ISSN 1514-3465
Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho
em funcionários de uma instituição de ensino
Work-Related Musculoskeletal Disorders in
Employees of an Educational Institution
Trastornos musculoesqueléticos relacionados con el
trabajo en empleados de una institución educativa
Paulo Roberto Santos Lopes
*josie@unidavi.edu.br
Luiz Otávio Matsuda
+matsuda@unidavi.edu.br
Ana Inês Gonzáles
++
*Mestrado em Ciências do Movimento Humano
pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
Graduação em Educação Física no Centro Universidade
para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI)
Graduação
em Fisioterapia no UNIDAVI
Docente do UNIDAVI
**Pós-Doutorado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Doutorado em Biotecnologia pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP)
Mestrado em Biotecnologia pela UNAERP
Graduação em Fisioterapia pela UNAERP
Docente do UNIDAVI
+Doutorando em Saúde pela Faculdade de Medicina ABC
Mestre em Biotecnologia Plantas Medicinais com ênfase
em Tecnologia Aplicada a saúde em Doenças Neuromusculares pela UNAERP
Graduação em Fisioterapia pela UNAERP
Docente do UNIDAVI
++Doutorado
em Ciências do Movimento Humano pela UDESC
Mestrado em Ciências do Movimento Humano pela UDESC
Graduação em Fisioterapia pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC)
Docente do UNIDAVI
(Brasil)
Recepción: 20/07/2024 - Aceptación: 13/12/2024
1ª Revisión: 23/09/2024 - 2ª Revisión: 10/12/2024
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
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Cita sugerida
: Lopes, P.R.S., Matsuda, J.B., Matsuda, L.O., e Gonzáles, A.I. (2025). Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho em funcionários de uma instituição de ensino. Lecturas: Educación Física y Deportes, 29(320), 116-129. https://doi.org/10.46642/efd.v29i320.7791
Resumo
Introdução: Os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) são condições multifatoriais que afetam o sistema musculoesquelético, resultando em disfunções e limitações físicas. Objetivo: Avaliar a prevalência de DORT em funcionários de uma instituição de ensino no Sul do Brasil. Métodos: Foram aplicados cinco questionários autoadministrados, abordando características sociodemográficas, distúrbios musculoesqueléticos, nível de atividade física (NAF), qualidade de vida (QV) e qualidade de vida no trabalho (QVT). Resultados: Participaram do estudo 103 funcionários, sendo 35,9% do sexo masculino e 64,1% do sexo feminino. A prevalência de DORT foi mais alta nas regiões lombar (73,8%) e cervical (69,8%), com a intensidade dos sintomas sendo mais frequente na região lombar (média de 3,9). Quanto à QV, observou-se um escore baixo no domínio vitalidade (59,13 ± 20,37), enquanto os domínios capacidade funcional (83,35 ± 19,57) e limitação por aspectos físicos (82,52 ± 29,04) apresentaram escores elevados. No que diz respeito à QVT, o domínio pessoal obteve a maior média (4,25 ± 0,56), enquanto o domínio Físico/Saúde apresentou a menor média (3,32 ± 0,40). Em relação ao NAF, 35,9% dos participantes foram classificados como ativos, enquanto 6,8% foram classificados como sedentários. Conclusões: A prevalência de DORT foi observada nas regiões lombar e cervical. Apesar da QV ser considerada satisfatória, o domínio da vitalidade apresentou escores comprometidos. Embora a maioria dos participantes seja classificada como ativa, é importante promover ações que incentivem a prática de atividade física para a prevenção dos distúrbios osteomusculares e para a melhoria da QVT.
Unitermos:
Saúde ocupacional. Epidemiologia. Qualidade de vida.
Abstract
Introduction: Work-related musculoskeletal disorders (WMSDs) are multifactorial conditions that affect the musculoskeletal system, resulting in dysfunction and physical limitations. Objective: To assess the prevalence of WMSD in employees of an educational institution in southern Brazil. Methods: Five self-administered questionnaires were administered, covering sociodemographic characteristics, musculoskeletal disorders, physical activity level (PAL), quality of life (QOL) and quality of life at work (QOLW). Results: The study included 103 participants, with 35.9% male and 64.1% female. The prevalence of WMSD was highest in the lumbar (73.8%) and cervical (69.8%) regions, with the most frequent symptom intensity observed in the lumbar region (mean of 3.9). Regarding QOL, a low score was found in the vitality domain (59.13 ± 20.37), while functional capacity (83.35 ± 19.57) and limitations due to physical aspects (82.52 ± 29.04) showed higher scores. In terms of QOLW, the personal domain had the highest mean (4.25 ± 0.56), while the Physical/Health domain had the lowest mean (3.32 ± 0.40). As for PAL, 35.9% of participants were classified as active, while 6.8% were classified as sedentary. Conclusions: A high prevalence of WMSD was observed in the lumbar and cervical regions. Although QOL was generally satisfactory, vitality scores were found to be compromised. While most participants were classified as active, it is important to promote awareness regarding the role of physical activity in preventing musculoskeletal disorders and improving QOLW.
Keywords:
Occupational health. Epidemiology. Quality of life.
Resumen
Introducción: Los trastornos musculoesqueléticos relacionados con el trabajo (TMRT) son condiciones multifactoriales que afectan el sistema musculoesquelético, resultando en disfunciones y limitaciones físicas. Objetivo: Evaluar la prevalencia de TMRT en empleados de una institución educativa del sur de Brasil. Métodos: Se aplicaron cinco cuestionarios autoadministrados que cubrían características sociodemográficas, trastornos musculoesqueléticos, nivel de actividad física (NAF), calidad de vida (CV) y calidad de vida laboral (CVL). Resultados: Participaron del estudio 103 empleados, 35,9% hombres y 64,1% mujeres. La prevalencia de TMRT fue mayor en las regiones lumbar (73,8%) y cervical (69,8%), siendo la intensidad de los síntomas más frecuente en la región lumbar (promedio de 3,9). En cuanto a la CV, se observó un puntaje bajo en el dominio vitalidad (59,13 ± 20,37), mientras que los dominios capacidad funcional (83,35 ± 19,57) y limitación por aspectos físicos (82,52 ± 29,04) mostraron puntajes altos. Con respecto a la CVL, el dominio personal tuvo el promedio más alto (4,25 ± 0,56), mientras que el dominio Físico/Salud tuvo el promedio más bajo (3,32 ± 0,40). En relación al NAF, el 35,9% de los participantes fueron clasificados como activos, mientras que el 6,8% fueron clasificados como sedentarios. Conclusiones: La prevalencia de TMRT se observó en las regiones lumbar y cervical. Aunque la calidad de vida fue considerada satisfactoria, el dominio de vitalidad presentó puntuaciones comprometidas. Aunque la mayoría de los participantes son catalogados como activos, es importante promover acciones que fomenten la práctica de actividad física para prevenir trastornos musculoesqueléticos y mejorar la CVL.
Palabras clave:
Salud ocupacional. Epidemiología. Calidad de vida.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 320, Ene. (2025)
Introdução
Os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT), são lesões consideradas multifatoriais que afetam o sistema musculoesquelético resultando em alterações funcionais e limitações físicas (Soares et al., 2020). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as condições musculoesqueléticas são as causas mais comuns da incapacidade e limitação relacionada à vida diária e ao emprego remunerado (Briggs et al., 2018). No Brasil, a prevalência de DORT afeta trabalhadores que executam tarefas com movimentos repetitivos e posturas inadequadas, sendo que em 2019, a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho registrou quase 39 mil casos de DORT. (Brasil, 2020)
Nas instituições de ensino, os docentes, bem como os profissionais dos setores administrativos, da limpeza e serviços gerais, desempenham papeis fundamentais na instituição da comunidade acadêmica, no entanto, suas atividades envolvem movimentos repetitivos, posturas inadequadas e exposição a produtos químicos que podem levar ao desenvolvimento de DORT. (Alves, e Krug, 2017)
Deste modo, a utilização prolongada de computadores e a realização de tarefas que exigem movimentos repetitivos podem resultar em lesões musculoesqueléticas e diminuindo a qualidade de vida e a saúde desses profissionais (Silva, 2020). Segundo Araújo e Souza (2023), a avaliação da prevalência de DORT e a implementação de medidas preventivas podem garantir melhor qualidade de vida na saúde de profissionais.
De acordo com Araújo, e Souza (2023), a prevenção e o tratamento adequado são fundamentais para reduzir a incidência e o impacto dessas lesões. Para tanto, é necessário conhecer as características dos trabalhadores e das atividades que podem predispor ao desenvolvimento dos sintomas. (Araújo, e Souza, 2023)
Nesse sentido, existe na literatura, questionários validados para esta população na investigação epidemiológica de DORT, fornecendo informações sobre o perfil do trabalhador e sua exposição aos riscos ocupacionais. (Kakaraparthi et al., 2023; Moraes, e Bastos, 2019)
Diante disso, o presente estudo tem como objetivo avaliar a prevalência de DORT em funcionários de uma instituição de ensino comunitária no Alto Vale do Itajaí, em Santa Catarina, Brasil, bem como identificação de fatores de risco associados desta população.
Métodos
Trata-se de estudo descritivo de corte transversal, com amostra por conveniência, desenvolvido em funcionários de uma instituição de ensino comunitário no município de Rio do Sul, Santa Catarina, Brasil. As coletas foram realizadas em agosto e setembro de 2023.
Os critérios de inclusão do estudo foram: possuir vínculo empregatício no estabelecimento no momento da pesquisa; de ambos os sexos; com idade > 18 anos; que compreenderam os procedimentos da pesquisa; e aceitaram participar do estudo de forma voluntária. Como critérios de exclusão: indivíduos que não compreenderam a idade estabelecida neste estudo; que tenham passado por algum procedimento cirúrgico que comprometa seu estado físico; com incapacidade física e ou cognitiva; que apresentaram incapacidade para realização dos procedimentos de coleta.
Todos os sujeitos que aceitaram participar assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Esta pesquisa foi conduzida dentro dos padrões exigidos pela Declaração de Helsinque e pela Resolução nº 196 de 1996 do Conselho Nacional de Saúde e suas complementações. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos (CEPSH) do Centro Universitário Para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI), sob o número: 6.145.968.
Instrumentos e procedimentos
A fim de evidenciar as informações desse estudo, foram utilizados cinco questionários autoaplicáveis enviados por correspondência eletrônica, sendo: 1) caracterização sociodemográfico; 2) o instrumento adaptado do Questionário Nórdico para Distúrbios Musculoesqueléticos (QNSO); 3) Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) em sua versão curta; 4) Questionário de Qualidade de Vida SF-36; 5) Questionário de Avaliação da Qualidade de Vida no Trabalho (QWLQ-bref).
Os autores conduziram o questionário sociodemográfico, onde os sujeitos foram avaliados quanto ao sexo, estado conjugal, arranjo familiar, grau de instrução, cargo e tempo de atuação na empresa, uso de medicamentos, atividade de vida diária e hábitos de vida.
Para avaliar os sintomas osteomusculares, utilizou-se o QNSO, adaptado por Barros, e Alexandre (2003), onde contém o esboço de uma figura humana em posição posterior, dividida em nove regiões anatômicas e dividida em nove regiões (cervical, ombros, região torácica, cotovelos, punhos/mãos, região lombar, quadril/coxas, joelhos, tornozelos/pés). O instrumento foi constituído por questões dicotômicas (Sim/Não) relativas à presença de distúrbios osteomusculares nos últimos 12 meses, que investigou a ocorrência de incapacidade funcional, presença de problemas relacionados ao sistema musculoesquelético. Os resultados obtidos foram avaliados por meio da frequência de sintomas nas diferentes regiões do corpo. (Barros, e Alexandre, 2003)
Para avaliar a percepção de qualidade de vida, utilizou-se o Questionário de Qualidade de Vida SF-36, que é uma escala utilizada e validada, composta por 36 perguntas que abrangem: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. Para cada domínio, a pontuação de 0 a 100 foi avaliada, sendo considerada a pontuação mais alta, indicando melhor estado de saúde. (Ware, e Sherbourne, 1992)
O QWLQ-bref, foi utilizado para avaliar a qualidade de vida no trabalho, sendo um instrumento que avalia a qualidade de vida relacionada ao trabalho, composto por 20 perguntas que abrangem quatro dimensões: Físico/Saúde, Psicológico, Pessoal e Profissional, com respostas baseadas na escala Likert (escores de 1 a 5), sendo que maiores pontuações nestes domínios indicam maior nível de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) (Cheremeta et al., 2011). Para analisar os resultados das aplicações do QWLQ-bref, foi construída uma escala de classificação da QVT em que todos os índices inferiores a 45 foram considerados insatisfatórios, enquanto os índices situados entre 45 e 55 considerados intermediários e os índices superiores a 55 considerados satisfatórios. (Reis Júnior, 2008)
Para avaliar o nível de atividade física (NAF), utilizou-se o questionário IPAQ, em sua versão curta, sendo validado e composto por oito perguntas em diferentes dimensões de atividade física (AF) e inatividade física, que abrange cinco categorias, sendo: muito ativo, ativo, irregularmente ativo A, irregularmente ativo B e sedentário. Os sujeitos foram classificados com base nas respostas. (Matsudo et al., 2001)
Processamento e análise de dados
Os dados foram tabulados utilizando o software Excel® e a análise estatística foi realizada no software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences, IBM®, Estados Unidos) versão 21.0. A análise dos dados foi conduzida mediante estatística descritiva. Para as variáveis categóricas foi utilizada frequência e percentual como medidas descritivas. Para as variáveis numéricas, inicialmente foi verificada a normalidade dos dados por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov. Como os dados apresentaram distribuição normal, foram utilizadas a média e o desvio-padrão (DP) como medidas de tendência central e dispersão. Os resultados foram considerados estatisticamente significativos quando o valor de p foi inferior a 0,05 (p<0,05).
Resultados
Um total de 105 funcionários foi inicialmente recrutado para a pesquisa. No entanto, dois participantes foram excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão relacionados à idade. Assim, a amostra final foi composta por 103 funcionários, dos quais 35,9% eram do sexo masculino e 64,1% do sexo feminino. A caracterização geral da amostra está apresentada na Tabela 1.
Tabela 1. Distribuição de frequências das variáveis sociodemográficas dos funcionários
Variáveis |
Total (N=103) |
|
f |
% |
|
Sexo |
||
Masculino |
37 |
35,9 |
Feminino |
66 |
64,1 |
Estado civil |
||
Solteiro(a) |
30 |
29,1 |
Casado(a) |
53 |
51,5 |
Vive
com companheiro(a) |
12 |
11,7 |
Separado
ou Divorciado(a) |
8 |
7,8 |
Escolaridade |
||
Ensino
Fundamental |
1 |
1,0 |
Ensino
médio |
10 |
9,7 |
Graduação |
18 |
17,5 |
Especialização |
32 |
31,1 |
Mestrado |
29 |
28,2 |
Doutorado |
13 |
12,6 |
Uso de medicamentos contínuos |
||
Não |
62 |
60,2 |
Sim |
41 |
39,8 |
Fumante |
||
Não,
nunca fumei |
93 |
90,3 |
Sim,
ex-fumante |
9 |
8,7 |
Sim,
sou fumante |
1 |
1,0 |
Legenda: N: amostra; f: frequência. Fonte: Dados da pesquisa
A Tabela 2 apresenta a distribuição das variáveis coletadas em relação ao posto de trabalho. Os dados mostram que 60,2% dos indivíduos não faziam uso contínuo de medicamentos. Além disso, 61,2% dos participantes relataram exercer o cargo de professor na instituição, e 51,5% informaram desempenhar outra atividade remunerada. Quanto à postura no trabalho, 49,5% dos indivíduos indicaram passar a maior parte do tempo sentados.
Tabela 2. Distribuição de frequências das variáveis do Trabalho dos funcionários
Variáveis N (%) |
N=103 |
|
Departamento/Cargo |
||
Assessora
Pedagógica |
1 |
1,0 |
Brigadista |
1 |
1,0 |
Estagiário(a) |
10 |
9,7 |
Professor
e técnico administrativo |
1 |
1,0 |
Professor(a) |
63 |
61,2 |
Serviços
Gerais |
2 |
1,9 |
Setor
de Limpeza |
2 |
1,9 |
Técnico
Administrativo |
23 |
22,3 |
Tempo
de cargo |
||
Menos
de 1 ano |
13 |
12,6 |
Entre
1 e 4 anos |
32 |
31,1 |
Entre
5 e 9 anos |
25 |
24,3 |
Entre
10 e 14 anos |
8 |
7,8 |
Maior
de 15 anos |
25 |
24,3 |
Tempo
de empresa |
||
Menos
de 1 ano |
14 |
13,6 |
Entre
1 e 4 anos |
34 |
33,0 |
Entre
5 e 9 anos |
27 |
26,2 |
Entre
10 e 14 anos |
10 |
9,7 |
Maior
de 15 anos |
18 |
17,5 |
Exerce
outra atividade remunerada |
||
Não |
50 |
48,5 |
Sim |
53 |
51,5 |
Postura
no trabalho |
||
Andando |
2 |
1,9 |
Em
pé |
38 |
36,9 |
Em
pé e agachando |
1 |
1,0 |
Em
pé inclinando o corpo |
5 |
4,9 |
Sentado |
51 |
49,5 |
Sentando
inclinando o corpo |
6 |
5,8 |
Ficou
afastado do trabalho por lesão nos últimos 12 meses |
||
Não |
91 |
88,3 |
Sim |
12 |
11,7 |
Legenda: N: amostra. Fonte: Dados da pesquisa
A Figura 1 apresenta os dados em frequência (%) dos sintomas de dor osteomuscular autorrelatados, divididos por regiões. É possível observar que as regiões que apresentaram os percentuais maiores foram as regiões: lombar (73,8%) e cervical (69,8%), enquanto as menores taxas foram observadas nas regiões: do cotovelo (18,5%), do antebraço (19,5%) e braços (37,9%). Com relação a intensidade como essas dores acontecem, a região lombar (3,9%), seguida de braço (2,9%) e cotovelo (2,9%) foram os que apresentaram maior predominância.
A Tabela 3 apresenta os resultados do questionário de qualidade de vida. Observa-se que os domínios de dor, vitalidade, limitações por aspectos emocionais e saúde mental apresentaram escores inferiores a 70 pontos. O domínio que obteve o menor escore foi vitalidade (59,13 ± 20,37), enquanto os domínios com os maiores escores foram capacidade funcional (83,35 ± 19,57) e limitação por aspectos físicos (82,52 ± 29,04).
Tabela 3. Distribuição das variáveis do Questionário SF-36
Variáveis
(média ± DP) |
N=103 |
Capacidade
funcional |
83,35
± 19,57 |
Limitação
por aspectos físicos |
82,52
± 29,04 |
Dor |
67,68
± 20,39 |
Estado
geral de saúde |
70,13
± 20,27 |
Vitalidade |
59,13
± 20,37 |
Aspectos
sociais |
73,30
± 24,13 |
Limitações
por aspectos emocionais |
66,36
± 38,67 |
Saúde
Mental |
60,12
± 12,05 |
Legenda: N: amostra; DP: desvio-padrão. Fonte: Dados da pesquisa
A Tabela 4 apresenta os resultados relativos à QVT. Observa-se que a maior média padronizada foi observada no domínio pessoal (4,25 ± 0,56), enquanto a menor média foi registrada no domínio Físico/Saúde (3,32 ± 0,40).
Tabela 4. Distribuição dos domínios da QVT Avaliado pelo QWLQ-bref
Variáveis
(média ± DP) |
N=103 |
Físico/Saúde |
3,32
± 0,40 |
Psicológico |
4,05
± 0,79 |
Pessoal |
4,25
± 0,56 |
Profissional |
3,95
± 0,69 |
QVT |
3,89
± 0,52 |
Legenda: N: amostra; DP: desvio-padrão; QVT: qualidade de vida no trabalho. Fonte: Dados da pesquisa
O Gráfico 1 apresenta os valores obtidos na pesquisa sobre os domínios estudados e a QVT geral dos sujeitos deste estudo. Observa-se que os funcionários da instituição consideraram sua QVT satisfatória, assim como os domínios físico/saúde, psicológico e profissional. No entanto, o domínio pessoal foi classificado como muito satisfatório.
A Tabela 5 apresenta os valores do NAF. Observa-se que a média de horas gastas sentados em um dia da semana (7,14 ± 3,94) é superior à média de horas gastas sentados em um dia do final de semana (6,20 ± 3,92). A maior parte da amostra foi classificada como Ativa (35,9%), enquanto os classificados como sedentários representam 6,8% da amostra.
Tabela 5. Variáveis do Nível de Atividade Física dos funcionários
Variáveis |
N=103 |
Tempo
gasto sentado em um dia da semana (horas) (média ± DP) |
7,14
± 3,94 |
Tempo
gasto sentado em um dia final de semana (horas) (média ± DP) |
6,20
± 3,92 |
NAF
(dias) (média ± DP) |
7,05
± 4,39 |
NAF
(minutos) (média ± DP) |
119,54
± 92,09 |
Classificação do NAF
n (%) |
|
Sedentário |
7(6,8) |
Irregularmente Ativo B |
22(21,4) |
Irregularmente Ativo A |
26(25,2) |
Ativo |
37(35,9) |
Muito Ativo |
11(10,7) |
Legenda: N: amostra. DP: desvio-padrão; NAF: nível de atividade física. Fonte: Dados da pesquisa
Discussão
De todas as respostas recebidas no presente estudo, 64,1% foram enviadas por indivíduos do sexo feminino, sendo que 61,2% da amostra relatou exercer cargo de professor(a), 49,5% dos sujeitos relataram passar a maior parte do tempo sentados. Com relação às taxas de DORT, 73,8% dos indivíduos relataram dor na região lombar, sendo que destes, 41,7% informaram a dor com frequência, já 69,9% relataram DORT na região cervical, destes, 42,7% informaram sentir dor com frequência. As menores taxas de dor foram observadas nas regiões do cotovelo (18,5%), no antebraço (19,5%) e no braço (37,9%).
Em estudo epidemiológico com 544 casos de DORTs em professores de ambos os sexos, a região com maior prevalência de dor foi a região lombar com 80,85%, seguida do segmento pescoço/ombros com 67% (Vega-Fernández et al., 2022). Na pesquisa com 525 professores conduzida por Ceballos et al. (2020) foi identificado que 42,8% dos sujeitos relataram experienciar dor musculoesquelética (DME) nos membros superiores (incluindo pescoço, ombro, membro superior e/ou parte superior das costas) nos últimos sete dias. Ambos os estudos corroborando com nossos achados.
O presente estudo avaliou a qualidade de vida (QV), observando o menor escore relacionado a vitalidade (59,13 ± 20,37) e os maiores escores relacionado à capacidade funcional (83,35 ± 19,57) e limitação por aspectos físicos (82,52 ± 29,04). Karakaya et al. (2015), investigaram a prevalência e distribuição da DME e seu impacto na QV em 104 professores do ensino fundamental, observando DME em 77% da amostra ao longo da vida e de 36% nos últimos 12 meses, sendo as regiões dolorosas mais relatadas no pescoço (39%) e a região lombar (38%), corroborando com nosso estudo. Os pesquisadores revelaram ainda, que a elevada prevalência de DME entre professores, podem gerar impactos negativos na QV. (Karakaya et al., 2015)
O estudo de Vega-Fernández et al. (2022), investigou a associação da DME e a percepção de QV em 544 professores, observando que 91% dos sujeitos tiveram algum DME nos últimos 12 meses e 28,86% tiveram 6 ou mais regiões dolorosas, corroboram com nossos achados. Ainda, os pesquisadores observaram que o grupo de professores com mais DME registrou aumentos significativos no risco de terem pontuações baixas nas componentes física e mental da QV. (Vega-Fernández et al., 2022)
Em relação a QVT, os achados do presente estudo observaram que os funcionários consideraram a QVT satisfatória, bem como os domínios físico/saúde, psicológico e profissional, adicionalmente, o domínio pessoal, foi classificado como muito satisfatório. Um estudo brasileiro avaliou 284 professores universitários e observaram que os professores que praticam AF apresentaram melhor QV e QVT (Sanchez et al., 2019). Almeida, e Silva (2021), observam a QVT em docentes do ensino superior do setor privado e contataram que vários funcionários possuíam QV considerada como média, correspondendo a 40,40%, enquanto 44,70% das pessoas consideram como “bastante” a satisfação da QV no ambiente de trabalho.
O presente estudo avaliou o NAF dos participantes, onde observou-se que 35,9% dos sujeitos foram classificados como Ativo e 10,7% como Muito Ativo, sendo que 6,8% classificados como sedentários. No estudo de Grabara et al. (2018), avaliou o NAF em 171 professores de escolas do ensino fundamental e observaram que os participantes envolvidos estão de acordo com as recomendações da OMS, sendo atendidas por 46% das mulheres estudadas e 74% dos homens, concluindo que a AF de alta ou moderada intensidade podem melhorar sua capacidade de trabalho. Um estudo brasileiro realizado com 200 professores, avaliaram o NAF e observaram que a maioria dos sujeitos foram classificados como Ativos, corroborando com nossos achados (Mota Júnior et al., 2017).
Dumith (2020) investigou a prática de AF e associou com a QV em 270 professores universitários, concluindo que os participantes devem dar mais atenção a ter um estilo de vida saudável. Seus achados foram menos da metade dos participantes foram considerados fisicamente ativos no tempo de lazer. Além disso, observou que, quanto maior o NAF de lazer, maiores foram os escores de QV, sendo associado principalmente para os domínios: capacidade funcional, estado geral de saúde e vitalidade. Concluído que, intervenções, sejam no âmbito universitário ou comunitário, visando à promoção da prática de AF, poderão repercutir em melhorias à QV deste público.
Este estudo apresenta limitações, primeiramente, dada a natureza desta pesquisa como um estudo transversal, apenas um momento da vida dos participantes pode ser observado, o que pode influenciar a resposta no momento da entrevista e impedir o estudo das relações de causa-efeito. Em segundo lugar, embora tenha sido obtida uma amostra representativa de sujeitos, esta não representa necessariamente todos os funcionários da instituição. Em terceiro lugar, destaca-se que por ser uma pesquisa autoaplicável, podem surgir dúvidas dos participantes devido às diferenças de escolaridade. Observa-se que a perda amostral por vários motivos como capacidade cognitiva de responder o questionário, disponibilidade e vontade de participar da pesquisa. Por fim, a não mensuração de medidas antropométricas para correlacionar com as variáveis estudadas.
Conclusões
Os resultados desta pesquisa destacam a prevalência de DME entre a população estudada, com concentração significativa de casos na região lombar e cervical. Além disso, a QV dos participantes é considerada satisfatória, porém parece estar comprometida no que diz respeito à vitalidade, reforçando a importância de abordar os problemas de saúde ocupacional e ergonômicos nessa categoria profissional, a fim de melhorar tanto a saúde física quanto a qualidade de vida desses profissionais. Adicionalmente, os NAF variaram entre os participantes, porém a maioria é classificada como ativa, apesar disso, sugere a importância de promover a conscientização sobre a importância da atividade física na prevenção de DME e na melhoria da QV entre os funcionários. No entanto, é essencial considerar as limitações deste estudo, como a natureza transversal da pesquisa e a representatividade da amostra, ao interpretar os resultados e planejar intervenções futuras para melhorar a saúde e a qualidade de vida desses profissionais.
Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio da Pró-reitoria de Pesquisa, Extensão e Inovação (PROPEXI) do Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI), no Âmbito do Edital/PROPEXI nº 004/2023.
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