ISSN 1514-3465
Caracterização dos praticantes de desporto de
natureza. Análise do impacto nos locais de prática
Characterization of Sports Nature Practitioners. Analyze the Impact in Local Areas
Caracterización de los practicantes de deportes de naturaleza. Análisis de impacto en sitios de práctica
Pedro Bento
*pbento@ipbeja.pt
Stefano Gonçalves
**stefanog91@live.com.pt
Luís Murta
***lmurta@ipbeja.pt
*Doutorado em "Investigación en la Enseñanza de la Educación Físico Deportiva"
pela Universidade de Huelva, Espanha
Professor Adjunto no Instituto Politécnico de Beja (IPBEJA)
Coordenador do CTESP - Desporto Lazer e Bem Estar (Polo de Beja e Odemira)
Investigador integrado no Sport Physical Activity
and Health Research & Innovation Center (SPRINT)
**Licenciado e Mestre em Atividade Física e Desporto
pela Escola Superior Educação de Beja (IPBEJA)
***Doutorado em "Investigación en la Enseñanza de la Educación Físico Deportiva"
pela Universidade de Huelva, Espanha
Professor Coordenador no (IPBEJA)
Coordenador Mestrado em Atividade Física e Saúde
na Escola Superior Educação de Beja
Investigador integrado CIEQV - Centro de Investigação em Qualidade de Vida
(Portugal)
Recepción: 20/11/2024 - Aceptación: 22/01/2025
1ª Revisión: 06/01/2025 - 2ª Revisión: 19/01/2025
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
Este trabalho está sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt |
Cita sugerida
: Bento, P., Gonçalves, S., e Murta, L. (2025). Caracterização dos praticantes de desporto de natureza. Análise do impacto nos locais de prática. Lecturas: Educación Física y Deportes, 29(321), 37-50. https://doi.org/10.46642/efd.v29i321.8010
Resumen
O Desporto na Natureza (DN) é um dos sectores de crescimento mais rápido na área do turismo ativo. Os diferentes cenários têm condicionantes que determinam a qualidade das atividades como o planeamento, a segurança ou os conhecimentos técnicos específicos. O objetivo do presente estudo foi analisar os praticantes dessas atividades, os desafios e benefícios associados à prática. Pretende-se ainda investigar como é que essas atividades afetam os territórios locais em termos ambientais, económicos e socioculturais e tentar aferir o seu papel na sustentabilidade e desenvolvimento dessas regiões. A amostra foi constituída por 305 participantes, praticantes informais e/ou ocasionais de Desportos Natureza (40,7% do sexo feminino e 59,3% do sexo masculino). Os dados foram recolhidos através da aplicação de um questionário online e analisados através do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS 29.0). O nível de escolaridade mais representativo (n=121), é referente ao ensino superior (Licenciatura) representando 39,7% da amostra, seguido do ensino secundário (conclusão do 12º ano) com 24,9% dos inquiridos. Os participantes no estudo apresentam um estilo de vida ativo através da realização de atividades desportivas ao ar livre, referindo ainda que gostariam de realizar desportos natureza de forma mais frequente.). O bicicleta todo o terreno (BTT) (n=86) é a atividade praticada com maior frequência pelos homens seguido do Trail (n=64), enquanto nas mulheres o Trail (n=60) e o Pedestrianismo (n=52), são as atividades mais procuradas. Relativamente à repercussão que a prática dos Desportos nos locais, destaca-se que a mesma que promove a preservação das áreas naturais.
Palabras clave:
Desporto de Natureza. Locais de prática. Comportamento dos consumidores.
Abstract
Nature Sports (NS) is one of the fastest growing sectors in active tourism. The different scenarios have constraints that determine the quality of the activities, such as planning, safety or specific technical knowledge. This study aimed to analyze the practitioners of these activities, trying to gauge their characteristics, challenges and benefits associated with the practice. It also wanted to investigate how these activities affect local territories in environmental, economic and socio-cultural terms and try to assess their role in the sustainability and development of these regions. The sample consisted of 305 participants, informal and occasional practitioners of nature sports (40.7% female and 59.3% male). The data was collected using an online questionnaire and analyzed using SPSS 29.0 software. The most representative level of education (n=121) was higher education (degree), accounting for 39.7% of the sample, followed by secondary education with 24.9% of respondents. The participants in the study lead an active lifestyle by participating in outdoor sports activities and also mention that they would like to join in nature sports more often. Mountain biking (n=86) is the activity most frequently practiced by men, followed by Trail running (n=64), while for women trail running (n=60) and hiking (n=52) are the most popular activities. Promoting this type of sport is perceived as “positive” or “very positive”, with 85.5% of the sample attesting to this position. Concerning the repercussions of practicing sports in local areas, it stands out that the respondents believe that it promotes the preservation of natural areas.
Keywords:
Nature Sports. Local areas. Consumer behavior.
Resumen
Deportes en la Naturaleza (DN) es uno de los sectores de mayor crecimiento en el ámbito del turismo activo. Los diferentes escenarios tienen condiciones que determinan la calidad de actividades como planificación, seguridad o conocimientos técnicos específicos. El objetivo del presente estudio fue analizar a los practicantes de estas actividades, los desafíos y beneficios asociados a la práctica. También se pretende investigar cómo estas actividades afectan a los territorios locales en términos ambientales, económicos y socioculturales e intentar evaluar su papel en la sostenibilidad y el desarrollo de estas regiones. Muestra estuvo compuesta por 305 participantes, practicantes informales y/u ocasionales de DN (40,7% mujeres y 59,3% hombres). Los datos fueron recolectados mediante aplicación de un cuestionario en línea y analizados utilizando el software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS 29.0). El nivel de educación más representativo (n=121) fue educación superior (Licenciatura), el 39,7% de la muestra, luego educación secundaria (finalización del 12º año) con el 24,9%. Los participantes del estudio tienen un estilo de vida activo mediante la realización de actividades deportivas al aire libre, mencionando además que les gustaría realizar deportes en la naturaleza con mayor frecuencia). El ciclismo todoterreno (MTB) (n=86) es la actividad practicada con mayor frecuencia por los hombres, seguida del Trail (n=64), mientras que para las mujeres, el Trail (n=60) y el Pedestrismo (n=52), son las actividades más populares. En relación a la repercusión que tiene la práctica del deporte en el ámbito local, se destaca que promueve la preservación de los espacios naturales.
Palabras clave
: Deporte en la Naturaleza. Lugares de práctica. Comportamiento del consumidor.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 321, Feb. (2025)
Introdução
Os Desportos de Natureza têm ganho destaque pela crescente procura nos últimos anos, por promoverem não apenas a prática desportiva em ambientes naturais mas também pelo potencial impacto que exercem nas comunidades e territórios onde são realizados. Este artigo tem como objetivo geral analisar os praticantes dessas atividades, tentando aferir as suas características e quais os desafios e benefícios associados à prática. Além disso, pretendeu-se investigar como é que essas atividades afetam os territórios locais em termos ambientais, económicos e socioculturais, bem como seu papel na promoção da sustentabilidade e no desenvolvimento dessas regiões com base na perceção dos próprios praticantes. (Triani et al., 2021; Yoon et al., 2021)
Metodologia
Para a recolha dos dados foi adaptado o questionário de Melo (2013), no qual se investigou o perfil dos praticantes informais e/ou ocasionais de Desportos de Natureza. A versão final do questionário para a presente investigação teve em conta a análise de referências bibliográficas de Betrán, e Betrán (1998) e de Betrán (1995), adaptadas de Melo (2013), sobre a oferta e estruturação das atividades dos Desportos de Natureza. Foi constituído por 22 questões, nas quais foram medidos aspetos como: as caraterísticas sociodemográficas dos praticantes; práticas de lazer e estilos de vida; caraterização da situação da prática de Desportos Natureza e a caraterização dos impactos dos Desportos de Natureza e comportamentos nos locais de prática.
Para a aplicação e disseminação do “Questionário aos praticantes dos Desportos de Natureza”, se utilizó a plataforma eletrónica Google Forms, sendo a sua aplicação realizada na “época alta” do calendário de atividades e eventos nacionais ligados à área dos desportos natureza (e.g. organização de Trails, competições de bicicleta todo o terreno [BTT], etc.).
Foram recebidas 308 respostas, sendo que 3 respondentes não aprovaram o termo de aceitação e consentimento. A amostra foi constituída por 305 participantes, praticantes informais e/ou ocasionais de Desportos Natureza (40,7% do sexo feminino e 59,3% do sexo masculino), provenientes dos 22 distritos de Portugal continental. A regiões mais representadas foram o distrito de Beja, com 125 respostas (41%), seguido de Lisboa com 48 (15,7%) e Faro com 38 (12,5%).
Resultados
Práticas de lazer e uso dos tempos livres
Relativamente ao perfil de prática dos inquiridos, foi tido em conta as práticas de lazer e uso dos tempos livres bem como a perceção dos mesmos relativa aos impactos que este tipo de prática tem na sustentabilidade do desenvolvimento local dos diferentes territórios e os comportamentos nos locais de destino.
Usou-se a grelha adaptada de Melo (2013), respeitando a hierarquização dos espaços e práticas de lazer, de envolvimento do individuo e ainda a tipologia de atividades de acordo com D’Épinay (1983). A definição destes critérios dividiu as práticas de lazer e uso dos tempos livres em 11 categorias (3 no espaço doméstico, 3 no espaço semipúblico e 5 no espaço público). (Melo, 2013)
As respostas foram dadas de acordo com uma escala de 1 a 5, onde 1 corresponde a nunca, 2 corresponde a raramente, 3 às vezes, 4 muitas vezes e 5 sempre. De seguida apresenta-se uma leitura geral relativa às práticas de lazer e uso dos tempos livres dos praticantes dos Desportos de Natureza inquiridos (Tabela 1).
Tabela 1. Práticas de lazer e uso dos tempos livres
Variáveis |
Medidas
tendência central |
||
Média |
Moda |
DP |
|
1.
Realizar atividades domésticas (ver TV, ler, etc.). |
3,68 |
4 |
0,839 |
2.
Receber e/ou ir a casa de amigos ou familiares. |
3,20 |
3 |
0,848 |
3. Não
fazer nada, descansar e/ou dormir a sesta. |
2,40 |
2 |
0,887 |
4.
Sair para ao café, bar discoteca, almoçar e/ou jantar. |
3,08 |
3 |
0,807 |
5.
Participar em atividades de expressão cultural. |
1,98 |
1 |
1,105 |
6.
Passear com a família e/ou amigos. |
3,46 |
3 |
0,794 |
7.
Ir ver espetáculos (desportivos e/ou culturais). |
2,97 |
3 |
0,879 |
8.
Ir ao centro comercial (passear, ir às compras, etc.). |
2,70 |
3 |
0,836 |
9.
Ir a associações recreativas ou a coletividades locais. |
1,73 |
1 |
0,878 |
10.
Fazer desporto. |
3,88 |
4 |
0,962 |
11.
Realizar viagens de lazer. |
3,09 |
3 |
0,816 |
Fonte: Elaboração própria
Como se observa na Tabela 1, as práticas domésticas (e.g. ver TV, ler, ouvir música, etc.) com uma média de 3,68 e as práticas de expressão ao ar livre (e.g. passear com a família e/ou amigos) com média de respostas de 3,46, são as atividades que apresentam maiores índices de frequência. As práticas de expressão desportiva (fazer desporto), apresenta-se como a opção de lazer mais valorizada entre os inquiridos, nomeadamente no sexo masculino entre quadros superiores de profissão.
Por outro lado, “Ir a associações recreativas ou a coletividades locais” apresenta-se como a categoria de lazer e uso dos tempos livres menos valorizada na nossa amostra (média de 1,73), existindo um equilíbrio no tipo de resposta de ambos os sexos com particular destaque nas faixas etárias 40-49 e 50-59 anos, onde referem nunca ter adotado neste tipo de atividade (n=51%). De referir ainda que 152 dos inquiridos (52%), trabalhadores por conta de outrem, afirmam que a realização de viagens de lazer, foi uma das práticas mais adotadas no último ano (2024).
Tipologia de atividades e participação
Relativamente às atividades praticadas pelos inquiridos, destaca-se que o BTT (n=181), a Canoagem (n=174) e o Trail (n=150) são as atividades mais realizadas, seguidas do Pedestrianismo (n=128), Escalada (n=127), a Orientação (n=120) e o Montanhismo (n=112). As atividades com menor participação foram o Kitesurf (n=14) e o Snowboard (n=27). Relativamente às modalidades que mais gostam de praticar, o Trail (n=75), o BTT (n=27) e o Rafting (n=36) foram as atividades mais referidas.
No que diz respeito à frequência de prática deste tipo de desportos os dados demonstram que 32,1% dos participantes tem uma prática muito regular (3 a 6 dias por semana). No entanto, existem diferenças estatisticamente significativas (p=0,002) entre a prática dos diferentes desportos. O Trail (10,4%), o BTT (4%) e o Pedestrianismo (3,2%) são as que evidenciam as maiores frequências de prática (mais de 3 dias por semana).
Relativamente ao período da semana destaca-se que 41,3% da amostra prefere a realização de atividades ao fim de semana, sendo que o mesmo número de respostas (n=126) foram obtidas nos inquiridos que afirmaram realizar estas atividades em qualquer dia da semana de forma indiferenciada, sendo que o intervalo de idades 40-49 anos obteve o maior número de respostas.
Os praticantes inquiridos indicam que as questões ambientais (e.g. estar em contacto com a natureza; apreciar a natureza e a paisagem; para defender o ambiente) com uma média de 4,17 e as questões relacionadas com a experiência (novas experiências/sensações de aventura; para desafiar as capacidades; pôr-se à prova) com média de 4,02 (numa escala de 1 a 5), como as mais importantes para a prática dos Desportos Natureza (Tabela 2).
Tabela 2. Razões para a prática de Desportos Natureza
|
1 |
2 |
3 |
4 |
5 |
|
Razões
para a prática DN |
Nada
Importante |
Pouco
Importante |
Importante |
Muito
Importante |
Totalmente
Importante |
Média |
Para
estar em contacto com a Natureza; para apreciar a Natureza e a Paisagem;
para defender o Ambiente. |
0,60% |
1,20% |
12,70% |
17,60% |
26,80% |
4,17 |
Para
ter novas experiências/sensações de Aventura; para desafiar as
capacidades; para pôr-se à prova. |
0,80% |
2,10% |
12,90% |
22,40% |
20,70% |
4,02 |
Para
ocupar o tempo livre; para interagir com outras pessoa/contatos social;
pelo convívio que proporciona. |
1,00% |
3,90% |
17,00% |
22,40% |
14,70% |
3,78 |
Por
recomendação médica/questões de saúde; para manter e/ou melhor a
condição física; para relaxar/quebrar com a rotina. |
3,90% |
7,10% |
18,70% |
17,60% |
11,60% |
3,44 |
Para
estar envolvido numa competição desportiva. |
18,70% |
15,50% |
13,70% |
7,90% |
4,10% |
2,39 |
Para
visitar outros locais/destinos; para conhecer outras tradições e
outras culturas; para visitar e defender o património. |
1,40% |
4,40% |
15,30% |
19,70% |
18,10% |
3,83 |
Fonte: Elaboração própria
Analisando as razões para a prática de Desportos Natureza por sexo, destaca-se o intervalo de idades 40-49 anos, onde os inquiridos afirmam que defender o ambiente e colocarem-se à prova no decorrer das atividades, são as razões principais pelas quais praticam estas ações. Por outro lado, o convívio que este tipo de práticas gera melhoria da condição física e quebra da rotina e conhecer novas culturas e formas de património, são aspetos essenciais para a prática. A razão menos valorizada para a prática de Desportos Natureza é o envolvimento em competições específicas da área.
Os dados relativos às caraterísticas associadas aos Desportos Natureza pelos indivíduos participantes no estudo revelam que a “Natureza” (4,39), o “Prazer” (4,36), a “Atividade Física” (4,28) e a “Diversão” (4,25) foram as respostas mais valorizadas (numa escala de 1 a 5). Em sentido contrário o “Espetáculo” (2,92) e a “Competição” (2,62) foram as caraterísticas menos associadas à prática.
Conclui-se ainda que os fatores “Recreação”, “Esforço” e o “Desafio” são os mais valorizados aquando da prática deste tipo de atividades.
Relativamente à variável idade, destaca-se a associação deste tipo de desportos com a “recreação” no intervalo 40-49 anos, a “Atividade Física” nos 50-59 anos e o “Risco” nos 30-39 anos.
Impacto dos Desportos Natureza nos locais de prática
Relativamente aos impactos ambientais, económicos e socioculturais que decorrem nos locais de prática, pela realização das atividades, os respondentes classificam-nos de forma positiva.
No que diz respeito aos impactos ambientais, são percebidos como neutros (34,4%) ou positivos (35,1%). Se observa ainda que 17,7% dos inquiridos consideram que estas práticas têm um impacto ambiental muito positivo nos territórios (Figura 1).
Relativamente à componente económica 85,5% da amostra considera positiva ou muito positiva a dinamização deste tipo de desportos nos territórios para a economia local. Apenas 12,7% afirma que a sua realização tem um impacto económico neutro e por outro lado uma minoria 1.8% considera os impactos negativos.
Os impactos socioculturais de acordo com a perceção dos inquiridos também são bastante positivos, com 52,7% a referirem que os Desportos Natureza inferem de forma positiva nos territórios e 34% concluem que este tipo de impacto é muito positivo (Figura 2).
Para completar esta análise, se caraterizam os comportamentos que os praticantes afirmam ter face aos habitantes nos locais, às atividades culturais e ao ambiente (Tabela 3) e a repercussão que a prática pode gerar na sustentabilidade dos locais, de acordo com a sua perceção (Figura 3).
Tabela 3. Comportamentos dos praticantes nos locais de prática
Comportamentos |
Sim |
Não |
||
N |
% |
N |
% |
|
Cumprimento
os habitantes locais. |
293 |
96,1% |
12 |
2,3% |
Participo
nas atividades e nos eventos culturais locais. |
228 |
74,8% |
77 |
25,2% |
Utilizo
as instalações e os espaços de lazer das comunidades locais. |
212 |
69,5% |
93 |
30,5% |
Falo
com os habitantes sobre a cultura local. |
237 |
77,7% |
68 |
22,3% |
Incentivo
os habitantes locais para a prática dos Desportos de Natureza. |
194 |
63,6% |
111 |
36,4% |
Incentivo
as populações locais para a preservação dos
espaços de prática dos Desportos de Natureza. |
230 |
75,4% |
75 |
24,6% |
Recolho
o meu próprio lixo. |
301 |
98,7% |
4 |
1,3% |
Recolho
o lixo abandonado nos locais de prática. |
203 |
66,6% |
102 |
33,4% |
Utilizo
produtos reutilizáveis. |
249 |
81,6% |
56 |
18,4% |
Sensibilizo
os outros praticantes para a ecologia e proteção da natureza. |
229 |
75,1% |
76 |
24,9% |
Cumpro
as normas de conduta para a preservação da fauna e da flora. |
296 |
97,0% |
9 |
3,0% |
Contribuo
financeiramente para a proteção ambiental local. |
146 |
47,9% |
159 |
52,1% |
Denuncio
práticas incorretas ou atentados contra a natureza. |
216 |
70,8% |
89 |
29,2% |
Adquiro/consumo
produtos tradicionais da região (artesanato regional, doçaria
regional, etc.). |
273 |
89,5% |
32 |
10,5% |
Procuro
serviços que incluam o trabalho de habitantes locais. |
225 |
73,8% |
80 |
26,2% |
Fonte: Elaboração própria
Como visto na Tabela 3, os praticantes de Desportos Natureza demonstram um comportamento bastante positivo no que diz respeito à interação com as comunidades locais e à adoção de práticas ambientais sustentáveis. Os dados revelam que aspetos como o cuidado em recolher o próprio lixo dos locais por onde passa (98,7%), cumpro as normas de conduta para a preservação da fauna e da flora (97%), cumprimentar os habitantes locais (96,1%), são muito valorizados. Por outro lado, existem comportamentos que podem ser incentivados negativamente como a contribuição financeira para a proteção ambiental local (52,1%) e incentivar os habitantes locais para a prática dos desportos de natureza (36,4%).
Relativamente à repercussão que a prática dos Desportos Natureza tem na sustentabilidade dos locais, destaca-se que os inquiridos são da opinião que a sua dinamização promove a preservação das áreas naturais com uma média de respostas de 4,04 (numa escala de resposta de 1 a 5). Por outro lado, impactos como a poluição (1,96), a destruição de locais de prática (1,92), a ocorrência de acidentes (1,62) e vandalismo (1,55) são pouco valorizados pelos respondentes. Existe ainda uma perceção moderada de que os Desportos Natureza contribuem para o desenvolvimento económico e social das áreas, especialmente no que diz respeito ao aumento de rendimentos e empregabilidade bem como ao aparecimento de infraestruturas de lazer (Figura 3).
Discussão
O presente estudo teve como objetivo identificar e caraterizar o perfil de prática deste tipo de desportos e o seu impacto nos diferentes territórios onde ocorre. Outro estudo semelhante realizado por Melo et al. (2015) apresentou o perfil, referenciou igualmente uma amostra com formação superior e posições profissionais qualificadas. Os resultados referem ainda que o perfil de praticantes tem um estilo de vida ativo existindo ainda um aumento da prática significativo por parte das mulheres, relativamente a estudos anteriores. É um público consumidor de atividades regulares práticas, como o BTT, a Canoagem e o Trail Runing.
Relativamente à procura deste tipo de serviços por idade, os resultados apontam para uma tendência de mudança na prática de atividades de lazer com o avançar da idade, o que também foi verificado em estudos que sugerem que a idade influencia a motivação e o tipo de atividade praticada. (Pirozzi et al., 2022)
Relativamente ao perfil de formação dos inquiridos, conclui-se que a situação perante o trabalho, afeta diretamente a prática de atividades de lazer e desporto (e.g, trabalhar em período integral, part time ou estar desempregado), pode estar relacionada com níveis de stress ou a própria flexibilidade do emprego. Trabalhadores com níveis de responsabilidade elevados, procuram atividades recreativas como forma de compensar o cansaço mental e físico, enquanto a falta de tempo pode limitar a prática de atividades de lazer para outros grupos (Hirschle, e Gondim, 2020; Marcuta et al., 2020), sugerem que algumas variáveis sociodemográficas como a idade, educação e condições de trabalho exercem um papel mais relevante na determinação das práticas de lazer.
Conclui-se que o perfil de prática dos inquiridos é semelhante a estudos mais recentes, onde jovens adultos priorizam atividades mais intensas e físicas, enquanto adultos mais velhos preferem atividades passivas ou que promovam relaxamento e conexões sociais, como clubes ou atividades culturais, conforme destacado em análises de padrões de lazer para diferentes faixas etárias e contextos culturais (Belošević, e Ferić, 2022; Sardina, e Gamaldo, 2022; Yoon et al., 2021). Identifica-se ainda que os praticantes tendem realizar as atividades de forma indiferenciada, durante todo o ano, corroborando com outras investigações recentes de Brandão et al. (2020) e de Selin et al. (2020).
Relativamente ao impacto que os Desportos Natureza provocam nas áreas de prática, os resultados demonstraram que a perceção dos inquiridos é bastante positiva, sendo que avaliam como praticamente nula ou sem importância, os aspetos negativos decorrentes das atividades. A bibliografia refere que em áreas protegidas, o aumento de visitantes pode comprometer a biodiversidade, levando à compactação do solo e poluição dos cursos de água. Por outro lado, a implementação de práticas sustentáveis por parte dos operadores e comunidades locais, são essenciais para reduzir esse impacto, como a construção de trilhos adequados e a regulamentação da quantidade de visitantes. (Beames et al., 2022; Bento et al., 2019)
O compromisso com a sustentabilidade é um processo contínuo, facilitando a redução contínua do impacto ambiental, a otimização da eficiência operacional e a preservação de relações positivas com clientes, comunidades e partes interessadas (Nguyen et al., 2022; Salas-Zapata, e Ortiz-Muñoz, 2019). Quando as instalações e o acesso aos locais de prática são cuidadosamente projetados, os impactos na biodiversidade podem ser evitados e um ganho geral de biodiversidade. (Van Rheenen, e Melo, 2021; Dias, 2021)
Os Desportos de Natureza são percebidos de maneira amplamente positiva pelos praticantes em termos ambientais, económicos e socioculturais, destacando a importância de se promover infraestruturas que reforcem tanto o impacto positivo quanto à preservação dos territórios. Estes dados sugerem que, além das práticas de sustentabilidade já adotadas, há oportunidades para ampliar a conscientização e envolver de forma mais ativa as comunidades locais.
Conclusões
Estudar o perfil dos praticantes de Desportos de Natureza bem como o impacto resultante nas áreas de prática é cada vez mais importante, tendo em conta a procura crescente por este tipo de práticas, incidindo cada vez mais nas motivações dos praticantes, que procuram realizá-las de forma cada vez mais indiferenciada, durante o ano. Os dados indicam que a busca pelo bem-estar físico e mental através da conexão com a natureza e o desejo de aventura e autenticidade são os fatores principais de consumo e procura por este tipo de desportos.
Este tipo de prática exerce um impacto positivo significativo nos territórios, promovendo benefícios económicos, sociais e ambientais. Os resultados indicam que a prática de atividades ao ar livre, principalmente a Canoagem, o BTT e o Trail Runing não apenas impulsionam o turismo e a economia local, mas também fortalecem a coesão social e comunitária, bem como a conscientização ambiental entre os praticantes.
Por outro lado, é urgente continuar a investigar os possíveis efeitos negativos associados a este tipo de desportos para que possa ser delineada uma abordagem sustentável, que minimize os danos e maximize os benefícios para os destinos, sensibilizando os responsáveis das empresas e as comunidades locais, através de incentivos ou programas governamentais para que ocorra uma mudança de paradigma.
Referências
Betrán, J. (1995). Las actividades físicas de aventura en la naturaleza: análisis socio-cultural. Apunts: Educación Física y Deportes, 41, 5-9. https://revista-apunts.com/las-actividades-fisicas-de-aventura-en-la-naturaleza-analisis-socio-cultural/
Betrán, A., e Betrán, J. (1998). Análisis de la demanda potencial de las actividades físicas de aventura en la naturaleza en la ciudad de Barcelona. Apunts: Educación Física y Deportes, 52, 92-102. https://revista-apunts.com/analisis-de-la-demanda-potencial-de-las-actividades-fisicas-de-aventura-en-la-naturaleza-en-la-ciudad-de-barcelona/
Belošević, M., e Ferić, M. (2022). Contribution of Leisure Context, Motivation and Experience to the Frequency of Participation in Structured Leisure Activities among Adolescents. International Journal of Environmental Research and Public Health, 19(2). https://doi.org/10.3390/ijerph19020877
Beames, S., Mackenzie, S.H., e Raymond, E. (2022). How can we adventure sustainably? A systematized review of sustainability guidance for adventure tourism operators. Journal of Hospitality and Tourism Management, 50, 223-231. https://doi.org/10.1016/j.jhtm.2022.01.002
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 321, Feb. (2025)