Avaliação da aplicação de um programa de atividade física em enfermaria ortopédica mediante as modificações na composição corporal avaliadas por bioimpedanciometria |
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*Professora de Educação Física da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação - Sarah Centro. Doutoranda em Ciências da Saúde pela UnB. **Nutricionista da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação - Sarah Centro. ***Pesquisador Associado da Universidade de Brasília - UnB. Professor da UNIP - Brasília. Professor da UNIEURO - Brasília. (Brasil) |
Prof. Ana Cláudia Raposo Melo* ana.melo@linkexpress.com.br Nut. Ana Luiza Helfenstens Vieira Santos** analu@sarah.br Prof. Dr. Ramón Fabián Alonso López*** aft200153@uol.com.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 115 - Diciembre de 2007 |
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En EspañolIntrodução
A imobilização prolongada no leito seja por traumas ortopédicos ou por doenças graves, pode gerar complicações nos sistema músculo-esquelético, cardio-respiratório, metabólico e gastrintestinal além de alterações no estado emocional do indivíduo (Molz, 1993; Ishizak et al.1994; Baldwin, 1996; Ferrando et al, 1997; Suzuki et al, 1994; Artiles et al, 1997; Sharkey, 1997; Oliveira, 1999; Fronteira at al, 1999; Rowland, 1999; Krasnoff, 1999; Hanson, 2002, Smorawisk et al, 2001).
A composição corporal do individuo restrito ao leito pode ser afetada de forma negativa, ocasionando uma redução da massa magra e o aumento no percentual de gordura (Suzuki et al, 1994; Baldwin, 1996; Ferrando et al, 1997).
A utilização de exercícios físicos durante o período de imobilização tem o objetivo de minimizar os efeitos maléficos decorrentes da restrição de movimentos. Estes podem proporcionar benefícios como a melhora ou manutenção da freqüência cardíaca de repouso, do estado físico geral, e consumo de oxigênio e composição corporal (Booth, 1982; Delisa, 1993; MacDougall et al, 1995; Melo e López, 2002, 2002-a, 2003, 2004; Wantenpauge et al, 2000; Ishizak et al, 1994, 2002 e 2004).
A avaliação da composição corporal para Guedes (1990) permite quantificar o aglomerado de componentes humanos, músculos, gordura e outros tecidos que sofrem variações em função da realização de uma atividade física e/ou ingestão calórica, sendo dividida em massa magra (composta por músculos, ossos e órgãos vitais) e massa gorda (composta pela gordura corporal).
Atualmente existem diversos métodos para quantificar a gordura corporal, tais como: avaliação de dobras cutâneas, ultra-sonografia para medição da espessura da gordura subcutânea, densidade corporal, medida de potássio corporal, condutividade elétrica, interactância infravermelha, tomografia computadorizada, ressonância nuclear magnética, absorciometria de fótons e bioimpedância tetrapolar, sendo este último considerado um método de baixo custo e que apresenta facilidade no uso. Este método baseia-se na medida da resistência total do corpo à passagem de uma corrente elétrica de 800 micro e 50kHz, método que já foi validado para diferentes grupos étnicos, visto que o ganho ponderal é acompanhado por alterações semelhantes na composição corpórea, independente da etnicidade (Heitmann et al., 1997 e Steijaert, 1997).
Utilizando a bioimpedância tetrapolar, este estudo objetivou avaliar as alterações na composição corporal de pacientes em tratamento conservador de fraturas e alongamento ósseo mediante programa de atividade física durante o período de imobilização.
MetodologiaAmostra
A população sobre a qual este estudo incidiu foi constituída por 15 pacientes internados em enfermaria ortopédica, sendo sete (46,7%) do sexo feminino e 8 (53,3%) do sexo masculino, estando todos internados em enfermaria pelo Programa de Ortopedia Adulto do Hospital Sarah Centro da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação.
Material e procedimentosSeguindo a Declaração de Helsinque e as Normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, todos os sujeitos participantes deste estudo forneceram seu consentimento livre e esclarecido, sendo orientados sobre todos os procedimentos que seriam realizados, bem como sobre a possibilidade de saída do estudo sem qualquer prejuízo para seu tratamento em qualquer momento durante a duração da pesquisa. A avaliação da composição corporal através da bioimpedancia tetrapolar foi realizada por uma nutricionista do Hospital Sarah Centro com experiência nesta a avaliação de pacientes do programa de ortopedia adulto.
O Índice de Massa Muscular (IMC) foi calculado como a relação peso em quilogramas sobre a altura em metros ao quadrado (Carnaval, 1998). Os dados de peso e altura utilizados foram coletados no setor de internação, por ser esta uma conduta rotineira quando o paciente é internado.
Após procedimentos necessários para a imobilização da fratura óssea ou de alongamento ósseo e a liberação por parte do médico ortopedista e do clínico para iniciar a atividade física, foi realizada a admissão pela educação física para inclusão no programa de atividade física, bem como a admissão pela nutricionista sendo realizada a bioimpedância.
O programa de atividade física oferecida pela Prof. de Educação Física como atividade regular em enfermaria do programa de ortopedia adulto, que possui como objetivo de manutenção da atividade física regular e humanização do período de internação favorecendo, segundo Melo e Lopez (2002) a manutenção do condicionamento físico global e integração social, sendo este a única atividade física realizadas por paciente com imobilização por tração esquelética na enfermaria.
Deste programa contaram de três a quatro sessões semanais de ginástica realizada no leito, sempre respeitando as limitações clínicas do sujeito bem como as limitações de movimentos impostas pela imobilização. O programa de atividade física/ginástica foi realizado durante todo o período de internação de 29 dias em média.
Os exercícios propostos durante as aulas de ginásticas foram realizados utilizando com sobrecarga, iniciando com peso de 500gr a 1 kg de acordo com o histórico de participação em atividade física antes da internação, bem como o progresso no programa de atividade durante a internação e as possibilidades clínicas atuais de cada paciente, podendo progredir da carga inicial até a utilização de halteres de 4 kg para cada membro superior e 2 kg em caneleiras para o membro inferior. A progressão dos exercícios isométricos foi realizada pelo aumento dos números de repetições e o tempo de contração em cada musculatura trabalhada.
Para análise estatística foi utilizado o teste T de student, sendo adotado o nível de significância para rejeição da hipótese de nulidade fixado em um valor igual ou menor que 0.05.
ResultadosAo analisar os dados descritivos verificou-se que a idade média dos sujeitos foi de 23.64 anos, apresentando no momento do estudo a altura media de 1,61 m e a média de peso foi na avaliação inicial foi de 67.78.
A comparação dos resultados obtidos na avaliação inicial e ao final do programa de atividade física durante o período de imobilização, pode-se verificar uma redução do peso ponderal e uma melhora no Índice de massa corporal, conforme pode ser verificado na Tabela 1.
Ao avaliar o comportamento dos dados da massa magra, massa gorda e água através da bioimpedância tetrapolar, pode-se notar uma melhora na massa magra e a quantidade de água corporal. A massa gorda entre a avaliação inicial e a avaliação realizada após o programa de atividade física, apresentou uma redução, como pode ser observado na tabela dois.
Os resultados observados na Tabela 3 evidenciam que a redução no peso corporal e a melhora do Índice de Massa Corporal obtidas após o programa de atividade física durante o período de imobilização não foram estatisticamente significativas.
A avaliação dos dados da composição corporal analisado estatisticamente por correlação de amostra pareada demonstrou que o aumento da massa magra, a redução de massa gorda e o aumento da água foram estatisticamente significativas como pode ser observado na Tabela 4.
DiscussãoA melhora da composição corporal em pacientes imobilizados mediante programa de atividade física encontrados neste estudo concordam com Hanson (2002) e Krasnoff (1999) Delisa (1992), Watenpauge et al (2000) Melo e Lópes (2002 e 2004 e 2004), MacDougall (1995) quando estes autores relatam os benefícios da atividade física regular durante o período de imobilização, pois esta atividade, como verificado neste estudo pode estabilizar ou melhorar a composição corporal dos sujeitos imobilizados, os quais normalmente tem uma tendência ao ganho de peso, aumento da gordura corporal (Oliveira et al., 1999; Krasnoff et al. 1999; Hanson et al., 2002 e Melo e Lopez, 2002 ; 2004) e perda de massa magra (Ferrando et al, 1997; Suzuki et al, 1994 e Baldwin, 1996).
Os resultados encontrados neste estudo, apesar de não apresentar melhora significativa do ponto de vista estatístico, quando comparado às médias iniciais e finais do peso ponderal e do Índice de massa corporal dos sujeitos, vale lembrar que houve uma substituição positiva na composição corporal simultaneamente a perda de peso ponderal, conforme demonstrado pelo ganho significativo de massa magra e perda de massa gorda.
Frontera et al. (1999) ressaltam que a piora no índice de massa corporal é um dos efeitos maléficos da imobilização prolongada no leito, ficando demonstrado neste estudo que a utilização de atividade física regular durante o período de imobilização pode ser um aliado na manutenção e melhora deste índice, bem como na composição corporal.
A melhora na quantidade de água corporal pode sugerir uma melhora na hidratação oral, ocorrida após as aulas de ginástica. O que é um ponto importante, pois a desidratação ou a pouca ingesta de líquidos podem ser efeitos negativos da imobilização segundo Oliveira et al (1999) e Krasnoff et al (1999).
ConclusãoA utilização de atividade física regular durante o período de imobilização no leito em pacientes em tratamento conservador de fraturas em membros inferiores e alongamento ósseo em membros inferiores proporciona resultados positivos nos parâmetros da composição corporal, colaborando diretamente para minimização dos efeitos maléficos da imobilização, auxiliando na manutenção do peso ponderal, manutenção do índice de massa corporal adequados, redução de massa gorda e manutenção/ganho de massa magra.
RecomendaçõesA realização de atividade física regular em pacientes imobilizados no leito vem demonstrando benefícios na prevenção dos efeitos maléficos da imobilidade, sendo necessário novos estudos para melhor acompanhar e avaliar os resultados dos benefícios da atividade física em diferentes áreas como a flexibilidade, motivação, força dentre outras.
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