Lecturas: Educación Física y Deportes
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OEIRAS E O DESENVOLVIMENTO DE NOVOS COMPORTAMENTOS DE LAZER.
A VALORIZAÇÃO DE UM NOVO MUNDO: O MAR, A PRAIA E AS FÉRIAS

Manuela Hasse1 (Portugal)

Em Portugal, como acontecia pelo Ocidente, no limite do século XIX verifica-se uma lenta mas clara transformação de comportamentos. A mudança assinalava-se, em particular, nos modos de preencher o tempo após as actividades fundamentais que garantiam a subsistência e, também, nas deslocações anotadas por forma a ocuparem-se, ciclicamente, espaços distintos de aqueles que, habitualmente, até então, prendiam as vidas ao meio urbano.

As novas maneiras de ser encontram-se impregnadas pela valorização da natureza. As condições de existência, por sua vez, sugeriam maior atenção ao quotidiano, à saúde, à vida. Intelectuais e artistas, bem como médicos, professores, militares, participavam na definição de uma nova ordem das coisas através da sua intervenção social. Pelo seu exemplo, esboçavam os modos de ser e de fazer considerados como os mais adequados. E denunciavam o interesse profundo que se descobria por tudo quanto respeitava a natureza. Na verdade, em uma sociedade inquieta quanto ao seu próprio devir, a natureza oferecia uma disposição harmoniosa do universo à qual se aspirava com alguma ansiedade. Observa-se, assim, a busca persistente do ar livre, da água e dos elementos, uma demanda regular no sentido de uma realidade mais perfeita que se exibia, em silêncio, no ambiente natural. Uma atmosfera que procurava integrar-se em modos de viver saturados de cansaço, esfalfamento, debilidade. Estado, afinal, do que havia permanecido estranho ao poder e à influência da natureza, fonte inesgotável de regeneração.

Descobria-se o litoral. O lugar onde a terra e o mar se encontravam revelava ser diferente. Aí, os actos e as representações que lhes eram associados surgiam marcados pelas preocupações que a ausência de saúde impunha e, também, pela aprendizagem do prazer, de outras estruturas da sensibilidade.

O banho de sol, tal como o banho de mar, justificavam-se por benefícios que múltiplos cuidados e recomendações visavam garantir. E favoreciam a consolidação de estruturas psíquicas e de estruturas sociais originais. Próxima da capital, Oeiras constitui-se como um local privilegiado de vilegiatura e, em particular, de afirmação de uma conspicuous consumption indispensável a uma disposição mais recente dos poderes económicos e sociais, dos domínios simbólicos a definir sob outros termos. Em uma sociedade a construir, marcada pelas necessidades de desenvolvimento e de progresso, recuperava-se a ideia de otium cum dignitatem dos antigos, modo de legitimar privilégios e supremacias que se afirmavam, acima de tudo, pelo valor do esforço, da perseverança, do trabalho.

De acordo com esta orientação, inscrita nos costumes por gerações que hoje desaparecem, a noção de tempo livre, de lazeres e, finalmente, de férias, como um tempo justo de recuperação das energias dispendidas no desempenho de actividades de subsistência, suscitavam a adesão de grande parte da sociedade. Definiam-se, deste modo, novas práticas, de facto originais, inscreviam-se, assim, outros ritos que animavam, com denunciada satisfação, outras estruturas dramáticas onde a vida e o viver se confrontavam, entre si, no dia a dia.

O Problema: Como ponto de partida para o nosso estudo, em curso, consideremos alguns aspectos prévios sobre a questão do lazer e dos lazeres.

O lançamento em Portugal do livro de Georges Hourdin com o título original Une civilisation des loisirs, editado em França, no ano de 1961, e traduzido em português sob o título Uma civilização dos tempos livres, na colecção O Tempo e o Modo, revela uma das primeiras dificuldades de os estudos iniciais sobre o problema do lazer.

Na realidade, foram necessários vários anos e múltiplos estudos para que se conhecessem as distinções fundamentais entre tempo livre e lazer. Demasiado subordinada à ideia do trabalho, ao tempo disponível para além da actividade laboral e remunerada, a noção de tempo livre confundia a de lazer. Esta situação é confirmada por uma outra obra clássica de esta matéria, o livro de Paul Chauchard Trabalho e Lazeres, publicado em Portugal, no ano de 1968, na colecção Presença Cristã. Uma contribuição fundamental para o esclarecimento de estas duas realidades é dada por J. Dumazedier no seu trabalho Vers une civilisation du loisir? (1972) no qual o autor define o lazer como um conjunto de ocupações a que o indivíduo pode entregar-se a seu bel-prazer, quer para descansar, quer para se divertir, quer para aumentar a sua informação ou a sua formação desinteressada, a sua participação social voluntária ou a sua livre capacidade criadora, depois de se ter desprendido das suas obrigações profissionais, familiares e sociais.

Apesar disso, apesar da extensa bibliografia que, entretanto, quer no continente europeu, quer no continente americano se publica sobre a questão, uma das contribuições mais recentes e mais ricas não pode deixar de retomar a distinção entre as duas áreas – tempo livre e lazer – como indispensável ao aprofundamento de estudo sobre o lazer e a importância dos lazeres na sociedade contemporânea. Referimo-nos à obra de Norbert Elias e de Eric Dunning, A Busca da Excitação, publicada, no nosso país, em 1992. Os dois primeiros capítulos destacam o carácter particular do lazer para o equílibrio social e individual, área privilegiada de restabelecimento de um acordo essencial entre, precisamente, o humano e o social.

Estas linhas prévias justificam-se, a nosso ver, para que se compreenda a estreita ligação que não pode deixar de ser reconhecida entre os fenómenos sociais do trabalho, do tempo livre e do lazer, por um lado, e, tambem, o valor social e individual do lazer e, finalmente, o desenvolvimento e a orientação seguida pelo lazer e os lazeres na nossa sociedade.

De facto, esta última tonalidade do problema é aquela a que dedicaremos particular atenção no nosso estudo. É que assistimos, no limite do séc. XX, a um confronto entre formas, entretanto designadas lazeres de massas, que resistem a mudanças consideradas necessárias, como a frequência das praias e a excessiva exposição do corpo ao sol, ou o turismo devastador da natureza, e a busca persistente de um tempo e de um espaço, por entre a ordem e o caos vividos, no quotidiano como no tempo de férias, de um autêntico lugar de ser. Enquanto desconhecemos o carácter recente, decerto temporário, de cada uma das formas de lazer delineadas há cerca de um pouco mais de um século.

Algumas questões podem ser colocadas de modo a conduzirem, com maior clareza, os nossos passos. Por exemplo: quando, como, e por quê se orientam os homens para a beira do mar? Quando, como, e por quê expõem progressivamente os seus corpos ao ar, ao sol, às águas salgadas? Por que se desnudam sob o olhar de outros, ao ar livre, publicamente, segundo formas socialmente consentidas?


A valorização do mar
A valorização das águas do mar, segundo uma perspectiva higiénica e terapêutica, anotada em especial desde a segunda metade de séc. XIX, em Portugal, inscreve-se no processo global de valorização da natureza. Este facto indícia a existência de uma atitude recente em relação ao mar, ao contacto com os vastos areais da praia, à experiência do litoral susceptível de ser detectada desde finais do séc. XVIII2. Caracteriza-se pela vontade expressa em práticas discursivas e não discursivas, gestos e comportamentos esboçados, actos e maneiras de estar marcados pela regularidade e favoráveis à preservação da saúde e da vida.

Esta atitude sublinha, ainda, a oposição à cidade entendida como centro de todos os malefícios, contaminada pelos efeitos do progresso, logo, fulcro da degeneração, saturada de poeiras e de impurezas, propícia ao desgaste físico e nervoso3. Aí, o abatimento e a fadiga são identificados como traços inerentes à rotina e à mobilidade imposta, conforme era afirmado pelos próprios médicos, por uma crescente actividade mental4.

O mar existe, constatava-se. Constituía um facto físico e vísivel inegável, um facto social pela atracção que exercia sobre os homens. Como se, de um momento para o outro, ele se inscrevesse, de outro modo, nas estruturas da sensibilidade de uma sociedade esgotada até ao vigor do sentir. Estende-se diante do olhar, refere-se a sua transparência turquesa5, descreve-se nos seus diferentes estados, enumeram-se-lhe as características, as densidades, os odôres, as temperaturas, as relações estreitas com os astros e o vento, os movimentos perpétuos da superfície e os das profundidades, os fluxos e os refluxos, estuda-se como matéria científica, sublinha-se o facto de preencher três quartas partes do globo6, como para justificar, de modo racional, portanto, aceitável, a profunda impressão por ele produzida. De certa forma, para destacar o seu valor terapêutico e higiénico, as suas poderosas qualidades diurnas, a sua dimensão científica e esbater a sua impregnação nocturna, a sua natureza poética mais profunda desperta, em linhas subtis, nos que dele se aproximavam e aí se detinham.

E ao longo da costa, identificam-se, nomeiam-se, descrevem-se e classificam-se as principais praias portuguesas7. Define-se, desta forma, uma disposição propícia de os lugares da saúde, de os climas, de os locais de banhos de mar que o tempo exprimiria, em uma hierarquia de valor e de prestígio social, de acordo com o maior afastamento da capital. Esboçava-se, desta maneira, uma nova ordem do espaço definido de acordo com uma outra sensibilidade, outra relação com o espaço e o tempo, outra relação consigo próprio.


A representação do mar
Depois de séculos de afastamento, o mar integra a vida social como um autêntico centro de animação. Personificado, o mar é um confidente8, fonte de consolação9, as grandes praias areentas tão do gosto de Jules Michelet, permitem passeios infinitos, desabafos misteriosos10. O mar é o amigo11, o grande companheiro12 de que se destacava o carácter de proximidade, de intimidade e de protecção, elementos próprios do que detém força e poder. Caminhos de uma evolução que na língua portuguesa transforma em masculino a origem neutra da palavra latina mare, admite-se que por influência de terra, sendo uma palavra feminina em Francês, Catalão e Romeno, orientação que revela, no entanto, nos termos prea-mar e baixa-mar13. Praia, por sua vez, proveniente do latim plagia e este provavelmente do grego plágia, feminino de plágios, significa oblíquo, que não está em linha recta, algo que está de lado14. Sempre, um outro lugar.

Num quadro em que a natureza é representada como o princípio do bem, possui uma forte conotação moral e é identificada com um estado de equilíbrio característico da saúde, ela é, com efeito, a fonte de regeneração a que se aspira, um espaço e um tempo de recuperação da harmonia perdida. Nesta linha, o mar possui uma missão. Ele acolhe as suas praias para o redar à vida cheio de forças o homem gasto no viver das cidades, no contacto das multidões, no affeiçoamento da terra rude15.

O desenvolvimento de um conjunto de actividades de lazer inscrito, entre outros movimentos equivalentes16, em uma deslocação regular para a beira do mar, sugere que nos detenhamos um pouco mais nesse facto. Consideremos esse movimento progressivo. O percurso delineado ao longo de décadas, e aquilo que sobre ele dizem aqueles que o aconselham, o vivem e o justificam. E declaram, dessa maneira, ainda, a elaboração lenta de uma estrutura de sentido considerada indispensável, perante a sua condição pouco comum, inovadora e, na verdade, inaugural.

Com efeito, o curso anotado desde os principais meios urbanos para o exterior e, neste caso, em particular, para o litoral em busca do ar marítimo e do contacto com a água fria e salgada sublinha, em nosso entender, não apenas um claro mal estar, como manifesta um desejo profundo de purificação. A afirmação da existência de este problema é sustentada, a cada passo, pelas condutas adoptadas e, tambem, nas declarações quanto ao carácter nocivo da cidade, o ar nefasto aí concentrado, a sujidade amontoada, a ausência de higiene, os riscos de contaminação pressentidos, aspectos que a definem como a imagem do mal, a impureza, o perigo. O olhar percorre os corpos. Esse é o lugar da vida mas, tambem, da doença e da morte. Nesta linha, é nos corpos que se denuncia o enfraquecimento, o cansaço e a debilidade. De acordo com esta perspectiva, a materialização do mal aí inscrita em sinais inquietantes, constitui uma ameaça.

Considerados estes aspectos do problema é necessário, cremos, ir ainda um pouco mais fundo. É que, quanto aos malefícios da cidade na transição do século, muito mais do que os factos materiais permitiam verificar, de modo concreto, como o revelava Ricardo Jorge17, a ansiedade denunciada, a inquietação registada, traduzidas em desgastes nervosos, em abatimento, em debilidade e em perturbações várias descobrem, acima de tudo, as crenças e as representações de uma sociedade confrontada com a mudança, o desejo de apontar soluções, de justificar escolhas, revela a vontade de construir uma maneira de viver diferente, talvez mais adequada. Mas, sempre, como aquilo que é considerado por aqueles que são os actores directos de cada uma das transformações inscritas no tempo e no espaço, como no tempo e no espaço dos corpos, o modo que, de facto, em dado momento, é entendido como o mais propício à vida. Ou, pelo menos, o que era possível, no limiar das suas estruturas de sensibilidade, nos limites do seu próprio saber e consciência.

As imagens, as representações, as crenças, o modo de ver, encerram os que as vivem, afinal, em uma realidade de outra natureza construída na espessura, na opacidade, do sensível, até do inconsciente. Nesta perspectiva, o desejo profundo de purificação existe, denuncia o mal estar e o sofrimento colectivo, alimenta a força centrífuga expressa no acto de sair, de avançar para fora, de procurar os espaços abertos, a proximidade da natureza considerada, por sua vez, como generosa e reparadora. Manifesta, de forma nítida, a necessidade de respirar traduzida, precisamente, na busca de ar livre e puro, de humidade, de alternância perfeita de luz e de sombra.

Na praia, na beira do mar, no princípio ou no final do dia, é possível encontrar o ar sob a forma de ventos frescos e fortes, o ar que circula, passa, movimenta, assola os sentidos invade o domínio do sensível, atravessa os corpos que, na sua passagem, despertam, reanimam-se, reagem ao estímulo produzido com a mesma intensidade. O ar mobiliza. Reordena sensações e funções, restabelece a ordem mais profunda, subterrânea, menos inalterável da natureza. A ordem que permanece sob todas as mudanças.

A par do ar húmido, a água fria e salgada recobre os corpos na forma ritual, iniciática, do banho. A imagem intemporal da purificação, que cada grão de sal reforça, da lustração, da lavagem, da limpeza. O banho é uma forma de preparação para uma nova vida, purifica. Ao mesmo tempo, pela temperatura e o movimento que o anima, insere-se nos efeitos do ar, activa, excita, estimula, acelera as funções do organismo, restaura o funcionamento do sistema nervoso que, em doce estimulação18, acalma, torna mais sereno.


O ar marítimo
A atmosfera marítima definia-se como um espaço revigorante, uma fonte de vida19. A demanda do mar, modo singular de aplacar sofrimentos físicos e emocionais, não tem data20. Estes comportamentos, porém, são acompanhados desde a segunda metade do séc. XIX, em particular, de a orientação, de a palavra médica, quando não pelo próprio exemplo21, a prescrição médica que recomenda de forma expressa, e legitima, a procura de contacto com o ar livre, a natureza, a beira do mar, cenário adequado ao encontro de si mesmo.

Respira-se. Junto do mar libertam-se constrangimentos imperceptíveis, restabelece-se a circulação do ar. Reinsere-se o ritmo, a harmonia alterada. Destacava-se, assim, antes do mais, o valor purificador do ar do mar. Este é impregnado de oxigénio pelos ventos que sopravam desde a extensa superfície marítima, possuía um grau de humidade superior, reconhecia-se nele a pureza, a frescura, a salubridade22. Aí, como sublinha Alain Corbin23, o essencial é respirar bem. Junto do mar, sobre o vasto areal percorrido pelo ar em movimento, respira-se profundamente. Com efeito, o mecanismo da respiração, em uma atmosfera onde se conciliam todos os elementos físicos e agentes químicos propícios à inspiração e à expiração, desbloqueava, actuava com fluidez. O oxigénio e o iodo, misturados em cada elemento, conjugavam-se num sabor picante depositado nos lábios24, em toda a superfície do corpo.

Os efeitos benéficos do ar do mar, verificados ao olhar e á experiência, actuavam sobre todo o corpo, transformavam o indivíduo, animavam todo o ser. Perante os factos assinalados, a explicação médica oferecia-se com clareza nos seguintes termos: a oxigenação do ar litoral é relativamente maior; por isso a hematose é mais completa, uma energia nova excita as funções respiratórias e digestivas, a vida infiltra-se, por assim dizer, em todo o organismo25.

Registavam-se, com a minúcia possível da medicina do tempo, os benefícios do ar do litoral. Este, através de a mudança constante de as sensações oferecidas excitava o sistema nervoso, activava todo o corpo, favorecia a estimulação de cada função, melhorava a digestão, a respiração e a circulação, a assimilação processava-se de maneira mais completa e, no final de cada dia, a doce estimulação vivida assegurava o sono profundo da noite, a perfeita recuperação26. De esta forma, pelas características reveladas, os efeitos observados, o ar marítimo constituía um meio indicado, em particular, para a iniciação aos banhos de mar, actuava como um bom modificador higiénico de aqueles que chegavam mais fracos e debilitados27, era um modo de preparação para o contacto mais intenso com o mar.


Os banhos de mar
Os princípios a respeitar no tratamento marítimo são registados, de forma mais completa e sistematizada no Diccionário de Hygiene e de Medicina, publicado em Portugal no ano de 190828 . Antes disso, os trabalhos médicos sobre a matéria de os banhos de mar, publicados desde meados do séc. XIX, definem com progressivo cuidado as normas a seguir neste domínio.

O passeio pela praia na maré baixa, em primeiro lugar. Este processo introdutório favorecia os primeiros contactos com a rica atmosfera marítima. Ao mesmo tempo, permitia o reconhecimento da areal descoberto, o fundo do mar no momento do banho e, desse modo, contrariava eventuais manifestações de medo, situação indesejada, contraproducente aos objectivos pretendidos. Dias depois, iniciavam-se os banhos. Uma nota ainda, sobre o vestuário de banho. Para os homens, sempre que se banhassem longe dos olhares ou da presença feminina, uns simples e vulgares calções de banho revelavam-se a peça suficiente. No caso de os banhos se realizarem em comum, homens e senhoras deveriam adoptar um mesmo fato, bastante largo para não embaraçar os movimentos e comprido para que, uma vez molhado, ao moldar os corpos, não escandalizasse o pudôr29. O tecido devia ser macio e leve, de preferência de lã30, para permitir a passagem fácil da água, o seu contacto constante com a pele. Recomendava-se, ainda, para a cabeça, o uso de um boné de percal, a cair sobre as orelhas e atado sob o queixo, de forma a conter cabeleiras longas ou, melhor do que qualquer outro acessório, o uso de um barretinho de malhas largas. Sempre que a areia estivesse limpa, os pés deveriam estar descalços. De contrário, a existência de pedrinhas e de conchas sugeria o uso de alpercatas. É-se claro sobre a matéria, que as dúvidas e alguns temores se dissipassem. As condições a respeitar no acto do banho frio nas águas do mar são enunciadas. Ao médico cabe a definição de a maneira de proceder. O papel fundamental do clínico não deixa de ser realçado, em particular, quanto ao estabelecimento correcto da forma de actuar, quanto aos princípios a observar. As fronteiras entre as diferentes formas de utilização de as águas clarificam-se. Nessa medida, a qualidade e o valor de as águas em si mesmas, afirmava-se31, pouca utilidade revestiriam se a intervenção experiente e conhecedora do especialista não ocorresse. Efectuava-se a delimitação de um novo campo de acção médica, de medicalização da sociedade. Um novo terreno onde uma maneira de agir, sujeita a um pensamento racional, baseado na experiência, no confronto de dados e no saber apontava o comportamento e as condutas a adoptar32. Do médico dependia a perfeita adequação de este meio terapêutico a cada caso. Os banhos de mar constituem um instrumento nas suas mãos tendo em vista o revigoramento dos corpos, a recuperação da saúde. Aspectos que uma vez observados, asseguravam a legitimação das novas práticas.

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Año 4. Nº 14. Buenos Aires, Junio 1999