Formação de professores de educação física
e educação infantil: uma análise a partir do PIBID
Formation of teachers in physical education and child education: an analysis from PIBID
Formación de profesores de educación física y educación inicial: un análisis a partir del PIBID
Vamberto Ferreira Miranda Filho*
elgeboh@yahoo.com.br
Vanessa Anunciação Silva**
vanessasilva.hans@hotmail.com
*Mestre em Educação (UFBA)
Professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
**Licenciada em Educação Física
Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
(Brasil)
Recepção: 22/08/2018 - Aceitação: 21/02/2019
1ª Revisão: 11/02/2019 - 2ª Revisão: 15/02/2019
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Resumo
O presente trabalho teve como objetivo investigar as contribuições que o Subprojeto do PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) tem proporcionado para a formação das licenciandas em educação física do DCH IV, da UNEB, que atuam como bolsistas de Iniciação à Docência, no segmento da educação infantil. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de campo de abordagem qualitativa, do tipo exploratória e descritiva, na qual o grupo de estudo foi composto por 05 bolsistas do Programa. Assim, os resultados da pesquisa evidenciam que o Subprojeto tem cumprido um papel imprescindível na formação inicial das licenciandas, visando à intervenção no âmbito da educação infantil, em virtude das lacunas existentes no currículo para a formação inicial.
Unitermos: Formação profissional. Educação Física. Educação Infantil. PIBID.
Abstract
The present work had the objective of investigating the contributions that the Subproject of PIBID (Institutional Scholarship Initiative Program) has provided for the formation of the students in physical education of the DCH IV, of the UNEB, that act like Early Childhood Scholarship, in the segment of the childhood education. For this purpose, a field research was carried out with a qualitative approach, of the exploratory and descriptive type, in which the study group consisted of 05 fellows of the Program. Thus, the research results show that the Subproject has fulfilled an essential role in the initial formation of the students, aiming at intervention in the field of early childhood education, due to the existing gaps in the curriculum for initial formation.
Keywords: Professional training. Physical Education. Early Childhood Education. PIBID.
Resumen
El presente trabajo tuvo como objetivo investigar las contribuciones que el Subproyecto del PIBID (Programa Institucional de Becas de Iniciación a la Docencia) ha aportado para la formación de las licenciandas en Educación Física del DCH IV, de la UNEB, que intervienen como becarios de Iniciación a la Docencia, en el segmento de la Educación Inicial. Para ello, se realizó una investigación de campo de abordaje cualitativo, del tipo exploratoria y descriptiva, en la cual el grupo de estudio fue compuesto por 05 becarios del Programa. Así, los resultados de la investigación evidencian que el Subproyecto ha cumplido un papel imprescindible en la formación inicial de las licenciandas, buscando la intervención en el ámbito de la Educación Inicial, en virtud de las lagunas existentes en el currículo para la formación inicial.
Palabras clave: Formación profesional. Educación Física. Educación Inicial. PIBID.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 23, Núm. 250, Mar. (2019)
Introdução
A realidade educacional da cidade de Jacobina-BA não é muito diferente do Brasil como um todo. Muitas escolas da rede municipal e estadual vivem um processo de sucateamento da sua estrutura física, professores sem formação exigida pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), baixos salários, índices de aprendizagem dos estudantes ainda muito abaixo dos projetados pelo governo, escolas sem espaços adequados e seguros para a prática da educação física (Souza; Miranda Filho, 2013). Nesse cenário, desenvolveu-se o Subprojeto PIBID / CAPES “Escola como Espaço da Cultura Corporal na Cidade de Jacobina-BA”, que teve início em março de 2014, contemplando 04 escolas públicas desta cidade, da educação infantil, passando pelo ensino fundamental I e II, até o ensino médio. Para tanto, foram selecionadas 04 bolsistas de Supervisão e 22 bolsistas de Iniciação à Docência (I.D.), dos quais 06 foram encaminhadas para uma creche municipal da referida cidade.
Em que pese a LDB dispor sobre a obrigatoriedade das aulas de educação física na educação básica e o tema “Movimento” compor o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, sua prática nesta etapa ainda tem sido negligenciada. Dessa maneira, faz-se necessário aprofundar as discussões sobre a Educação Física nesse segmento da educação básica, pois as pesquisas sobre essa temática ainda deixam a desejar, uma vez que o número é consideravelmente pequeno e os enfoques são de perspectivas não-críticas (Costa, 2007). Diante disso, este trabalho de pesquisa justifica-se pela necessidade de discutir a formação de professores/as em Educação Física para atuarem na educação infantil. Assim, esta pesquisa teve como objetivo investigar as contribuições do Subprojeto do PIBID “Escola como Espaço da Cultura Corporal na Cidade de Jacobina-BA” para a formação de licenciandas em educação física do Departamento de Ciências Humanas (DCH) campus IV, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), que atuam como bolsistas I.D. no segmento da educação infantil.
Métodos
Por meio de uma “abordagem qualitativa”, realizou-se uma “pesquisa de campo”. Assim, foi composto um “grupo de estudo” com 05 Bolsistas de I.D. do Subprojeto, que atuam no segmento da educação infantil de uma creche municipal da cidade de Jacobina-BA. A técnica de pesquisa utilizada foi a entrevista semiestruturada (Moroz; Gianfladoni, 2006).
A entrevista foi elaborada a partir de um roteiro, delimitado em três tópicos: formação, educação Infantil e PIBID, os quais deram origem a dois subtópicos cada, apresentando-se em forma de perguntas, de acordo com os objetivos do trabalho. Os áudios foram gravados através de um aparelho celular da marca Samsung, em uma sala do DCH IV/UNEB, com as presenças somente da entrevistadora e de uma entrevistada por vez, em dia e horário acordados previamente, tendo duração entre 20 (vinte) a 30 (trinta) minutos para cada entrevista. As informações foram analisadas e interpretadas a luz de outros estudos relacionados à temática em questão, tais como: Ayoub (2005), Costa (2007), Cavalaro (2009), Welter et al. (2012; 2014), dentre outros.
Resultados e discussão
Participaram da pesquisa 05 bolsistas de Iniciação à Docência do Subprojeto PIBID Educação Física da UNEB/DCH IV, que atuam no segmento da educação infantil, todas do sexo feminino, com idades entre 21 e 27 anos, cursando do 5º ao 8º semestre e estão no programa há 1 ano e 5 meses, com exceção de uma bolsista que participou durante 6 meses do Subprojeto edital 2012. As falas estão divididas nos tópicos e subtópicos apresentados a seguir:
A formação inicial
Sobre a formação inicial questionou-se: você considera que há uma articulação entre os componentes curriculares do curso de Educação Física da UNEB DCH IV e a realidade da educação infantil? Justifique. Assim, as entrevistadas foram unânimes em afirmar que até o momento não haviam tido contato com nenhum componente curricular que estivesse diretamente ligado a Educação Infantil. Ressaltam que algumas disciplinas trazem elementos que, se adaptados, podem ser levados às crianças de 0 a 5 anos. Porém, esse trabalho precisa partir do interesse dos(as) graduandos(as), pois o curso não oferece as especificidades em relação ao trato com a criança.
Não! Porque é... até então o curso não disponibilizou nenhuma disciplina... que nos coloque é... em vivência com o infantil, e pelo que vejo, né, da grade curricular também não disponibiliza nenhuma disciplina que vai nos colocar em vivência [...] (Bolsista ID 1).
Eu acho que não, porque assim, eu acho que a universidade não prepara a gente pra tá atuando no segmento da Educação Infantil, até porque as disciplinas mesmo não são votadas muito pra área infantil. Tem pouquíssimas né... Psicologia tem um pouquinho a questão da... das fases do desenvolvimento, só que ela não prepara pra atuar nesse segmento (Bolsista ID 3).
Não! Porque não tem nenhuma disciplina que... Nenhum componente né, no currículo que ensine ou que faça observação, ou alguma coisa sobre a Educação Infantil [...] (Bolsista ID 5).
Ao analisar o Projeto Pedagógico do curso, foi possível notar que nos componentes Fundamentos Psicológicos da Educação Física tem como objetivo norteador estudar o processo de desenvolvimento humano, sob a ótica biológica, cognitiva, social e emocional e suas relações com a Educação Física (UNEB, 2006). Já no componente Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Jogo, um dos objetivos da ementa é estudar “concepções teóricas sobre o jogo e suas relações com o desenvolvimento da criança” (UNEB, 2006). No entanto, fica evidente que nos depoimentos das entrevistadas, essas questões são apresentadas somente na perspectiva teórica e de maneira superficial. Esses fatores expõem mais claramente as contraposições e contradições que emergem do currículo, uma vez que, o mesmo, busca garantir os elementos que compõem determinados cursos, pautando suas construções nas ações humanas já existentes e que versam sobre os aspectos sociais de homens e mulheres. Por outro lado, o currículo se caracteriza como ferramenta de reprodução e controle, que na sociedade atual pode ser compreendida por capitalismo (Costa, 2007). Portanto, é compreensível que, mesmo possuindo uma instituição municipal de educação infantil nas imediações do DCH IV, não se garante que as demandas dessa realidade adentrem a Universidade e, assim, o currículo deixa de contemplar questões que estão bem próximas dos seus muros, expressando uma contradição objetiva.
A segunda pergunta sobre formação foi: você considera que o Curso de educação física da UNEB DCH IV, oportuniza experiências de cunho prático no segmento da educação infantil? De que maneira isso reflete na sua formação? Nesse sentido, ao tratar das experiências, as entrevistadas foram unânimes também em afirmar que não, e que conhecem somente os estágios no ensino fundamental II e ensino médio, e que as primeiras aproximações no campo da Educação Infantil estão ocorrendo por meio do Subprojeto PIBID. Além disso, reforçam a necessidade de haver esse trabalho no segmento, pois sentem que há uma carência no currículo, o que resulta na fragmentação da formação.
É mais ao ensino médio e o fundamental, então, não tem como a gente ir a campo no infantil, só no caso, o PIBID que agora tá nos dando essa oportunidade, mas que mesmo assim, a gente ainda tem um pouco de dificuldade por não ter experiência. [...] a faculdade não nos proporcionou essa experiência. Então, fica meio que restrito [...] (Bolsista ID 1).
O curso, não! Porque, até onde eu sei, os estágios, eles não são é... levados a Educação Infantil. Mas, foi uma particularidade do PIBID [...], mas assim, o currículo do curso em si, não, ele não dá o espaço para a Educação Infantil. [...] acho que é muito importante que nós professores, em especial de Educação Física, tenhamos esse contato com a Educação Infantil e séries iniciais (Bolsista ID 2).
Eu acho que não né, é... o curso aqui não oportuniza essas experiências na Educação Infantil, isso reflete muito na nossa formação. A gente fica com [...] uma carência na formação, uma necessidade, porque é importante também estar atuando nesse segmento (Bolsista ID 4).
Ao analisar o Projeto do curso, percebe-se que especificamente as disciplinas de estágio formal, o componente de observação, A Escola Como Espaço Reflexivo para Experiências Pedagógicas em Educação Física I (Estágio I) e II (Estágio III), possuem como ementa “analisar e discutir a partir da observação do espaço escolar as ações desenvolvidas, visando a elaboração e aplicação de uma proposta pedagógica [...]” (UNEB, 2006). Já os componentes de intervenção Desenvolvimento de Ações Pedagógicas na Educação Física Escolar I (Estágio V) e II (Estágio VII), possuem como objetivo principal, desenvolver “proposta pedagógica relacionada com a Educação Física no espaço da educação básica” (UNEB, 2006). Tendo em vista que a ementa não cita se deve ou não ocorrer em um segmento específico da educação, compreende-se que não há razões para não incluir a Educação Infantil como um campo de experiência.
Essas questões foram atribuídas por Neira (2012) como um problema a ser revisto nos cursos de Educação Física. O autor afirma que não há aproximação entre a formação inicial e as escolas, e que existe um distanciamento entre os conteúdos que deveriam embasar o contexto da Educação Básica, e o que realmente é passado para os alunos. Esse comportamento acaba por tornar os momentos de estágio uma mera burocracia a ser seguida, sem haver interesses reais dos graduandos por esse campo. Além disso, esses momentos de vivências práticas podem ocorrer em outros componentes que não os estágios, pois, o currículo contempla 400h para atender a essa demanda, e fica a critério do projeto do curso dividi-las de acordo com as necessidades da disciplina, em “oficinas, laboratórios, entre outros tipos de organização que permitam aos(às) graduandos(as) vivenciarem o nexo entre as dimensões conceituais e a aplicabilidade do conhecimento” (Afonso; Nocchi; Ost, 2012, p. 309).
A Educação Infantil
Este segundo bloco de questões se faz importante, pois permitirá compreender de que forma se deu a aproximação das bolsistas de I.D. com a educação infantil. Assim, questionou-se: qual a sua aproximação com a Educação Infantil? Em que momento ocorreu os primeiros contatos com a mesma? Como se deu? Ao falar das primeiras aproximações com a Educação Infantil, todas as entrevistadas afirmaram que as primeiras aproximações com o segmento se deram a partir do PIBID, com as observações das aulas e posteriormente, as intervenções como bolsistas de Iniciação à Docência. O que segundo as falas a seguir, tem sido algo inovador e maravilhoso.
A minha experiência com o infantil se deu a partir do PIBID, eu não tinha experiência nenhuma, nem em relação a dar aula, de qualquer outra forma pra o infantil e nem de Educação Física [...] (Bolsista ID 1).
[...] foi justamente devido ao PIBID, que eu acabei indo pra lá, eu não tinha nenhum contato anterior com a Educação Infantil, e foi uma coisa muito inovadora, porque está sendo uma experiência maravilhosa (Bolsista ID 2).
[...] primeiro eu observei as aulas de algumas professoras, né... como elas aplicavam o conteúdo [...] depois dessas observações eu fui intervir né... com a Educação Infantil, e assim... tendo que adaptar os conteúdos porque como eu tinha falado anteriormente, eu não tinha nada, nenhuma base pra intervir no ensino infantil, então, foi meio que correr atrás do prejuízo mesmo (Bolsista ID 4).
As falas acima reafirmam que não há possibilidade desse primeiro contato através do curso de graduação. Em relação a isso, Ayoub (2005) menciona que há diversas limitações nos estágios, decorrentes de características das universidades, e que isso pode ser utilizado como um meio de inovar as propostas da Educação Física, o que se considera possível e imprescindível de ser levado em conta na realidade do DCH IV. No entanto, percebemos um comportamento contrário, pois a prática pedagógica no curso ainda se mantém restritas as ementas do currículo. Atualmente as discussões acadêmicas que tem como foco a didática na Educação Infantil, visam a “possibilitar às crianças a reflexão pedagógica sobre os conhecimentos da cultura corporal e alcançar a necessária integração do trabalho pedagógico, nesse nível educacional” (Costa, 2007, p. 21), rompendo assim com a reprodução de aulas tecnicistas que não possuem significado crítico e social para os alunos. Para tanto, as lacunas que são deixadas na formação inicial precisam ser superadas de alguma maneira. Esses conhecimentos da cultura corporal estão distribuídos nos conteúdos dança, lutas, esportes, ginástica e jogos. Esses conteúdos configuram elementos representados e expressados corporalmente pelos seres humanos em suas relações e em relação com a natureza, e vem sendo transformados culturalmente ao longo da história. Portanto, esses conhecimentos devem assumir na escola um processo diferenciado de outras tendências da Educação Física, no intuito de desenvolver reflexão sobre a cooperação, solidariedade, expressão de movimentos, liberdade e emancipação (Coletivo de Autores, 2009).
Em contrapartida, Pires (2012), aponta que os cursos de formação não apresentam disciplinas que formem realmente o professor para atuar na Educação Infantil, de modo que é perceptível a necessidade da presença das mesmas nesse seguimento. Nessa perspectiva, Sá (2010), já reforçava a necessidade de discussões, oficinas e disciplinas que forneçam subsídios para que o professor tenha competência para lidar com o ensino infantil. E ainda, os currículos não têm contribuído efetivamente, tanto nos aspectos teóricos, quanto práticos, com a formação de professores que desejam trabalhar com esse público (Cavalaro; Muller, 2009; Welter; Welter; Sawitzki, 2012).
Ainda em relação à educação infantil, questionou-se: quais desafios você tem encontrado durante as suas experiências pedagógicas com o público infantil? Nesse sentido, as entrevistadas citaram pontos concretos como a falta de espaço adequado; o fato de trabalhar com um segmento, no qual não tiveram contato anteriormente, o que acaba por dificultar o desenvolvimento das atividades; o desafio de relacionar a teoria com os momentos da prática; a necessidade de adaptar os conteúdos vistos nas disciplinas do curso para as várias idades. As bolsistas citaram ainda que em alguns momentos não conseguem atrair a atenção das crianças para a atividade.
O primeiro desafio [...] que a gente tem lá na creche é em relação ao espaço [...] E... depois é... em relação a experiência que a gente não tem, então, pra trabalhar [...] tem um pouco de dificuldade na hora de realizar as atividades com eles [...] (Bolsista ID 1).
Bom, o maior desafio mesmo é conseguir a atenção das crianças pra elas conseguirem, é, captar um pouco do nosso... da nossa mensagem a partir das atividades que a gente faz [...]. O que eu vejo aqui na universidade me deu uma base pra chegar lá não sendo totalmente leiga né [...] (Bolsista ID 2).
[...] adaptar a brincadeira, a atividade da aula pra as séries, e principalmente porque como a gente intervia em todas as séries, todos os estágios, então a gente tinha, em uns estágios conseguia aplicar de um jeito [...]. A gente tem um norte pra se guiar, ‘a gente vai por ali’, mas no ensino infantil a gente não tinha esse norte, a gente não tinha essa ideia de que: ‘gente, no ensino infantil é totalmente diferente, você tem que adequar a brincadeira, porque a gente tem que ver limite de movimento, lateralidade que as crianças, muitas ainda não tem, a questão de... de... de equilíbrio. Tudo isso a gente tem que saber, tem que chegar ali sabendo, e a gente não foi com isso lá pronto (Bolsista ID 4).
Esses desafios nascem justamente da falta de conhecimentos práticos em relação ao lidar com a criança nessa faixa etária. Nesse sentido, Ayoub (2005) esclarece que ainda há “muito o que refletir a respeito do espaço da educação física na educação infantil” (p. 53). O que requer repensar a organização do modelo curricular das creches e pré-escolas, pois, concordando com Kramer et al. (2003 apud Costa, 2007, p. 110) “a escola de Educação Infantil é um espaço de trabalho coletivo entre educadores e educandos para promover o desenvolvimento da cidadania criativa e crítica, a ampliação dos conhecimentos e um desenvolvimento autônomo”. Essa interação fortalecerá o aprendizado e contribuirá para a formação indenitária dos sujeitos, por isso se faz necessário que as aulas de Educação Física não sejam confundidas com outros momentos das crianças, o que pode levar ao não alcance dos objetivos planejados.
No entanto, é necessário refletir também sobre as matrizes curriculares dos cursos superiores de Educação Física. Pois, como afirmam Welter, Welter e Sawitzki (2012), nos anos iniciais a realidade da Educação Física é algo que ainda necessita ser repensado, pois há o predomínio de separação de gênero nas atividades; déficit na organização das aulas, predominando o “brincar pelo brincar”; insegurança em relação aos conteúdos da disciplina e a utilização da Educação Física como uma forma de punição ou regalia de acordo com o comportamento das crianças nas aulas. Esses problemas estão presentes também na Educação Infantil, como explicita Sá (2010) quando afirma que a falta de subsídios sobre as nuances da criança pode acarretar em comportamentos que ao invés contribuir, pode prejudicar o desenvolvimento dos alunos. Costa (2007) corrobora com esse pensamento quando afirma que a Educação Física enquanto componente da Educação Básica e que trata dos conteúdos cultura corporal, com objetivo de contribuir para a formação das crianças, tenta conseguir seu espaço, sua valorização e legitimação no segmento da Educação Infantil. Levando em consideração que a criança relaciona os símbolos, inicialmente de acordo que o ela percebe no seu meio, para posteriormente inserir seus significados nesses símbolos, e que o fenômeno do pensamento se faz nas relações intrínsecas também no âmbito escolar, o que permite a transformação desses significados no processo de aquisição da linguagem e durante toda a vida (Oliveira, 1997), as aulas de Educação Física marcam um momento importante nesse processo, uma vez que as crianças da creche estão nessa fase de aquisição do pensamento e linguagem.
O PIBID
Esse item tratou especificamente do PIBID enquanto ferramenta de contribuição para a formação de professores(as) em Educação Física. Ao serem questionadas sobre quais as contribuições que o Subprojeto PIBID tem proporcionado para a sua atuação na educação infantil, as entrevistadas foram unânimes em responder positivamente sobre as influências que o trabalho com o Subprojeto tem ocasionado em suas vidas, acadêmica e pessoal. Citaram como pontos importantes: a oportunidade de trabalhar com a Educação Infantil, que é algo inovador no curso de Educação Física da UNEB DCH IV; a aproximação com teorias que discutem características da infância e do trato com a mesma; a condição de aliar teoria e prática, para possíveis trabalhos futuros com a Educação Infantil.
O PIBID, ele tem me proporcionado, é como eu falei, a questão da... é... da parte teórica. Como a gente não tem aqui na faculdade nenhuma disciplina relacionada a... ao infantil, então, quando entra a parte do PIBID, ele nos proporciona é... o contato com a teoria, em reuniões, é... nos ACs que geralmente a gente faz (Bolsista ID 1).
[...] eu acho que quando agente sair daqui, agente vai ter mais preparo. [...] porque a universidade mesmo não prepara. Então, o PIBID é o único meio que tem permitido isso, esse contato com a Educação Infantil, porque outra disciplina nenhuma permite (Bolsista ID 3).
O PIBID foi... foi... um complemento daqui, pra mim, porque aqui eu vi até um determinado ponto, nas escolas e no PIBID eu consegui ver o outro ponto, que aqui não abrangia, que é o ensino infantil. É... foi... assim... muito enriquecedor pra mim, porque eu não conhecia, nem imaginava como seria a vida na creche, por exemplo, nem imaginava que eu, professora de Educação Física, poderia intervir numa creche (Bolsista ID 4).
Dessa maneira, o Programa PIBID tem contribuído em vários sentidos para a formação inicial de estudantes de licenciatura, pois, oportuniza essa experiência com o futuro campo de atuação desde os primeiros passos da graduação. Assim, Welter; Welter e Sawitski (2012) apontam que esse trabalho do PIBID aproxima os bolsistas de momentos que não são vivenciados durante a graduação, pois os estágios contemplam carga horária e turmas reduzidas, gerando uma lacuna no aprender a ser professor. Além disso, um estudo sobre os impactos e dificuldades do PIBID interdisciplinar Pedagogia e Educação Física apontou que “o subprojeto possibilitou reflexões entre as duas áreas a partir de momentos de estudo, capacitação, planejamento, intervenção, avaliação e divulgação junto ao meio acadêmico e comunidade escolar” (Welter; Welter; Nora, 2014).
Por último foi questionado: de que maneira se dá a inter-relação entre coordenadores, supervisores, bolsistas ID e alunos, por meio do Subprojeto PIBID? Neste quesito, todas as entrevistadas apontaram que existe uma boa relação entre bolsistas I.D., supervisora, coordenadores e alunos. Algumas bolsistas citaram que a troca de experiência com outras bolsistas, que estão em semestres mais avançados, tem contribuído para os trabalhos na creche e para a formação como todo e que o trabalho com a supervisora foi importante para a aquisição de subsídios que as auxiliam no trabalho e convívio com as crianças.
[...] troca de experiência, ela soma na vida da gente, porque a gente aprende com isso e é um processo, então, eu creio que venha a me fazer uma profissional muito melhor, principalmente pelo fato de que eu trabalho com pessoas que são mais experientes do que eu, tanto a supervisora quanto bolsistas que estão em semestres mais avançados e é sempre um aprendizado contínuo (Bolsista ID 1).
[...] Assim, eu não tinha experiência nenhuma no ensino infantil, ali pra intervir, e... ela [a supervisora]... conseguiu me instigar, alguns pontos assim, que ela tentava fazer muita coisa, eu sou muito, eu gosto muito dessas coisas de arrumar, de enfeitar, e ela também, ela é bem assim também desse jeito, e... experiências de como fazer, de que séries pode fazer o quê... sabe? Fui aprendendo isso com ela também, o quê que eu posso fazer em tal série, o quê que já posso conseguir dos alunos é... de retorno dos alunos, sabe (Bolsista ID 2)?
As melhores maneiras possíveis. É... mantemos uma relação muito boa, tanto com supervisor, quanto com os bolsistas, [...] todas participam, ou que fazem os projetos juntas pra participar, então, no caso, é... só contribui no projeto mesmo isso tudo (Bolsista ID 3).
A preocupação com a formação de professores(as) fez com que estratégias fossem pensadas para subsidiar esse processo. Para tanto, programas de auxílio foram criados, dentre eles, o PIBID. Assim, a troca de experiência entre os pares por meio do programa só tem a contribuir com a formação inicial dos bolsistas de I.D., como explicitado nas falas das entrevistadas em estudos e relatos de experiência acerca do PIBID. Nessa perspectiva, Naito (2006) enfatiza que as tarefas dos professores devem superar os muros das instituições de ensino e abraçar a comunidade e as famílias dos alunos, no intuído de juntar forças para que haja a melhoria no ensino. Para isto, é necessário que esses professores tenham uma formação de caráter crítico, pois assim é possível enxergar o ser humano em sua totalidade. Já Welter, Welter e Nora (2014, p. 05) mostram que o subprojeto PIBID proporciona “experiências no âmbito escolar que possibilitam o conhecimento da realidade, a superação das dificuldades, num momento no qual se têm o apoio de professores, qualificando este processo”.
Conclusões
Este trabalho teve como objetivo investigar as contribuições que o Subprojeto do PIBID Educação Física tem proporcionado para a formação de licenciandas da UNEB / DCH IV, que atuam como bolsistas I.D. no segmento da educação infantil. Assim, após a realização de entrevistas semiestruturadas, destaca-se das falas: o aprimoramento da práxis pedagógica, o estudo de teorias que discutem questões do desenvolvimento infantil, a troca de experiência entre bolsistas, supervisora, e coordenadores do Subprojeto Educação Física, a interdisciplinaridade entre educação física e outros conhecimentos, o contato com a realidade da creche e o trato com os alunos dos estágios de 2 a 5 anos.
Nesse sentido, indica-se como necessidades decorrentes desta investigação: incluir nos processos de reformulação curricular, do referido curso disciplinas que discutam as nuances da educação infantil; contemplar nos estágios a vivência com esse segmento da educação básica; conhecer outros espaços, sejam eles públicos e/ou privados que atendem crianças de até 05 anos na cidade; e, incentivar o desenvolvimento de programas como o PIBID, que vem contribuindo de fato para o preenchimento de algumas lacunas do currículo do curso.
Contudo, salienta-se que se tratou de uma pesquisa exploratória e descritiva, com recorte delimitado a falas de 05 bolsistas de I.D. inseridas em um Subprojeto específico desenvolvido no interior do Estado da Bahia, demandando a ampliação do estudo para generalizações posteriores.
Referências
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 23, Núm. 250, Mar. (2019)