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ISSN 1514-3465

 

Limiar de tolerância de dor à pressão em mulheres

praticantes de ballet clássico versus sedentárias

Pressure Pain Tolerance Threshold in Women Practicing Classic versus Sedentary Ballet

Umbral de tolerancia al dolor por presión en mujeres que practican ballet clásico versus sedentarias

 

Jaqueline Leal Vieira*

jaquelinelv.fisio@gmail.com

Fábio Marcon Alfieri**

fabiomarcon@bol.com.br

 

*Fisioterapeuta graduada pelo UNASP

Pós-graduada em Fisioterapia na Disfunção Temporomandibular

e Dor Orofacial pela Faculdade Unyleya

**Graduado e Mestre em Fisioterapia (UNIMEP)

Doutor em Ciências Médicas (USP)

Livre-docente pela USP.

Professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo

Atua como Professor e Coordenador do Curso de Mestrado Profissional

em Promoção da Saúde e do Curso de Fisioterapia

(Brasil)

 

Recepción: 11/10/2024 - Aceptación: 24/01/2025

1ª Revisión: 08/01/2025 - 2ª Revisión: 21/01/2025

 

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Cita sugerida: Vieira, J.L., e Alfieri, F.M. (2025). Limiar de tolerância de dor à pressão em mulheres praticantes de ballet clássico versus sedentárias. Lecturas: Educación Física y Deportes, 29(322), 118-129. https://doi.org/10.46642/efd.v29i322.7937

 

Resumo

    O exercício físico regular pode estar relacionado com a percepção de estímulos dolorosos. O objetivo deste estudo foi comparar o limiar de tolerância de dor à pressão em mulheres praticantes de ballet clássico versus sedentárias. Foi desenvolvido um estudo do tipo transversal observacional no qual participaram 15 mulheres praticantes de ballet e 15 mulheres sedentárias. O estudo foi realizado em academias de dança e em uma policlínica universitária. As voluntárias fizeram avaliação do limitar de tolerância à dor à pressão (LTDP) por meio do algômetro nos pontos: vasto medial, vasto lateral, tendão patelar, eretores da coluna vertebral na região lombar ao nível do segmento vertebral L4-L5, paravertebrais, origem da fáscia plantar, meio da fáscia plantar, primeiro metatarso e o quinto metatarso. Os dados foram analisados utilizando o pacote estatístico SigmaStat e para comparação dos dados entre os grupos foi utilizado o test t para dados não pareados ou Mann-Whitney. Os resultados mostraram que as mulheres praticantes de ballet clássico apresentaram em todos os pontos analisados, maiores valores do limiar de tolerância de dor à pressão do que o grupo das mulheres consideradas sedentárias, contudo, apenas os paravertebrais direito e esquerdo e o vasto medial esquerdo apresentaram diferenças estatisticamente significantes. Pode-se concluir por meio deste estudo que mulheres praticantes de ballet apresentam maior limiar de tolerância de dor à pressão em relação a mulheres sedentárias, contudo apenas dois pontos avaliados: músculos paravertebral esquerdo/direito e vasto medial esquerdo são estatisticamente significantes entre os grupos.

    Unitermos: Dança. Dor. Limiar de dor. Sedentarismo.

 

Abstract

    The exercise can interfere with the issue of pain perception. The objective of this study was to compare the pressure pain threshold in women practicing classical ballet versus those who are sedentary. To develop the research, an observational cross-sectional study was chosen in which 15 women aged between 18-45 years, ballet practitioners and 15 sedentary women participated. All the stages of this study were carried out in academies of dance and in the dependences of the university policlinic. The volunteers did evaluation of pressure pain threshold (PPT) with the algometer positioned in the points: vast medial, vast side, tendon patellar, erectors of the spine in the lumbar region at the level of the vertebral segment L4-L5, paravertebral, origin of the plantar fascia, average of the plantar fascia, first metatarsus and the fifth metatarsus. The data were analyzed using the SigmaStat statistical package and for comparison of the data between the groups, the t test for unpaired data or the Mann-Whitney test was used. Resulted: The results showed that the practicing women of ballet presented classic in all the points analyzed, bigger values of PPT what the group of the sedentary respected women, nevertheless, only paravertebral right and left, and the vast left medial they presented statistically significant differences. Conclusions: Practicing women of ballet present bigger PPT regarding sedentary women, nevertheless you punish two evaluated points: muscles paravertebral left/right and vast left medial are statistically significant between the groups.

    Keywords: Dancing. Pain. Pain threshold. Sedentarism.

 

Resumen

    El ejercicio físico regular puede estar relacionado con la percepción de estímulos dolorosos. El objetivo de este estudio fue comparar el umbral de tolerancia al dolor por presión en mujeres que practican ballet clásico versus sedentarias. Se desarrolló un estudio observacional transversal en el que participaron 15 mujeres que practican ballet y 15 mujeres sedentarias. El estudio se realizó en academias de danza y en un policlínico universitario. Los voluntarios evaluaron el límite de tolerancia al dolor por presión (LTDP) utilizando el algómetro en los puntos: vasto medial, vasto lateral, tendón rotuliano, erectores espinales en la región lumbar a nivel del segmento vertebral L4-L5, paravertebral, origen de la fascia plantar, parte media de la fascia plantar, primer metatarsiano y quinto metatarsiano. Los datos se analizaron utilizando el paquete estadístico SigmaStat y se utilizó la prueba t para datos no apareados o prueba de Mann-Whitney para comparar datos entre grupos. Los resultados mostraron que las mujeres practicantes de ballet clásico presentaron, en todos los puntos analizados, valores de umbral de tolerancia al dolor a la presión más altos que el grupo de mujeres consideradas sedentarias, sin embargo, sólo las paravertebrales derecha e izquierda y el vasto medial izquierdo presentaron diferencias estadísticamente significativas. Se puede concluir de este estudio que las mujeres que practican ballet tienen un umbral de tolerancia al dolor a la presión más alto en relación a las mujeres sedentarias, sin embargo sólo en dos puntos evaluados: los músculos paravertebrales izquierdo/derecho y el vasto medial izquierdo son estadísticamente significativos entre los grupos.

    Palabras clave: Danza. Dolor. Umbral de dolor. Estilo de vida sedentario.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 322, Mar. (2025)


 

Introdução 

 

    Fatores positivos para a promoção da saúde são relacionados a fatores modificáveis. Dentre estes, destaca-se a atividade física. Esta tem o potencial de trazer benefícios mentais, biológicos, além de promover interação social. Quando praticado regularmente se constitui um fator protetivo para desenvolvimento de doenças. (Furtado et al., 2023)

 

    A prática esportiva reconhecida dentre as formas de atividade física, se dispõe de diversas modalidades, como o basquete, vôlei, natação, handebol, futebol, atletismo, ginástica, dentre outras que, requerem disposição e capacidades físicas para sua realização.

 

    O ballet clássico não está entre as modalidades esportivas, mas como qualquer outra atividade exige treinamento e condições fisiológicas para um bom desempenho do bailarino. (Silva, e Enumo, 2016)

 

    O ballet clássico se originou na França no século XVI, na Corte de Médicis, em espetáculos e festas com obras que refletiam movimentos típicos e existentes da época. (Bambirra, 1993)

 

    Sua prática consiste em movimentos rítmicos, exigindo de seus praticantes posturas e posições de grande amplitude e alta complexidade, desenvolvendo habilidades e percepções como a musicalidade, ritmo, sensibilidade, coordenação, equilíbrio, tônus, noção espacial, relaxamento e respiração. (Batista, e Martins, 2010)

 

    Como qualquer outra prática de atividade física, o ballet pode trazer diversos benefícios, contudo devido suas peculiaridades de esforço muscular e de posturas para sua prática, pode gerar tensões excessivas e lesões (Ivanova et al., 2023). Um estudo de revisão recente aponta que todas as formas de dança possuem movimentos exigentes e isto pode gerar incidência de até 95% de lesões ao longo da vida de um bailarino. (Li et al., 2022)

 

    Os autores colocam que os estudos se concentram nas lesões das articulações do joelho e membros superiores. No entanto relatam que faltam estudos sobre as intensas demandas físicas que a dança exige, que expõe os pés dos dançarinos a um alto risco de lesões como hálux valgo, lesão nos metatarsos e dor no tornozelo. (Li et al., 2022)

 

    Silva, e Enumo (2016) relatam que bailarinos que realizam a prática do ballet clássico de maneira excessiva ou incorreta apresentam maiores incidências de quadros dolorosos na região dos pés, joelhos, tornozelos, pernas, coxa e quadril, seguidas da coluna lombar e vertebral, abdômen e ombros como áreas de menor incidência.

 

    Ainda, corroborando com o tema, há um estudo interessante que buscou verificar o significado da dor de um grupo de bailarinas. Houve relato de que treinos excessivos e movimentos repetitivos fazem surgir a dor e as lesões que são ocultadas e negadas a fim de que os praticantes possam continuar no foco de querer alcançar a perfeição. Ainda a dor aliada com a prática obriga aos seus praticantes a criarem estratégias de confronto. (Costa, e Teixeira 2019)

 

    Dentre as formas de avaliar as questões relacionadas a dor nos praticantes de ballet, uma delas pode ser a da algometria que avalia o limiar de tolerância de dor à pressão. Couto, e Pedroni (2013) avaliaram alguns pontos dolorosos referidos pelos bailarinos por meio da algometria, porém não há uma descrição clara sobre estes pontos. Isto demonstra uma escassez de estudos que evidenciem claramente sobre o limiar de tolerância de dor a pressão das bailarinas avaliadas por algometria, ou seja, a avaliação que consiste na utilização do algômetro, um dispositivo que possui em sua extremidade uma borracha de aproximadamente 1cm2 de diâmetro capaz de avaliar a pressão exercida sobre uma superfície e analisar o limiar de tolerância de dor à pressão, sendo, portanto, uma avaliação precisa do local da dor. (Pelfort et al., 2015)

 

    Diante disso, o objetivo deste estudo foi verificar e comparar o limiar de tolerância de dor à pressão em mulheres praticantes de ballet clássico versus mulheres sedentárias.

 

Método 

 

    O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Adventista de São Paulo sob número de parecer 2.893.512 e foi desenvolvido de acordo com as resoluções presentes na resolução 466 do Conselho Nacional de Saúde.

 

    O estudo foi realizado na academia de dança: Espaço Steps Corpo e movimento e Escola Quatorze5 Centro de Artes e nas dependências da Policlínica do Centro Universitário Adventista de São Paulo- UNASP-SP. As mulheres praticantes de ballet clássico foram recrutadas nas escolas mencionadas e as mulheres sedentárias no campus universitário do Centro Universitário Adventista de São Paulo.

 

    Este estudo tem caráter transversal observacional e participaram 15 bailarinas clássicas com idade entre 18 e 45 anos e 15 mulheres consideradas sedentárias. Os critérios de inclusão adotados foram: sexo feminino e com tempo de prática do ballet com tempo maior ou igual a 6 meses com frequência mínima de duas aulas semanais e ter idade superior a 18 anos. Não participaram aquelas com diabetes mellitus, doenças neurológicas, amputadas em membros inferiores, com histórico de lesões recentes (menos de 3 meses). As mulheres do grupo das sedentárias deveriam ter os mesmos critérios que as do grupo de ballet exceto a prática do ballet. Foi considerada população sedentária a que estivesse classificada como irregularmente/insuficientemente ativa ou sedentários segundo a Classificação do Nível de Atividade Física (IPAQ) que foi aplicada a esta população. Segundo esta classificação é considerado:

  • Sedentários (SED): aqueles que não realizam nenhuma atividade física por pelo menos 10 minutos contínuos durante a semana.

  • Insuficientemente ativos (IA): indivíduos que praticam atividades físicas por pelo menos 10 minutos contínuos por semana, contudo de maneira insuficiente para serem classificadas como ativas. Nesses casos são somadas a duração e a frequência dos diferentes tipos de atividades realizadas (caminhadas + moderada + vigorosa). Os sujeitos dessa categoria caracterizaram-se de duas maneiras: insuficientemente ativos A: realizaram 10 minutos contínuos de atividade física, de acordo com pelo menos um dos seguintes critérios: frequência igual ou maior que 5 dias/semana ou duração igual ou maior que 150 minutos/semana; insuficientemente ativos B: não atingem nenhum dos critérios da recomendação acima. (Matsudo et al., 2001)

    Todas as avaliações foram realizadas pelo mesmo avaliador forma feitas após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Antes de iniciar as avaliações os pesquisadores forneceram informações detalhadas e claras sobre a pesquisa, e foram esclarecidas todas e quaisquer dúvidas dos participantes. Na sequência as participantes foram submetidas à avaliação que constou o limiar de tolerância de dor à pressão. As avaliações das bailarinas aconteceram nos espaços das academias citadas e das mulheres sedentárias na Policlínica do UNASP.

 

    O limitar de tolerância de dor à pressão (LTDP) foi avaliado por meio do algômetro Wagner Force Dial FDK/FDN Series Push Pull Force Gaga, P.O.B 1217 Greenwich CT 06836 USA. Para esta avaliação, foi aplicada uma pressão a uma velocidade constante de 1kg/seg até o nível em que foi relatado o desconforto ou dor da voluntária. Durante a avaliação, a voluntária foi orientada a dizer “páre” tão logo a sensação de pressão passasse de desagradável para dolorosa. A quantidade final de pressão aplicada foi registrada. A leitura foi expressa em kg/cm². Os pontos avaliados foram: vasto medial direito/esquerdo, vasto lateral direito/esquerdo, tendão patelar direito/esquerdo, eretores da coluna vertebral na região lombar ao nível do segmento vertebral L4-L5, sendo este identificado à altura da crista ilíaca e paravertebrais direito/esquerdo torácicos. Estes pontos já foram avaliados em estudos prévios de Imamura et al. (2008) e Alfieri, e Bernardo (2017). Também foi avaliada a fáscia plantar conforme já realizada e descrita por Fernández et al. (2016) na região calcânea em sua origem, um ponto no meio da fáscia plantar e o primeiro e quinto metatarsos.

 

Análise estatística 

 

    A análise dos dados foi feita em pacote estatístico SigmaStat. Os dados estão apresentados em média ± desvio-padrão. Para comparação dos dados entre os grupos foi usado o teste t para dados não pareados ou Mann-Whitney de acordo com a normalidade ou não dos dados que foi verificada por meio do teste de Kolgomorov-Smirnov. Em todos os casos, o nível descritivo α estabelecido foi de 5%.

 

Resultados 

 

    Participaram do estudo, 30 mulheres divididas em dois grupos: grupo das mulheres que praticam o ballet clássico e o grupo denominado sedentário. As características dos grupos foram semelhantes e estão dispostas na Tabela 1.

 

Tabela 1. Características gerais dos grupos

N

Grupo Ballet

Grupo Sedentário

P

15

15

Idade (anos)

29,7±7,1

27±6,5

0,28*

Peso (kg)

61,9±7,8

63,9±14,6

0,79*

IMC (Kg/m²)

162,9±5,2

161,37±5,6

0,45*

Estatura (cm)

23,3±2,4

24,52±5,5

0,96**

Nota: IMC: índice de massa corporal; kg: quilogramas; cm: centímetro,

Kg/m²: quilograma por metro quadrado, *teste t, ** teste de Mann-Whitney. 

Fonte: Dados de pesquisa

 

    A Tabela 2 mostra os resultados da algometria, que são relacionados com o limiar de tolerância de dor à pressão. Ao comparar os resultados das avaliações da algometria entre os grupos, observa-se que o grupo das mulheres que praticam o Ballet clássico apresenta em todos os pontos analisados, maiores valores deste limiar em relação ao grupo sedentário, contudo, apenas os limiares de tolerância de dor á pressão dos paravertebrais direito e esquerdo, e o vasto medial esquerdo apresentaram diferenças estatisticamente significantes, conforme pode ser observado na Tabela 2.

 

Tabela 2. Comparação dos pontos de algometria entre os grupos

 

Grupo Ballet

Grupo Sedentário

P

Parav. Torácico D (kg/cm²)

8,9±1,8

4,6±1,9

<0,001**

Parav. Torácico E (kg/cm²)

8,5±1,5

4,4±1,6

<0,001*

Vasto M. D (kg/cm²)

7,8±1,5

6,7±1,8

0,07*

Vasto M. E (kg/cm²)

9,1±1,7

7,6±1,3

0,01*

Vasto L. D (kg/cm²)

8,9±1,1

8,3±2,2

0,56**

Vasto L. E (kg/cm²)

8,4±1,8

7,9±1,8

0,40**

Tendão P. D (kg/cm²)

12±2,2

10,2±2,8

0,06*

Tendão P. E (kg/cm²)

12,5±1,8

11,2±2,4

0,09*

Lig. L4-L5 (kg/cm²)

10,3±2,1

8,8±2,3

0,07*

Fáscia P. O. D (kg/cm²)

14,1±1,8

12,9±3

0,17*

Fáscia P. O. E (kg/cm²)

13,9±1,5

13,1±2,5

0,26**

Fáscia P. M. D (kg/cm²)

10,9±2,1

10,1±3,1

0,36*

Fáscia P. M. E (kg/cm²)

10,9±1,8

10,8±2,6

0,89*

1° Met. D (kg/cm²)

10,3±2,2

9,9±2,3

0,69**

1° Met. E (kg/cm²)

10,9±2,4

9,6±2,5

0,15

5° Met. D (kg/cm²)

10,4±2,2

9,5±1,6

0,17*

5° Met. E (kg/cm²)

11±1,7

10,7±2,4

0,65*

Nota: Parav.: paravertebrais, D- direito, E- esquerdo, kg- quilograma, cm- centímetros, M. Medial, L. Lateral, 

P. Patelar, Lig. Ligamento, P. Plantar, O. Origem, M. Meio, Met. Metatarso * teste t, ** teste de Mann-Whitney. 

Fonte: Dados de pesquisa

 

Discussão 

 

    O presente estudo teve como principal objetivo comparar o limiar de tolerância de dor à pressão em mulheres praticantes de ballet clássico versus mulheres sedentárias.

 

    Os dados mostraram que embora os dados demográficos sejam semelhantes, o grupo das mulheres praticantes de ballet clássico apresentou maior limiar de tolerância de dor à pressão em relação ao grupo das mulheres consideradas sedentárias, contudo, apenas os paravertebrais direito e esquerdo, e o vasto medial esquerdo apresentaram diferenças estatisticamente significantes.

 

    Batista, e Martins (2010) avaliaram a prevalência de dor em bailarinas clássicas, utilizando como método a aplicação de um formulário de maneira individual e privativa, no qual incluía a caracterização da amostra, aspectos clínicos e laborais das bailarinas. A escala visual analógica (EVA) de dor também foi implementada, juntamente com a representação de uma figura anatômica com determinadas regiões corporais, sendo os joelhos, a região lombar, tornozelo, ombro, perna, região torácica, virilha, coxa, punho, cervical e pé para que fosse identificada ali as áreas que são mais atingidas por quadros dolorosos decorrente da prática do ballet clássico.

 

    O presente estudo também se propôs a avaliar o aspecto da dor em mulheres praticantes de ballet clássico, assim como no estudo realizado por Batista, e Martins (2010), porém no presente estudo foi utilizada a algometria como método de avaliação do limiar de tolerância de dor à pressão em bailarinas clássicas, sendo um instrumento de medida direta e específica dos pontos avaliados apresentando resultados e informações específicas relacionadas a pressão de dor suportada pelas mulheres avaliadas, o que difere de outros estudos realizados como o realizado por Batista, e Martins (2010) que obtiveram resultados somente através de questionários, escalas, prontuários médicos, entrevistas e radiografias.

 

    Um estudo realizado por Couto, e Pedroni (2013) que utilizou o método da algometria para a avaliação da percepção dolorosa em bailarinas clássicas, utilizou uma relação de mais de um instrumento para avaliar a dor. Além do Questionário de Dor McGill foi incluída a algometria dos músculos cervicais, trapézio, paravertebral seguimento lombar, quadríceps, tibial anterior e tríceps sural. No presente estudo, outros pontos foram avaliados como o vasto medial, vasto lateral, tendão patelar, eretores da coluna vertebral na região lombar ao nível do segmento vertebral L4-L5, paravertebrais, origem da fáscia plantar, meio da fáscia plantar, primeiro metatarso e quinto metatarso, pois acredita-se que em consequência da prática do ballet clássico esses pontos passam a ser os principais a sofrerem maiores sobrecargas.

 

    Neste estudo, os músculos paravertebrais direito e esquerdo mostraram maior limiar de tolerância de dor em mulheres praticantes do ballet clássico. Talvez isto tenha acontecido, pois a prática exige um bom alinhamento e equilíbrio das ações musculares responsáveis pela manutenção da postura ereta, estática e dinâmica, que constantemente é exigida nos treinos e práticas tornando a organização das contrações musculares e o nível de força muscular da coluna vertebral muito importante para bailarina, e, portanto, uma região que suporta mais pressão (Costa et al., 2017). O vasto medial esquerdo também se destaca por seu maior limiar de tolerância de dor à pressão em relação as mulheres sedentárias, o que que provavelmente pode ter ocorrido devido a potência muscular aplicada principalmente nos membros inferiores na realização dos exercícios comuns e recorrentes na prática do ballet clássico. (Nascimento, 2011)

 

    Neste estudo, é possível encontrar pontos fortes da pesquisa, que incluem valores semelhantes entre os grupos em relação as características gerais (idade, peso, estatura e IMC), o que gera o provável entendimento de que os resultados da algometria aconteceram devido à prática do ballet, contudo devido à natureza do estudo, não se pode estabelecer a relação de causa-efeito.

 

    Devido à escassez de pesquisas realizadas com bailarinas clássicas, sugere-se a realização de novos estudos que abordem um número maior de mulheres a serem avaliadas, utilizando como instrumento de coleta escalas de dor, um questionário específico para mulheres bailarinas, abordando os locais mais frequentes de dor incluindo frequência e duração, além da algometria já utilizada no estudo.

 

Conclusões 

 

    O número reduzido de participantes e o não cegamento do avaliador em relação aos grupos, atuam como fatores limitantes da pesquisa o que pode ter interferido parcialmente nos resultados referentes a algometria. Contudo, de acordo com as avaliações e os resultados obtidos entre os grupos, pode-se notar que houve uma diferença significante do limiar de tolerância de dor à pressão dos músculos paravertebral esquerdo/direito e do vasto medial esquerdo no grupo das mulheres praticantes de ballet clássico, apresentando um maior limiar de dor em relação ao grupo sedentário. Ou seja, este estudo mostra ainda que de maneira inicial, que a provavelmente a prática de ballet clássico interfere na questão da percepção do limiar de dor, mostrando que a prática possa elevar este limiar avaliado de forma objetiva. Contudo, traz a reflexão de que a prática desta modalidade deve ser mais estudada em relação ao limiar de dor associado com técnicas que verifiquem os comprometimento físico por meio de imagens e também por meio de relato dos praticantes da modalidade.

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 322, Mar. (2025)