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ANÁLISE DA MUDANÇA DA INFLUÊNCIA RELATIVA
DOS FACTORES BIOLÓGICOS E DO ENVOLVIMENTO
NA PRESTAÇÃO MOTORA DE CRIANÇAS

Vítor Pires Lopes, Carlos Alberto Ferreira Neto e José e António Ribeiro Maia


Estabilidade da prestação motora
Verificou-se que apenas os resultados dos indivíduos do sexo feminino na prova de lançamento apresentavam valores abaixo de 0,50 (Quadro 1). Os resultados dos indivíduos do sexo masculino na prova de lançamento e os resultados de ambos os sexos na prova de salto em comprimento sem corrida preparatória apresentam uma estabilidade moderada.

Identificação das variáveis preditoras da prestação motora
Os resultados da análise de regressão na prova de lançamento são apresentados no Quadro 2. Verifica-se que na primeira avaliação os preditores da prestação motora em ambos os sexos são apenas variáveis do envolvimento (profissão da mãe e interacção com outras crianças, no caso dos indivíduos do sexo feminino e profissão do pai no caso dos indivíduos do sexo masculino) que no caso do sexo feminino explicam 35% da variância dos resultados e no sexo masculino explicam 26%. No segunda avaliação, nos indivíduos do sexo masculino, apenas uma variável somática (perímetro geminal) é preditora da prestação e explica 18% da variância dos resultados. Nos indivíduos do sexo feminino são uma variável somática (altura) e duas variáveis do envolvimento (ordem de nascimento e tipo de brinquedos), que explicam 58% da variância dos resultados.

Quadro 2 - Resultados da análise de regressão na prova de lançamento. *Significativo para p£0,05. **Significativo para p£0,01. ***Significativo para p£0,001
1ª avaliação 2ª avaliação
Preditores ß t R2 Preditores ß t R2
Fem.
Profissão
da mãe
0,586
3,237**
0,351
Altura
-0,464
-3,142**
0,576
Interacção
c. outras crianças
0,437
2,415*
Ordem de
nascimento
0,660
4,514***
Tipo de
brinquedos
0,296
2,004*
Mas.
Profissão
do pai
0,546
2,765**
0,259
Perímetro
geminal
-0,474
-2,347*
0,184

Os resultados da análise de regressão na prova de salto em comprimento sem corrida preparatória são apresentados no Quadro 3. Verifica-se que na primeira avaliação os preditores da prestação motora em ambos os sexos são sobretudo variáveis do envolvimento. Nos indivíduos do sexo feminino das três variáveis preditoras apenas uma é variável somática, que no conjunto explicam 50% da variância dos resultados. Nos indivíduos do sexo masculino das quatro variáveis preditoras apenas uma é variável somática , que no conjunto explicam 81% da variância dos resultados. Em ambos os casos as variáveis somáticas têm coeficientes de regressão estandardizados (ß) com valor inferior a algumas das variáveis do envolvimento.

Na segunda avaliação, nos indivíduos do sexo feminino, apenas uma variável somática (soma de três pregas de adiposidade) é preditor da prestação e explica 56% da variância dos resultados. Nos indivíduos do sexo masculino são uma variável somática (diâmetro biacromial) e uma variável do envolvimento (ordem de nascimento), que explicam 31% da variância dos resultados, tendo esta um ß com valor mais elevado (0,678).

Quadro 3 - Resultados da análise de regressão na prova de salto em comprimento sem corrida preparatória. *Significativo para p£0,05. **Significativo para p£0,01; ***Significativo para p£0,001
1ª avaliação 2ª avaliação
Preditores ß t R2 Preditores ß t R2
Fem.
Diâm.
bicristal
-0,461
-2,954**
0,501
Soma
3 pregas
-0,762
-5,125***
0,558
Ordem
nascimento
0,633
3,769***
Tipo de
brinquedos
0,345
2,044*
Mas.
Diâm.
biacromial
0,319
3,018**
0,811
Diâm.
biacromial
0,426
2,556*
0,313
Profissão
do pai
0,740
6,096***
Ordem
nascimento
0,678
4,066***
Existência de
Pátio/Jardim
0,287
2,795**
Presença irmãs
mais velhas
0,266
2,456*

Identificação das variáveis determinantes na diferença entre os sexos
Nos Quadros 3 e 4 são apresentados os resultados da ANCOVA, tendo respectivamente como covariáveis as variáveis do envolvimento e as variáveis somáticas. Uma vez que, na primeira avaliação na prova de salto em comprimento sem corrida preparatória, não foram encontradas diferenças significativas entre os sexos, para esta análise não foram considerados os resultados da primeira avaliação nesta prova.

Quando consideramos como covariáveis as variáveis do envolvimento, verifica-se que em ambas as provas e nos dois momentos de avaliação as médias ajustadas são praticamente idênticas, sendo, portanto, anuladas as diferenças de rendimento motor entre os dois sexos.

Quando consideramos como covariáveis as variáveis somáticas, verifica-se que as diferenças entre os sexos apenas são anuladas no rendimento da prova de salto em comprimento sem corrida preparatória. Na prova de lançamento a diferença entre as médias ajustadas é ligeiramente inferior à diferença entre as médias reais (4,941 e 4,023 respectivamente).

Quadro 4 - Identificação das variáveis determinantes na diferença entre os sexos no rendimento motor tendo as variáveis do envolvimento como covariáveis
1ª avaliação 2ª avaliação
COVARIÁVEIS X Aju. F COVARIÁVEIS X Aju. F
LAN
Profissão
do pai

Profissão
da mãe

Interacção
c/ outras crianças

Fem 9,159

Mas 9,159

2,217E-8
Ordem de
nascimento

Tipo de
brinquedos

Fem 10,534

Mas 10,063

0,490
SAL
--------
--------
--------
Ordem de
nascimento
Fem 110,448

Mas 110,448

0,000

Quadro 5. Identificação das variáveis determinantes na diferença entre os sexos no rendimento motor tendo as variáveis somáticas como covariáveis *Significativo para p£0,05. **Significativo para p£0,01; ***Significativo para p£0,001
Mar. 1992 Dez. 1993
COVARIÁVEIS X Aju. F COVARIÁVEIS X Aju. F
LAN
-----
-----
-----
Altura

Perímetro
geminal

Fem 13,810

Mas 9,787

10,524**
SAL
-----
-----
-----
Soma de
três pregas

Diâmetro
biacromial

Fem111,911

Mas 108,984

0,417

Discussão dos resultados
Os resultados da análise à diferença entre os sexos na prestação motora indicam que as diferenças existentes tendem a aumentar com a idade, o que vai de encontro os resultados da generalidade das investigações. Num artigo de revisão, Branta, Haubenstricker e Seefeldt (1984), ao analisarem a mudança ocorrida ao longo da idade (3 a 18 anos), apresentam os valores de tendência central (média e/ou mediana) da prestação motora, do ponto de vista quantitativo, em várias habilidades para ambos os sexos, obtidos em vários estudos empíricos. A constatação mais evidente é a de que a prestação motora nas várias habilidades aumenta linearmente (ou quase) com a idade em ambos os sexos. Verificam-se diferenças de prestação entre os sexos, tendo os indivíduos do sexo masculino, na generalidade das habilidades, um rendimento superior ao rendimento obtido pelos indivíduos do sexo feminino. O mesmo tipo de análise e conclusões foram anteriormente referidas por Williams (1983). Nelson, Thomas e Nelson (1991) estudaram o desenvolvimento da distância de lançamento em 26 crianças (13 meninos e 13 meninas) no período entre os 5 e os 9 anos de idade. Neste período, os rapazes aumentaram a distância de lançamento em 11m (143%) e as raparigas em 4,6m (109%). Aos 5 anos, a distância de lançamento das raparigas foi 55% da distância de lançamento dos rapazes (4,2m e 7,7m respectivamente), aos 9 anos foi 47% da dos rapazes (8.8m e 18,7m respectivamente).

Os resultados à análise da estabilidade da prestação motora nas duas provas motoras indicam que os resultados da prova de lançamento estão, possivelmente, mais sujeitos à influência de factores do envolvimento, pelo menos nos indivíduos do sexo feminino, do que os resultados da prova de salto em comprimento sem corrida preparatória. Nelson, Thomas e Nelson (1991) também encontraram valores de auto-correlação inferiores a 0,50, num período de 3 anos, nos resultados obtidos na prova de lançamento em distância (0,43 para o sexo feminino e 0,44 para o sexo masculino). Halverson, Roberton e Langendorfer (1982) obtiveram, em crianças (22 meninos e 17 meninas) avaliadas longitudinalmente dos 6 aos 13 anos de idade, numa prova de lançamento onde era avaliada a velocidade de lançamento, auto-correlações que foram de 0,49 para o sexo masculino e de 0,77 para o sexo feminino. Verificaram que as auto-correlações entre cada ano foram sempre inferiores nos meninos, diminuindo mais nestes do que nas meninas, o que contraria a tendência encontrada nos resultados do presente estudo.

Os resultados da análise da regressão parecem indicar a tendência para, com o aumento da idade, as variáveis do envolvimento perderem a sua importância relativamente às variáveis somáticas na predição da prestação nas provas de salto em comprimento sem corrida preparatória e lançamento. O que confirma, de certa forma, a ideia sugerida de que a habilidade de lançamento está mais sujeita à influência dos factores do envolvimento, pelo menos nos indivíduos do sexo feminino, uma vez que nestes continuam a aparecer variáveis do envolvimento com grande influência no nível de prestação motora, o que não acontece nos indivíduos do sexo masculino.

Aquela ideia é confirmada também quando se analisam as variáveis como factores de influência das diferenças entre os sexos. Os resultados da ANCOVA indicam, uma vez mais, que os resultados da prova de lançamento estão mais sujeitos à influência de variáveis do envolvimento do que os resultados da prova de salto em comprimento sem corrida preparatória.

Os resultados indicam também que, na amostra estudada, as variáveis do envolvimento têm maior influência na diferença de prestação motora entre os sexos do que as variáveis somáticas, parecendo haver a tendência para, com o aumento da idade, esta importância relativa diminuir, e possivelmente se inverter. Esta constatação é também referida por Thomas e French (1985), num estudo de meta-análise, para 15 tarefas motoras (agilidade, tempo de antecipação, suspensão, equilíbrio, corrida de velocidade, força de preensão, coordenação fina, flexibilidade, salto em comprimento sem corrida preparatória, tempo de reacção, , corrida vaivém, sit-ups, batimento de placas, salto vertical e pursuit rotor tracking). Estes autores referem que as diferenças entre os sexos nestas tarefas são, dados os resultados encontrados, induzidas sobretudo por factores do envolvimento, como a oportunidade e tempo de prática que são maiores no sexo masculino. Thomas e French (1985) constataram que os aspectos biológicos assumiam maior importância na explicação da diferença entre sexos na prestação motora em seis daquelas tarefas (corrida de velocidade, força de preensão, salto em comprimento sem corrida preparatória, corrida vaivém, sit-ups e salto vertical) à medida que as amostras estudadas se aproximavam da puberdade.


Em conclusão:

A prestação motora nas duas provas aumentou com a idade, tendo esse aumento sido mais importante nos indivíduos do sexo masculino, o que ocasionou um aumento das diferenças de rendimento entre os dois sexos.

Os resultados da prova de lançamento apresentaram entre os dois momentos de avaliação, nos indivíduos do sexo feminino, uma estabilidade reduzida, enquanto os resultados do sexo masculino e os resultados da prova de salto em comprimento sem corrida preparatória em ambos os sexos apresentaram uma estabilidade moderada.

Com o aumento da idade as variáveis do envolvimento perderam alguma importância relativamente às variáveis somáticas na predição da prestação nas provas de salto em comprimento sem corrida preparatória e lançamento. As variáveis do envolvimento tiveram maior influência na diferença de prestação motora entre os sexos do que as variáveis somáticas, parecendo haver a tendência para, com o aumento da idade, esta importância relativa diminuir.


Bibliografia

E inicio


Lecturas: Educación Física y Deportes
Revista Digital
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Año 4. Nº 14. Buenos Aires, Junio 1999