Educação em saúde envolvendo homens frequentadores de academias de musculação

Health education involving men attending bodybuilding gyms

Educación en salud involucrando hombres que asisten a gimnasios de musculación

 

Anderson Reis de Sousa*

son.reis@hotmail.com

Nathália Paixão De Sousa Silva**

natalhiaapaixao@hotmail.com

Alessandra Santos Freitas Sodré**

santossodre@hotmail.com

Jhonatas Gomes Reis**

jhongomesreis@outlook.com

Victor de Oliveira Figueiredo Aquino**

victorfigueiredoa@hotmail.com

Géssica Montiele dos Santos Oliveira**

enfgessicasantos@icloud.com

Liege Santos Pinto**

liege22k@hotmail.com

Thiago da Silva Santana***

ts.santana12@gmail.com
Álvaro Pereira****

alvaro_pereira_ba@yahoo.com.br

 

*Enfermeiro. Mestrando em Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia

Docente do Curso de Graduação em Enfermagem

da Faculdade Nobre de Feira de Santana, Bahia

**Discente do curso de Graduação em Enfermagem

da Faculdade Nobre de Feira de Santana, Bahia

***Enfermeiro. Mestre em Enfermagem

pela Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia

****Enfermeiro. Doutor em Filosofia da Enfermagem

pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professor Associado IV

da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia

(Brasil)

 

Recepção: 28/08/2018 - Aceitação: 30/04/2019

1ª Revisão: 12/03/2019 - 2ª Revisão: 16/04/2019

 

Este trabalho está sob uma licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

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Resumo

    O objetivo do estudo é descrever as ações realizadas sobre a educação em saúde básica envolvendo homens frequentadores de academia de musculação e relatar a experiência vivenciada na prática por acadêmicos de Enfermagem. Participaram do estudo 26 homens, praticantes regulares de musculação, com faixa etária entre 18 a 45 anos. As atividades foram desenvolvidas durante o mês de março de 2015, no município de Feira de Santana, Bahia, Brasil, durante o turno vespertino, promovidos durante disciplina de Enfermagem na Atenção à Saúde do Homem, da Faculdade Nobre de Feira de Santana, Bahia, Brasil. O estudo revelou que os homens ainda que frequentadores de academias, não buscam as unidades básicas de saúde, frequentam tardiamente os serviços de unidades de média e alta complexidade. Em contrapartida, verificou-se que não possuem doenças crônicas e realizam com frequência exames clínicos, favorecendo assim a identificação precoce dos agravos e minimização dos impactos gerados à saúde.

    Unitermos: Educação em saúde. Musculação. Saúde do homem.

 

Abstract

    The objective of the study is to describe the actions carried out on basic health education involving men attending the bodybuilding academy and to report the experience lived in practice by nursing students. Sixty-one men, regular bodybuilders, aged 18-45 years participated in the study. The activities were developed during the month of March 2015, in the municipality of Feira de Santana, Bahia, Brazil, during the afternoon shift, promoted during a Nursing discipline in the Attention to the Health of Man, Faculty of Nobre de Feira de Santana, Bahia, Brazil. The study found that even though men attending health centers do not seek the basic health units, they are late in servicing medium and high complexity units. On the other hand, it was verified that they do not have chronic diseases and frequently carry out clinical examinations, favoring the early identification of the diseases and minimizing the health impacts.

    Keywords: Health education. Bodybuilding. Men’s health.

 

Resumen

    El objetivo del estudio es describir las acciones realizadas sobre la educación en salud básica involucrando hombres frecuentadores de academia de musculación y relatar la experiencia vivenciada en la práctica por académicos de Enfermería. En el estudio participaron 26 hombres, practicantes regulares de musculación, con rango de edad entre 18 a 45 años. Las actividades fueron desarrolladas durante el mes de marzo de 2015, en el municipio de Feira de Santana, Bahía, Brasil, durante el turno vespertino, promovidos durante la materia de Enfermería en la Atención a la Salud del Hombre, de la Facultad Nobre de Feira de Santana, Brasil. El estudio reveló que los hombres, si bien asisten a gimnasios, no buscan las unidades básicas de salud, frecuentan tardíamente los servicios de unidades de media y alta complejidad. En contrapartida, se verificó que no poseen enfermedades crónicas y realizan con frecuencia exámenes clínicos, favoreciendo así el diagnóstico precoz de las enfermedades y minimizan los impactos que producen en la salud.

    Palabras clave: Educación en salud. Musculación. Salud en hombres.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 24, Núm. 253, Jun. (2019)


 

Introdução

 

    Tradicionalmente a atenção à saúde de homens não tem sido reconhecida quanto as suas especificidades, o que faz com que esta população não seja beneficiada pela assistência ofertada nos serviços. A frequência desse público nos serviços ainda é baixa e concentra-se em situações avançadas, quando já se fazem presente os sinais e sintomas da doença, fazendo requer atendimento especializado e de urgência. Diante desse cenário, integrar os homens no contexto do autocuidado enquanto melhoria da qualidade de vida tem sido um desafio, sobretudo para fins de redução das taxas de morbimortalidade (Moura et al., 2014).

 

    Muitas dessas razões estão motivadas pelas construções sociais das masculinidades, que repercutem de maneira expressiva no modo como os homens desempenham as práticas de cuidado, assim como no reconhecimento das suas necessidades de saúde. Compreender esta construção se constituirá numa importante estratégia de ressignificação das práticas profissionais em saúde, com a finalidade de motivar a população masculina a exercer com maior intensidade o autocuidado (Sousa, 2016).

 

    Uma saída relevante para a promoção da saúde masculina que tem sido identificada é a prática da atividade física, é o que evidencia um estudo realizado nas capitais brasileiras, que observou um amento na prevalência de prática de atividade física no lazer entre a população adulta. Diante disso, deve ser fortalecida, ampliada e explorada a realização de programas e ações com fins na manutenção e promoção da atividade física, enquanto potencializadora de benefícios gerados à adoção de estilos de vida ativos e mais saudáveis (Cruz, Bernal, & Claro, 2018).

 

    Como forma de prevenir as doenças crônicas não transmissíveis, morte prematura e reduzir o peso da população tem sido pensada pela Organização Mundial da Saúde, enquanto meta global até o ano de 2025, estratégias de implementação de programas de atividade física (Malta, Silva Jr, & Barbosa, 2013). A prática da atividade física configura-se como sendo uma importante estratégia promotora de benefícios para o alcance da qualidade de vida, além de conferir papel significativo no estado nutricional do praticante (WHO, 2004).

 

    Resultados positivos da prática da atividade física regular também podem ser observados no contexto do envelhecimento populacional. Esta adoção de comportamento e hábito de vida saudável por inferir positivamente na manutenção da capacidade vital na fase idosa (Moreira, 2010).

 

    É importante salientar que ao realizarem um estudo envolvendo homens de meia idade quanto aos fatores associados à prática de atividade física em Santa Catarina, Brasil, identificou que aqueles que consideraram sua saúde como muito boa, apresentaram um tempo de prática de prática de atividade física rigorosa superior a aqueles que não tinham considerado sua condição de saúde desta maneira. Associado a este resultado pressupõe que estes homens já praticavam alguma atividade física. Os resultados reforçaram o potencial de contribuição dessa prática na prevenção de doenças, e suscita o fortalecimento das políticas públicas de promoção da saúde (Queiroz et al., 2017).

 

    Tomando como base esta perspectiva é que se faz necessário que haja um processo constante de dinamização na saúde, com vistas a suscitar a ampliação e o fortalecimento das práticas de atividade física. É imprescindível que estas ações aconteçam buscando considerar as subjetividades e valorizar as especificidades culturais que estão presentes nos territórios e compõem importantes dispositivos de promoção da saúde (Marciel, Martins, Oliveira, & Vieira Jr, 2018).

 

    Considerando as dinamizações da educação em saúde para difusão das práticas com o enfoque na atividade física, é importante discutir sobre a oferta de acesso aos serviços para homens, porque eles são de fundamental importância para que se estabeleça e fortaleça a construção de vínculos entre os usuários e os profissionais de saúde, bem como a adesão às terapêuticas instituídas nos programas. Esta é uma ação que deve fazer gerar um movimento que demande também o treinamento e sensibilização por parte dos profissionais para que estejam engajados em reconhecer as necessidades de saúde de homens e buscar desenvolver um projeto de sinergia que contemplem a promoção, prevenção de agravos e também os tratamentos (Queiroz, 2017).

 

    Ancorada nesse objetivo é que se institui no Brasil a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, implantada no ano de 2009, como estratégia a ser pensada para promover a ampliação do acesso aos serviços de saúde pelo público masculino (Brasil, 2009). Como possibilidade de promover essa ampliação do acesso é que se destacam as ações de educação em saúde com o foco na promoção do cuidado masculino nos espaços dos serviços e no cotidiano das práticas (Souza et al., 2016).

 

    A partir do panorama apresentado, este estudo buscou investigar homens e o cuidado a saúde a partir da prática educativa no contexto da prática de atividade física em academia de musculação e ginástica.Diante dessa preocupação, este estudo tem como objetivo descrever as ações realizadas em uma educação em saúde envolvendo homens frequentadores de academia.

 

Métodos

 

    Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, do tipo relato de experiência, acerca de uma ação educativa em saúde com homens frequentadores de academias. A construção do trabalho, parte do âmbito da disciplina “Gênero, Masculinidades e Saúde de Homens”, realizada no sétimo semestre do curso de bacharelado em Enfermagem da Faculdade Nobre de Feira de Santana (FAN), Bahia, Brasil. Este estudo integra o projeto matriz intitulado “Atenção à saúde de homens em um cenário do nordeste brasileiro”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sob o parecer de número: 1.208.304.

 

    A disciplina tem como objetivo principal promover estudos, discussões e ações intervencionistas de sensibilização do público masculino, quanto ao exercício para o autocuidado e a utilização dos serviços de saúde, com destaque para a Atenção Primária à Saúde, direcionando a abordagem para uma formação que contemple a promoção da saúde e prevenção de agravos, através da corresponsabilização do profissional com o usuário.

 

    Contemplam-se neste componente curricular do curso de Enfermagem conteúdos direcionados às vulnerabilidades que a população masculina está exposta, bem como práticas de cuidados associadas à construção de corpo, imagem, representação social, comportamentos de saúde e hábitos de vida e enfoca a prática esportiva e a utilização de produtos sintéticos e afins.Esta preocupação na formação de enfermeiras traduze-se em atividades de pesquisa e extensão como possibilidade de transversalizar a temática no contexto da formação em saúde multiprofissionalmente.

 

    Constituíram-se como referencial para delinear este relato de experiência, as bases teóricas da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) e da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde, como forma de discutir as práticas corporais/atividades físicas do público em questão (Brasil, 2009; Brasil, 2006).

 

    A ação foi desenvolvida em uma academia de musculação no município de Feira de Santana, Bahia, Brasil, no dia 20 de março de 2015, no período vespertino. Participaram da atividade 26 homens com faixa etária variando entre 18 e 29 anos, estes, matriculados em uma academia privada, praticantes de atividade de musculação. Foi realizada durante a ação uma recepção para convidar os participantes a responderem um questionário, do tipo enquete, com perguntas relacionadas aos hábitos de vida, e saúde, e opiniões relacionadas à prática de atividade física diária.

 

    Durante o encontro, realizou-se avaliação da pressão arterial, utilizando o aparelho esfigmomanômetro (modelo ESFH201N) e estetoscópio (modelo ESTRAPP) da marca Premium, devidamente testados e calibrados e a realização do teste de e glicemia utilizando o aparelho glicosímetro digital da marca Accu Chek Active, da marca Accu Chek, devidamente testado e calibrado, junto aos participantes, antes do período do treino, como forma de observar os valores de normalidade ou alteração.

 

    Ao final do preenchimento das questões os participantes recebiam informações sobre a importância da busca pelos serviços de saúde, como forma de estimulá-los a promoverem saúde e prevenirem as doenças no cotidiano diário. Na educação em saúde eram abordadas informações referentes à importância da realização periódica dos exames de rotina, acompanhamento clínico, adoção de comportamentos e hábitos de vida saudáveis, abandono de vícios e saúde integral, como enfoque na saúde mental e além das possíveis manifestações clínicas prováveis de serem manifestadas entre os homens.

 

    Finalizado este momento os homens participantes receberam um informativo impresso que abordava a importância do autocuidado masculino, desenvolvido com base na Política Nacional de Atenção Integral À Saúde do Homem, além de um lanche natural, como incentivo à alimentação saudável e para auxiliar no suprimento energético durante a prática da atividade física a ser realizada por eles.

 

Resultados e discussão

 

Estratégias de busca aos serviços de saúde por homens

 

    Quando questionados sobre a forma encontrada por eles para promover o cuidado em saúde, identificou-se que apesar de serem praticantes de atividades esportivas, e neste caso específico a musculação, uma fração que configurou a maioria dos homens totalizando 46% desses, com faixa etária entre 18 e 29 anos, referiram buscar os serviços apenas quando estão doentes, e não por medidas preventivas ou de promoção da saúde (Gráfico 1):

 

Gráfico 1. Distribuição da frequência de homens com faixa etária entre 18 e 29 anos, 

frequentadores de academia, quanto à busca pelos serviços de saúde.

Fonte: Dados da Pesquisa, Feira de Santana, Bahia, Brasil, 2015

 

    Embora compreenda-se que a prática da atividade física configura-se com uma prática de autocuidado, se faz necessário buscar por medidas tradicionais de promoção do cuidado em saúde, tais como são exercidas na Atenção Básica à Saúde, especificamente as desenvolvidas na Estratégia de Saúde da Família, pois as mesmas buscam desenvolver uma abordagem focada na promoção de hábitos de vida saudáveis e no controle e vigilância dos agravos que podem ser evitados e minimizados se o modelo de atenção à saúde não for alterado pelo indivíduo.

 

    O grande enfoque da PNAISH é possibilitar por meio das ações promovidas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) a redução da morbimortalidade masculina, aumentando a expectativa de vida e a redução dos agravos preveníeis e evitáveis. Os homens são mais vulneráveis às doenças crônicas e de maior gravidade, além de possuir uma expectativa de vida inferior à das mulheres, e mesmo assim, com esta alta taxa de mortalidade não buscam os serviços de saúde, acarretando em retardo na descoberta e prevenção das enfermidades (Brasil, 2009).

 

    A apresentação masculina nos serviços de média e alta complexidade é permeada pela presença de sinais e sintomas das doenças ou agravos que já estão instalados e provocam maiores impactos sociais, familiares e na recuperação do estado de saúde que impactam em uma elevação de custos para os serviços públicos de saúde (Courtenay, 2000).

 

    Diante deste contexto, é importante salientar a contribuição trazida pela prática de atividade física para a redução da morbidade e retardo na mortalidade. A população masculina tem vivido em média 7,6 anos a menos do que as mulheres e morrem em idade jovem e economicamente ativa, produzindo impactos expressivos para a sociedade brasileira (Figueiredo, 2005; Brasil, 2009).

 

    A demora em procurar o especialista atrasa o diagnóstico e faz com que uma simples complicação passe a ser um quadro grave, em que muitas vezes a única solução é a intervenção cirúrgica (Figueiredo, 2005).

 

    A busca do homem por atendimentos relacionados à saúde é diferente da mulher, estes homens em grande parte têm executando-a de forma indireta por meios empíricos, ou de forma tardia quando a doença já está instalada. Não há um culpado para este fato, esse quadro de desenvolvimento da saúde masculina vem se constituindo através da história, onde a figura masculina nunca precisou de tantos cuidados (Gomes, Siqueira, & Sichieri, 2011).

 

    Outro fator importante a ser observado sobre o comportamento de saúde desempenhado por homens relacionados com a prática de atividades físicas, é que mesmo realizando mais atividades do que elas, esses paradoxalmente tem desempenhado práticas que colocam sua condição de saúde em risco a exemplo do consumo abusivo de álcool, tabagismo, consumo de outras drogas ilícitas e alimentação não saudável. Esses comportamentos de descuidado adotados com o corpo e com a saúde têm sido permeados pelas construções de gênero e masculinidades e devem ser, portanto, vislumbrada pelos profissionais quanto à produção do cuidado (Machin et al., 2011). Mesmo sendo evidenciada a presença masculina no desempenho de práticas de atividade física, em destaque as atividades moderadas e pesadas, o estudo de Anjos et al. (2012), realizado na cidade de Niterói do Rio de Janeiro, Brasil, chama a atenção para a necessidade de reforçar o acréscimo diário das atividades físicas mais ativas no tempo livre e redução do tempo gasto em atividades leves, como forma de promoção de obtenção de benefícios para a saúde.

 

    Sobre este contexto da prática de atividades físicas desempenhadas por homens e mulheres, deve-se fazer uma leitura de gênero, e considerar que estão envolvidos nessa relação, construções sobre o ideal de corpo, onde homens e mulheres assumem papéis e representações distintas, inclusive na motivação para realizá-las e no tempo destinado para esta atividade (Salles-Costa, 2003).

 

    Ainda no que tange as relações de gênero no contexto da realização das atividades físicas, em seu processo histórico, às mulheres eram associadas à dança e a ginástica, por ter características e arquétipos de gênero que simbolizam a fragilidade, suavidade e beleza. Aos homens, são associadas à imagem de oposição ao gosto das mulheres, sendo consideradas atividades de maior impacto e agressividade, tais como as lutas, os jogos de combate e competições (Scott, 1990; Adelman, 2003).

 

    Além desses atributos tem sido observado no campo masculino que os homens que praticam significativamente atividades competitivas, são ativos e realizam em sua grande maioria práticas como o futebol, corrida, musculação e bicicleta (Da Silva, Sandre-Pereira, & Salles-Costa, 2011).

 

Tipos de serviço de saúde utilizado por homens que frequentam academias

 

    Ao saber sobre o tipo de serviço de saúde frequentado por eles, identificou-se que os participantes recorrem às unidades da rede hospitalar (61%), outros serviços como policlínicas (20%), unidades de pronto atendimento 24 horas (UPA) (11%), seguido das farmácias (8%), analisado no Gráfico 2.

 

Gráfico 2. Distribuição do tipo de serviço utilizado pelos homens frequentadores de academia

Fonte: Dados da Pesquisa, Feira de Santana, Bahia, Brasil, 2015

 

    A busca pelos serviços de saúde pelo público masculino não tem sido realizada por aqueles presentes na Atenção Básica. O Ministério da Saúde através da implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, verificou através de dados, que muitas doenças que acometem os homens são problemas de saúde pública. Soma-se a este fator as barreiras culturais s que se desenvolveu durante toda história, onde hoje as unidades de Atenção Básica à Saúde, são compreendidas como ações e serviços direcionados prioritariamente para mulheres, crianças e idosos (Brasil, 2009).

 

    Faz-se necessário observar que a procura reduzida dos homens remete a hábitos de prevenção que usualmente são mais associados às mulheres do que aos homens, e não são com frequência cultuada por eles, encontrando-se associado ao modo de ser homem, presente na construção social da masculinidade (Gomes, Nascimento, & Araújo, 2007). O ser masculino, em grande parte da sociedade, encontra-se associado aos atributos que reforçam sentidos de invulnerabilidade, força, virilidade, características que são cotidianamente naturalizadas como sendo exclusivas do masculino (Connell, & Messerschmidt, 2013; Gomes, Nascimento, & Araújo, 2007). Nessa ótica, o cuidado acaba por emergir enquanto atributo incompatível como apresentados anteriormente, sendo encarado como um sinal de fraqueza, medo, insegurança, que fazem com que os homens se distanciem das práticas de cuidado à saúde, tal como é a atividade física. (Barros et al., 2018)

 

    Por conta desses atributos de gênero e masculinidades, os homens retardam a procura pelos serviços da Atenção Básica e frequentam os da alta complexidade, como os hospitais. Fatores que tem dificultado a presença deles nos serviços, tais como o medo de descobrir que estão com algum problema de saúde, vergonha de ficar exposto frente a um profissional de saúde, falta de hábito, carga horária de trabalho não compatível com os horários de funcionamento dos serviços, entre outros (Gomes, 2007).

 

    Reconhecendo essa resistência masculina na busca pelos serviços de saúde que estão direcionados à promoção da saúde e prevenção de agravos, se faz necessário refletir que é importante transpor as ações em saúde para demais espaços (Gomes, 2007). Devem incluir nesse sentido, ações de promoção da saúde nas academias de esporte, como forma de incentivá-los a adoção de comportamentos saudáveis, para além da busca pelo corpo torneado. Para alcance desse objetivo chama-se a atenção para o fortalecimento das ações por meio do Programa Academia da Saúde, que se encontra implantado no Brasil (Brasil, 2011).

 

    O Programa Academias da Saúde implementou-se em 2011 no Brasil instalando em várias cidades do país, equipamentos que possibilitam a mobilização corporal em seguimentos diversificados, sem fins lucrativos e de caráter público. Tal iniciativo como objetivo contemplar a relação da atividade física e saúde e reconhecer os seus benefícios, tornando-se uma preocupação com a saúde pública (Brasil, 2011).

 

    A priorização dos determinantes sociais da atividade física, que tenha como proposta a reivindicação dos espaços públicos como estratégia de promoção da saúde, possibilita a ressignificação da vida nas cidades (Fernandes et al., 2017).

 

    De acordo com Pires (2013) os exercícios físicos regulares beneficiam o indivíduo em diversas vertentes, pois ao se manter em atividade, a vida social, psicológica e a condição física são favorecidas, mas quando for desempenhada de maneira orientada e adequada. Chama-se a atenção para o desenvolvimento de ações multidisciplinares, com destaque para o profissional de Educação Física, para atender e orientar população neste contexto.

 

    É importante salientar que a saúde deve ser em seu conceito ampliado, sendo necessário incorporar práticas integrativas que tenham atuação na prevenção dos agravos, recuperação da saúde, voltada para o cuidado continuado, fortalecendo práticas inovadoras que incluam diferentes linguagens culturais, tais como jogral, dança, homeopatia, acupuntura, fitoterapia e outras formas de manifestação, fortalecendo assim a educação popular, como preconiza a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do SUS (Brasil, 2006).

 

Condição de saúde de homens

 

    Quando questionados sobre a existência de doenças crônicas, 96% dos homens referiram não possuir nenhuma doença crônica, fato levantado a partir da descrição verbal autorreferida pelos participantes, o que contribui para a melhoria e manutenção da qualidade de vida e a redução dos agravos, podendo ser visualizada no Gráfico 3.

 

Gráfico 3. Relação da presença de doenças crônicas entre homens frequentadores de academia

Fonte: Dados da Pesquisa, Feira de Santana, Bahia, Brasil, 2015

 

    Dados epidemiológicos sobre a saúde masculina expressam que os óbitos têm afetado a faixa etária de 20 a 59 anos, sendo as principais, as causas externas (acidentes, violência), doenças do aparelho circulatório; neoplasias; doenças do aparelho digestivo e doenças infecciosas e parasitárias (Moura, 2012).

 

    Grande parte dos fatores de risco para as doenças crônicas não transmissíveis que afetam os homens são a não realização da atividade física no tempo livre, baixo consumo de frutas, legumes e verduras. Esta situação de risco tem sido influenciada pelo excesso de peso, consumo de gorduras saturadas, consumo de refrigerantes, consumo em excesso de bebidas alcoólicas, a prática do tabagismo, sedentarismo, hipertensão arterial, obesidade e diabetes, sendo também ser necessário analisar o quesito raça/cor (Brasil, 2011; Mendes, & Prates, 2016).

 

    Considerar os fatores de risco associados para o acometimento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis tem implicado em reconhecer o potencial de contribuição da atividade física na diminuição desses agravos, é o que evidencia um estudo realizado em Minas Gerais, Brasil com estudantes universitários. O aumento da prevalência na prática da atividade física promoveu alterações na pressão arterial, circunferência da cintura, relação cintura-quadril, fração de colesterol de alta densidade, assim também como promoveu melhorias na qualidade do sono, e em fatores comportamentais como o estresse, depressão e ansiedade (Lopes, Rezende, & Calábria, 2017).

 

    Estes achados supracitados chamam a atenção para que os profissionais de saúde desenvolvam ações para reduzir tal agravo, assim como incentivarem a população masculina a realizarem atividades físicas e desenvolvê-las sob orientação adequada (Lopes, Rezende, & Calábria, 2017). As academias, neste sentido, constituem um importante espaço de promoção da saúde, devendo ser mais visualizada pelos profissionais que atuam nos serviços.

 

    É importante saber que entre a faixa etária dos 20 aos 39 anos, as três primeiras causas de mortalidade são as causas externas, seguidos da apresentação de achados clínicos anormais em exames e o aparecimento de algumas doenças infecciosas e parasitárias (Schwarz et al., 2012). Este panorama sinaliza para a importância da realização dos exames de rotina, exames que são realizados pela maioria dos participantes desse estudo, identificados no Gráfico 4.

 

Gráfico 4. Descrição da realização de exames laboratoriais por homens frequentadores de academias

Fonte: Dados da Pesquisa, Feira de Santana, Bahia, Brasil, 2015

 

    A realização dos exames laboratoriais deve ser um fator a ser destacado, pois segundo dados da pesquisa perfil da situação da saúde homem do Brasil, fatores como o excesso de peso foi identificado em mais da metade (50,4%) dos homens na faixa etária entre 18 e 54 anos de idade. Desses, 52.325.4666 homens com idade entre 20 a 59 anos apresentaram crescente aumento da hipertensão arterial, dislipidemia, obesidade, hábito de fumar e o consumo abusivo de álcool e outras drogas (Moura, 2012). No que diz respeito à prática da atividade física suficiente ao lazer, menos de 20% dos homens na faixa etária de 18 a 54 anos de idade referiram realizar alguma modalidade de atividade física no lazer, considerada suficiente em duração e frequência semanal. (Moura, 2012)

 

Conclusão

 

    O estudo relatado evidenciou que os homens, ainda que frequentadores de academias, não buscam outras ferramentas de promoção da saúde, como a busca pelas unidades de saúde no modelo básico de atenção. Além disso, frequentam tardiamente os serviços e adentram as unidades de média e alta complexidade, saltando assim o modelo de atenção à saúde.

 

    Esta situação torna-se preocupante e deve suscitar estudos, discussões e a implementação de ações que gerem impactos e busquem reduzir os agravos gerados à saúde pública em decorrência dos maus hábitos de vida e saúde. Sendo assim este estudo se faz necessário e relevante, por apresentar uma reflexão acerca do cuidado à saúde de homens no Brasil.

 

    Evidenciou-se que os participantes não possuem doenças crônicas e realizam com frequência os exames clínicos, o que favorece na identificação precoce dos agravos e minimização dos impactos gerados à saúde.

 

    A ação aqui relatada representa uma estratégia extensionista da formação em saúde, como forma de promover reflexões sobre a problemática debatida, a fim de expressar a necessidade de maior articulação entre as instituições de ensino e a comunidade. Esta experiência traduz a importância da realização de ações destinadas à ampliação e melhoria da saúde do homem e a qualidade de vida desses indivíduos.

 

    Ressalta-se ainda, a importância da realização de novos estudos e ações direcionadas a este público, como forma de contribuir para o avanço no conhecimento nos lócus de atuação em que ocorrem as práticas profissionais em saúde.

 

Referências

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 24, Núm. 253, Jun. (2019)