Lecturas: Educación Física y Deportes
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O Controlo do Esforço em Aulas de Ginástica Aeróbica
Catarina Abrantes, Maria Paula Mota e Antonio Jaime Sampaio (Portugal)
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
ajaime@utad.pt


Introdução
A Ginástica Aeróbica é uma actividade relativamente recente que desde logo se tornou num enorme fenómeno de popularidade. Este facto atraiu a atenção dos investigadores tendo como consequência uma evolução muito rápida em diversas áreas do conhecimento (treino desportivo, medicina desportiva, biomecânica, fisiologia do exercício). Actualmente está implantada em todo o mundo e tem praticantes de ambos os sexos e de vários escalões etários.

O objectivo principal da prática da Ginástica Aeróbica (GA) é desenvolver e manter índices óptimos de aptidão física. Estes propósitos centram-se em quatro componentes fundamentais: a aptidão cardiovascular, a força, a flexibilidade e a composição corporal (ACSM, 1991, 1993; Guiselini e Barbanti, 1993; Papi, 1997; Sharkey, 1997). Neste sentido, o profissional desta área confronta-se constantemente com a tarefa de conciliar da melhor forma estas componentes, com o intuito de optimizar as sessões de trabalho. Esta prescrição apresenta alguma complexidade, que é acrescida do facto das classes serem anormalmente heterogéneas. Usualmente encontramos classes com indivíduos dos dois sexos cujos escalões etários variam da adolescência até idades adultas avançadas.

Particularmente no domínio cardiovascular, a consecução destes objectivos implica que a intensidade do esforço das aulas seja cuidadosamente controlada. De facto, o controlo efectivo da intensidade do esforço é um dos problemas que mais se tem colocado. Como tal, despertou o interesse da comunidade científica e consubstanciou-se em várias publicações (Pandolf et al., 1984; Carton e Rhodes, 1985; Borg e Ottoson, 1986; Bryant et al., 1992; Koltyn e Morgan, 1992; Watt e Grove, 1993; Darby et al.,1995; Schaeffer et al., 1995; Thomas et al., 1995; Abadie,1996; Bell e Bassey, 1996; Norton et al.,1997).

Este controlo pode ser realizado pela medição e avaliação de indicadores objectivos (consumo de oxigénio, frequência cardíaca - FC, lactato sanguineo) e subjectivos (escala de percepção do esforço - EPE, teste da fala). Neste quadro conceptual especifico da GA, as questões que colocamos prendem-se com (i) a necessidade evidente de controlar a intensidade do esforço, com (ii) os métodos de avaliação ajustados a classes com um grande número de praticantes e com poucos recursos materiais e, dentro destes métodos, com (iii) a selecção que nos poderá oferecer mais validade e fiabilidade. A FC (medida por palpação) e a EPE parecem apresentar-se como os métodos de controlo da intensidade do esforço mais ajustados às aulas. No entanto, não estão disponíveis estudos que testem a eficácia de cada um destes métodos. Deste modo, os objectivos do presente trabalho centraram-se na identificação do método de controlo mais eficaz. (EPE vs. FC palpada) face a uma variável critério mais válida, fiável e objectiva – a FC medida através de monitores portáteis.


Material e Métodos

Amostra
A amostra seleccionada para este estudo foi composta por 30 indivíduos do sexo feminino com idades compreendidas entre os 18 e os 40 anos (Média=23 ± 4,85). Todos os sujeitos tiveram como mínimo 3 meses de prática da modalidade e nenhum se encontrava sob o efeito de medicamentos.


Instrumentos

Medição da FC por Palpação
A FC foi medida na artéria carótida uma vez que o batimento é mais forte e consequentemente mais fácil de identificar (Sharpe, 1996). Os indivíduos foram informados e treinados na técnica de medição, uma vez que a pressão excessiva sobre esta artéria provoca uma estimulação directa nos barorreceptores e deste modo, produz um efeito inibidor sobre a FC (Sharpe, 1996).

Medição da FC pelos Monitores Portáteis
Na recolha de dados, foram utilizados monitores portáteis de FC (Polar Vantage NV). Os monitores portáteis de FC, são constituídos por um transmissor e por uma unidade receptora de pulso. O transmissor é composto por dois eléctrodos e é colocado ao nível do apêndice xifóide. Este elemento tem como função receber e transmitir para a unidade receptora os registos da FC. As grandes vantagens deste instrumento centram-se na possibilidade de medição e memorização dos registos da FC no terreno, de uma forma contínua1 e com uma validade e fiabilidade muito grande. Utilizamos também um interface para transferir e analisar os dados recolhidos num microcomputador.

Medição da percepção do esforço
Para a recolha deste indicador, foi utilizada a escala de percepção do esforço original (variação de 6 a 20) (Borg, 1985). Os registos foram recolhidos de acordo com as instruções normalizadas propostas por Borg (1985) e pelo ACSM (1991).

Protocolo experimental
A amostra foi submetida durante duas semanas a sessões de treino dos métodos de palpação da FC e da EPE. Na primeira semana procedeu-se à medição da FC, pelo método da palpação, simultaneamente com a monitorização da FC por telemetria. Posteriormente foram adoptados os mesmos procedimentos com a EPE. A aula de GA foi elaborada considerando os parâmetros descritos por Guiselini e Barbanti (1993), Jucá (1993), Papí (1997).

Após 10 minutos de aquecimento, os indivíduos realizaram 20 minutos da fase cardiovascular, com aumento gradual da intensidade do esforço (música entre 140 e 152 bpm). A FC foi registada por telemetria de 5'' em 5'' durante toda a aula. Após esta fase, interrompemos a actividade para proceder à contagem da FC por palpação. Os indivíduos identificaram os batimentos durante 5'' e procediam à contagem durante 10''. A actividade foi retomada durante 4 minutos a uma intensidade mais elevada (música a 159 bpm). No final deste período foram registados os valores da FC, respeitando o protocolo anterior (ver Quadro 1.).

Quadro 1. Protocolo experimental para o método da FC. Adaptado de Bell e Bassey (1996)
Cronometro
|————————————————————————————————————————————————————|
Monitor de frequência cardiaca
|————————————————————————————————————————————————————|
Exercício
Apanhar
o pulso
Contar
a FC
Exercício mais
intenso
Apanhar
o pulso
Contar
a FC
20 minutos
5 segundos
10 segundos
4 minutos
5 segundos
10 segundos

Para a recolha dos registo da EPE mantivemos o protocolo experimental, substituindo a contagem da FC pelo registo da EPE (ver Quadro 2.).

Quadro 2. Protocolo experimental para o método da EPE . Adaptado de Bell e Bassey (1996)
Cronometro
|————————————————————————————————————————————————————|
Monitor de frequência cardiaca
|————————————————————————————————————————————————————|
Exercício
Observa
a EPE
Regista a
percepção
Exercício mais
intenso
Observa
a EPE
Regista a
percepção
20 minutos
5 segundos
10 segundos
4 minutos
5 segundos
10 segundos

A temperatura ambiente durante os momentos de registo variou entre 21 e 22 graus centígrados e a pressão atmosférica variou entre 720 e 722 mmHg.

As aulas foram sempre iguais e sempre leccionadas pela mesma professora para minimizar os efeitos provenientes do estilo de ensino.

Os indivíduos foram sensibilizados para a ingestão de líquidos em vários momentos da aula (após aquecimento, a meio da fase cardiovascular - fim do primeiro bloco coreográfico - e no final da fase cardiovascular).

Todas as músicas foram seleccionadas no sentido de manter os mesmos batimentos durante os momentos de recolha.


Procedimentos estatísticos
Para a comparação dos valores médios de cada indicador com o monitor de FC, recorremos ao teste-t para medidas repetidas. Posteriormente, a associação entre as variáveis estudadas foi analisada pelos valores dos coeficientes de correlação produto-momento de Pearson (r) e pelos coeficientes de determinação (r2). A significância estatística da contribuição das variáveis independentes na variabilidade da variável dependente foi verificada pelos quadros da ANOVA, produzidos pelo cálculo da regressão linear simples. O nível de significância foi mantido em 5%.


Resultados e Discussão
Nos dois momentos de medição, não foram identificadas diferenças estatisticamente significativas entre as médias da FC palpada e da FC monitorizada (1º Momento 164±29 vs. 171±19 bpm; 2º Momento 167±34 vs. 175±17 bpm, respectivamente). Este facto, sugere-nos que os valores médios da FC palpada representaram adequadamente a FC do grupo de indivíduos. No entanto os valores dos desvios padrão foram demasiado elevados, o que tem como consequência uma variação individual que poderá por em causa a validade deste indicador.

Estes resultados confirmaram a análise realizada na GA, por Bell e Bassey (1996). As elevadas variações inter e intra-individuais ocorrem por influência de vários factores, onde se destacam: a idade, o sexo, o estado emocional, a temperatura corporal, o tabagismo, o nível de aptidão física, o tipo de exercício, o nível de hidratação e os medicamentos utilizados (Soares 1987; Vilas Boas, 1988; deVries e Housh, 1994).

Por outro lado, foram identificadas diferenças estatisticamente significativas entre os valores médios da FC (convertida através dos valores originais da EPE) e os valores da FC monitorizada (1º Momento 133±13 vs. 178±11 bpm; 2º Momento 138±13 vs. 183±8 bpm). Quando foi utilizada a EPE, os indivíduos subestimaram significativamente o esforço realizado, o que tornou este indicador desajustado para a medição da intensidade do esforço de um grupo de praticantes. Estes resultados parecem confirmar os obtidos por Pandolf et al. (1984) e são atribuídos em grande parte pelo (i) sexo da população testada - Winborn et al., (1988) referem que os homens são mais precisos na utilização da EPE e pelo (ii) facto das aulas de GA poderem ser caracterizadas como um estimulo agradável, o que faz diminuir a percepção do esforço.

No 1º e 2º momento de medição, os resultados obtidos parecem indicar que o controlo da intensidade das aulas de GA é mais preciso pelos valores da EPE do que pelos valores da FC palpada (ver Quadro 3).

Quadro 3. Valores de r e de r2 para o 1º e 2º momento de medição
 
Regressão linear simples
(vs. monitor de FC)
Valores de r
Valores de r2
1º Momento
Frequência Cardíaca palpada
Escala de percepção do esforço
0,51
0,92
26%
85%
2º Momento
Frequência Cardíaca palpada
Escala de percepção do esforço
0,44
0,46
19%
21%


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revista digital · Año 4 · Nº 17 | Buenos Aires, diciembre 1999