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ISSN 1514-3465

 

Parâmetros da carga interna de treinamento e 

relação com a percepção de recuperação em ciclistas

Parameters of Internal Training Load and Relationship with Perceived Recovery State in Cyclists

Parámetros de carga interna de entrenamiento y relación con la percepción de recuperación en ciclistas

 

Iago Vasconcelos Alencar*

iago_vasconcelos@hotmail.com

Reginaldo Gonçalves**

regisciclismo.mg@gmail.com

José Vítor Vieira Salgado***

jose.salgado@uemg.br

Wendell Costa Bila+

wendell.bila@uemg.br

Rauno Álvaro de Paula Simola++

rauno.simola@uemg.br

 

*Bacharel em Educação Física

pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)

Possui experiência com treinamento de cheerleading.

**Doutor em Ciências da Saúde - Saúde da Criança e do Adolescente

pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Mestre em Ciências do Esporte (Fisiologia do Exercício) pela UFMG

Professor Associado II da Escola de Educação Física, Fisioterapia

e Terapia Ocupacional da UFMG

Treinador de Triathlon do Centro de Treinamento Esportivo da UFMG

***Bacharel e Licenciado em Educação Física pela Unicamp

Especialista em Bioquímica, Fisiologia, Treinamento e Nutrição Desportiva (Unicamp)

Mestre em Educação Física na área de Ciência do Desporto (Unicamp)

Doutor em Educação Física na área Biodinâmica do Movimento Humano (Unicamp)

Bacharel em Gestão do agronegócio (Unicamp)

Atualmente, é professor efetivo do curso de Educação Física

da UEMG - Unidade Divinópolis

+Graduado em Educação Física (Licenciatura e bacharelado)

pela Universidade Federal de Viçosa

Doutor em Ciências da Saúde, área de concentração Bioquímica e Biologia Molecular

pela Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ)

Mestre em Ciências da Saúde pela UFSJ

Especialização em Fisiologia e Biomecânica do Movimento

Atualmente, é professor efetivo do curso de Educação Física

da UEMG - Unidade Divinópolis e da Faculdade Unifenas - Campus Divinópólis

++Doutor em Ciência do Treinamento pela Ruhr Universität Bochum, Alemanha

Mestre em Ciências do Esporte pela UFMG

Atualmente é professor efetivo do curso de Educação Física

da Minas Gerais (UEMG - Unidade Divinópolis)

(Brasil)

 

Recepción: 30/06/2024 - Aceptación: 20/09/2024

1ª Revisión: 19/08/2024 - 2ª Revisión: 07/09/2024

 

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Cita sugerida: Alencar, I.A., Gonçalves, R., Salgado, J.V.V., Bila, W.C., e Simola, R.A. de P. (2024). Parâmetros da carga interna de treinamento e relação com a percepção de recuperação em ciclistas. Lecturas: Educación Física y Deportes, 29(318), 96-108. https://doi.org/10.46642/efd.v29i318.7762

 

Resumo

    Informações sobre o estado de recuperação após a realização de sessões de treinamento são essenciais para o planejamento e prescrição da carga de treinamento de forma mais segura e eficaz. A carga de treinamento, bem como o estado de recuperação, têm sido avaliados de diferentes formas. Entre elas, se destacam a monotonia, o training strain e a percepção do estado de recuperação. Entretanto, ainda não é claro na literatura a relação entre esses parâmetros em ciclistas. O objetivo dessa pesquisa foi verificar a relação entre a monotonia e o training strain com a percepção do estado de recuperação após diferentes sessões de treinamento em ciclistas de nível recreacional. A amostra foi composta por 6 ciclistas de nível recreacional da modalidade estrada ou mountain bike, do sexo masculino, com idades entre 18 e 45 anos, com pelo menos 1 ano de prática regular da modalidade. Durante 6 semanas foi solicitado aos participantes que fornecessem os seguintes parâmetros de carga após cada sessão de treinamento: duração da sessão de treinamento, percepção subjetiva de esforço da sessão de treinamento e percepção subjetiva do estado de recuperação. A partir desses dados, foram calculados a monotonia, o training strain e a carga de treinamento. Não foram observadas correlações significativas entre a percepção do estado de recuperação e as variáveis monotonia e training strain. A percepção do estado de recuperação não está associada com a monotonia do treinamento ou com o training strain em ciclistas de nível recreacional.

    Unitermos: Recuperação. Training strain. Monotonia. Ciclismo.

 

Abstract

    Information about the recovery state after training sessions is essential for planning and prescribing safe and effective training loads. Training load, as well as recovery state, have been assessed in different ways. Among them, monotony, training strain and the perceived recovery state stand out. However, the relationship between these parameters in cyclists is still unclear in the literature. The objective of this research was to verify the relationship between monotony and training strain with the perceived recovery state after different training sessions in recreational cyclists. Six recreational road or mountain bike cyclists, male, aged between 18 and 45 years old, with at least 1 year of regular practice in the sport participated in this study. During 6 weeks, participants were asked to provide the following load parameters after each training session: duration of the training session, rating of perceived exertion of the training session and rating of perceived recovery. From these data, monotony, training strain and training load were calculated. No significant correlations were observed between the perceived recovery state and the parameters monotony and training strain. The perceived recovery state is not associated with the monotony of training session or with training strain in recreational cyclists.

    Keywords: Recovery. Training strain. Monotony. Cycling.

 

Resumen

    La información sobre el estado de recuperación tras las sesiones de entrenamiento es fundamental para planificar y prescribir la carga de entrenamiento de una forma más segura y eficaz. La carga de entrenamiento, así como el estado de recuperación, se han evaluado de diferentes maneras. Entre ellos destacan la monotonía, el estrés del entrenamiento y la percepción del estado de recuperación. Sin embargo, la relación entre estos parámetros en ciclistas aún no está clara en la literatura. El objetivo de esta investigación fue verificar la relación entre la monotonía y el esfuerzo del entrenamiento con la percepción del estado de recuperación después de diferentes sesiones de entrenamiento en ciclistas recreativos. La muestra estuvo compuesta por 6 ciclistas recreativos de bicicleta de carretera o montaña, masculinos, con edades comprendidas entre 18 y 45 años, con al menos 1 año de práctica habitual en este deporte. Durante 6 semanas, se pidió a los participantes que proporcionaran los siguientes parámetros de carga después de cada sesión de entrenamiento: duración de la sesión de entrenamiento, percepción subjetiva del esfuerzo de la sesión de entrenamiento y percepción subjetiva del estado de recuperación. A partir de estos datos, se calcularon la monotonía, la tensión de entrenamiento y la carga de entrenamiento. No se observaron correlaciones significativas entre la percepción del estado de recuperación y las variables monotonía y tensión del entrenamiento. La percepción del estado de recuperación no se asocia con la monotonía del entrenamiento ni con el estrés del mismo en ciclistas recreativos.

    Palabras clave: Recuperación. Tensión de entrenamiento. Monotonía. Ciclismo.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 318, Nov. (2024)


 

Introdução 

 

    O monitoramento das cargas de treinamento e suas respostas psicofisiológicas em praticantes de diferentes modalidades esportivas são temas amplamente discutidos e pesquisados na ciência do treinamento esportivo (Samulski, Simola, e Prado, 2013; Kellmann, 2010; Kellmann et al., 2018). Enquanto cargas de treinamento muito baixas podem ser insuficientes para induzir adaptações fisiológicas, por outro lado, cargas de treinamento muito elevadas, acompanhadas por períodos insuficientes de recuperação podem acarretar em fadiga excessiva, redução da capacidade funcional, lesões frequentes e em alguns casos, causar a síndrome do excesso de treinamento (SET), também conhecida como overtraining (Kellmann, 2010; Bucco Santos, 2019). Por isso, o monitoramento do estado de recuperação tem sido uma das medidas essenciais no processo do treinamento esportivo, utilizando diferentes instrumentos psicométricos, variáveis subjetivas e objetivas. (Osiecki et al., 2015; Selmi et al., 2022a; Selmi et al., 2022b)

 

    Um dos instrumentos mais utilizados para a avaliação do estado de recuperação é a Escala Total de Recuperação (ETR). Semelhante à escala de Percepção Subjetiva de Esforço (PSE), na ETR o indivíduo relata a sua percepção em relação ao seu estado de recuperação (Kentta, e Hassmén, 1998). Por ser de baixo custo operacional e facilmente aplicável, essa ferramenta tem sido amplamente utilizada em pesquisas sobre o monitoramento da recuperação (Osiecki et al., 2015; Selmi et al., 2022a; Selmi et al., 2022b). Além disso, a percepção do estado de recuperação avaliada por meio da ETR, tem sido associada com o estado de recuperação avaliado por meio de variáveis objetivas. (Osiecki et al., 2015)

 

    A carga de treinamento pode ser entendida como o estímulo físico realizado durante uma sessão de treinamento com o objetivo de desenvolver diferentes capacidades físicas e melhorar o desempenho físico (Szmuchrowski, e Couto, 2013). Entretanto, definir e avaliar precisamente o termo “carga de treinamento” é um assunto mais complexo (Afonso et al., 2021) e não deve ser reduzido a um único fator (Impellizzeri et al., 2020). Vários parâmetros podem ser utilizados para definir a carga de treino, tais como volume, intensidade, duração, frequência, densidade, orientação, complexidade, entre outros (ACSM, 2018; Bompa, e Buzzichelli, 2018; Delecroix et al., 2019). Além disso, a carga de treinamento tem sido classificada como externa e interna (Bourdon et al., 2017; Koseki, e Peserico, 2022; Sunsin et al., 2023). A carga externa é determinada a partir de variáveis mecânicas (duração da sessão, distância percorrida e velocidade alcançada), enquanto a carga interna é baseada nas respostas psicofisiológicas causadas pela carga externa (frequência cardíaca, percepção subjetiva de esforço e concentrações de lactato sanguíneo). (Impellizzeri et al., 2005; Nakamura et al., 2010)

 

    Segundo alguns autores, a carga de treinamento tem sido constantemente avaliada por alguns de seus componentes mais tradicionais, como o volume e a intensidade (Afonso et al., 2021; Bradbury et al., 2020), enquanto outras dimensões da carga têm sido comumente negligenciadas (Afonso et al., 2021). Contudo, os conceitos de monotonia da carga de treinamento e training strain têm recebido cada vez mais atenção quando se trata de monitoramento da carga de treinamento (Delecroix et al., 2019; Clemente et al., 2020; Afonso et al., 2021; Travis et al., 2021). A monotonia está associada à variação da carga de treinamento e é calculada através da razão entre a carga diária média em uma semana de treinamento e o seu desvio padrão (Foster et al., 2001; Travis et al., 2021). Já o training strain é uma outra forma de avaliação da carga de treinamento, envolvendo o produto da monotonia e da carga semanal total. (Foster et al., 2001; Travis et al., 2021)

 

    A presente pesquisa teve como objetivo geral verificar a relação entre parâmetros da carga interna de treinamento e a percepção de recuperação em ciclistas. Considerando a importância do monitoramento da recuperação no processo de adaptação às cargas de treinamento, na prevenção de lesões e da SET, bem como a relativa escassez de pesquisas avaliando a monotonia e o training strain, o objetivo específico foi analisar a relação entre a monotonia e o training strain com a percepção do estado de recuperação após diferentes sessões de treinamento em ciclistas.

 

Métodos 

 

Amostra 

 

    A amostra foi composta por 6 ciclistas de nível recreativo da modalidade estrada ou mountain bike, do sexo masculino, com idades entre 18 e 45 anos, com pelo menos 1 ano de prática regular da modalidade.

 

Delineamento experimental 

 

    Durante 6 semanas foi solicitado aos participantes que fornecessem os seguintes parâmetros de carga após cada sessão de treinamento: duração da sessão de treinamento, percepção subjetiva de esforço da sessão de treinamento (PSEsessão) e percepção subjetiva do estado de recuperação. Para isso, foi criado um formulário eletrônico, o qual foi preenchido por cada um dos participantes e disponibilizado aos pesquisadores após cada uma das sessões de treinamento. Para que os voluntários não sentissem nenhum tipo de constrangimento ou incômodo que pudesse influenciar a coleta de dados, os mesmos foram orientados a preencher os formulários em ambientes onde fosse possível manter níveis de privacidade e tranquilidade.

 

    Foi solicitado ainda, que os participantes mantivessem suas rotinas de alimentação e sono durante o período da pesquisa. Essa pesquisa respeitou todas as normas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Saúde para pesquisas em seres humanos e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado de Minas Gerais.

 

Variáveis analisadas 

 

    Carga da sessão de treinamento 

 

    A carga da sessão de treinamento foi medida em unidades arbitrárias a partir do produto da PSEsessão e da duração do treinamento (minutos). Para isso, trinta minutos após o término de cada sessão de treinamento, os participantes responderam à escala CR10 de Borg modificada por Foster et al. (2001). (Carga da sessão = PSEsessão x duração da sessão de treinamento).

 

    Carga de treinamento semanal 

 

    A carga semanal foi calculada a partir da soma das cargas da sessão de treinamento em uma semana. (Carga semanal = PSEsessão1 x duração da sessão de treinamento1 + PSEsessão2 x duração da sessão de treinamento2 + PSEsessão3 x duração da sessão de treinamento3...).

 

    Percepção do estado de recuperação 

 

    Para avaliação do estado de recuperação, foi utilizada a ETR, uma escala de 6 (nada recuperado) a 20 (totalmente recuperado) pontos, desenvolvida originalmente por Kentta, e Hassmén (1998). Esse instrumento foi respondido 24 horas após cada sessão de treinamento. Foi considerado para análise o valor da ETR semanal, sendo este a ETR diária média em uma semana de treinamento. (ETR semanal = ETRsessão1 + ETRsessão2 + ETRsessão3... / número de sessões de treinamento).

 

    Monotonia 

 

    Essa variável foi calculada a partir da razão entre a carga diária média em uma semana de treinamento e o seu desvio padrão (Foster et al., 2001). (Monotonia = carga de treinamento semanal / número de sessões de treinamento / desvio padrão).

 

    Training strain 

 

    Esse parâmetro foi calculado como o produto da monotonia e da carga de treinamento semanal (Foster et al., 2001). (Training strain = carga de treinamento semanal x monotonia).

 

    Análise de dados 

 

    A normalidade dos dados foi analisada através do teste Shapiro-Wilk. Para correlacionar as variáveis analisadas, foi utilizado o teste de correlação de Spearman. O nível de significância estatística foi definido em 5%. Os dados estão descritos em média ± desvio padrão. A análise estatística foi conduzida no programa estatístico SPSS 25.0.

 

Resultados 

 

    Durante as 6 semanas de monitoramento, foram registradas 120 sessões de treinamento realizadas por todos os participantes. Após a exclusão das semanas com uma frequência de treinamento inferior à 3 vezes semanais, restaram 23 semanas para análise. As sessões de treinamento tiveram uma duração média de 119,32 ± 75,2 minutos e PSE de 4,57 ± 1,9 U.A. A partir desses dados foram calculados os valores de carga de treinamento semanal, monotonia e training strain. Logo, foram encontrados valores médios de 1905,82 ± 1268 U.A.; 14,36 ± 3,01 U.A.; 2,49 ± 2,25 U.A. e 3723,61 ± 2407,45 U.A. para as variáveis carga de treinamento semanal, percepção do estado de recuperação, monotonia e training strain, respectivamente.

 

    A percepção do estado de recuperação não apresentou correlação significativa com a monotonia (p > 0,05) e com o training strain (p > 0,05). Também não foram encontradas correlações significativas entre a ETR semanal e a carga de treinamento semanal (p > 0,05). Mais detalhes sobre os níveis de correlação encontrados podem ser observados na Tabela 1.

 

Tabela 1. Índices de correlação de Spearman entre a escala total de recuperação e parâmetros de carga interna

 

ETR

Monotonia

rho = 0,16; p = 0,45

Training strain

rho = -0,15; p = 0,47

CTS

rho = -0,33; p = 0,11

ETR: Escala total de recuperação; CTS: Carga de treinamento semanal. Fonte: Dados de pesquisa

 

Discussão 

 

    O monitoramento do estado de recuperação tem sido considerado uma medida essencial na prescrição das cargas de treinamento (Kellmann et al., 2018). Informações sobre o estado de recuperação de praticantes de diferentes modalidades esportivas podem auxiliar no planejamento adequado das cargas de treinamento, prevenindo a ocorrência de lesões, o desenvolvimento da SET e promovendo um desenvolvimento contínuo de desempenho. (Kellmann et al., 2018; Osiecki et al., 2015)

 

    Uma das ferramentas mais utilizadas nesse tipo de monitoramento é a ETR (Osiecki et al., 2015; Rezende et al., 2021; Selmi et al., 2022b). Desenvolvida inicialmente por Kentta, e Hassmén (1998), esse instrumento é de fácil acesso e tem sido utilizado em praticantes de diferentes modalidades esportivas, como ciclismo (Argus et al., 2013) e esportes coletivos (Selmi et al., 2022b), de diferentes níveis técnicos. Além disso, as respostas obtidas com a ETR têm sido associadas com o estado de recuperação avaliado por meio de outras variáveis objetivas (Osiecki et al., 2015; Rezende et al., 2021) e subjetivas. (Selmi et al., 2022a).

 

    Osiecki et al. (2015) observaram níveis de correlação significativos entre a ETR e atividade enzimática de creatina quinase (r = -0,75; p < 0,05) em jogadores de futebol profissional 24 horas após uma partida oficial, confirmando a eficácia da ETR como uma ferramenta de avaliação do estado de recuperação. Rezende et al. (2021) observaram uma redução de 22% na ETR e 12% no desempenho de sprint de 10-m após jogos consecutivos com período de recuperação limitado em jovens jogadores de futebol.

 

    Diante de várias ferramentas e possibilidades utilizadas para o monitoramento da carga de treinamento, a monotonia e o training strain são parâmetros que têm recebido cada vez mais atenção da comunidade científica (Delecroix et al., 2019; Clemente et al., 2020; Afonso et al., 2021; Travis et al., 2021). Além de cargas de treinamento muito elevadas e recuperação insuficiente, cargas monótonas também podem contribuir para o aparecimento da SET (Foster et al., 2001; Nakamura et al., 2010; Freitas et al., 2015). Nesse sentido, é recomendável que ocorram ajustes nos componentes da carga ao longo de um período de treinamento. Além disso, variações no volume, intensidade e frequência de treinamento são essenciais para uma progressão contínua da capacidade física e desempenho esportivo (Bompa, e Buzzichelli, 2018). Essa variação da carga de treinamento é representada pela monotonia (Foster et al., 2001). Altos valores de monotonia indicam pouca variação da carga de treinamento, enquanto baixos valores indicam uma maior variação da carga. Já o training strain (Foster et al., 2001) é uma medida de carga de treinamento que associa a magnitude da carga (PSEsessão x duração da sessão) e a sua variação (monotonia). Dessa forma, o training strain avalia diferentes aspectos da carga de treinamento.

 

    Os valores médios de monotonia encontrados no presente estudo (2,49 ± 2,25 U.A.) estão acima daqueles encontrados por outros autores (Delattre et al., 2006; Freitas et al., 2015). Delattre et al. (2006) observaram um valor médio de monotonia de 0,8 ± 0,0 U.A. durante 14 semanas de treinamento em jovens ciclistas. Já, Freitas et al. (2015) observaram valores de monotonia entre 1,1 ± 0,2 U.A. e 1,4 ± 0,1 U.A. ao longo de 6 mesociclos de treinamento de jogadores de voleibol. Os valores de training strain observados também foram superiores aos valores encontrados em ciclistas (3723,61 ± 2407,45 U.A. vs 1650,6 ± 174,6) por Delattre et al. (2006) e em jogadores de voleibol (1929,4 ± 630,6 - 2802,7 ± 580,7). (Freitas et al., 2015)

 

    Segundo alguns autores, valores de monotonia acima de 2,0 U.A. como aqueles encontrados no presente estudo, indicam pouca oscilação das cargas de treinamento, podendo favorecer respostas negativas como ocorrência de lesões e a SET (Foster et al., 2001; Nakamura et al., 2010). Embora os valores encontrados de monotonia e training strain sejam superiores aos observados por outros pesquisadores em ciclistas (Delattre et al., 2006) e praticantes de modalidades coletivas (Freitas et al., 2015), não foram observadas correlações significativas entre essas variáveis e a percepção do estado de recuperação. Uma vez que a monotonia e o training strain também dependem da carga de treinamento (PSE x duração da sessão de treinamento), é possível que a carga de treinamento prescrita para os ciclistas participantes da presente pesquisa não tenha sido alta o suficiente para diminuir consideravelmente os valores da ETR. A correlação entre a ETR e a carga de treinamento semanal não foi estatisticamente significativa (rho = -0,33; p = 0,11). De fato, os valores encontrados da ETR (14,36 ± 3,01 U.A) equivalem a uma percepção de recuperação entre “razoavelmente recuperado” e “bem recuperado”. (Foster et al., 2001)

 

    É importante ainda pontuar que a análise da ETR foi realizada considerando as médias dos valores diários ao longo de várias semanas de treinamento. Normalmente, a percepção do estado de recuperação é utilizada para avaliar a o estado de recuperação após uma única sessão de treinamento. Finalmente, embora tenham sido avaliadas 23 semanas de treinamento, o número reduzido de participantes (n=6) pode ter sido um fator limitante na pesquisa.

 

Conclusão 

 

    A percepção do estado de recuperação avaliada pela escala total de recuperação (ETR) não está associada com a monotonia do treinamento ou com o training strain. Sendo assim, maiores níveis de monotonia e training strain não indicam uma maior necessidade de recuperação em ciclistas de nível recreacional. Embora essas variáveis possam ser utilizadas no monitoramento da carga de treinamento visando o aprimoramento do desempenho físico de forma segura e eficaz, a ausência de correlação entre as mesmas indica que esses parâmetros não devem ser utilizados com o mesmo objetivo. Sugere-se que no futuro sejam realizadas mais pesquisas sobre o tema com uma amostra mais ampla abordando praticantes de diferentes modalidades esportivas e de diferentes níveis de treinamento.

 

Agradecimentos 

 

    Os autores agradecem aos voluntários da pesquisa e ao Programa Institucional de Apoio à Pesquisa (PAPq/UEMG) da Universidade do Estado de Minas Gerais pelo apoio financeiro.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 318, Nov. (2024)