Fatores que influenciam a carreira de atletas de alto rendimento no futsal feminino brasileiro. Revisão integrativa

Em uma abordagem convencional, a carreira é frequentemente interpretada como a adaptação de alguém a uma profissão ou à imagem que essa pessoa deseja projetar (Anderson, Tonato, e Tavares, 2019). As transformações que estão ocorrendo no ambiente de trabalho e nas organizações requerem mudanças na maneira como as pessoas planejam e evoluem em suas carreiras. Diante disso, os padrões convencionais não são mais adequados para descrever a forma como as carreiras se manifestam atualmente (Grangeiro, Barreto, e Silva, 2018). O esporte oferece um cenário onde os atletas vivenciam diversas fases de transição ao longo de suas carreiras. (Gomes, e Domingues, 2016)

A carreira no esporte é empregada como um modelo adaptável ao cenário das empresas e do emprego, em assuntos como liderança e incentivo, porém raramente é o centro das pesquisas (Campos, Cappelle, e Maciel, 2017). Ressalta-se que a carreira no esporte não se baseia em padrões tradicionais de profissões, primeiramente porque há um debate sobre a validade do esporte como profissão e, consequentemente, como trabalho. Em segundo lugar, porque mesmo nos esportes de alto desempenho existem aspectos críticos específicos relacionados ao começo, progresso e conclusão da carreira esportiva. (Campos, Cappelle, e Maciel, 2017)

Se seguir uma carreira no esporte oferece uma trajetória profissional comparável a outras ocupações, é importante lembrar que, em outras áreas, a aposentadoria acontece na terceira idade, conforme a legislação trabalhista, que garante rendimentos através da previdência. Já os atletas se aposentam muito mais cedo que a média da população e não têm essas garantias previdenciárias. (Melo, e Rubio, 2017)

Quando falamos de Esporte de Alto Rendimento, o mesmo pode ser definido, segundo a Legislação Brasileira, como o esporte praticado conforme normas gerais desta Lei e regras desportivas nacionais e internacionais, visando obter resultados e promover a integração entre pessoas e comunidades do país e com outras nações. (Galatti, 2017)

A origem do esporte de alto rendimento, como conhecemos atualmente, está ligada ao surgimento do esporte moderno durante a Revolução Industrial na Inglaterra, influenciada por fatores políticos, econômicos e sociais. (Dias, e Sousa, 2012)

A vida cotidiana dos atletas de alto rendimento inclui longas horas de treinamento, extrema dedicação e disciplina, controle emocional rigoroso, além de restrições em atividades sociais e de lazer. (Pereira et al., 2024)

O esporte de alto rendimento pode levar a um estresse elevado por diversos motivos, como lesões, excesso de treinamento, burnout, vida longe do lar, ausência de uma rede de apoio próxima e afetiva, pressões internas e externas para atingir metas, restrições alimentares, e o uso de substâncias para melhorar o desempenho e lidar com o estresse. (Colagrai et al., 2022)

Entre os diversos esportes de alto rendimento no Brasil, destaca-se o futebol de salão. Existem várias versões em relação ao seu surgimento, mas a versão mais aceita relata que o futsal, como é atualmente chamado. Foi criado em 1934 pela Associação Cristã de Moços de Montevidéu, no Uruguai, pelo professor Juan Carlos Ceriani, que nomeou este novo esporte de indoor-foot-ball. No Brasil, é importante destacar o nome de Habib Maphuz, que contribuiu significativamente para os primeiros passos do esporte, que começou no estado de São Paulo. (Souza Junior, 2013)

Nos seus primórdios, por volta dos anos cinquenta, o futebol de salão no Brasil tinha diversas regras. Foi somente em 5 de fevereiro de 1957 que Sylvio Pacheco, presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), estabeleceu o Conselho Técnico de Assessores de Futebol de Salão com o propósito de resolver discordâncias e orientar o desenvolvimento do futebol de salão no país (Futsal, 2006). Apesar de ter sua própria identidade, ser reconhecido pela FIFA e possuir características e aspectos individuais, o futsal, mantém vínculos com o futebol, especialmente na era do chamado futebol moderno (Barros Junior, e Araújo, 2018). Atualmente, o futsal é uma atividade praticada por milhões de indivíduos ao redor do globo, seja como passatempo ou como esporte competitivo. Supervisionado pela Federação Internacional de Futebol (FIFA) desde 1989, é o esporte com o maior número de jogadores no Brasil. (Bolsonaro, 2022)

É uma modalidade em que o Brasil se destaca mundialmente, até mais do que no futebol. A seleção brasileira venceu cinco dos sete campeonatos mundiais disputados (sendo vice-campeã nas outras duas ocasiões) e conquistou doze títulos sul-americanos em doze torneios, além de diversos outros títulos conquistados pelas equipes principais e pelas categorias inferiores (Machado Filho, 2014). Nos últimos anos, o futsal passou por um processo de consolidação da profissionalização no Brasil, representando uma carreira potencialmente lucrativa, embora ainda pouco acessível para as mulheres. Por isso, assim como outras áreas, requer mudanças nas práticas culturais e historicamente estabelecidas, visando aprimorar as condições de comércio e trabalho. (Marques, e Marchi Junior, 2019)

Entretanto, também são necessárias ações pedagógicas, como discutir questões de gênero entre jogadores e jogadoras, e treinar futsal para meninas e meninos com o mesmo rigor e investimento no sentido de seriedade, dedicação de tempo e oferta de instalações esportivas adequadas (Mascarin, Vicentini, e Marques, 2019). Ao contrário do futebol masculino, o futebol feminino enfrentou proibições e preconceitos ao longo da história. O Decreto-Lei 3.199, de 14 de abril de 1941, dizia que “às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos (CND) baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país” (Brasil, 1941, Capítulo IX). O decreto foi criado durante o governo Vargas e estava vigente até 1983. Durante todo esse tempo, estava proibida a prática de futebol e futsal por mulheres, por serem esportes considerados masculinos. A introdução do Decreto-Lei n. 3.199 (Brasil, 1941) interrompeu um período florescente do futebol feminino. A notoriedade alcançada pelas equipes concentradas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte foi o suficiente para mobilizar forças opostas que se baseavam em discursos médicos e morais para condenar a presença de mulheres nos campos de futebol, alegando sua inadequação física, a necessidade de proteger sua função reprodutiva e maternal, e o risco de desvio e promiscuidade. (Ribeiro, 2023)

O futsal feminino só foi oficialmente reconhecido na década de 1980. Isso acontece devido às disparidades sociais e culturais que foram estabelecidas ao longo do tempo, particularmente em relação à classe feminina, bem como à subordinação que as mulheres enfrentaram em comparação à classe masculina (Mota, 2021). Esta construção cultural do corpo feminino e os preconceitos ligados às questões de gênero na prática do futsal incentivaram a participação das atletas de futsal na tentativa de alterar esses paradigmas que fortemente influenciaram o progresso da modalidade esportiva. (Fortaleza, e Silva, 2023)

O crescimento do futsal feminino ocorreu em parte devido à necessidade política de promover a igualdade de gênero na prática esportiva, visando torná-lo elegível para o reconhecimento pelo Comitê Olímpico Internacional (Tamashiro, e Galatti, 2018). A Associação Brasileira Feminina de Futsal – ABFFUTSAL foi fundada em dezembro de 2021, com a união de doze equipes com o objetivo de criar uma liga forte e com independência principalmente financeira e teve como meta transformar o cenário da modalidade no país ao estabelecer a Liga Feminina de Futsal (Comunicação Pessoal). Nesse contexto, levando em consideração a incipiência de estudos sobre o tema e a importância do mesmo para suprir lacunas no conhecimento científico, esta revisão tem como objetivo identificar na literatura científica como os principais fatores influenciam a carreira de atletas de alto rendimento no futsal feminino no cenário brasileiro.

A revisão integrativa utilizada neste estudo foi conduzida seguindo as principais diretrizes para análises sistemáticas (PRISMA Statement) (Moher et al., 2009). A coleta de dados foi realizada seguindo um protocolo que incluiu quatro etapas: planejamento, pesquisa, triagem e análise do conteúdo. No planejamento, formulou-se uma questão-problema que estava atrelada ao objetivo do estudo e utilizou-se um método para estruturar as estratégias de busca de dados baseado em evidências pelo sistema Population, Intervencion, Comparison, Outcome (PICO) (Santos, Pimenta, e Nobre, 2007), conforme estipulado na Tabela 1.

A pesquisa foi realizada nas bases de dados PubMed, Scopus, Periódico CAPES e SciELO, em agosto de 2023, utilizando os descritores “futsal” e “fútbol sala”. Para a inclusão dos artigos no estudo foram definidos os seguintes critérios: artigos científicos completos, que contemplassem o tema do artigo (carreira esportiva, alto rendimento e futsal feminino adulto), de livre acesso, publicados em português, inglês ou espanhol. Os critérios de exclusão foram estudos que não contemplassem o escopo deste protocolo, editoriais, cartas, artigos de opinião, comentários, resumos de anais, ensaios, trabalhos de conclusão de curso, boletins epidemiológicos, relatórios de gestão, documentos oficiais de programas nacionais e internacionais, livros e materiais publicados em outros idiomas que não o inglês, espanhol e português.

A seleção dos artigos foi conduzida por três revisores independentes utilizando o programa Rayyan, iniciando-se pela leitura de títulos e resumos. Em seguida, considerando os critérios de inclusão e exclusão e eliminando as duplicatas. Para a análise final, os artigos escolhidos foram lidos na íntegra e avaliados de forma integral para serem incorporados na construção da síntese. Os dados utilizados para a criação da tabela de revisão incluíram: autoria, ano de publicação, objetivo principal, tipo de pesquisa, principais resultados e conclusões.

Os resultados referentes à busca nas bases de dados totalizaram em 489 publicações, das quais 60 foram excluídas por duplicidade. Após a leitura de títulos e resumos e seguindo os critérios de inclusão e exclusão, 426 estudos foram retirados, pois não abordavam a carreira de atletas de alto rendimento ou apresentavam outros desfechos. Por fim, foram considerados três estudos para a leitura na íntegra e incluídos na revisão, como mostra a Figura 1.

Dos três artigos incluídos, dois são estudos quantitativos e um é um estudo qualitativo. Os artigos tinham o objetivo de investigar e analisar a carreira esportiva de atletas de futsal. As informações retiradas dos artigos estão apresentadas na Tabela 2.

Autores (Ano)	Objetivo principal	Tipo de estudo	Principais resultados e conclusões
Martins et al. (2021)	Analisar a carreira atlética de atletas masculinos e femininos no futsal paulista, com foco na dupla carreira e mobilidade social.	Quantitativo	1. A dupla carreira é predominante no futsal paulista em ambos os gêneros, contudo para as mulheres está relacionada ao estudo universitário, enquanto para os homens está relacionada à outra ocupação profissional. 2. A falta de oportunidades para as mulheres as leva a começar a treinar e estabelecer vínculo federativo mais tardiamente do que os homens. 4. As mulheres têm menos oportunidades de desenvolvimento no futsal, com poucos clubes e espaços para a prática, visto que constituem o vínculo federativo com idade mais avançada. O número reduzido de atletas mais velhas no futsal feminino sugere que as mesmas assumem outros rumos da vida após uma formação universitária, o que pode inibir o desenvolvimento do futsal feminino.
Souza et al. (2018)	Investigar a relação entre o perfil socioeconômico, a formação esportiva e a carreira esportiva das jogadoras de futsal feminino em São Paulo.	Quantitativo	1. O futsal feminino no Brasil é uma carreira pouco estruturada e precarizada, que não oferece condições adequadas de trabalho, remuneração e reconhecimento para as atletas. 2. A carreira no futsal feminino é um paradoxo, pois não é um projeto de vida em si, mas a fonte de acesso a outro, que pode se consolidar como uma possibilidade de ascensão social e profissionalização para as mulheres. 3. O perfil das atletas é de mulheres de baixo capital cultural e poder aquisitivo, que veem no futsal uma oportunidade de acesso à educação, bolsas de estudo e mudança social. A família teve uma influência significativa na carreira esportiva das jogadoras. 3. A maioria das jogadoras começou a praticar futsal na adolescência e já havia praticado outras modalidades esportivas. 4. A iniciação esportiva foi considerada importante para a carreira das jogadoras, mas não foi o único fator determinante. As jogadoras relataram enfrentar dificuldades financeiras e de reconhecimento na carreira esportiva.
Mascarin et al. (2019)	Investigar e descrever o processo de desenvolvimento da carreira esportiva vivenciada por jogadoras brasileiras de futsal de elite a partir de suas próprias experiências esportivas.	Qualitativo	1. As jogadoras entrevistadas tiveram suas primeiras experiências esportivas com diversas práticas durante a infância, antes de se especializarem no futsal. 2. A maioria das atletas iniciou práticas informais de futebol na rua, sem um ensino apropriado ou apoio técnico, contando com a influência de homens vizinhos, amigos ou familiares. 2. As experiências diversificadas ligadas à satisfação pessoal na infância e juventude podem estar ligadas a carreiras esportivas de sucesso para homens e mulheres. 3. Pouco incentivo à prática do futsal na escola ou em clubes, desânimo por parte de algumas pessoas, baseado no preconceito sobre os estereótipos de gênero. A inexistência de competições para as meninas e o fato de o futsal e outros jogos de chute na bola serem considerados práticas masculinas contribuíram para o processo tardio de especialização no esporte. 4. Treinar e competir em diferentes faixas etárias durante a infância e adolescência foi uma ação recorrente nas descrições do grupo estudado, em que sete das treze atletas iniciaram em treinos sistemáticos e competições de futsal em faixas etárias mais avançadas. 5. Ações pedagógicas, como discutir questões de gênero entre jogadores e jogadoras, e treinar futsal para meninas e meninos com o mesmo rigor e investimento (no sentido de seriedade, dedicação de tempo e oferta de instalações esportivas adequadas) são necessárias.

Esta revisão de literatura revelou uma notável incipiência de artigos científicos sobre o assunto em pauta, destacando uma importante lacuna no conhecimento científico sobre a carreira das atletas de futsal no Brasil. Além disso, foi observado que uma variedade de fatores afeta a carreira das atletas de alto desempenho no futsal feminino brasileiro, os quais impactam de maneira significativa o percurso dessas jogadoras. A necessidade de conciliar a dupla carreira entre os estudos e a carreira esportiva impõe desafios únicos, enquanto a falta de oportunidades, estrutura precária, remuneração insuficiente e reconhecimento limitado contribuem para a dificuldade enfrentada por essas atletas. Além disso, a ausência de incentivo à prática do futsal nas escolas e clubes, a desigualdade de gênero, as condições sociais e econômicas, juntamente com a escassez de competições criam um ambiente desfavorável para o desenvolvimento e a ascensão das jogadoras de futsal no cenário esportivo nacional. Em contrapartida, um dos fatores relevantes encontrados, o suporte parental, encoraja as atletas a continuarem em busca de uma carreira estruturada.

O perfil das atletas é de mulheres de baixo capital cultural e poder aquisitivo, que veem no futsal uma oportunidade de acesso à educação, bolsas de estudo e mudança social (Souza, e Martins, 2018). Segundo os autores, a carreira no futsal feminino é um paradoxo, pois não é um projeto de vida em si para as atletas, mas fonte de acesso a uma possibilidade de ascensão social e profissionalização em outra carreira. (Souza, e Martins, 2018)

Nos últimos anos, muitas jogadoras que atuam no futsal brasileiro têm recebido bolsas de estudo no ensino universitário, conciliando a carreira esportiva e a formação no ensino superior. Esse benefício educacional possibilita a ascensão social dos atletas, em especial das mulheres, que podem usar o futsal como uma plataforma para obter uma educação superior e, posteriormente, mudar para outra carreira (Martins et al., 2021). A integração das carreiras acadêmicas e esportivas no futsal feminino pode promover a mobilidade social, permitindo o investimento em ambos os campos de forma simultânea, apoiando o progresso educacional e demandando políticas para conciliar e manter essa dualidade ao longo da trajetória profissional. (Crema et al., 2023)

A conexão entre esporte e educação é enfatizada como um fator de integração social, aprendizado e participação cívica, auxiliando no aprimoramento de competências como obedecer às normas, manter o controle emocional e participar de competições de forma saudável, ajudando a fortalecer a autoconfiança e as relações sociais dos jovens em áreas menos privilegiadas (Bezerra, Domingues, e Ribeiro, 2012). As jogadoras enfrentam desafios relacionados ao financiamento e à profissionalização, o que pode levar a salários baixos e escassez de oportunidades de emprego. Para lidar com essas dificuldades, as bolsas de estudo esportivas são disponibilizadas como estímulo para o desenvolvimento da carreira esportiva, oferecendo a chance de ascensão social por meio da educação acadêmica e a transição para outras carreiras profissionais (Crema et al., 2023). Além disso, a existência de um número reduzido de atletas mais velhas no futsal feminino sugere que as próprias mulheres assumem outros rumos na vida após uma formação universitária, o que pode contribuir para o não desenvolvimento do futsal feminino brasileiro. (Martins, Silva, e Souza, 2021)

Entre os fatores levantados, a falta de oportunidades em campeonatos na iniciação para as mulheres e a falta de clubes e espaços para a prática sistemática do esporte também são fatores fundamentais que contribuíram para a desigualdade de oportunidades entre homens e mulheres no futsal brasileiro (Martins, Silva, e Souza, 2021). Este esporte é historicamente visto como um domínio majoritariamente masculino, com a presença feminina menos expressiva, além de enfrentar obstáculos socioculturais como a desigualdade de gênero (Fortaleza, e Silva, 2023). Ao refletirem sobre a presença da mulher no esporte, os autores identificaram obstáculos e restrições relacionados ao apoio financeiro à modalidade associado aos aspectos culturais que afetam o futsal feminino. A falta de visibilidade e de patrocínio surgem como os principais desafios concretos. (Pereira, e Antunes, 2017)

A atmosfera dos jogos de futsal feminino na América do Sul é diversificada, com alguns jogos atraindo poucos espectadores, o que reflete ainda baixo interesse nas competições femininas. No entanto, durante campeonatos, as jogadoras podem contar com o apoio da torcida, evidenciando a importância do incentivo para o avanço do esporte. Superar obstáculos sociais e valorizar as jogadoras são elementos cruciais para impulsionar o futsal feminino na região. (Altmann, e Reis, 2013)

A visibilidade limitada do futsal na mídia esportiva dificulta a atração de investimentos e o desenvolvimento de carreiras, sendo a presença na mídia fundamental para o sucesso comercial do esporte e de seus atletas de elite, atraindo consumidores e investidores (Marques, e Marchi Junior, 2019). O futsal encara obstáculos importantes no que diz respeito à sua visibilidade na mídia, o que afeta a atração de investimentos e o progresso das carreiras dos jogadores (Marques, e Marchi Junior, 2019). Segundo os autores, os fatores que impedem a promoção do futsal feminino estão ligados à falta de tradição, à cultura brasileira, infraestrutura tecnológica, negligência da mídia, ausência de patrocinadores e baixa popularidade. Além disso, a trajetória esportiva de um atleta é um caminho intricado, afetado por diversos fatores contextuais, pessoais e interpessoais, onde as conexões positivas desempenham um papel crucial na superação de obstáculos emocionais, estruturais e financeiros. (Lima, 2018)

Um dos artigos revisados identifica que as mulheres têm menos oportunidades de desenvolvimento no futsal do que os homens, com poucos clubes e espaços para a prática do esporte (Martins, Silva, e Souza, 2021). Segundo os autores, as poucas oportunidades ao longo da formação inicial das meninas estão relacionadas à idade avançada na qual elas constituem o vínculo federativo. A inexistência de competições para meninas e o fato de o futsal e outros jogos de chute na bola serem considerados práticas masculinas contribuíram para o processo tardio de especialização no esporte (Mascarin, Vicentini, e Marques, 2019). No contexto do futsal brasileiro, a diferença econômica entre homens e mulheres afeta as oportunidades de avanço e desenvolvimento de carreira. Segundo Rocha et al. (2023), as expectativas em relação ao desempenho e à carreira das mulheres no esporte são menores que para os homens, o que pode levar desistência precoce no esporte pelas atletas do sexo feminino.

A maioria das atletas iniciou práticas informais de futebol na rua, sem um ensino apropriado ou apoio técnico, contando com a influência de homens vizinhos, amigos ou familiares (Mascarin, Vicentini, e Marques, 2019). A formação esportiva é considerada importante para a carreira das jogadoras, mas não foi o único fator determinante. As jogadoras relataram enfrentar dificuldades financeiras e de reconhecimento na carreira esportiva (Souza, e Martins, 2018). As características pessoais das atletas, a influência contextual e os relacionamentos interpessoais em interação ao longo da carreira esportiva foram capazes de influenciar o engajamento e a permanência das atletas no esporte (Lima, 2018). Os dados da literatura indicam que experiências tão diversificadas, ligadas à satisfação pessoal na infância e juventude, podem estar ligadas a carreiras esportivas de sucesso para homens e mulheres. (Mascarin, Vicentini, e Marques, 2019)

O futsal feminino no Brasil ainda é uma carreira pouco estruturada e precarizada, que não oferece condições adequadas de trabalho, remuneração e reconhecimento para as atletas (Souza, e Martins, 2018). Além disso, a ausência de pesquisas socioculturais sobre o futsal e sua interação com os meios de comunicação revela uma lacuna na literatura (Marques, e Marchi Junior, 2019), ressaltando a relevância desse estudo para estimular uma reflexão sobre a perspectiva dos jogadores. Iniciativas educacionais, como debater sobre questões de gênero entre atletas masculinos e femininos e oferecer treinamento de futsal para meninas e meninos com igual intensidade e investimento em termos de comprometimento, tempo dedicado e disponibilidade de instalações esportivas adequadas são imprescindíveis para desenvolver o futsal feminino no Brasil. (Fortaleza, e Silva, 2023; Mascarin, Vicentini, e Marques, 2019)

Referente ao suporte parental, o apoio dos pais influencia positivamente a motivação, autonomia e satisfação das necessidades fundamentais das atletas, promovendo assim seu engajamento e progresso no esporte. Por outro lado, ambientes familiares desfavoráveis, caracterizados pela ausência de apoio ou pela superproteção, podem ter um impacto negativo na motivação e na competência das jogadoras (Vissoci et al., 2013). No futsal brasileiro, o componente social diz respeito às discrepâncias de oportunidades e estímulos entre homens e mulheres na trajetória esportiva, impactando a mobilidade social e a transição para outras carreiras profissionais. Essas desigualdades de gênero demonstram a complexidade das questões sociais presentes no ambiente esportivo, ressaltando a importância de promover a equidade e a igualdade de oportunidades no esporte. (Martins, Silva, e Souza, 2021)

Em síntese, esta revisão de literatura evidenciou a complexidade e as múltiplas facetas que permeiam a realidade do futsal feminino brasileiro. Os desafios significativos, como a falta de investimento, a limitada visibilidade e as disparidades de gênero foram destacadas como elementos impactantes na jornada das atletas nesse contexto esportivo. A análise aprofundada dessas questões ressalta a urgência de implementar medidas práticas e políticas eficazes para promover a equidade, ampliar as oportunidades e valorizar o futsal feminino no país. Nesse sentido, é crucial que os diversos atores do cenário esportivo, incluindo instituições, federações, clubes, mídia e a sociedade em geral, se unam para promover, reconhecer e fortalecer o futsal feminino, de modo a criar um ambiente mais inclusivo, equitativo e promissor para as atletas, contribuindo para o avanço e a consolidação do esporte feminino no país.

Esta revisão integrativa evidenciou que a carreira de atletas de alto rendimento no Brasil é impactada por uma série de fatores, como a disparidade de oportunidades entre homens e mulheres no futsal, a relevância da interação entre esporte e educação para o desenvolvimento pessoal e social das jovens, a necessidade de maior visibilidade na mídia para atrair investimentos e promover o crescimento das trajetórias esportivas, além da influência de fatores sociais, econômicos e interpessoais na formação das carreiras esportivas. Destaca-se, também, a importância de pesquisas socioculturais sobre o futsal e a necessidade de reflexão sobre as condições oferecidas às atletas. Diante da escassez de estudos sobre a carreira de alto rendimento no futsal brasileiro, há uma lacuna que demanda mais pesquisas de campo para contribuir com o desenvolvimento da carreira de atletas profissionais de futsal no Brasil.

Anderson, M.M.M., Tonato, R.M., e Tavares, L.M. (2019). Transição de carreira: mudança profissional a partir dos 40 anos. Revista de Carreiras e Pessoas, 9(1), 128-142. https://doi.org/10.20503/recape.v9i1.40597

Altmann, H., e Reis, H.H.B. (2013). Futsal feminino na América do Sul: trajetórias de enfrentamento e de conquistas. Movimento, 19(3), 211-232. http://dx.doi.org/10.22456/1982-8918.35077

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P	Atletas de alto rendimento do futsal feminino.
I	Não se aplica.
C	Não se aplica.
O	Fatores que podem influenciar a carreira; resultados.