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ISSN 1514-3465

 

Percepções sobre idadismo de uma amostra de pessoas

idosas residentes em Brasília, Distrito Federal, Brasil

Perspectives on Ageism from a Sample of Older 

Adults Residing in Brazília, Federal District, Brazil

Percepciones sobre edadismo de una muestra de personas

mayores residentes en Brasilia, Distrito Federal, Brasil

 

Sabrina Fernandes Gonçalves*

sabrina_fernandes20@hotmail.com

Maria da Glória David Silva Costa**

mariacosta.unb.ufal@gmail.com

Sandra Regina Gomes+

sanrgomes@gmail.com

Marisete Peralta Safons++

mari7@unb.br

 

*Mestrado em Educação Física pela Universidade Federal de Goiás

Doutoranda em Educação Física pela Universidade de Brasília (UnB)

Pesquisadora associada ao Grupo de Estudos e Pesquisas

sobre Atividade Física para Idosos - GEPAFI/UnB

**Profissional de Educação Física

Mestranda do PPGEF da Universidade de Brasília

Especialista em fisiologia do exercício

Pesquisadora associada ao Grupo de Estudos e Pesquisas

sobre Atividade Física para Idosos - GEPAFI/UnB

+Formada em Fonoaudiologia (PUC-SP)

Titulada Especialista em Gerontologia

pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG)

Mestre em Gestão e Políticas Públicas na Fundação Getúlio Vargas (SP)

Doutoranda na UnB no Centro de Estudos Avançados Multidisciplinar

no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Sociedade

e Cooperação Internacional

++Mestrado em Ciências da Saúde Pela Universidade de Brasília

Doutorado em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília

Professora da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília

(Brasil)

 

Recepción: 30/09/2024 - Aceptación: 22/01/2025

1ª Revisión: 07/12/2024 - 2ª Revisión: 19/01/2025

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Cita sugerida: Gonçalves, S.F., Costa, M. da G.D.S., Gomes, S.R., e Safons, M.P. (2025). Percepções sobre idadismo de uma amostra de pessoas idosas residentes em Brasília, Distrito Federal, Brasil. Lecturas: Educación Física y Deportes, 29(322), 40-54. https://doi.org/10.46642/efd.v29i322.7911

 

Resumo

    O estudo investigou as percepções sobre o idadismo com o objetivo principal de identificar o conhecimento sobre o termo idadismo e as experiências de discriminação por idade de pessoas idosas participantes de um programa de exercícios físicos da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília, Distrito Federal. A pesquisa, de abordagem quantitativa, foi realizada por meio de um questionário online, obtendo 42 respostas válidas. Os resultados indicam que 78,57% dos participantes conheciam o termo "idadismo", enquanto 21,43% nunca tinha ouvido falar neste termo. Além disso, 62,5% relataram ter vivenciado preconceito em diferentes contextos, como trabalho, comércio, ambiente familiar e serviços de saúde. Esses achados reforçam a prevalência do idadismo e corroboram com pesquisas anteriores, que identificam essa discriminação em níveis individuais, interpessoais e institucionais. O estudo destaca a necessidade de políticas públicas e campanhas educativas para combater o idadismo e promover uma visão inclusiva e digna do envelhecimento. Embora o Brasil tenha leis que protegem as pessoas idosas, como o Estatuto da Pessoa Idosa e a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, a implementação dessas normas ainda é lenta, comprometendo a efetividade das ações. O estudo conclui que ações intergeracionais e campanhas de conscientização são fundamentais para garantir o respeito e a inclusão das pessoas idosas na sociedade.

    Unitermos: Idadismo. Pessoas idosas. Distrito Federal. Políticas públicas. Envelhecimento saudável.

 

Abstract

    The study investigated perceptions of ageism, with the primary aim of identifying knowledge about the term "ageism" and the experiences of age discrimination among older adults participating in a physical exercise program at the Faculty of Physical Education of the University of Brasília, Federal District. The research, with a quantitative approach, was conducted through an online questionnaire, yielding 42 valid responses. The results indicate that 78.57% of participants were familiar with the term "ageism," while 21.43% had never heard of it. Additionally, 62.5% reported experiencing prejudice in various contexts, such as work, commerce, family environments, and healthcare services. These findings reinforce the prevalence of ageism and align with previous research, which identifies this form of discrimination at individual, interpersonal, and institutional levels. The study highlights the need for public policies and educational campaigns to combat ageism and promote an inclusive and dignified perspective on aging. Although Brazil has laws protecting older adults, such as the Statute of the Elderly and the National Health Policy for Older Adults, the implementation of these regulations remains slow, compromising the effectiveness of these actions. The study concludes that intergenerational actions and awareness campaigns are essential to ensure respect and inclusion of older adults in society.

    Keywords: Ageism. Older adults. Federal District. Public policies. Healthy aging.

 

Resumen

    El estudio investigó las percepciones sobre el edadismo con el objetivo principal de identificar conocimientos sobre el término edadismo y las experiencias de edadismo entre personas mayores que participan en un programa de ejercicio físico en la Facultad de Educación Física de la Universidad de Brasilia, Distrito Federal. La investigación, con enfoque cuantitativo, se realizó mediante un cuestionario en línea, obteniendo 42 respuestas válidas. Los resultados indican que el 78,57% de los participantes conocía el término “edadismo”, mientras que el 21,43% nunca había oído hablar de este término. Además, el 62,5% refirió haber experimentado prejuicios en diferentes contextos, como el trabajo, el comercio, el entorno familiar y los servicios de salud. Estos hallazgos refuerzan la prevalencia de edadismo y corroboran investigaciones anteriores, que identifican esta discriminación a nivel individual, interpersonal e institucional. El estudio destaca la necesidad de políticas públicas y campañas educativas para combatir la discriminación por edad y promover una visión inclusiva y digna del envejecimiento. Si bien Brasil cuenta con leyes que protegen a las personas mayores, como el Estatuto de las Personas Mayores y la Política Nacional de Salud para las Personas Mayores, la implementación de esas normas aún es lenta, comprometiendo la efectividad de las acciones. El estudio concluye que las acciones intergeneracionales y las campañas de sensibilización son fundamentales para garantizar el respeto y la inclusión de las personas mayores en la sociedad.

    Palabras clave: Edadismo. Personas mayores. Distrito Federal. Políticas públicas. Envejecimiento saludable.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 322, Mar. (2025)


 

Introdução 

 

    O envelhecimento populacional é um fenômeno de alcance global, mas no Brasil ele ocorre de forma particularmente acelerada (Lima-Costa, 2019). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2018), a projeção para 2060 indica que as pessoas idosas representarão cerca de um quarto da população total do país. Em meio a esse acelerado crescimento, torna-se essencial adotar uma abordagem multidimensional desse processo, considerando fatores biológicos, ambientais e sociais, sendo fundamental para capturar a complexidade das diversas experiências associadas ao envelhecimento.

 

    Segundo Teixeira et al. (2018), o aumento da longevidade da população apresenta desafios sociais, entre eles a urgente necessidade de desconstruir estereótipos e preconceitos que, por muito tempo, foram “normalizados” e desta forma, imperceptíveis. Para isso, são exigidos esforços contínuos de educação e conscientização, partindo do Estado e da sociedade em geral, no intuito de promover uma visão inclusiva e respeitosa em relação ao processo de envelhecimento.

 

    Nesse contexto, a discriminação etária torna-se evidentemente um problema. O idadismo, é um grave problema social, que se manifesta através de estereótipos e preconceitos negativos sobre a idade, como a crença generalizada de que todas as pessoas idosas são doentes ou incapazes (Silva et al., 2022). De acordo com o Relatório Mundial sobre o Idadismo da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS, 2022), o termo Idadismo foi cunhado pelo gerontólogo americano Gerard Butler em 1969 e esse tipo de discriminação pode levar à exclusão social, à limitação de oportunidades e à piora na qualidade de vida de muitos idosos. As diferentes manifestações do idadismo reforçam atitudes excludentes, interferem na forma que a sociedade enxerga a pessoa idosa e consequentemente no tratamento dessas pessoas em diferentes esferas, como saúde, educação e trabalho, dificultando a integração plena dessa população na sociedade.

 

    O idadismo pode ser classificado de diferentes formas, dependendo de sua origem e alvo. Dórea (2021) afirma que quando internalizado pelo próprio indivíduo, é denominado idadismo individual. Por outro lado, quando praticado por outra pessoa, é classificado como idadismo interpessoal. Além dessas manifestações, o preconceito etário pode se expressar no âmbito institucional, onde normas e diretrizes restringem injustamente as oportunidades com base na idade, caracterizando o idadismo institucional. 

 

    Em revisão recente, Chang et al. (2020) mostraram efeitos prejudiciais do idadismo entre pessoas idosas em 11 domínios de saúde, entre eles, doenças físicas e mentais, diminuição da longevidade e qualidade de vida, evidenciando o impacto negativo dessa discriminação sobre essa população. Além disso, Chang et al. (2020) observaram uma maior prevalência de achados significativos em países menos desenvolvidos, e particularmente em pessoas com menor escolaridade. 

 

    Isso evidencia a necessidade de ampliar os estudos sobre o tema no Brasil, onde a dimensão continental pode exacerbar as diferenças socioeconômicas e a questão ainda é pouco explorada (Silva et al., 2022). Portanto, combater o idadismo é parte relevante na promoção de um envelhecimento saudável e participativo, que reconhece a pessoa idosa, como participante plena da sociedade, respeitando seus direitos, valorizando seu papel e promovendo a autonomia e participação social livre de preconceitos.

 

    Diante disso, o objetivo do estudo foi identificar o conhecimento sobre o termo idadismo e as experiências de discriminação por idade de pessoas idosas participantes de um programa de exercícios físicos da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília, Brasília-DF, Brasil. Esta pesquisa poderá ampliar o conhecimento acerca do tema “idadismo” visando diminuir o risco de violência e abuso contra as pessoas idosas.

 

Metodologia 

 

    A metodologia deste estudo baseou-se em um survey com abordagem quantitativa, realizado por meio de um questionário online disponibilizado na plataforma Google Forms, direcionado exclusivamente a pessoas idosas (≥ 60 anos). O questionário continha três perguntas, sendo a última uma questão aberta: a primeira abordava a idade do respondente, a segunda investigava o conhecimento sobre o termo "idadismo", e a última oferecia um espaço para que os participantes relatassem possíveis situações de preconceito de idade vivenciadas.

 

    Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), incluído no questionário, garantindo a confidencialidade e o anonimato das respostas. A amostragem foi realizada por conveniência, envolvendo participantes com idade ≥ 60 anos que integravam um programa de exercícios físicos da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília, em Brasília-DF, Brasil. O questionário foi enviado aos participantes por e-mail. Essa abordagem metodológica assegurou a coleta de dados relevantes para a compreensão das experiências e percepções sobre o idadismo no público-alvo.

 

    A coleta de dados ocorreu entre os dias 17 de novembro de 2022 e 10 de dezembro de 2022. Foram estabelecidos critérios de inclusão que exigiam que os participantes tivessem 60 anos ou mais além de residirem no Distrito Federal. As respostas que não atenderam a esses critérios ou que estavam incompletas foram excluídas da análise, assegurando a validade dos dados coletados.

 

    A opção por uma abordagem quantitativa e o uso de questionários padronizados proporcionaram dados que puderam ser analisados de forma sistemática, permitindo identificar o grau de conhecimento dos participantes sobre o preconceito de idade e documentar experiências relacionadas a essa forma de discriminação. 

 

Análise dos dados 

 

    A análise dos dados coletados neste estudo foi conduzida de maneira a extrair informações quantitativas sobre o conhecimento e as experiências de idadismo entre a população idosa do Distrito Federal. Inicialmente, as respostas obtidas foram filtradas para assegurar que apenas os participantes que cumpriam os critérios de inclusão fossem considerados na análise, resultando em 42 respostas válidas das 48 respostas recebidas.

 

    Com os dados finais, foi realizada uma análise estatística descritiva, visando identificar a distribuição das respostas em relação ao conhecimento do termo "idadismo" e às vivências de preconceito de idade. A porcentagem de participantes que afirmaram conhecer o termo foi calculada, bem como a proporção daqueles que relataram já ter sofrido ou presenciado situações de discriminação baseadas na idade. Essas análises permitiram a visualização de padrões e tendências entre os participantes.

 

    Além disso, os dados foram discutidos à luz de literatura existente sobre o tema, permitindo não apenas a descrição dos resultados, mas também a interpretação no contexto de estudos prévios sobre idadismo. Essa abordagem analítica proporcionou uma compreensão mais profunda dos impactos do preconceito de idade na vida das pessoas idosas desta amostra. 

 

Resultados 

 

    O estudo contou com a participação de 42 pessoas idosas (27 mulheres, 15 homens) do Distrito Federal, com média de idade de 64 anos. Após a aplicação de critérios de inclusão, 48 respostas foram recebidas, sendo 6 descartadas por não se adequarem aos requisitos da pesquisa. A figura 1 abaixo representa a resposta dos participantes de acordo com o conhecimento ou não sobre o termo Idadismo.

 

Figura 1. Gráfico resultante da questão “Você sabe o que é Idadismo?” Os participantes

podiam marcar mais de um item que se aproximasse de seus conceitos sobre o termo

Figura 1. Gráfico resultante da questão “Você sabe o que é Idadismo?” Os participantes podiam marcar mais de um item que se aproximasse de seus conceitos sobre o termo

Fonte: Autoria

 

    Considerando as opções “preconceito de idade”, “preconceito com pessoas idosas” e “ageísmo é o termo usado em inglês”, observa-se que a maioria dos participantes estavam familiarizados com o termo "idadismo" e conseguiram defini-lo corretamente. Alguns afirmaram em suas respostas abertas que o entendimento do Estatuto da Pessoa Idosa auxiliou na identificação do termo. Entretanto, houve também relatos de alguns participantes que não se identificaram como pertencentes a um grupo sujeito à discriminação. 

 

    Além disso, 30 (62,5%) das 42 respostas recebidas continham experiências de preconceito com base na idade em diferentes contextos, como no comércio, no ambiente de trabalho, no convívio familiar, na faculdade, em atendimentos hospitalares e no trânsito.

 

    Analisando as respostas individuais ao questionário também foi verificado que embora a maioria das pessoas idosas desta pesquisa tenha alguma compreensão sobre o idadismo, ainda há uma parcela (21,43%) que desconhece o termo ou não sabiam defini-lo.

 

Discussão 

 

    As respostas obtidas nesta pesquisa demonstraram que a maioria dos participantes passaram por experiências de idadismo (62,5%). Sousa et al. (2014) encontraram resultado semelhante a esta pesquisa ao aplicar o questionário Ageism Survey em uma amostra de 145 indivíduos onde 64% dos respondentes afirmaram ter vivenciado situações de idadismo. O preconceito foi manifestado em diversos contextos desde em situações de ridicularização por meio de piadas sobre velhice, atitudes paternalistas, atribuição de condições de saúde (dores, surdez) por estar envelhecendo, exclusão e isolamento social. Isto fica bastante ilustrado nas respostas a terceira questão com frases como:

    “Na loja de uma operadora de celular, um dos atendentes negou o atendimento a um item que eu tinha direito e quando o questionei ele elevou o tom da voz tentando me intimidar. No final do atendimento pedi o nome completo dele, procurei a pessoa responsável pela loja, narrei os fatos na presença do atendente e no final eu disse que eu ia decidir se ligaria para a ouvidoria para tratar daquele tipo de atendimento. A gerente me deu razão e sai pouco aliviada porque não fui passiva àquele atendimento que entendi como PRECONCEITUOSO”. (Participante n°3)

 

    “O filho do meu amigo ficou bravo quando o meu amigo entrou no programa de extensão de exercícios na UnB e começou a ficar mais independente e ter amigos, sair mais de casa. O filho queria ter controle do meu amigo e deixar ele em casa o máximo de tempo possível. Não concordo com isso”. (Participante n°4 sobre atitude paternalista do filho de seu amigo)

    Em entrevista com pessoas idosas de 60 a 85 anos atendidas em Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) em município de pequeno porte no Rio Grande do Sul, Fioreze et al. (2023) confirmam na fala dos entrevistados os diferentes níveis de representação do idadismo: o individual, o interpessoal e o institucional. O idadismo individual representado na autoestima da pessoa idosa enquanto sentimento de inadequação por estar envelhecido, o idadismo interpessoal na solidão intergeracional nas relações familiares e o idadismo institucional no contexto de afastamento da vida pública. 

 

    No espaço do questionário dedicado a relatos pessoais dos participantes, foi possível observar que o preconceito etário se manifesta frequentemente em ambientes institucionais, como locais de trabalho e prestadores de serviços. Os relatos indicaram que muitas pessoas idosas tiveram suas opiniões desconsideradas ou decisões retiradas, o que diminuiu sua socialização e interação. A participante 21 relata:

    “Não sei se é preconceito ou intolerância. Muitas vezes, no comércio, Interrompem meu atendimento para atender pessoas, geralmente mais jovens, que chegam depois de mim. Os mais jovens, com cara feia, qdo busco o atendimento prioritário. Impaciência no trânsito, pq dirijo respeitando limites de velocidade. As mulheres são mais intolerantes que os homens, no comércio”.

    A participante n° 14 também relata preconceito em ambiente institucional:

    “Por usar cabelo branco há muito tempo, era subestimada profissionalmente pelos colegas mais jovens. Hoje muita gente fala alto e devagar como se todo idoso fosse surdo. Na rede pública de saúde sinto uma certa impaciência e rispidez quando a gente pergunta alguma coisa”.

    Previtali et al. (2022) com seu estudo acerca das relações sociais no ambiente de trabalho podem auxiliar nessa discussão sobre como a linguagem molda a realidade do idadismo no ambiente de trabalho. As interações diárias podem reforçar ou desafiar estereótipos etários, portanto a necessidade de enfatizar a importância de estratégias políticas que promovam ambientes de trabalho inclusivos, desafiando a ideologia que associa envelhecimento a aspectos negativos.

 

    A maioria dos participantes entendiam o significado do termo idadismo nesta pesquisa porém alguns relataram não se enxergarem como um grupo sujeito a discriminação. Campillay et al. (2021) afirmam que os estereótipos de idade são constructos sociais em que tanto pessoas idosas como a sociedade em geral, perpetuam o envelhecimento como uma fase de decadência. O idadismo é então institucionalizado e normalizado. Desta forma a solidariedade intergeracional e a educação sobre a velhice desde a infância são fundamentais para combater o idadismo e melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas.

 

    Brinkhof et al. (2022) ao realizarem estudo para validação do Questionário de Percepção do Ageismo (PAQ-8) para medir o preconceito de idade entre pessoas idosas, obtiveram resultados onde boa parte dos entrevistados reconheceram experiências negativas de envelhecimento em suas vidas, assim como foi percebido neste estudo com a amostra de residentes no Distrito Federal. 

 

    A pontuação média total no PAQ-8 (16 pontos) indicou que os participantes no estudo de Brinkhof et al. (2022) experimentaram preconceito de idade. Níveis mais altos de percepção negativa de idade estavam associados a uma autopercepção mais negativa do envelhecimento, o que, por sua vez, levou a resultados de saúde mental desfavoráveis. 

 

    Comparando os resultados do presente estudo com pesquisas anteriores, foram encontradas similaridades em relação a experiências negativas com o envelhecimento. É imperativo o questionamento: como promover um envelhecimento ativo, saudável e cidadão no qual pessoas idosas possam ter experiências intergeracionais positivas e dirimir o preconceito etário em suas inúmeras manifestações?

 

    Ao analisar a abordagem da OMS sobre o envelhecimento saudável, Rudnicka et al. (2020) afirmam que o envelhecimento saudável depende de uma abordagem integrada, considerando aspectos sociais, de saúde e ambientais. Embora alguns países tenham adotado políticas eficazes, os desafios permanecem, especialmente em regiões de baixa renda. A OMS enfatiza a importância de campanhas contra o idadismo e a coleta de dados confiáveis para monitorar o progresso. 

 

    Cerca de 21,43% dos respondentes ao questionário da presente pesquisa desconhecem o termo idadismo sugerindo a necessidade de campanhas mais amplas de conscientização sobre esse tipo de discriminação. O Relatório Mundial sobre o Idadismo da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) propõe medidas importantes para que os meios de comunicação desempenhem um papel ativo no combate ao idadismo. Entre as sugestões, destaca-se a necessidade de reverter narrativas que reforcem estereótipos negativos sobre a idade. Os meios de comunicação são incentivados a utilizar uma linguagem inclusiva, sem conotações pejorativas ou generalizações que associam a velhice à fragilidade ou inutilidade. 

 

    A OPAS propõe que as campanhas publicitárias e as mensagens midiáticas promovam uma visão equilibrada e positiva sobre o envelhecimento, retratando pessoas idosas de forma diversificada, como ativas e contribuindo para a sociedade. Dessa forma, os meios de comunicação podem ser usados como ferramentas para combater preconceitos e fomentar solidariedade intergeracional. (OPAS, 2022)

 

    A relação dessa proposta com a Agenda 2030 (ONU, 2015) se alinha diretamente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente o ODS 10, que visa à redução das desigualdades. Combater o idadismo nas campanhas midiáticas é uma forma de garantir que pessoas de todas as idades tenham sua dignidade respeitada, promovendo inclusão social. Além disso, a Década do Envelhecimento Saudável (2021-2030) documento construído pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2020), é uma área prioritária dentro da Agenda 2030, e as diretrizes da Organização das Nações Unidas (ONU) para os países incluem a criação de políticas públicas que coíbam a discriminação por idade em todas as esferas, com foco especial em instituições educacionais e de saúde, além de legislações que protejam os direitos das pessoas idosas. 

 

    Os participantes da pesquisa relataram conhecimento do Estatuto da Pessoa Idosa o que foi associado por eles a uma maior conscientização sobre episódios de discriminação. Sem a demanda social para a implementação efetiva dos direitos das pessoas idosas não há possibilidade do cenário da representação social do envelhecimento mudar do preconceito para a compreensão. (França et al., 2017; Chahini, e Gomes, 2023)

 

    A legislação brasileira, incluindo a Constituição de 1988 (Brasil, 1988), a Política Nacional do Idoso (Brasil, 1994) e o Estatuto da Pessoa Idosa (Brasil, 2003) e a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (Brasil, 2006) definem claramente a responsabilidade da família, do Estado e da sociedade em proteger os direitos das pessoas idosas. A Constituição Federal fornece a base legal e moral, enquanto a Política Nacional do Idoso e o Estatuto da Pessoa Idosa detalham e ampliam esses direitos, promovendo uma conscientização ampla sobre a importância do respeito e da inclusão de pessoas idosas. A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, por sua vez, assegura que o sistema de saúde também atue sem discriminação etária, promovendo um envelhecimento saudável e respeitoso. Dessa forma, esses documentos se entrelaçam e se complementam na construção de uma sociedade que respeite e valorize os direitos das pessoas idosas, combatendo ativamente o idadismo.

 

    No Distrito Federal onde o estudo em questão se passou, as leis voltadas à proteção da pessoa idosa desempenham um papel importante na defesa contra o idadismo, ao promover a inclusão social e a valorização das pessoas idosas como cidadãos ativos e participantes. Podem ser citadas a Lei Distrital Lei nº 1.547/1997 que dispõe sobre o Estatuto da Pessoa Idosa no DF; a Lei nº 3.822/2006 dispõe sobre a Política Distrital do Idoso e a Lei nº 7.410/2024 assegura a implantação de Centros de Convivência de Idosos em todas as Regiões Administrativas do DF. Os locais são estabelecidos em espaços destinados às unidades de Atenção Primária à Saúde (APS) e em parcerias com universidades.

 

    A Lei nº 1.547/1997 é fundamental ao reconhecer o papel da pessoa idosa no desenvolvimento social, cultural, econômico e político, desmistificando a ideia de que o envelhecimento significa declínio, e afirmando a pessoa idosa como sujeito de direito indispensável para a sociedade. A Lei nº 3.822/2006, que incentiva programas de saúde para pessoas idosas, reforça a importância de manter a pessoa idosa inserida no ambiente familiar e comunitário, combatendo a marginalização social que o idadismo pode causar. Essa iniciativa ajuda a desmistificar a ideia de que o envelhecimento conduz à inutilidade ou ao isolamento, ao apoiar a continuidade da contribuição das pessoas idosas para a sociedade. 

 

    A Lei nº 7.410/2024, que prevê a criação de centros de convivência para pessoas idosas em parceria com universidades, também é essencial no combate ao idadismo, promovendo o envelhecimento ativo e o intercâmbio intergeracional, e desafiando estereótipos que limitam o potencial dessa população. A inclusão de serviços de extensão universitária fortalece o reconhecimento da história de vida das pessoas idosas, especialmente nos ambientes acadêmicos e de saúde.

 

    Apesar do arcabouço robusto de leis tanto distritais quanto federais, observa-se a morosidade na implementação, o que impacta na efetividade das ações propostas. Nas instituições educacionais, conforme estudo de Chahini, e Gomes (2023) é frequente a marginalização de estudantes com 60 anos e mais por meio de práticas discriminatórias baseadas nos estereótipos. A primeira etapa elencada para mitigar essa questão, segundo Chahini, e Gomes (2023) seria de sensibilizar e educar professores, estudantes de várias idades e funcionários sobre o preconceito de idade. Depois criar redes de apoio, programas de mentoria, flexibilização dos períodos de ensino-aprendizagem e desenvolver um currículo inclusivo. 

 

    Em contextos como no serviço público e privado, a educação organizacional apoiada pela legislação é um caminho possível no combate ao preconceito de idade. França et al. (2017) apontam que partindo do interesse dos envolvidos - tanto dos que sofrem o preconceito no sentido de demandar ações bem como das pessoas que convivem com pessoas idosas nesses ambientes - as ações podem se concentrar em mudanças atitudinais entre pessoas mais jovens com relação aos colegas de trabalho mais velhos incentivando o convívio intergeracional e troca de experiências. 

 

    As experiências de preconceito relatadas no questionário também dizem respeito a discriminação etária em atendimento hospitalares. Em uma revisão de escopo, Araújo et al. (2023) revisaram as expressões de etarismo direcionadas às pessoas idosas nos serviços de saúde, destacando os impactos negativos na qualidade do atendimento. O etarismo ocorreu em níveis interpessoal e institucional, resultando em barreiras no diagnóstico, tratamentos inadequados, e marginalização das pessoas idosas nos cuidados médicos. 

 

    Embora nos relatos coletados para esta pesquisa não tenha sido registrado maus tratos a pessoa idosa em atendimento hospitalar, a literatura tem se dedicado a essa relação: idadismo versus maus tratos às pessoas idosas. A conclusão é de que o idadismo pode ser um fator de risco para se chegar às vias de fato com relação a maus tratos físicos e há indícios de que o idadismo pode estar relacionado ao abuso em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI’s) por meio de atitudes paternalistas ou infantilizantes (Pillemer et al., 2021). Entretanto, mais pesquisas são necessárias para elucidar essa conexão. 

 

Conclusão 

 

    A presente pesquisa destaca a prevalência do idadismo entre uma amostra de pessoas idosas participantes de um programa de exercício físico na Universidade de Brasília, residentes no Distrito Federal. Os resultados reforçam a necessidade de ações concretas para mitigar esse preconceito, que pode impactar negativamente a autoestima, a saúde mental e a integração social dessa população. 

 

    Embora uma parcela significativa dos participantes tenha demonstrado familiaridade com o termo "idadismo", os relatos de discriminação em diferentes contextos evidenciam a persistência de estereótipos etários. Esses resultados corroboram estudos prévios que apontam para a complexidade e abrangência do idadismo, manifestado em níveis individuais, interpessoais e institucionais. 

 

    Diante desse cenário, torna-se essencial o desenvolvimento de políticas públicas, campanhas educativas e iniciativas que promovam a conscientização social sobre o envelhecimento, buscando reduzir as desigualdades e incentivar uma visão digna e inclusiva da velhice. Além disso, a efetiva implementação das legislações já existentes e o fortalecimento de espaços intergeracionais são passos fundamentais para a construção de uma sociedade que respeite e valorize as pessoas idosas, garantindo-lhes plena participação e respeito à sua dignidade.

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 322, Mar. (2025)