ISSN 1514-3465
A auriculoterapia na melhora da qualidade
de vida de profissionais atuantes na nefrologia
Auriculotherapy in Improving the Quality of Life of Professionals Working in Nephrology
La auriculoterapia en la mejora de la calidad de vida de los profesionales que trabajan en nefrología
Ângela Makeli Kososki Dalagnol
*angeladalagnol8@gmail.com
Pâmela Letícia Weber
**pamela.weber@estudante.uffs.edu.br
Alessandra Yasmin Hoffmann
***hoffmann.ay@gmail.com
Débora Tavares de Resende e Silva
+debora.silva@uffs.edu.br
Josiano Guilherme Puhle
++puhlejosianoguilherme@gmail.com
*Enfermeira, graduada pela Universidade Federal
da Fronteira Sul (UFFS), campus Chapecó
Bolsista institucional do Programa de Pós-graduação em Ciências Biomédicas
Membro do grupo de Estudo e Pesquisa Interdisciplinar
Saúde e Cuidado (GEPISC).
**Enfermeira formada pela UFFS - Campus Chapecó
Pós graduanda em Enfermagem em Centro Cirúrgico
e Central de Materiais e Esterilização
***Enfermeira pela UFFS, Campus Chapecó
+Professora adjunta da UFFS
Pós-doutorado em Imunologia, pela USP/SP
Doutorado em Ciências - Patologia Geral, pela UFTM
Mestrado em Ciências - Patologia Geral, pela UFTM
Graduada em Fisioterapia pela UNIUBE
Especialista em Fisioterapia Neurológica pela UNIFRAN
e em Saúde Coletiva pela IBRA
Atualmente é Líder do Grupo de Estudo e Pesquisa Interdisciplinar
Saúde e Cuidado (GEPISC-UFFS/SC)
++Graduação em Biomedicina
pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (UNIASSELVI)
Graduação em Educação Física - Bacharelado pelo UNIASSELVI
Graduação em Pedagogia pelo UNIASSELVI
Graduado em Educação Física – Licenciatura
pela Universidade do Oeste de Santa Catarina
Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Biomédicas pela UFFS
Discente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde no nível
de Doutorado pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó)
(Brasil)
Recepción: 11/08/2024 - Aceptación: 09/12/2024
1ª Revisión: 22/11/2024 - 2ª Revisión: 05/12/2024
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
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Cita sugerida
: Dalagnol, Â.M.K., Weber, P.L., Hoffmann, A.Y., Silva, D.T. de R e, e Puhle, J.G. (2025). A auriculoterapia na melhora da qualidade de vida de profissionais atuantes na nefrologia. Lecturas: Educación Física y Deportes, 29(322), 172-185. https://doi.org/10.46642/efd.v29i322.7827
Resumo
A baixa percepção e o declínio dos domínios da qualidade de vida são comuns entre profissionais da saúde. Busca-se alternativas para reverter essa situação, e a auriculoterapia tem se popularizado como método eficaz. Neste contexto, o artigo busca avaliar os efeitos de um protocolo de auriculoterapia nos parâmetros de qualidade de vida de profissionais atuantes em uma clínica renal. Este estudo intervencional quantitativo envolveu 15 profissionais: 2 Enfermeiras, 8 Técnicas em Enfermagem, 1 Nutricionista, 1 Assistente Social, 1 Psicóloga e 2 funcionárias da equipe administrativa. Durante o protocolo, estimulou-se o pavilhão auricular uma vez por semana nos acupontos: Sistema Nervoso Central (SNC), rim, Sistema Nervoso Autônomo (SNA), relaxamento muscular, analgesia, ansiedade, dupla ansiedade, subcórtex e fígado energético 1 e 2. A qualidade de vida foi avaliada pelo questionário Item Short Form Survey (SF-36), aplicado antes e após 12 sessões de auriculoterapia. Ao final, houve uma diferença significativa em três dos oito domínios da qualidade de vida: dor (83,20±10,55 para 35,60±13,48, p=0,001), aspectos emocionais (57,77±26,62 para 91,10±15,26, p=0,030) e saúde mental (50,40±21,15 para 71,46±24,46, p=0,031). As diferenças após as sessões indicam que essa intervenção pode ser uma estratégia valiosa para promover o bem-estar dos indivíduos. Assim, a auriculoterapia não apenas alivia sintomas físicos, mas também contribui para o fortalecimento da saúde emocional, destacando seu potencial como uma terapia complementar.
Unitermos:
Práticas de saúde complementares e integrativas. Indicadores de qualidade de vida. Dor. Saúde mental. Estresse psicológico.
Abstract
The low perception and decline in quality of life domains are common among healthcare professionals. Alternatives are being sought to reverse this situation, and auriculotherapy has gained popularity as an effective method. In this context, the article aims to evaluate the effects of an auriculotherapy protocol on the quality of life parameters of professionals working in a renal clinic. This quantitative interventional study involved 15 professionals: 2 nurses, 8 nursing technicians, 1 nutritionist, 1 social worker, 1 psychologist, and 2 administrative staff members. During the protocol, the auricular pavilion was stimulated once a week at the acupuncture points: Central Nervous System (CNS), kidney, Autonomic Nervous System (ANS), muscle relaxation, analgesia, anxiety, dual anxiety, subcortex, and energy liver 1 and 2. Quality of life was assessed using the Short Form Survey (SF-36) questionnaire, administered before and after 12 auriculotherapy sessions. At the end, there was a significant difference in three of the eight SF-36 indicators: pain (83.20±10.55 to 35.60±13.48, p=0.001), emotional aspects (57.77±26.62 to 91.10±15.26, p=0.030), and mental health (50.40±21.15 to 71.46±24.46, p=0.031). The differences after the sessions suggest that this intervention may be a valuable strategy to promote individual well-being. Thus, auriculotherapy not only relieves physical symptoms but also contributes to strengthening emotional health, highlighting its potential as a complementary therapy.
Keywords:
Complementary and integrative health practices. Quality of life indicators. Pain. Mental health. Psychological stress.
Resumen
La baja percepción y la disminución en los dominios de la calidad de vida son comunes entre los profesionales de la salud. Se están buscando alternativas para revertir esta situación y la auriculoterapia se ha popularizado como un método eficaz. En este contexto, el artículo busca evaluar los efectos de un protocolo de auriculoterapia sobre los parámetros de calidad de vida de los profesionales que trabajan en una clínica renal. En este estudio intervencionista cuantitativo participaron 15 profesionales: 2 Enfermeros, 8 Técnicos de Enfermería, 1 Nutricionista, 1 Trabajador Social, 1 Psicólogo y 2 empleados del equipo administrativo. Durante el protocolo, el pabellón auricular fue estimulado una vez por semana en los puntos de acupuntura: Sistema Nervioso Central (SNC), riñón, Sistema Nervioso Autónomo (SNA), relajación muscular, analgesia, ansiedad, doble ansiedad, subcorteza e hígado energético 1 y 2. La calidad de vida se evaluó mediante el cuestionario Item Short Form Survey (SF-36), aplicado antes y después de 12 sesiones de auriculoterapia. Al final, hubo una diferencia significativa en tres de los ocho dominios de calidad de vida: dolor (83,20±10,55 a 35,60±13,48, p=0,001), aspectos emocionales (57,77±26,62 a 91,10±15,26, p=0,030) y salud mental (50,40±21,15 a 71,46±24,46, p=0,031). Las diferencias tras las sesiones indican que esta intervención puede ser una estrategia valiosa para promover el bienestar de los individuos. Así, la auriculoterapia no sólo alivia los síntomas físicos, sino que también contribuye a fortalecer la salud emocional, destacando su potencial como terapia complementaria.
Palabras clave
: Prácticas de salud complementarias e integradoras. Indicadores de calidad de vida. Dolor. Salud mental. Estrés psicológico.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 322, Mar. (2025)
Introdução
Considerada um problema significativo de saúde pública, a doença renal crônica (DRC) é uma condição de saúde complexa que afeta milhões de indivíduos em todo o mundo. A DRC se caracteriza pela deterioração progressiva e irreversível da função renal, o que pode levar a uma série de complicações severas, como hipertensão, anemia, e doenças ósseas metabólicas (Puhle et al., 2023). A gestão da DRC exige um acompanhamento contínuo e cuidados especializados que vão além das capacidades dos tratamentos convencionais. Esta situação se reflete no aumento constante do número de pacientes que necessitam de terapia de substituição renal, como a hemodiálise ou o transplante renal. A expansão desses tratamentos representa um desafio substancial para o Sistema Único de Saúde (SUS), que deve adaptar suas estruturas e serviços para atender a essa demanda crescente. (Abdoral et al., 2021)
Em resposta a essa necessidade crescente, a regulamentação dos serviços de diálise no Brasil é guiada por normas rigorosas, estabelecidas pelas Resoluções de Diretoria Colegiada Nº 154 de 2004 e Nº 11 de 2014 do Ministério da Saúde. Estas resoluções fornecem diretrizes detalhadas sobre a composição e o funcionamento das equipes técnicas e das unidades de diálise. De acordo com essas diretrizes, é mandatório que cada unidade conte com um médico e um enfermeiro como responsáveis técnicos, além de um suporte multidisciplinar que inclui nutricionistas, psicólogos e outros profissionais de saúde. Essas regulamentações visam assegurar a qualidade e a segurança do atendimento, mas a crescente demanda por serviços especializados pode exercer pressão significativa sobre a equipe de saúde, impactando sua rotina e, potencialmente, sua qualidade de vida. (Hohenberger, e Dallegrave, 2017)
Os profissionais de saúde envolvidos no tratamento da DRC enfrentam uma série de desafios que vão além das exigências técnicas e clínicas. Eles frequentemente lidam com jornadas de trabalho extensas, remuneração que pode ser inadequada em relação ao esforço e responsabilidade exigidos, e dinâmicas interpessoais complexas. Além disso, a exposição constante a fatores de estresse e a carga emocional associada ao cuidado de pacientes com condições graves pode levar a problemas de saúde mental e física, como o esgotamento profissional e o estresse crônico (Andrade-Pizarro et al., 2023). Esses fatores contribuem para uma deterioração na qualidade de vida dos profissionais de saúde, criando a necessidade urgente de estratégias para apoiar e melhorar seu bem-estar. (Duarte et al., 2020)
Diante desse cenário desafiador, há uma crescente busca por abordagens que possam complementar os métodos tradicionais de cuidado e promover uma melhor qualidade de vida para os profissionais de saúde. Métodos não farmacológicos têm sido explorados como opções viáveis para a manutenção e o aprimoramento do bem-estar e qualidade de vida em diversas situações e condições (Puhle et al., 2023). Entre essas abordagens, a auriculoterapia tem se destacado devido à sua natureza prática e não invasiva, oferecendo benefícios potenciais em diversas condições patológicas. (Torres et al., 2019; Puhle et al., 2023)
Originária da medicina tradicional chinesa, a auriculoterapia envolve a estimulação de pontos específicos no pavilhão auricular por meio de métodos mecânicos, o que ativa terminações nervosas associadas aos nervos espinhais e cranianos, desencadeando uma resposta no sistema nervoso central que pode contribuir para a redução de sintomas e a melhoria do bem-estar geral. (Carvalho et al., 2022)
Neste contexto, o presente artigo busca avaliar os efeitos de um protocolo de auriculoterapia nos domínios da qualidade de vida de profissionais atuantes em uma clínica renal.
Metodologia
População e amostra
O presente estudo foi composto por profissionais da equipe técnica provenientes da Clínica Renal Oeste, situada na cidade de Chapecó-SC. Foram recrutados e elegidos 15 profissionais, devido à demanda e interesse voluntário pelo tratamento oferecido durante a pesquisa.
O estudo incluiu profissionais de saúde de ambos os sexos, com idade mínima de 18 anos, que estavam em exercício na clínica há pelo menos 6 meses. Esses critérios garantiram que os participantes possuíssem experiência suficiente e estabilidade no ambiente de trabalho, o que possibilitou uma avaliação mais precisa dos efeitos da auriculoterapia.
Foram estabelecidas algumas exclusões para assegurar a integridade dos dados e a validade dos resultados. Foram excluídos do estudo os profissionais que optaram por não participar, bem como aqueles que vieram a óbito ou desistiram da participação durante o estudo. Adicionalmente, foram excluídos os profissionais que já realizavam auriculoterapia como parte de um tratamento externo à pesquisa, para evitar a influência de tratamentos prévios na avaliação dos efeitos da auriculoterapia no contexto do estudo.
Outro critério de exclusão foi a adesão ao protocolo de intervenção. Profissionais que não compareceram a pelo menos 75% das sessões programadas de auriculoterapia foram excluídos. Este critério garantiu que a amostra final consistisse apenas de participantes que completaram uma parte substancial do protocolo, assegurando que as análises fossem baseadas em dados de participantes que receberam a intervenção de forma consistente e completa.
Execução
Este estudo utilizou uma abordagem quantitativa, sendo estruturado como uma pesquisa intervencional descritiva e comparativa, aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Federal da Fronteira Sul (CAAE - 42603621.20000.5564). O objetivo principal foi avaliar os efeitos da auriculoterapia na qualidade de vida de profissionais de saúde em uma clínica renal.
A seleção dos participantes foi cuidadosa, garantindo a adesão aos critérios de inclusão. Profissionais elegíveis participaram de uma sessão informativa na Clínica Renal, onde foram discutidos os objetivos e a metodologia do estudo, além dos riscos e benefícios da participação. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi apresentado, e somente aqueles que concordaram assinaram, confirmando sua participação voluntária e informada.
Após o consentimento, foram coletados dados por meio do questionário de qualidade de vida SF-36, aplicado antes do protocolo de intervenção. A auriculoterapia foi implementada conforme um plano que incluía sessões regulares de estimulação de pontos auriculares específicos. Ao final da intervenção, o SF-36 foi reaplicado para medir mudanças na qualidade de vida, permitindo uma comparação detalhada entre as avaliações pré e pós-intervenção. Os resultados ajudaram a analisar as variações nos indicadores de qualidade de vida e avaliar a eficácia da auriculoterapia como abordagem complementar no cuidado dos profissionais de saúde.
Protocolo de Auriculoterapia
A intervenção foi conduzida por um Profissional de Educação Física com especialização em acupuntura e formação em auriculoterapia, seguindo um protocolo estruturado de 12 sessões, com uma sessão realizada semanalmente. O protocolo foi projetado para alternar entre as orelhas dos participantes: uma sessão era aplicada na orelha esquerda, seguida pela próxima sessão na orelha direita, totalizando assim 6 sessões em cada orelha. (Lopes, e Suliano, 2020)
Durante cada sessão, a estimulação auricular foi feita utilizando sementes de mostarda, que foram fixadas com adesivo e deixadas em cada orelha até a sessão seguinte. Na sessão subsequente, as sementes antigas eram removidas e novas sementes eram aplicadas na orelha oposta. Este método garantiu a continuidade e a consistência da intervenção ao longo do estudo.
O protocolo de auriculoterapia seguiu um conjunto fechado de pontos específicos, escolhidos para abordar várias condições e sintomas. Os pontos incluídos foram: Sistema Nervoso Central (SNC), rim, Sistema Nervoso Autônomo (SNA), relaxamento muscular, analgesia, ansiedade, dupla ansiedade, subcórtex, e fígado energético 1 e 2 (Lopes, e Suliano, 2020). Cada ponto foi selecionado com base em sua relevância para a melhoria dos parâmetros de qualidade de vida dos profissionais de saúde participantes.
Análise da qualidade de vida
O 36-Item Short Form Survey (SF-36) foi aplicado em cada profissional antes e após a intervenção, para a avaliação dos aspectos da qualidade de vida (Ware et al., 1993). O SF-36 é um questionário validado e multidimensional composto por 36 itens com duas dimensões: saúde mental e saúde física. Essas dimensões são constituídas por oito componentes: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. É válido ressaltar que os únicos componentes que fazem parte tanto da dimensão de saúde mental quanto de saúde física, são a vitalidade e o estado geral de saúde.
Análise estatística
As diferenças estatísticas entre os conjuntos de valores dos diferentes tratamentos foram determinadas usando o teste t de Student para amostras dependentes, após teste de normalidade de Shapiro-Wilk, além da utilização do teste de Dixon para os outliers. O software utilizado para as análises foi o Statistica® 8.0 (STATSOFT). As diferenças foram consideradas estatisticamente significativas com p≤0,05.
Resultados
No que tange aos resultados da Tabela 1, demonstra-se a distribuição dos cargos dentro da clínica alvo deste estudo, o respectivo número de profissionais e a média de tempo em anos da atuação dos mesmos na área de nefrologia.
Tabela 1. Distribuição por cargos, números de profissionais atuantes e média
de tempo de trabalho em uma clínica renal do oeste de Santa Catarina (2024)
Categoria |
n |
% |
Anos
de atuaa deno local |
Assistente Administrativo |
2 |
13,33% |
2 |
Assistente
Social |
1 |
6,66% |
7 |
Enfermeiro |
2 |
13,33% |
6 |
Nutricionista |
1 |
6,66% |
3 |
Psic%66%n |
1 |
6,66% |
3 |
Técnico
de Enfermagem |
8 |
53,33% |
11,5 |
Total |
15 |
100% |
32,5 |
Fonte: Autores
Nessa perspectiva, vale destacar que o estudo foi composto por 15 profissionais que atuam na clínica renal e a média de idade destes é de 37,90 com desvio padrão de 15,01 anos. Ainda, no que tange o tempo de atuação os profissionais possuíam tempos que variaram de 2 anos a 11,5 anos, sendo que a categoria profissional com menos tempo de atuação na área são os cargos administrativos e os profissionais com maior tempo de atuação na área são os Técnicos em Enfermagem.
A carga horária semanal dos profissionais atuantes na clínica varia dependendo da categoria. A mais alta pertence aos Técnicos em Enfermagem, os quais realizam 40 horas, mais os plantões noturnos, seguidos pelos Assistentes Administrativos e Enfermeiros que atuam 40 horas semanais e por fim a Assistente Social, o Nutricionista e a Psicóloga que cumprem 20 horas semanais.
Ademais, na Tabela 2 são demonstrados os dados obtidos por meio da aplicação do questionário de qualidade de vida SF-36.
Tabela 2. Parâmetros de qualidade de vida antes e após intervenção de
auriculoterapia na equipe técnica atuante em uma clínica renal do oeste de Santa Catarina
Componentes
da Qualidade de Vida |
Antes X±DP |
ApDPsX±DP |
Valor
de p |
Capacidade Funcional |
80,66±12,65 |
83,66±11,09 |
0,107 |
Aspectos Físicos |
70,00±19,36 |
71,66±15,99 |
0,564 |
Dor |
83,20±10,55 |
35,60±13,48 |
0,001* |
Estado Geral de Saúde |
73,20±63,55 |
72,80±10,57 |
0,684 |
Vitalidade |
81,33±5,81 |
82,35±7,98 |
0,564 |
Aspectos Sociais |
85,00±10,77 |
87,50±10,56 |
0,180 |
Aspectos Emocionais |
57,77±26,62 |
91,10±15,26 |
0,030* |
Saúde Mental |
50,40±21,15 |
71,46±24,46 |
0,031* |
Dados expressos em média e desvio padrão. *Denota significância estatística. Fonte: Autores
No que tange ao exposto na tabela acima é notável que houve uma diminuição do quadro álgico, representado pelo componente de dor (p=0,001) e aumento da saúde mental (p=0,031), além de aumento dos aspectos emocionais (p=0,030), após aplicação de protocolo de auriculoterapia. Para os demais dados, por mais que seja visível uma melhora na comparação entre o antes e depois, o valor da probabilidade de rejeição da hipótese de nulidade foi maior que 5% (p>0,05), ou seja, não demonstraram significância estatística.
Discussão
Os efeitos da auriculoterapia, avaliados através dos oito domínios do questionário SF-36, são fundamentais para compreender sua influência na qualidade de vida. Esses domínios abrangem capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. O modelo teórico do SF-36 sugere que as escalas de capacidade funcional, dor e aspectos físicos estão fortemente associadas aos componentes físicos do indivíduo, enquanto as escalas de saúde mental, aspectos emocionais e aspectos sociais têm uma correlação mais robusta com os componentes mentais. (Laguardia et al., 2013)
Os escores obtidos para os domínios do SF-36 em populações adultas demonstram alta confiabilidade e boa validade de critério quando comparados a outros instrumentos de avaliação da qualidade de vida. Este estudo confirma que as escalas do SF-36 atendem aos padrões psicométricos mínimos, incluindo confiabilidade, validade e capacidade de reproduzir as dimensões físicas e mentais hipotetizadas, além de padrões preditivos com critérios externos de saúde física e mental. (Laguardia et al., 2013)
Em relação à capacidade funcional, o aumento não significativo no escore após o protocolo de auriculoterapia (p=0,107) contrasta com uma gama de estudos prévios que documentam melhorias diversas em populações distintas. Este achado sugere que a eficácia da auriculoterapia para potencializar a capacidade funcional pode estar intimamente ligada às características da amostra, como idade, condições clínicas pré-existentes e a duração das intervenções, assim como à especificidade dos protocolos aplicados (Devilla et al., 2021). A literatura atual aponta para uma variabilidade considerável nos resultados, com uma parcela significativa de indivíduos relatando aprimoramentos substanciais em funcionalidade e qualidade de vida após protocolos semelhantes (Munhoz et al., 2024). Esses dados reforçam a necessidade de mais investigações que considerem as particularidades dos métodos e populações, o que poderia esclarecer os mecanismos subjacentes e potencializar os benefícios terapêuticos dessa intervenção.
No domínio dos aspectos físicos, todos os participantes apresentaram melhora significativa, corroborando evidências anteriores que destacam a eficácia da auriculoterapia no manejo da dor e na função física (Laguardia et al., 2013; Puhle et al., 2023). No entanto, estudos clínicos recentes não encontraram diferenças significativas neste domínio, apesar do reconhecimento geral dos benefícios da auriculoterapia para a qualidade de vida (Bergamin et al., 2013; Ramos, Souza, e Silva, 2018). Isso pode indicar uma variabilidade na eficácia relatada, possivelmente relacionada a diferenças nos métodos de aplicação e nos contextos clínicos. (Munhoz et al., 2024)
O estado geral de saúde, refletindo a percepção subjetiva da saúde global do indivíduo, não mostrou melhorias estatisticamente significativas após o protocolo de auriculoterapia (p=0,684). Esses achados contrastam com a literatura existente, que frequentemente relata efeitos positivos sobre a percepção geral de saúde (Munhoz et al., 2024). As variações nos resultados podem ser atribuídas a diferenças metodológicas e nas amostras estudadas. (Ferreira, 1998; Ware et al., 1993)
No âmbito da dor, observou-se uma redução significativa no escore após a aplicação da auriculoterapia, o que corrobora achados de estudos anteriores que enfatizam a eficácia desta prática no alívio de dores musculares e articulares (Bergamin et al., 2013; Ramos, Souza, e Silva, 2018). Essa evidência reforça a consistência da auriculoterapia como uma intervenção terapêutica valiosa no manejo da dor em diversos contextos clínicos. Além disso, pesquisas adicionais têm demonstrado que a auriculoterapia não só promove alívio sintomático, mas também contribui para uma melhoria geral na qualidade de vida dos pacientes, ao abordar não apenas a dor física, mas também aspectos emocionais e psicológicos associados (Hohenberger, e Dallegrave, 2017; Reis et al., 2021). Esses resultados ressaltam a importância de incorporar a auriculoterapia como uma abordagem complementar em estratégias de tratamento integradas, visando um cuidado mais holístico e eficaz para os pacientes. (Puhle et al., 2023; Munhoz et al., 2024)
No que diz respeito à vitalidade, os dados revelaram a ausência de mudanças significativas nos escores antes e após a aplicação do protocolo de auriculoterapia (p=0,564), o que contrasta com resultados de estudos anteriores que documentaram melhorias nesse domínio (Ramos, Souza, e Silva, 2018). Essa discrepância sugere que a eficácia da auriculoterapia pode ser influenciada por variáveis como as características demográficas e clínicas da amostra, bem como pelo contexto específico em que a intervenção é realizada. Além disso, fatores como a duração das sessões, a frequência das intervenções e a formação dos profissionais envolvidos podem impactar os resultados percebidos. Esses achados ressaltam a necessidade de investigações adicionais que explorem a relação entre as particularidades das populações atendidas e a resposta à auriculoterapia, o que pode fornecer uma compreensão mais aprofundada sobre sua aplicabilidade e eficácia em diferentes cenários clínicos. (Munhoz et al., 2024)
Quanto aos aspectos sociais, não houve melhora estatisticamente significativa após a auriculoterapia (p=0,180), o que é consistente com a literatura que sugere que este domínio pode não ser fortemente impactado por intervenções semelhantes (Hohenberger, e Dallegrave, 2017). Esses resultados indicam que os benefícios da auriculoterapia podem não se estender significativamente às interações sociais dos indivíduos tratados.
Em relação aos aspectos emocionais, observou-se uma melhora significativa no escore após a aplicação do protocolo de auriculoterapia (p=0,030), o que contrasta com os achados de alguns estudos que não encontraram diferenças significativas nesse domínio (Kurebayashi, e Silva, 2015; Oliveira et al., 2021). Esses resultados ressaltam a relevância da auriculoterapia no manejo de questões emocionais, evidenciando seu potencial para oferecer alívio em estados de ansiedade e estresse. No entanto, a variabilidade observada nos resultados sugere a necessidade de investigações adicionais que busquem esclarecer os mecanismos subjacentes a esses efeitos, assim como o papel das características individuais dos participantes e do contexto da aplicação. Essa compreensão mais aprofundada poderia enriquecer a base de evidências sobre a eficácia da auriculoterapia e guiar futuras aplicações terapêuticas em ambientes clínicos variados. (Puhle et al., 2023; Munhoz et al., 2024)
Por fim, no que se refere à saúde mental, observou-se uma melhora estatisticamente significativa após a aplicação da auriculoterapia (p=0,031), corroborando achados de estudos que destacam sua eficácia na redução de sintomas de ansiedade e depressão (Kurebayashi, e Silva, 2015; Oliveira et al., 2021). Esses resultados ressaltam o potencial da auriculoterapia como uma abordagem terapêutica complementar na promoção do bem-estar mental, oferecendo uma alternativa valiosa para o manejo de condições relacionadas à saúde mental. Além disso, a eficácia observada em contextos variados sugere que a auriculoterapia pode ser integrada em estratégias de tratamento holísticas, proporcionando um suporte adicional para pacientes que buscam alternativas não farmacológicas. A continuidade das pesquisas nessa área é essencial para aprofundar a compreensão dos mecanismos envolvidos e para otimizar a aplicação dessa técnica em diferentes populações clínicas. (Silva et al., 2022; Munhoz et al., 2024)
Conclusão
As Práticas de Terapias Complementares têm se consolidado como ferramentas de suma importância tanto para a promoção da saúde quanto para a prevenção e reabilitação de doenças e agravos. Durante a implementação do protocolo, foi observado que os altos níveis de estresse e a carga de trabalho excessiva impactaram negativamente a rotina e a qualidade de vida dos trabalhadores, exacerbando condições de saúde pré-existentes como ansiedade, estresse e quadros de dores musculares e articulares.
Ao término do estudo, mediante a aplicação do questionário SF-36, verificou-se uma melhora significativa nas queixas físicas e psíquicas dos participantes, especialmente nos aspectos emocionais, saúde mental e dor. Esses resultados indicam uma elevação na percepção de qualidade de vida pelos profissionais atuantes na Clínica Renal.
Esta pesquisa destacou os benefícios da auriculoterapia, uma forma de estimulação mecânica auricular, na mitigação de sintomas e emoções adversas, resultando em melhorias abrangentes na condição de saúde dos indivíduos. A auriculoterapia, assim, se posiciona como um tratamento terapêutico não medicamentoso eficaz para aliviar tanto os sintomas físicos quanto psíquicos experimentados por equipes multidisciplinares, promovendo um bem-estar biopsicossocial integral.
Referências
Abdoral, PRG, Freire, AEV, Santos, GF, Rodrigues, LS, Furtado, FF, Oliveira, EMR, Rezek, PG, Couto, MHSHF, Silva, SCB, e Miranda, CJCP (2021). Educação em saúde no cuidado de pacientes oncológicos com o uso da auriculoterapia no manejo da dor. Revista Eletrônica Acervo Saúde, 13(8), e8569. https://doi.org/10.25248/reas.e8569.2021
Andrade-Pizarro, L.M., Bustamante-Silva, J.S., Viris-Orbe, S.M, e Noboa-Mora, C.J. (2023). Retos y desafíos de enfermería en la actualidad. Revista Arbitrada Interdisciplinaria de Ciencias de la Salud. Salud y Vida, 7(14), 41-53. https://doi.org/10.35381/s.v.v7i14.2525
Bergamin E., Badin, I.L.N., Silvério-Lopes, S., e Suliano, L.C. (2013). Auriculoterapia na Qualidade de Vida de Professores de um Centro de Educação Infantil de Chapecó (SC). Rev Bras Terap e Saúde, 4(1), 7-11. https://revistadeterapiasesaude.org/?jet_download=417
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