos encabeçada por Espártaco. Mesmo que popularmente todos os combatentes fossem denominados gladiadores, dependendo da arma que o lutador utilizava ele recebia um nome. Os retiariis utilizavam-se de uma rede que era denominada iaculum e, com ela, eles tentavam prender e inutilizar as armas dos adversários para depois vencê-lo usando a força física, esse tipo de lutador defendia a honra de Netuno. Os secutoribus eram os adversários diretos dos retiariis, eles se armavam com uma espada e uma 'maça' que tinha a função de evitar o ataque da rede, defendiam a divindade Vulcano. Desta forma, os opostos não eram representados pelo armamento e sim pelas divindades já que Netuno representava a água e Vulcano o fogo, elementos que eram para os romanos 'inimigos' entre si. Existiam também os laqueariis que dispunham de um laço para derrubar seu oponente que estava munido de um escudo, e os velitibus que lançavam dardos de um lado para o outro, tentando acertar os adversários. Este tipo de combatente era o preferido do público14 .

A competição que denotava caráter mais virtuoso ao praticante era o combate com feras, los jóvenes aguardaban a pie firme bestias salvajes que les soltaban y contra las que peleaban; y se exponían voluntariamente a la muerte, no por haber cometido crimen alguno, sino por valentía15 .

Devido a natureza destes combates muitos autores consideram os gladiadores e o público que freqüentava os anfiteatros cruéis e sanguinários. Assim, é afirmado sobre os jogos romanos:

O combate sangrento16 entre homens ou até mesmo com animais ferozes teve sua origem em Roma,[...]. Cansados de assistir às apresentações de atletas e palhaços, os romanos desenvolveram um gosto típico pelas lutas violentas. Estes combates sanguinários tornaram-se bastante populares dentre os romanos, que lotavam o Coliseu e muitos outros anfiteatros imensos para vibrar durante os combates entre gladiadores. A paixão pela crueldade desenvolvida pelos romanos fazia com que homens se espancassem até a morte, para o delírio do público que, quanto mais violenta fosse a luta, mais aplaudia. Não satisfeitos com as lutas onde estes gladiadores utilizavam todos os tipos de armas e até mesmo colocavam ferro enrolados em tiras de couro nas mãos, os romanos diversificaram o esporte [sic], colocando homens para sobreviver ao ataque de animais ferozes como leões. [...] existiam aqueles que, com a intenção de tornar-se heróis, se alistavam como voluntários para participar dos combates sangrentos. A prática destas lutas durava horas, dias, semanas e contava sempre com um público cruel, mas fiel, que lotava com freqüência as arenas em busca do sangue dos gladiadores17 .

O próprio Etimologiarum julga a participação nos jogos como um defeito, mesmo que seus motivos sejam outros, não pela excessiva violência mas sim pela contradição aos valores morais condizentes pelo cristianismo. Não sendo então os jogos coisa de Deus, logicamente pertencia ao demônio.18

. Paul Veyne discorda que os jogos demonstram como o povo romano era violento e sádico, ele considera os jogos como uma exceção cultural e lembra que ao conquistar outros povos a primeira prática censurada pelos romanos eram os sacrifícios humanos. Ele afirma também que as pessoas que se deleitavam com os massacres que aconteciam nos jogos eram coibidas, as competições deveriam ser vistas através da sua objetividade que era a morte do oponente para permanecer vivo. Porém ele concorda que o grande obstáculo para a realização dos jogos foi a doutrina cristã.19 .

Ainda acerca da violência dos jogos, uma explicação bastante satisfatória é feita por Norbert Elias. Ele discorre que, a partir do século XV, o homem passa por um processo interno de refinamento de normas e condutas a qual ele denomina "processo civilizador". Com a ocorrência deste processo o homem limita cada vez mais sua tolerância à violência. Assim, segundo a teoria de Elias os romanos não eram mais 'sanguinários' ou 'cruéis', mas apenas tinham uma tolerância maior quanto à violência. Os próprios jogos podem ser uma forma de limitar o campo onde a violência é tolerada. Outro fato relevante era que os participantes das lutas ou outras provas violentas, salvo raras exceções, participavam de livre e expontânea vontade e se preparavam para isso. Nos estudos de Dunning e Elias sobre o esporte é exemplificado que... Las luchas entre gladiadores o entre pessoas y animales salvajes, que durante siglos fueron un pasatiempo placentero para las poblaciones urbanas del Imperio [...] probablemente divirtirían poco los espectadores de hoy en día, para algunos de los cuales quizá resultaran intolerablemente horribles20 .

Os escritos de Norbert Elias não abordam diretamente o período dos jogos romanos, mas servem para esclarecer o porquê de certos autores manifestarem sua repulsa às práticas romanas. A explicação é simples: é porque os autores não têm a neutralidade suficiente para julgar os fatos passados sem manifestar os valores culturais da sua própria época. Veja que a crítica aos jogos feita no Etimologiarum XVIII, refere-se basicamente às divergências entre os jogos e os valores cristãos e não ao caráter sanguinário e violento das competições realizadas.


sigue F


  www.efdeportes.com/
www.efdeportes.com · FreeFind
   
revista digital · Año 4 · Nº 17 | Buenos Aires, diciembre 1999