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ISSN 1514-3465

 

Estratégias do COI visando a participação de 

mulheres no Movimento Olímpico (1953 a 2013)

Strategies of the IOC Targeting Women's Participation in the Olympic Movement (1953 to 2013)

Estrategias del COI orientadas a la participación de mujeres en el Movimiento Olímpico (1953 a 2013)

 

Alcides Vieira Costa*

professoralcides@yahoo.com

Janice Zarpellon Mazo**

janice.mazo@ufrgs.br

Bruno Peradotto Lamb+

bruno.lamb@ymail.com

Carolina Fernandes da Silva++

carolina.f.s@ufsc.br

 

*Doutor em Motricidade Humana, especialidade Ciências do Desporto

pela Faculdade de Motricidade Humana (FMH) da Universidade de Lisboa (UL)

Mestre em Ciências do Movimento Humano pela Escola de Educação Física

da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Licenciado em Educação Física pela UFRGS

Atualmente, é docente na Escola de Educação Física, Fisioterapia

e Dança (ESEFID) da UFRGS e coordenador

do Programa de Extensão Núcleo

de Esportes de Aventura (NEA) da ESEFID

**Professora Titular da Escola de Educação Física, Fisioterapia

e Dança (ESEFID) e do Programa de Pós-Graduação

em Ciências do Movimento Humano (PPGCMH)

da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Idealizadora e coordenadora do Centro de Memória do Esporte (CEME)

e do Observatório do Paradesporto e Esportes Surdos (OPES) da UFRGS

Líder do grupo de pesquisa Núcleo de Estudos em História e Memória

do Esporte e da Educação Física (NEHME)

+Possui formação em Ciências Econômicas

pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

com especialização em Gestão de Pessoas: Carreiras, Liderança e Coaching

e em Futebol: Ciência do Movimento, Metodologia e Alto Rendimento

Aluno do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Movimento Humano

na Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança (ESEFID)

da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Aluno do curso de Bacharelado em Educação Física na UFRGS

Integrante do Núcleo de Estudos em História

e Memória do Esporte (NEHME) e do Observatório do Paradesporto

e Esportes Surdos (OEPES) da UFRGS

++Professora do Departamento de Educação Física (DEF)

do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (PPGEF)

Professora colaboradora do Programa

de Pós-Graduação em Educação (PPGE)

da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Professora convidada da Universität Leipzig, na Alemanha

Pós-doutorado na University of Ottawa, Ottawa, Canadá, com bolsa CAPES/PRINT

Pós-doutorado em Ciências do Movimento Humano, no PPGCMH da UFRGS

Doutora em Ciências do Movimento Humano no PPGCMH/ESEFID/UFRGS

com bolsa CAPES e período sanduíche

na Charles University, Praga, República Tcheca

Mestre em Ciências do Movimento Humano

Especialista em Cinesiologia pela ESEFID/ UFRGS

Licenciada em Educação Física

pela Universidade da Região da Campanha

Líder do Sôma - Núcleo de Estudos em Cultura, Corpo

e Movimento do CDS/UFSC

Pesquisadora do Núcleo de Estudos em História do Esporte

e da Educação Física- NEHME- ESEFID/UFRGS

Membro da Associação Latina de Filosofia do Desporte (ALFID)

Membro da Academia Olímpica Brasileira, participante

do 19th International Seminar on Olympic Studies

for Postgraduate Students of the International Olympic Academy

ocorrido em Olímpia – Grécia

(Brasil)

 

Recepción: 24/07/2024 - Aceptación: 30/09/2024

1ª Revisión: 21/09/2024 - 2ª Revisión: 27/09/2024

 

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Cita sugerida: Costa, A.V., Mazo, J.Z., Lamb, B.P., y Silva, C.F. da (2024). Estratégias do COI visando a participação de mulheres no Movimento Olímpico (1953 a 2013). Lecturas: Educación Física y Deportes, 29(318), 37-52. https://doi.org/10.46642/efd.v29i318.7798

 

Resumo

    A participação de atletas mulheres nos Jogos Olímpicos (JJ.OO.) da era moderna ocorre desde a segunda edição, em 1900. Após esse evento, houve um ingresso gradual de mulheres nas competições dos JJ.OO. de Verão, alcançando-se a igualdade de gênero nas cotas de vagas somente na edição de 2024. Por outro lado, a participação de mulheres em cargos diretivos no Comitê Olímpico Internacional (COI) não ocorreu com a mesma rapidez, uma vez que não havia mulheres no COI em 1900 e, em 2024, o percentual é de 33,3%. Diante de tais informações, o estudo objetiva elucidar as ações direcionadas à participação de mulheres nos JJ.OO. e nas estruturas decisórias do COI, no período de 1953 a 2013, por meio de atas da entidade. Evidenciou-se que, até a década de 1950, mesmo havendo certa preocupação com a participação das mulheres nos JJ.OO., esta ainda era embrionária. Além disso, não se observou a presença de mulheres nas estruturas decisórias do Movimento Olímpico até o final dos anos de 1960. Apenas na década seguinte, em 1970, emergiram as primeiras estratégias organizacionais de impacto significativo, destacando-se a permissão para o ingresso de mulheres como membros do COI. Mesmo assim, as primeiras eleitas foram somente na década seguinte, em 1981. Desde então, o Movimento Olímpico tem se esforçado para promover maior participação das mulheres no esporte, assumindo a responsabilidade pela implementação de estratégias de integração das mulheres nos JJ.OO., embora, em relação à ocupação de posições nas estruturas decisórias, a presença delas ainda seja incipiente.

    Unitermos: Esporte feminino. Jogos Olímpicos. História do Esporte.

 

Abstract

    The participation of female athletes in the modern era of the Olympic Games (OG) has been occurring since the second edition of the event in 1900. Since then, there has been a gradual increase in the participation of women in the Summer Olympic Games competitions, achieving gender equality only in the 2024 edition. In contrast, , women's participation in leadership positions within the International Olympic Committee (IOC) did not progress at the same pace, as there were no women in the IOC in 1900, and in 2024 the percentage is 33.3%. This study aims to elucidate the actions directed towards women's participation in the Olympic Games and in the decision-making structures of the IOC, during the period from 1953 to 2013 based on the analysis of the organization's minutes. It was evidenced that, until the 1950s, even though there was concern about women's participation, it was still in its early stages. Similarly, women's participation in the decision-making structures of the Olympic Movement was not observed until the late 1960s. Only in the 1970s, in 1973, did the first significant organizational strategies emerge, such as the one that allowed women to become members of the IOC; however, the first women were elected only in the following decade, in 1981. In this regard, especially in the last 20 years, the Olympic Movement has been striving to promote greater participation of women in sports, taking responsibility for implementing strategies to integrate women into the Olympic Games, although their participation in decision-making structures remains incipient.

    Keywords: Women's sports. Olympic Games. Sports History.

 

Resumen

    La participación de deportistas mujeres en los Juegos Olímpicos de la era moderna se da desde la segunda edición, en 1900. Posteriormente, se produjo un paulatino ingreso de las mujeres a las competencias de los JJ.OO. de Verano, logrando la igualdad de género en las cuotas de vacantes recién en 2024. Por otro lado, la participación de mujeres en puestos directivos en el Comité Olímpico Internacional (COI) no se produjo con la misma velocidad, ya que no había mujeres en el COI en 1900 y, en 2024, el porcentaje es del 33,3%. Ante estos datos, este estudio pretende dilucidar acciones encaminadas a la participación de mujeres en los JJ.OO. y en las estructuras de toma de decisiones del COI, desde 1953 hasta 2013, a través de las actas de la entidad. Hasta la década de 1950, la participación de las mujeres en los JJ.OO., aún era embrionaria. Además, la presencia de las mujeres en las estructuras de toma de decisiones no se observó hasta finales de los años 1960. Sólo en la década siguiente, en 1970, se autoriza la entrada de mujeres como miembros del COI. Aun así, las primeras elegidas lo fueron recién en la década siguiente, en 1981. Desde entonces, el Movimiento Olímpico se ha esforzado por promover una mayor participación de las mujeres en el deporte, asumiendo la responsabilidad de implementar estrategias para integrarlas en los JJ.OO., aunque, en relación con la ocupación de puestos en las estructuras de toma de decisiones, su presencia es aún incipiente.

    Palabras clave: Deporte femenino. Juegos Olímpicos. Historia del Deporte.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 318, Nov. (2024)


 

Introdução 

 

    No ano de 2024 ocorre mais uma edição dos (JJ.OO.) em Paris, assinalando 100 anos desde que foi realizada na mesma cidade o evento em 1924. Naquela época, a participação de atletas mulheres nas competições foi baixíssima em relação aos homens e, também não havia mulheres na composição do Comitê Olímpico Internacional (COI). Cabe relembrar que nas primeiras edições do Jogos Olímpicos era permitida apenas a participação de homens que praticavam o esporte na perspectiva do amadorismo, assinalando uma concepção esportiva de viés elitista e machista. (Costa, 2012)

 

    No entanto, dessa vez, segundo o COI, “pela primeira vez na história das Olímpiadas, haverá igualdade de gêneros nas cotas de vagas para Paris 2024” (Globo Esporte, 2024), apontando a maior participação de atletas mulheres no evento. Embora, houve o aumento na quantidade de mulheres envolvidas com o movimento olímpico (MO) nota-se que desde o ano de 1894, quando o COI foi implantado, até os dias atuais nenhuma mulher ocupou a posição de presidente da entidade. E, conforme Müller (2003) no que concerne a participação nos JJ.OO. foram raras as mulheres que competiram na edição de 1900.

 

    Ao longo das edições ocorreu o gradual participação de mulheres em competições e apenas nos JJ.OO. de 2012, em Londres, foi alcançada a meta de todas as 204 delegações representantes dos países participantes contarem com atletas mulheres. Após, dois anos, em 2014, o Movimento Olímpico apresentou políticas de igualdade de participação entre atletas homens e mulheres no documento “Agenda Olímpica 2020 20+20” (International Olympic Committee, 2014; Rubio, 2016). Dentre as ações previstas neste documento consta a garantia pela igualdade de gênero. (Santana, Oliveira, e Uvinha, 2022)

 

    A edição dos JJ.OO. de Tóquio, prevista para 2020, realizada no ano de 2021 em decorrência da pandemia de COVID-19, apresentou indícios das mudanças conduzidas pelo COI. A quantidade de atletas mulheres nas edições do evento chegou ao patamar de 48,7%, figurando como um recorde (Globo Esporte, 2024; Depasse, 2024). A próxima meta a ser alcançada nos JJ.OO. 2024 em Paris é garantir que metade da delegação seja formada por mulheres (International Olympic Committee, 2020). Contudo, a paridade numérica de gênero será alcançada apenas entre atletas (Depasse, 2024), pois a igualdade de gênero ainda é um debate em andamento no âmbito da gestão esportiva.

 

    A despeito se sucederá a confirmação da meta do COI na edição de Paris em 2024, o incremento da presença de atletas mulheres nos JJ.OO., se deve a vários fatores, dentre eles, destaca-se a ocupação de espaços pelas mulheres no movimento olímpico e no COI. Conforme Tomlinson (2023), o COI foi organizado como um corpo não representativo e não responsável de homens brancos cisgêneros de origens privilegiadas e da burguesia. Tendo em vista, a afirmação do autor (2023) é bem provável que os pioneiros presidentes do COI tensionavam sobre a participação de mulheres tanto em competições quanto em cargos de gestão esportiva.

 

    Desde a implantação do COI sucediam “lutas de representação” (Chartier, 2000) pela manutenção de tradições, retardando o debate sobre a igualdade de participação, ao mesmo tempo em que circulavam ideias favoráveis ao incremento da atuação de mulheres no esporte e na entidade. E, mesmo as mulheres se destacando em distintas modalidades esportivas nos JJ.OO., a conquista de espaço no COI ocorreu somente em 1981, quase 87 anos após a fundação da entidade (Costa, 2012). Nota-se que os avanços com relação à ocupação de cargos decisórios pelas mulheres ainda são pouco expressivos, totalizando, aproximadamente, 33,3% de mulheres nas estruturas decisórias do esporte no Conselho Executivo do COI. (Depasse, 2024)

 

    A partir do exposto, o estudo tem por objetivo elucidar ações direcionadas para a participação de mulheres nos JJ.OO. e nas estruturas decisórias do COI, no período de 1953 a 2013, por meio da análise de atas da entidade.

 

Métodos 

 

    O estudo, de cunho qualitativo em uma perspectiva sócio-histórica, tratou de realizar uma análise documental de 124 Atas das Sessões do COI do período entre 1953 a 2013. O critério adotado para selecionar as atas foi relativo aos mandatos mais representativos no que se refere a participação feminina nos JJ.OO. e nos quadros decisórios do COI. Sendo assim, escolheu-se as quatro últimas gestões da entidade: Avery Brundage, Michael Killanin, Antonio Samaranch e Jacques Rogge. Na “Gestão de Avery Brundage”, entre os anos de 1952 e 1972, a discussão sobre a participação da mulher no esporte esteve ligada aos ajustes necessários no Programa Olímpico (PO). Em seguida, a “Gestão de Michael Killanin”, anos de 1972 até 1981, marca o período de transição nas estratégias organizacionais do COI, considerando a participação de mulheres para o futuro. Já a “Gestão de Antonio Samaranch”, de 1981 a 2001, é o momento em que, efetivamente, ocorre um incremento significativo na participação das mulheres nos JJ.OO. e nas estruturas decisórias do Movimento Olímpico (MO). Logo, a “Gestão de Jacques Rogge”, de 2001 a 2013, apresenta estratégias de consolidação da inclusão das mulheres em todos os âmbitos do esporte. Cabe esclarecer que nas Sessões do COI se reúnem os membros da entidade, que são os seus representantes em todo o mundo, além do presidente, vice-presidentes, comissão executiva, demais comissões e convidados.

 

    As atas analisadas eram cópias digitalizadas dos documentos originais cedidos pelo Centro de Estudos Olímpicos - CEO, localizado no Museu Olímpico do Comité Olímpico Internacional, em Lausanne, Suíça. Nas atas, durante a leitura exploratória, foi dada atenção especial aos temas relacionados a participação feminina nos JJ.OO. e nos quadros decisórios do COI. Inicialmente, procedeu-se a busca pelos seguintes termos: mulher(es), feminino(a) para, na sequência, extrair os fragmentos de textos das atas identificados por meio da ocorrência dos referidos termos. Após foram construídas duas categorias, com o intuito de se aglutinar os fragmentos de textos achados, a saber: sobre a participação das mulheres nos JJ.OO.; sobre a participação das mulheres em quadros decisórios do COI e outras entidades citadas nas atas. Em seguida realizou-se a interpretação das informações coletados com apoio da literatura consultada. Os resultados da análise documental são descritos no tópico que segue, conforme cada uma das quatro gestões do COI.

 

Resultados e discussões 

 

Gestão de Avery Brundage: indícios de preconceitos acerca das mulheres 

 

    No início do mandato de Avery Brundage (1887-1975), na presidência do COI, em 1953, Erik von Frenckell (1887-1977), membro do COI para a Finlândia, apresentou um relatório sobre a necessidade de redução no Programa Olímpico. Mesmo assim, ficou decidido, por unanimidade, não excluir as mulheres do megaevento. Entretanto, emergiu uma restrição colocada por Brundage, que defendia que as competidoras deveriam ser aceitas somente nos esportes apropriados para elas, o que deixa evidente uma posição preconceituosa deste presidente.

 

Ao seguir esta perspectiva, Konstantin Andrianov (1910-1988), representante do COI para a União Soviética, fez uma proposta de inclusão das mulheres em todos os eventos esportivos nos Jogos Olímpicos que estivessem em conformidade com as regras das Federações Internacionais (FIs), gerando uma divisão entre os membros, com alguns sendo contra e outros a favor. Por exemplo, Jean de Beaumont (1904-2002) e Armand Massard (1884-1971), ambos representantes da França, foram contra a proposta, ao defenderem que isto levaria a um grande crescimento dos JJ.OO., enquanto o COI estava tentando reduzi-lo. Por outro lado, Dutt Sondhi (1890-1966, Índia) e o General Vladimir Stoytchev (1892-1998, Bulgária) foram da opinião de que, se o objetivo do MO era o de desenvolvimento humano, e não só dos homens, esta proposta deveria ser investigada. Ficou acordado que os membros aguardariam a experiência nos JJ.OO. de Roma e foi pedida uma posição da Comissão Executiva para 1961.

 

    Mesmo diante de evidentes preconceitos, em 1962, foi incluído no PO o voleibol e os 5 km de esqui cross country para as mulheres, sendo rejeitada a inclusão de um novo evento de ciclismo, adotado pela União Ciclística Internacional (UCI). Dois anos mais tarde, em 1964, Stoytchev propôs que deveria ocorrer maior inclusão das mulheres nos JJ.OO. e pediu uma análise do PO para inclui-las de forma mais adequada. Para Stoytchev, a participação das mulheres nos JJ.OO. não refletia a realidade do nível de desenvolvimento do esporte feminino no mundo e isto era um equívoco do MO. Segundo ele, nos tempos que se passavam, o esporte era necessário para todas as mulheres, por promover o bom estado físico, capacidade de trabalho e a longevidade. Os JJ.OO. eram, assim, um estímulo de grande força que encorajaria a inclusão do esporte no dia-a-dia das mulheres. Nesta direção, Stoytchev propôs que o COI elegesse uma comissão para examinar o PO a fim de apresentar um balanço realista entre os homens e as mulheres nos esportes modernos.

 

    O vice-presidente do COI, Konstantin Andrianov, relatou que a entidade declarava igualdade entre mulheres e homens no esporte; mas, ao mesmo tempo, restringia a participação feminina, ao considerar este como mais um exemplo das ações inconsequentes do COI. Ele ressaltou a não existência de mulheres entre os membros do COI. No ano seguinte, em 1968, Beaumont propôs que o COI deveria ter, pelo menos, uma mulher como membro da entidade. Na opinião de Arpad Csanadi, membro do COI para a Hungria, a participação das mulheres nos JJ.OO. era uma questão que merecia as mais sérias considerações e afirmou: “O momento é mais do que propício para passar de um reconhecimento teórico da necessidade de incentivar a participação das mulheres nos esportes e nos JJ.OO., em particular, para a realização desse problema urgente”. (Comitê Olímpico Internacional, 1970, p. 76, tradução nossa)

 

Gestão de Michael Killanin: favorável a presença das mulheres no COI 

 

    Michael Killanin (1914-1999), no seu primeiro ano de mandato como Presidente do COI no ano de 1973, posicionou-se a favor da eleição de mulheres para membros do COI. Louis Guirandou-N'Diaye (1923-1999), membro do COI para a Costa do Marfim, Maurice Herzog (1919-2012), membro do COI para a França, e Alexandre de Merode (1934-2002), membro do COI para a Bélgica, partilhavam da mesma opinião. Nesta direção, foi sugerido que, como primeiro passo, as Federações Internacionais (FIs) e Comitês Olímpicos Nacionais (CONs) incluíssem mais mulheres como membros e, assim, foi decidido que mulheres podiam concorrer para ser membros do COI. No mesmo ano, Killanin, ao receber uma solicitação de inclusão de uma prova de tiro para mulheres, posicionou-se dizendo que não tinha nada contra as mulheres competirem junto com os homens; mas, quando isto exigisse um novo evento, deveria ser analisado com cautela.

 

    Com relação à eleição de mulheres para o COI, Herzog era de opinião favorável a representação delas, mas que deveria existir um só membro em cada país e que todos os países fossem representados. Herzog reforçou sua posição e, em suas recomendações, solicitou a admissão de uma mulher para o COI. “A admissão de mulheres no COI era necessária o mais rápido possível”. (Comitê Olímpico Internacional, 1977a, p.18, tradução nossa).

 

    Na mesma reunião, o presidente do comitê declarou que o COI estava de pleno acordo com a representação das mulheres. No entanto, “no momento, nos países onde havia candidatas, não havia vagas; e, nos novos países, não havia candidatas. De fato, havia relativamente poucas mulheres envolvidas na administração esportiva”. (Comitê Olímpico Internacional, 1977b, p. 54, tradução nossa)

 

Gestão de Antonio Samaranch: as mulheres ocupam espaço no COI 

 

    Além do aumento da participação das mulheres nos JJ.OO. a partir da década de 1980, outro acontecimento a ser evidenciado é a realização sistemática de diversas conferências em vários países, onde o tema sobre a mulher no esporte foi tratado. Nestes eventos, ações foram desencadeadas para discutir e efetivamente tentar melhorar a relação da mulher com o esporte, bem como as representações sociais destas junto a este fenômeno cultural. Têm-se, como exemplos, o relatório de “Igualdade e Inclusão da Mulher no Esporte: mapeamento das organizações esportivas nacionais e internacionais” realizado pela ONU, Mulheres em parceria com o Comitê Olímpico do Brasil (COB), além do “Fórum da Mulher no Esporte” também realizado pelo COB. (ONU Mulheres e Comitê Olímpico do Brasil, 2022)

 

    Como resultado do processo apresentado anteriormente, e no primeiro ano de mandato de Antonio Samaranch (1981-2010) na Presidência do COI, foram eleitas as duas primeiras mulheres como membros do COI, Pirjo Häggman, da Finlândia, e Flor Isava Fonseca, da Venezuela. No ano seguinte, Samaranch reafirmou as suas crenças e ideais, ao sustentar que o COI estava mais vivo e mais forte do que nunca, dando, como exemplo, as primeiras duas mulheres eleitas. No ano seguinte, Samaranch anunciou que Mary Alison Glenn Haig tinha sido eleita como membro para o lugar de David Cecil (1905-1981), conhecido como Marques d’Exeter, membro do COI para o Reino Unido.

 

    Em 1986, Gunnar Ericsson (1919-2013), membro do COI para a Suécia, considerou necessário encorajar a participação das mulheres nos JJ.OO. e recomendou que a inclusão do pentatlo feminino fosse reconsiderada, particularmente se as instalações usadas pelos homens pudessem ser utilizadas pelas mulheres. Niels Holst-Sorensen (1922-2023), membro do COI para a Dinamarca, corroborou com Ericsson ao argumentar que era a favor da participação feminina, por considerar importante as qualidades da modalidade e devido ao fato do COI querer encorajar a participação das mulheres de uma forma geral.

 

    Já em 1988, o relatório da Comissão do PO apresentou consideráveis avanços. Foi determinada a inclusão do biatlo feminino nos JJ.OO. de Inverno e a marcha feminina de 10 km para os JJ.OO. de Verão, ambos a partir de 1992. Além disso, ocorreria um evento adicional de prancha à vela para mulheres. A comissão, ainda, ressaltou que para os futuros JJ.OO., o judô, o beisebol e o badminton já tinham sido aceitos. Entretanto, a Comissão do PO salientou: “A Comissão é a favor de uma maior participação das mulheres nos JJ.OO., desde que isso reflita, de forma realista, a popularidade do esporte feminino no mundo”. (Comitê Olímpico Internacional, 1988, p. 125, tradução nossa)

 

    Como resultado desse processo, o tema base, do ano de 1990, na Sessão da Academia Olímpica foi “A Mulher no Movimento Olímpico”. Segundo o relatório do evento, este tema provocou um grande interesse e gerou longas discussões. As conclusões básicas e recomendações dos grupos de discussão foram, entre outras, as seguintes: foi consenso que o esporte, naqueles dias, era predominantemente direcionado para os homens; as mulheres envolvidas eram poucas; as mulheres eram aconselhadas a não continuar nas atividades esportivas por razões fisiológicas em certos períodos da sua vida; havia influência cultural oriunda da mídia de muitos países, que oferecia menos cobertura aos eventos femininos; as fontes de apoio ao esporte feminino eram reduzidas; existia grande relação com os problemas socioeconômicos e de acesso à educação como elementos-chave na participação da mulher no esporte; parecia que as novas gerações tinham o direito constitucional que garantia igualdade, mas a igualdade não era conquistada e nem praticada.

 

    Em 1994, realizou-se a Conferência de Brighton (Graça, 2006) e o documento elaborado nesta conferência apresenta um conjunto de princípios de atuação internacional visando a elaboração de programas de desenvolvimento da participação das mulheres no esporte. Cabe salientar que, neste evento, segundo Graça (2006), o COI proferiu declarações apoiando a criação de “uma estratégia mundial para a eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres” (p. 11). As discussões nas diversas conferências e a participação cada vez mais efetiva das mulheres nos JJ.OO. trouxe um efeito positivo.

 

    Atualmente, a Carta Olímpica apoia abertamente a participação da mulher no MO. Este documento representou um forte avanço na participação das mulheres no esporte, pois incluiu, em 1996, pela primeira vez na história, uma referência explícita à necessidade de inclusão das mulheres em todos os níveis do esporte. Tal fato corroborou para a produção de representações sociais acerca de uma suposta e pretendida igualdade entre os gêneros, pelo menos neste contexto. A Carta Olímpica:

    encoraja fortemente, pelos meios adequados, a promoção das mulheres no esporte, a todos os níveis e em todas as estruturas, em particular nos órgãos executivos das organizações esportivas nacionais e internacionais com vista à aplicação rigorosa do princípio de igualdade entre homens e mulheres (Artigo 2º, nº 5, Carta Olímpica, em vigor a partir de 18.07.1996, Comitê Olímpico Internacional, 1996, tradução nossa).

    Embora apresentasse um avanço com relação as políticas de inserção das mulheres no universo olímpico, tal perspectiva está vinculada ao Feminismo Liberal, ou de Segunda Onda. Os pressupostos teóricos desta vertente feminista são frequentemente utilizados na gestão esportiva, a qual visa a igualdade entre homens e mulheres, mantendo um binarismo que produz representações de gênero fixas, como masculino e feminino (Carrington, 2023). Desta forma, entende-se que as iniciativas para a instauração de uma igualdade de gênero devem buscar superar o objetivo de paridade numérica.

 

    Em 1996, emergiu o primeiro relatório do Grupo de Trabalho sobre a Mulher no Esporte, fruto do primeiro encontro realizado no mês de março do mesmo ano. Em um breve relato histórico, a presidente do referido grupo de trabalho lembrou que a participação da mulher iniciou nos JJ.OO. de Paris em 1900 e, para os JJ.OO. de Atlanta em 1996, as mulheres competiram em 20 esportes de um total de 97 eventos. Também assinalou que em 1981, foi eleita uma mulher para o COI e, em 1995, o COI esteve presente na Conferência Mundial da ONU sobre a mulher, em Pequim (China), onde o COI defendeu as propostas feitas no Congresso do Centenário relativas à promoção e integração da mulher no MO; além de, no mesmo ano, organizar uma Conferência sobre o Esporte e a Mulher na Oceania e nas Ilhas Fiji. Por fim, a presidente do grupo de trabalho considerou que isto representava um crescimento considerável, mas que era preciso mais iniciativas.

 

    Quanto aos percentuais da evolução na participação nos JJ.OO., os dados indicavam que ainda precisavam melhorar. Em Barcelona (1992), tinham participado 70% de homens e 30% de mulheres; para Atlanta (1996), se esperava uma alteração do percentual para entre 38% a 40%. Com a questão da igualdade de participação nos JJ.OO. tendo atingido um percentual razoável, o problema que surgia era o de colocar as mulheres em posições de decisão. Samaranch relatou ter gostado de saber que o CON do Canadá tinha, em 1996, mais mulheres do que homens, e que o CON do Japão tinha quase o mesmo número; além disso, o Irã, Malásia e Paquistão já estavam tendo mulheres em suas equipes.

 

    No que tange à participação das mulheres em posições de decisão, o COI deu um passo à frente, em 1997, quando elegeu, por aclamação para Vice-Presidente, Anita DeFrantz (1952-). Outra ação adotada foi enviar, para os 197 CONs, uma carta encorajando-os a indicarem mulheres para as estruturas de decisão em conformidade com o estipulado na 105ª Sessão de 1996. Segundo o relatório do grupo de trabalho, muitos CONs responderam positivamente e desejavam cooperar com o COI, e os CONs decidiram criar suas próprias Comissões de Mulher e Esporte. Além disso, a Solidariedade Olímpica, ao seguir as recomendações do grupo de trabalho decidiu disponibilizar um orçamento anual para financiar projetos que aumentassem a participação das mulheres nos CONs e financiar a organização de seminários regionais.

 

    Em 1998, o Presidente Samaranch afirmou: “Outra grande preocupação do Movimento Olímpico naquele momento era a participação das mulheres” (Comitê Olímpico Internacional, 1998, p. 5, tradução nossa). Segundo ele, a participação feminina nos JJ.OO. estava crescendo e, em breve, estaria nivelada com os homens. Entretanto, o presidente salientou que o problema mais urgente que deveria ser resolvido era o envolvimento da mulher na liderança esportiva e relembrou o estipulado anteriormente, que seria, para muitos, pouco significativo; mas, para outros, difícil de atingir. O “COI solicitou às FIs e aos CONs que tentassem garantir que, até o ano 2000, tivessem, pelo menos, 10% de mulheres em seus órgãos executivos e 20% até 2005” (Comitê Olímpico Internacional, 1998, p. 5, tradução nossa). Os percentuais parecerem baixos, mas alguns países teriam que fazer grandes esforços para alcançá-los.

 

    No que tange à participação feminina nas estruturas decisórias, a presidente do grupo de trabalho comunicou que as FIs estavam sendo incentivadas para tal. Quanto aos Programas da Solidariedade Olímpica de 1997, DeFrantz advertiu que 99% dos cursos técnicos eram destinados aos esportes masculinos. Em relação às bolsas de estudos, em 1997 as mulheres tinham recebido 80 das 246 disponibilizadas, totalizando 32,5%. Segundo o relatório apresentado pelo Grupo de Trabalho da Mulher e Esporte, a situação da presença das mulheres nas estruturas executivas (decisórias) nos CONs atingiu 49,5% em 1999, contudo, apenas três CONs tinham mulheres na posição de presidentes; 26 na vice-presidência e 10 como Secretária-Geral.

 

    Segundo Samaranch, em relação à participação da mulher nos JJ.OO., o problema parecia estar resolvido, já que a participação feminina foi de 40% em Sydney. No entanto continuava existindo dificuldades quanto a participação das mulheres nos processos de tomada de decisão: “havia muito espaço para melhorias no que se refere ao envolvimento das mulheres na administração esportiva e ao cumprimento, pelas FIs e CONs, do requisito mínimo de 10% de representação feminina em seus Comitês Executivos”. (Comitê Olímpico Internacional, 2000a, p. 4, tradução nossa)

 

    Quanto à promoção das mulheres nas lideranças esportivas, após a meta estabelecida que o COI, CONs, FIs, FNs e organizações esportivas deveriam atingir 10% de mulheres em seus órgãos executivos e legislativos, até o ano de 2000, foi apresentado um relatório, no qual os dados indicavam que no COI, haviam 9% de mulheres na Comissão Executiva (1/10); 14% entre os membros (14/99); e 11,4% participando em comissões (29/225). Em relação aos CONs, existiam 131 (66%) com mulheres e 68 sem a presença de mulheres. Essa realidade era diferente de 1997, quando existiam 57 CONs (28,93%) com mulheres em suas estruturas decisórias e 140 sem mulheres. Baseado nas informações fornecidas por 35 FIs, em 2000, existiam 25 FIs (71%) com mulheres em suas estruturas decisórias e 10 sem mulheres, representatividade bem mais significativa que em 1998, quando existiam apenas 10 FIs (29,41%) com mulheres e 24 sem mulheres. (Comitê Olímpico Internacional, 2000b, p. 132)

 

As mulheres conquistam mais visibilidade na gestão de Jacques Rogge 

 

    No primeiro ano de gestão de Jacques Rogge (1941-), em 2001, foi relatado, por DeFrantz, presidente do Grupo de Trabalho da Mulher e Esporte, que, desde a sessão do ano anterior, muitas atividades foram executadas em relação às mulheres e ao esporte. Também comentou que, no mandato de Samaranch, o MO abriu-se para as mulheres não somente nos esportes, mas também na governança e em estruturas políticas e decisórias. Segundo DeFrantz, naquele momento, as questões relativas às mulheres no esporte eram parte significativa da agenda esportiva e de desenvolvimento da gestão de Jacques Rogge.

 

    Em relação às atividades realizadas entre 1995 e 2001, a conclusão apresentada por DeFrantz foi que, desde a criação do Grupo de Trabalho da Mulher e Esporte, as políticas do COI tinham se focado em dois objetivos principais: promover e aumentar a participação da mulher nos JJ.OO., nas atividades esportivas de uma forma geral, e nas estruturas de gestão, nos níveis nacional e internacional. Além disso, aumentar a preocupação dos membros do MO sobre esta questão e ajudá-los a estabelecer uma política claramente definida para as mulheres no esporte.

 

    Quanto aos JJ.OO., em 2001, o PO tinha aumentado em número de esportes, disciplinas e eventos femininos, e os mesmos estavam quase em igualdade com os do gênero masculino. No que tange aos JJ.OO., os esportes aumentaram de 21 para 25 e os eventos de 108 para 132, ao atingir 44%. Quanto aos JJ.OO. de Inverno, os esportes foram, em 2002, de seis para sete, e os eventos, de 31 para 37, atingindo 47,3%.

 

    Neste contexto, era fundamental que o COI cumprisse com o estabelecido pela própria entidade. Conforme DeFrantz, outras organizações atingiram ou passaram do estabelecido, e o COI, como líder, tinha que dar o exemplo. Na opinião de Niko Filaretos (1925-2007), membro do COI para a Grécia, a entidade deveria focar a atenção nas FNs, já que era por meio delas que as FIs obtinham os seus oficiais. Ele esclareceu que muitos membros das FNs eram membros dos CONs e, em muitos países, praticamente não havia mulheres nas estruturas decisórias das FNs. “A Sra. DeFrantz estava ciente do ponto de vista do Sr. Filaretos e sabia que as federações nacionais eram o início do caminho para o avanço no esporte”. (Comitê Olímpico Internacional, 2003, p. 10, tradução nossa)

 

    Em 2004, um ano antes do prazo limite para estabelecer 20% de mulheres nas estruturas decisórias, DeFrantz ressaltou que, no PO de Atenas (2004), haveriam mulheres competindo em 26 dos 28 esportes, ao contabilizar 43% dos atletas competindo. Entretanto, em relação ao COI, ela alertou que seriam necessários em torno de 23 membros do gênero feminino para se atingir o estipulado de 20%, sendo três mulheres na Comissão Executiva e 48 nas várias comissões. No ano seguinte, em 2005, DeFrantz reportou que o Grupo de Trabalho da Mulher e Esporte que presidia estava completando 10 anos de atuação. Comentou sobre os JJ.OO. em Atenas (2004) em razão da abertura de espaço para mais disciplinas femininas no evento; entretanto, ainda existiam sete CONs que nunca tiveram uma atleta olímpica competindo nos JJ.OO. O trecho a seguir exemplifica as discussões: “Eles tiveram que trabalhar com os CONs para ajudá-los a cumprir suas obrigações com relação às mulheres atletas. As melhorias no que concerne as mulheres em cargos de liderança esportiva foram feitas, de fato, depois de Atenas”. (Comitê Olímpico Internacional, 2005, p. 8, tradução nossa)

 

    Em relação as FIs, só existiam três no ano de 2005, sem a presença de mulheres entre os seus membros (FINA, FIFA e IBAF). Em 2006, DeFrantz relatou aos membros que o COI já tinha realizado três conferências mundiais sobre a Mulher e esporte. A primeira ocorreu em Lausanne, e contou com 214 participantes; a segunda, em Paris, teve 470 participantes; e a terceira, em Marraquexe, com mais de 600 participantes. Para DeFrantz, cada conferência foi uma oportunidade de ampliar a participação das mulheres nas redes do esporte, o que era uma ajuda para que se atingissem os objetivos do COI. Foi salientado que, no fim das conferências, sempre eram propostas recomendações para que fossem efetivadas ao longo do tempo.

 

    Entretanto, o COI ainda não tinha atingido a sua própria meta. DeFrantz manifestou que apreciava os esforços do presidente do COI nas questões relativas às mulheres, mas ainda permaneciam barreiras estruturais as quais dificultavam o acesso das mulheres conforme as regras estipuladas. Em resposta, Rogge pediu apoio aos membros: “Se a sessão elegesse as duas candidatas a membro do COI, o número de mulheres aumentaria para 14, de modo que o COI estaria mais perto de atingir sua meta”. (Comitê Olímpico Internacional, 2006, p. 8, tradução nossa)

 

    De acordo com DeFrantz, em 1996, o COI tinha adotado a política de ter 10% de mulheres nas estruturas político-decisivas até 2001, e 20% até o ano de 2005. Na opinião dela, sucedeu muito trabalho para encontrar os métodos a fim de se atingir a referida meta. Entretanto, a sua maior conquista foi no aumento da participação feminina nos JJ.OO., pois o MO não teve tanto sucesso na ocupação de posições decisórias; apenas 32% das FIs tinham atingido a meta dos 20% de participação feminina nestas estruturas.

 

    DeFrantz, na Sessão de 2007, salientou: “Eles sabiam que havia muitas mulheres em todo o mundo que estavam prontas para assumir esses cargos administrativos, mas as oportunidades ainda não existiam” (Comitê Olímpico Internacional, 2007, p. 5-6, tradução nossa). Para ela, as estratégias para o sucesso eram claras, sendo necessário que todos os CONs incluíssem mulheres em suas delegações para os JJ.OO. de Pequim (2008). Nesse sentido, as mulheres deveriam participar das políticas de formulação das conferências e assegurar que elas fossem eleitas para as diretorias responsáveis pelas políticas esportivas.

 

    Em 2008, DeFrantz referiu que a participação feminina tinha, novamente, aumentado para os JJ.OO. de Pequim (2008), e um crescimento semelhante deveria ocorrer para os JJ.OO. de Inverno de Vancouver (2010). No entanto, lamentou que o aumento da representação feminina nas estruturas decisórias do MO teve um progresso mínimo nos anos recentes. Enfatizou que apenas a Associação Continental da Oceania tinha atingido a meta dos 20% de membros mulheres, e o COI ainda precisava de mais mulheres para atingir o número de 23, o qual foi estabelecido como necessário para cumprir com a meta proposta pela própria entidade.

 

Conclusões 

 

    O estudo evidenciou que não ocorria a participação de mulheres nas estruturas decisórias do Movimento Olímpico até o final da década de 1960. Somente no início da década de 1970 emergiram as primeiras estratégias organizacionais de impacto significativo, como a que permitiu as mulheres se tornarem membros do COI, porém, apenas uma década depois foram eleitas para ocuparem posições na entidade. Diante de tais informações pondera-se que a equidade de gênero foi de certo modo aparente, afinal foi direcionada pelo aspecto quantitativo de vagas contrastando com a baixa participação de mulheres nos altos escalões decisórios da estrutura do COI.

 

    Observa-se que o COI passou a atuar no sentido da participação mais efetiva das mulheres nos JJ.OO., no entanto, o processo de implementação de estratégias para a integração das mulheres nas estruturas decisórias parece incipiente no período investigado. Uma vez que o estudo foi delimitado entre os anos de 1953 e 2013, sugere-se pesquisas sobre as iniciativas do COI posteriores ao documento publicado em 2014. Temos ciência que sucedeu o intervalo de uma década até os Jogos Olímpicos de Paris 2024, um tempo histórico carregado de outros sentidos e significados, o qual é fundamental para compreender os desafios do COI no tempo presente.

 

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