Lecturas: Educación Física y Deportes | http://www.efdeportes.com

ISSN 1514-3465

 

O perfil e o comportamento do corredor perante as morbidades do COVID-19

The Profile and Behavior of the Runner in the Face of COVID-19 Morbidities

El perfil y comportamiento del corredor ante las morbilidades del COVID-19

 

Flávio da Silva Ramos*

flaviofsr1969@gmail.com

Alessandra Cardoso Vargas**

alessandracvargas@hotmail.com

 

*Bacharel em Educação Física

pela Faculdade Especializada na Area da Saúde

do Rio Grande do Sul (FASURGS)

**Mestre em Mestre em Envelhecimento Humano (UPF)

Especialista em Nutrição Esportiva (UNINTER)

Especialista em Neurociências (FACUMINAS)

Graduada em Educação Física Licenciatura/Bacharel (ULBRA)

Docente nos cursos da saúde da ATITUS Educação – Passo Fundo/RS.

(Brasil)

 

Recepción: 18/06/2024 - Aceptación: 15/02/2025

1ª Revisión: 21/09/2024 - 2ª Revisión: 12/02/2025

 

Level A conformance,
            W3C WAI Web Content Accessibility Guidelines 2.0
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0

 

Creative Commons

Este trabalho está sob uma licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Cita sugerida: Ramos, F. da S., e Vargas, A.C. (2025). O perfil e o comportamento do corredor perante as morbidades do COVID-19. Lecturas: Educación Física y Deportes, 29(322), 92-106. https://doi.org/10.46642/efd.v29i322.7735

 

Resumo

    Este estudo procurou dimensionar o perfil e o comportamento do corredor de rua da região de Passo Fundo, durante a evolução da pandemia de COVID-19, no ano de 2020. Tendo como objetivo analisar o comportamento e perfil dos corredores de rua durante a pandemia COVID-19 em relação à rotina dos treinos e competições, descrevendo todos os cuidados tomados para a manutenção da saúde física e mental. Trata-se de uma pesquisa de campo qualitativa, de caráter descritivo/exploratório, realizada com 76 corredores de rua. A coleta de dados foi feita por meio de um questionário online (Google Forms). Os resultados indicam que 57% dos corredores mantiveram uma conduta ética e saudável, adotando práticas como o distanciamento social e o uso de máscara quando necessário. A maioria demonstrou preocupação com a saúde, mantendo uma rotina de treinos regulares, que foram realizados nas ruas, estradas e academias, apesar das dificuldades impostas pela pandemia. Além disso, 23% dos atletas que contraíram a COVID-19 apresentaram efeitos menos graves em comparação aos não praticantes de atividades físicas, destacando a importância dos exercícios na manutenção da saúde. Dentro deste contexto, fica claro que incorporar exercícios físicos à rotina pode ser uma estratégia importante de prevenção e fortalecimento do sistema respiratório, reduzindo os riscos de complicações graves associadas ao coronavírus.

    Unitermos: Corredores. COVID-19. Exercício físico. Imunidade.

 

Abstract

    This study sought to assess the profile and behavior of street runners in the Passo Fundo region during the evolution of the COVID-19 pandemic in 2020. The aim was to analyze the behavior and profile of street runners during the COVID-19 pandemic in relation to their training and competition routines, describing all the precautions taken to maintain their physical and mental health. This is a qualitative, descriptive/exploratory field study carried out with 76 street runners. Data collection was done through an online questionnaire (Google Forms). The results indicate that 57% of the runners maintained ethical and healthy conduct, adopting practices such as social distancing and wearing a mask when necessary. The majority demonstrated concern for their health, maintaining a regular training routine, which was carried out on the streets, roads and gyms, despite the difficulties imposed by the pandemic. Furthermore, 23% of athletes who contracted COVID-19 had less severe effects compared to those who did not practice physical activities, highlighting the importance of exercise in maintaining health. Within this context, it is clear that incorporating physical exercise into the daily routine can be an important strategy for preventing and strengthening the respiratory system, reducing the risk of serious complications associated with the coronavirus.

    Keywords: Runners. COVID-19. Physical exercise. Immunity.

 

Resumen

    Este estudio buscó medir el perfil y el comportamiento de los corredores urbanos en la región de Passo Fundo, durante la evolución de la pandemia de COVID-19, en 2020. El objetivo fue analizar el comportamiento y el perfil de los corredores urbanos durante la pandemia de COVID-19 en relación a la rutina de entrenamientos y competiciones, describiendo todas las precauciones tomadas para mantener la salud física y mental. Se trata de una investigación de campo cualitativa, de carácter descriptivo/exploratoria, realizada con 76 corredores urbanos. La recogida de datos se realizó mediante un cuestionario en línea (Google Forms). Los resultados indican que el 57% de los corredores mantuvo un comportamiento ético y saludable, adoptando prácticas como el distanciamiento social y el uso de mascarilla cuando era necesario. La mayoría demostró preocupación por su salud, manteniendo una rutina regular de entrenamiento, que se realizó en las calles, caminos y gimnasios, a pesar de las dificultades impuestas por la pandemia. Además, el 23% de los deportistas que contrajeron COVID-19 tuvieron efectos menos graves en comparación con los que no practicaban actividades físicas, lo que destaca la importancia del ejercicio para mantener la salud. En este contexto, queda claro que incorporar ejercicio físico a la rutina diaria puede ser una estrategia importante para prevenir y fortalecer el sistema respiratorio, reduciendo el riesgo de complicaciones graves asociadas al coronavirus.

    Palabras clave: Corredores. COVID-19. Ejercicio físico. Inmunidad.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 322, Mar. (2025)


 

Introdução 

 

    O ano de 2020 foi profundamente marcado pela pandemia de COVID-19, que alterou drasticamente o cotidiano global. O novo coronavírus foi identificado inicialmente em Wuhan, na China, no final de 2019, e, em janeiro de 2020, foi confirmada a presença de uma nova cepa. Em março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o surto como pandemia, caracterizando a expansão territorial do vírus. No Brasil, até agosto de 2020, mais de 116 mil mortes e quase 3,7 milhões de casos foram registrados. A transmissão ocorre principalmente por gotículas expelidas ao falar, tossir ou espirrar, e, por isso, as recomendações de distanciamento social e o uso de máscaras se tornaram essenciais. Além disso, a pandemia revelou o impacto das morbidades, como doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade, que agravam a evolução da doença, especialmente a obesidade, que prejudica a função pulmonar e compromete as trocas gasosas (Barros et al., 2015). Essas condições tornaram as pessoas mais vulneráveis aos efeitos do COVID-19. (Askin, 2020)

 

    Em meio a esse cenário, a prática de exercícios físicos, como a corrida, se destacou como uma medida preventiva essencial. A corrida oferece inúmeros benefícios, como a melhora do condicionamento cardiorrespiratório, o controle de peso e a redução de fatores de risco como obesidade, hipertensão e diabetes, que são particularmente relevantes no contexto da pandemia. Estudos indicam que corredores, que mantêm o Índice de Massa Corporal (IMC) dentro dos padrões recomendados, apresentam sistemas cardiorrespiratórios e cardiovasculares mais eficientes, tornando-os menos vulneráveis aos efeitos do vírus. (Puleo, 2011; Merle, e Steven, 2000)

 

    Além disso, a corrida também pode ajudar a prevenir doenças neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer, ao melhorar a oxigenação cerebral e o fluxo sanguíneo (Ferreira et al., 2017). A prática regular de corrida fortalece o sistema imunológico, reduz o estresse e a ansiedade, e contribui para uma melhor qualidade de vida (Machado, 2011). Apesar das restrições impostas pela pandemia, como o fechamento de academias e a suspensão de competições, a corrida permaneceu uma das atividades mais eficazes para a manutenção da saúde física e mental. Historicamente, a prática de exercícios físicos, especialmente a corrida, tem sido uma estratégia fundamental para prevenir doenças cardiometabólicas e melhorar a preparação para enfrentar futuras pandemias. (Pitanga, Beck, e Pitanga, 2020)

 

    Neste sentido, o estudo tem como objetivo analisar o comportamento e o perfil dos corredores de rua durante a pandemia de COVID-19, focando na rotina de treinos e competições. Além disso, busca descrever os cuidados adotados pelos corredores para a manutenção da saúde física e mental durante este período desafiador.

 

Métodos 

 

    Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa de campo de natureza descritivo-exploratória, com abordagem qualitativa, realizada com corredores residentes em Passo Fundo, RS e região, com idade superior a 20 anos, de ambos os sexos. A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário composto por perguntas abertas e fechadas, aplicado de forma online por meio da plataforma Google Forms. Posteriormente, os dados foram analisados por meio de documentos escritos, como textos, que foram submetidos à análise textual, conforme os procedimentos descritos por Minayo (2007), que se baseiam na análise de conteúdo dos resultados textuais.

 

    A pesquisa envolveu corredores de rua, de ambos os sexos, residentes em passo fundo e região, que praticam treinamento físico regular, no mínimo duas vezes por semana, há mais de um ano. Foram estabelecidos critérios de exclusão, os quais englobaram indivíduos que não assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), aqueles que estavam fora da faixa etária definida, os que não mantinham uma rotina regular de treinamento em 2020, os que treinavam apenas uma vez por semana e aqueles que não participavam de competições de corrida de rua.

 

    O estudo seguiu as diretrizes éticas estabelecidas pela CNS 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta pesquisas científicas com seres humanos, e obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da FASURGS, com o parecer número 4.501.742. Todos os participantes foram devidamente informados sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa, e sua participação foi formalizada por meio da assinatura do TCLE.

 

Resultados 

 

    Quanto aos resultados deste estudo, 76 corredores de rua responderam ao questionário, sendo 21 do sexo feminino (28%) e 54 do sexo masculino (72%). Conforme apresentado na Tabela 1, os dados indicam um número expressivo de homens que continuaram suas atividades de corrida nas ruas, mesmo em um ano atípico, marcado pela pandemia de COVID-19.

 

Tabela 1. Dados sociodemográficos dos corredores de rua

Idade

Sexo Masculino

Sexo Feminino

%

20 aos 30 anos

10

0

7,6

31 aos 40 anos

21

9

22,8

41 aos 50 anos

15

8

17,48

51 aos 60 anos

6

4

7,6

61 aos 70 anos

2

1

2,28

Fonte: Os autores (2021)

 

    Em relação ao peso corporal dos corredores, a média encontrada para as mulheres foi de 62,61 kg, enquanto para os homens foi de 75,52 kg. Além disso, os corredores de rua apresentaram uma grande diversidade de profissões, incluindo funcionários públicos, professores, advogados, comerciantes, entre outras. Esses dados refletem uma variedade de comportamentos, práticas e percepções dos corredores de rua durante a pandemia, abordando desde a continuidade dos treinos e o uso de máscaras até os cuidados com a saúde e a segurança frente ao COVID-19.

 

    Dando continuidade aos resultados do estudo, a Tabela 2 apresenta informações sobre os comportamentos e práticas dos corredores de rua durante a pandemia. A tabela é composta por diversas categorias e opções relacionadas a aspectos da prática de corrida, como tempo de prática, orientação profissional, treinos, entre outros, conforme detalhado a seguir.

 

Tabela 2. Dados sobre os comportamentos e práticas dos corredores de rua durante a pandemia

Categoria

Opções

%

Tempo de prática de corrida

6 a 9 anos

3 a 5 anos

Mais de 10 anos

Menos de 3 anos

31

27

29

13

Orientação de profissional de Educação Física

Sim

Não

61

39

Frequência semanal de treinamento

3 sessões

4 sessões

5 sessões

6 sessões

46

20

21

13

Distância semanal percorrida (km)

20-30 km

30-40 km

40-50 km

Mais de 50 km

45

22

13

20

Local de treino

Rua/asfalto

Pistas atléticas

Estradas de chão

Esteira

84

6

7

3

Distância das competições

5km

10km

Meia Maratona

Maratona

57

27

9

7

Respeito à planilha de treino (2020)

Sim

Maioria do tempo

Às vezes

Não respeitaram

34

27

21

18

Modificação de planilha de treino

Modificaram

Modificaram parcialmente

Não modificaram

Não utilizam planilhas

46

22

14

18

Participação em corridas (2020)

Menos de 5

5-10

10-15

Mais de 15

35

33

15

17

Acompanhamento durante a corrida

Sozinhos

Duplas

Trio ou grupos

75

21

2

Manutenção do peso (Pandemia)

Mantiveram o peso

Perderam peso

Ganhou peso

Não se pesaram

45

29

24

2

Fonte: Os autores

 

    Conforme apresentado na Tabela 2, a maioria (82 %) dos corredores manteve um comportamento consistente em suas práticas, com um número significativo seguindo suas planilhas de treino (34%) e realizando corridas em ruas asfaltadas (84%). Além disso, a orientação de profissionais de educação física se mostrou um fator importante para a maioria (61%), permitindo que os corredores mantivessem uma prática regular, mesmo durante a pandemia.

 

    Para os atletas, a corrida vai além de uma simples atividade esportiva, sendo também uma atividade social que proporciona momentos de convivência com amigos e colegas. No contexto deste estudo, observou-se que, durante a pandemia, muitos corredores continuaram praticando o esporte, não apenas pelos benefícios físicos, mas também como uma forma de manter o contato social, ainda que de maneira mais restrita.

 

    Apesar das mudanças nas condições de socialização devido ao distanciamento social, a corrida ainda desempenhou um papel significativo para muitos, permitindo-lhes manter uma interação social. Entretanto, a maioria dos corredores (75%) praticava o esporte sozinha, o que sugere que, mesmo com a pandemia, as atividades individuais predominaram.

 

    Por fim, a Tabela 3 aborda questões relacionadas à realização de exames médicos e à experiência de ter familiares contaminados pelo COVID-19.

 

Tabela 3. Dados sobre exames médicos e contaminação de familiares durante a Pandemia

Categoria

Opções

%

Exames médicos

Regularmente

A cada 2 anos

A cada 3 anos

Não fazem exames

72

14

3

11

Familiar contaminado pelo COVID-19

Sim

Não

52

48

Fonte: Os autores

 

    A Tabela 3 revela que, de maneira geral, os corredores de rua demonstraram uma preocupação significativa com a saúde e o monitoramento médico durante a pandemia, com a grande maioria (72%) realizando exames médicos regularmente. Além disso, os dados refletem o impacto da pandemia nas famílias dos corredores, com um número considerável (52%) de participantes relatando que seus familiares contraíram o COVID-19.

 

    Na Tabela 4, são apresentados os dados sobre os comportamentos, práticas e percepções dos corredores de rua durante a pandemia, abordando aspectos como o uso de máscaras, os cuidados com o material esportivo e as sensações vividas pelos corredores ao adotar medidas preventivas. Além disso, a tabela também apresenta as notas atribuídas pelos participantes aos cuidados gerais durante a pandemia.

 

Tabela 4. Dados sobre os cuidados com saúde durante a pandemia

Categoria

Opções

%

Uso de máscara durante treino

Nunca usaram

Usavam às vezes

Usaram regularmente

Usaram a maior parte do tempo

43

40

13

3

Tipo de máscara utilizada

Máscara de tecido

Máscara de cirúrgica

Máscara plástica

37

16

7

Sensação ao usar máscara

Desconforto

Falta de ar

Agonia

Sem desconforto

48

32

5

9

Cuidados com material esportivo

Lavados com outras roupas

Lavados imediatamente após treino

Não lavados

Colocados ao sol

50

42

6

2

 

Uso de máscara (diante da OMS)

Pararam de usar

Continuaram usando perto de outras pessoas

Continuaram usando

Nunca usaram

40

35

12

13

 

Notas de cuidados durante a pandemia

Nota 8

Nota 7

Nota 9

Nota 10

Nota 6

Nota 5

Nota 3

Nota 3 e 4

35

23

12

10

8

5

3

4

Fonte: Os autores

 

    Conforme os dados da Tabela 4, embora a maioria dos corredores tenha adotado cuidados com o uso de máscaras (56%) e com a higiene do material esportivo (94%), o uso da máscara durante os treinos não foi uma prática uniforme. Muitos corredores (43%) optaram por não a usar. Entre os que usaram, o desconforto (48%) e a falta de ar (32%) foram as sensações mais relatadas.

 

    Apesar das dificuldades com o uso da máscara, a maioria dos corredores (88%) demonstrou preocupação com os cuidados durante a pandemia, atribuindo notas positivas às medidas adotadas.

 

    Por fim, a Tabela 5 apresenta dados que refletem como os corredores de rua enfrentaram os desafios e se adaptaram às circunstâncias impostas pela pandemia de COVID-19.

 

Tabela 5. Dados sobre os desafios e adaptações dos corredores de rua durante a Pandemia

Categoria

Opções

%

Desempenho durante a Pandemia

Diminuiu

Melhorou

Não alterou

Não sabem

42

26

26

6

Participação em competições (Pandemia)

Não participaram

Modalidade virtual

Não participaram de competições

43

32

25

Manutenção da distância (treino na rua)

Correndo desacompanhado

Mantiveram distância de 2m

Não mantiveram distância

Não correram na rua

46

24

22

8

Retorno às provas antes da vacinação

Sim

Não

52

48

Segurança para viajar

Não seguro

Seguro

71

21

Teste para COVID-19

Não fizeram

PCR

PCR + Teste de sangue

Teste de sangue

Teste via cotonete

44

14

10

9

7

Percepção de não serem infectados

Acreditam não terem sido infectados

Acreditam por cuidados tomados

Acreditam por sorte

Não sabem

77

17

4

2

 

Motivação pós-pandemia

Mantiveram motivação

Mais motivados

Trocar de esporte

66

33

1

Fonte: Os autores

 

    A pandemia trouxe desafios significativos para os corredores de rua, mas também gerou adaptações notáveis. Embora o desempenho de muitos corredores tenha diminuído, conforme a Tabela 5 apresentada, alguns conseguiram se adaptar e até melhorar seu desempenho (26%). A participação em competições foi amplamente afetada, com muitos corredores deixando de participar de provas presenciais (43%) e optando por competições virtuais (32%).

 

    Quanto aos cuidados, a maioria dos corredores procurou manter o distanciamento social (78%) e priorizou a segurança, não se sentindo seguro para viajar (21%). Por outro lado, a motivação para praticar o esporte permaneceu alta, com 66% dos participantes mantendo-se motivados.

 

Discussão 

 

    Em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o surto iniciado na China havia evoluído para a categoria de pandemia, disseminando-se globalmente de forma contínua. Em resposta a essa situação, líderes mundiais instituíram distanciamentos sociais e proibiram aglomerações em diversos ambientes, como parques, academias, escolas e locais de trabalho (Raiol, 2020). Não sendo diferente neste estudo, onde os corredores seguiram seus treinos em duplas ou pequenos grupos, respeitando as normas de distanciamento social e segurança para continuar a se exercitar.

 

    Segundo Ribeiro (2015), o corpo humano melhora com o uso, pois, ao nos impormos padrões de atividades e estresses controlados, conseguimos aprimorar nossa força, resistência aeróbica e coordenação. Este conceito confere os dados deste estudo, onde a maioria dos corredores tem mais de 10 anos de prática regular de corrida, o que demonstra a consistência em manter o exercício físico antes mesmo da pandemia. Esse fator pode ter influenciado ainda mais o comportamento e as percepções dos atletas em relação à saúde e à prática do esporte durante esse período.

 

    Ferreira et al. (2020) apontam que praticar exercícios em ambientes fechados, utilizar equipamentos compartilhados e as aglomerações podem aumentar a probabilidade de disseminação do vírus. Por isso, muitos corredores relataram praticar o esporte ao ar livre, mantendo a regularidade nos treinos.

 

    Uma das primeiras orientações emitidas pelas autoridades sanitárias ao redor do mundo, após o reconhecimento da pandemia de COVID-19, foi o uso de máscaras, uma prática que gerou discussões em diversos países, tanto a favor quanto contra a sua utilidade durante a prática de exercícios. (Ferreira et al., 2020).

 

    Silva, e Milani (2020) afirmam que a máscara facial continua sendo a melhor opção para evitar o contágio, mas, ao questionar os atletas sobre o impacto do uso da máscara na prática da corrida, observa-se que 86,7% diz que prejudicou o seu rendimento, causando desconforto respiratório e redução na performance. Além disso, a máscara pode ter sido vista como algo não essencial para todos, especialmente para aqueles que treinam ao ar livre, onde o risco de transmissão pode ser considerado menor. Levando em consideração as informações acima, é possível concluir que o uso contínuo de máscara foi um desafio para os corredores, e a decisão de parar de usar pode ter sido motivada por questões práticas ou pela percepção de que os riscos estavam mais controlados durante suas atividades ao ar livre.

 

    Visto que, o distanciamento social recomendado pelas autoridades foi respeitado por 75% dos corredores, demonstrando a preocupação com as medidas de prevenção. Wiersingaa et al. (2020) e Blocken, Malizia, Van Druenen, e Marchal (2020), destacam a importância de manter o distanciamento durante os treinos ao ar livre, para evitar o contato direto que pode resultar na transmissão do vírus por meio das gotículas respiratórias.

 

    Além disso, Blocken, Van Druenen, Van Hooff, Verstappen, Marchal, e Marr (2020) observam que, ao praticar atividades físicas como correr, a exposição às gotículas da pessoa à frente é maior quando se está atrás dela, o que justifica a preferência dos corredores por treinos individuais ou em duplas, respeitando a distância.

 

    A manutenção da imunidade também foi mencionada pelos participantes, corroborando a pesquisa de Ferreira et al. (2020), que aponta que a prática de atividades físicas ao ar livre pode ajudar a combater os efeitos físicos e psicológicos do isolamento social. De acordo com Werneck et al. (2020), o exercício moderado praticado regularmente melhora a resposta imunológica, enquanto o exercício intenso realizado em condições estressantes pode resultar em imunossupressão temporária. Essa evidência pode explicar o cancelamento de competições esportivas de alto rendimento durante a pandemia, uma vez que atividades de alta intensidade, como maratonas e corridas de longa distância, podem reduzir temporariamente a capacidade imunológica, tornando os corredores mais vulneráveis a infecções virais, incluindo o COVID-19.

 

    Contudo, as autoridades sanitárias optaram por suspender eventos esportivos de grande porte, como maratonas, para evitar o aumento da exposição e o impacto na saúde dos participantes. Os especialistas em saúde pública e esportiva recomendam que a população pratique exercícios físicos leves a moderados de forma regular, como uma preparação para futuros eventos pandêmicos. Isso ajudaria a reduzir o risco de complicações graves em caso de infecção viral, além de melhorar a resposta imunológica e o bem-estar geral da população (Pitanga, Beck, e Pitanga. 2020), o que reflete a resiliência e o amor pela modalidade, mesmo em tempos desafiadores.

 

Conclusões 

 

    Ao longo da história, o ser humano somente se preocupou com a prevenção de doenças após sua aparição, quando já não queria ser acometido novamente pelo mesmo mal. Nos tempos mais recentes, a profissão de educador físico passou a ser reconhecida como uma das mais relevantes na área da prevenção. Durante a pandemia que assombrou o mundo nos últimos dois anos, a atividade física se apresentou como uma barreira importante contra o temido vírus. Através dela, nosso organismo se fortalece contra diversas doenças.

 

    Este estudo demonstrou que a prática regular de exercícios aeróbicos aumenta a capacidade cardiorrespiratória do praticante, e é justamente no sistema pulmonar que o vírus do COVID-19 ataca. Portanto, ao melhorar nossa aptidão aeróbica, estamos nos prevenindo contra as sequelas da contaminação. Vale ressaltar que, ao manter a prática de corrida e seguir os cuidados estabelecidos pelas autoridades de saúde, como distanciamento social e uso de máscara, os corredores investigados apresentaram uma taxa de contaminação reduzida. Aqueles que contraíram o vírus tiveram uma recuperação mais rápida, com menos sequelas e sintomas mais brandos do que aqueles que não praticam a atividade.

 

    Além disso, esta não foi a primeira, nem será a última pandemia. Se não estávamos totalmente preparados para enfrentar um vírus com uma taxa de mortalidade de menos de 5% entre os infectados, imaginem como reagiríamos diante de uma pandemia com maior taxa de infecção e letalidade. A resposta a isso está na prática regular de atividade física, que se mostra um fator determinante na prevenção, inclusive, contra os efeitos de uma possível futura pandemia.

 

    Dessa forma, as autoridades públicas deveriam adotar medidas que incentivassem a prática de atividades físicas. Por exemplo, tornar a prática de exercícios físicos obrigatória em todos os níveis de ensino, incluir o profissional de educação física nos programas de saúde dos governos em todas as esferas, e promover políticas públicas sérias voltadas à construção e manutenção de parques e espaços apropriados para a prática de corrida.

 

    Como evidenciado neste estudo, em vez de proibir a prática de corridas no início da pandemia, as autoridades deveriam ter incentivado a população a sair para se movimentar, desde que respeitadas as medidas de distanciamento social e o uso de máscara.

 

Referências 

 

Askin, L., Tanriverdi, O., e Askin, H.S. (2020). O efeito da doença de coronavírus 2019 nas doenças cardiovasculares. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, 114(50), 817-22. https://doi.org/10.36660/abc.20200273

 

Barros, A.R.G., Simões, G.T.R., Dias, S.G., e Raposo, N. (2015). O efeito do índice de massa corpórea na função pulmonar. Revista da Associação Médica de Minas Gerais, 25(2), 149-56. http://dx.doi.org/10.5935/2238-3182.20150030

 

Blocken, B., Malizia, F., Van Druenen, T., e Marchal, T. (2020). Towards aerodynamically equivalent COVID19 1.5 m social distancing for walking and running. Urban physics, wind engineering & aerodinâmica de esportes, 01-12. https://assets.w3.tue.nl/w/fileadmin/content/pers/2020/04%20April/COVID19_Aero_Paper.pdf

 

Blocken, B., Van Druenen, T., Van Hooff, T., Verstappen, P.A., Marchal, T., e Marr, L.C. (2020). Can indoor sports centers be allowed to re-open during the COVID-19 pandemic based on certificate of equivalence? Build Environ, 180, 107022. https://doi.org/10.1016/j.buildenv.2020.107022

 

Ferreira, C.V., Góis, R.S., Gomes, L.P., Britto, A., Afrânio, B., e Dantas, E.H.M. (2017). Nascidos para correr: A importância do exercício para a saúde do cérebro. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 23(6), 495-503. https://doi.org/10.1590/1517-869220172306175209

 

Ferreira, M.S, Farias, G.S., Barros, G.R., Santos, S.F.S., e Sousa, T.F. (2020). Ponto de vista dos profissionais de Educação Física sobre o uso da máscara facial durante o exercício físico na pandemia da COVID-19. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, (25), 1-9. https://doi.org/10.12820/rbafs.25e0172

 

Machado, A.F. (2011). Corrida: bases científicas do treinamento. Ícone Editora.

 

Merle, L.F., e Steven, J.K. (2000). Bases Fisiológicas do Exercício e do Esporte. Editora Guanabara Koogan S.A.

 

Minayo, M.C.S. (2007). O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. Hucitec Editora.

 

OMS (2020). Boletim Epidemiológico. Secretaria de Vigilância em Saúde. Ministério da Saúde 2 COE Nº 01. Organização Mundial da Saúde. https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2020/janeiro/28/Boletim-epidemiologico-SVS-28jan20.pdf

 

Pitanga, F.J.G., Beck, C.C., e Pitanga, C.P.S. (2020). Inatividade física, obesidade e COVID-19: perspectivas entre múltiplas pandemias. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, 25(1), 1-4. https://doi.org/10.12820/rbafs.25e0114

 

Puleo, J., e Milroy, P. (2011). Anatomia da Corrida. Editora Manole.

 

Raiol, R.A. (2020). O exercício físico é essencial para a saúde física e mental durante a Pandemia da COVID-19. Revista Brasileira de Revisão de Saúde, 3(2), 2804–2813. https://doi.org/10.34119/bjhrv3n2-124

 

Ribeiro, R. do A. (2015). A eficácia do treinamento de força para o aumento do desempenho de corredores de longa distância [Monografia de Especialização em Educação Física. Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais,]. https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/EEFF-BC5EYD

 

Silva, M.G., e Milani, M. (2020). Máscaras faciais na prática de exercícios físicos: sua utilidade, modelos disponíveis e seu impacto na fisiologia cardiopulmonar. Revista do DERC, 26(3), 153-161. http://dx.doi.org/10.29327/22487.26.3-6

 

Werneck, AO, Silva, DR, Malta, DC, Souza-Júnior, PRB, Azevedo, LO, Barros, MBA, e Szwarcwald, CL (2020). Estilo de vida comportamentos mudanças durante o COVID-19 pandemia quarentena a entre 6.881 adultos brasileiros com depressão e 35.143 sem depressão. Ciência e Saúde Coletiva, 25(2), 4151-4156. https://doi.org/10.1590/1413-812320202510.2.27862020

 

Wiersingaa, W.J., Rhodes, A., Cheng, A.C, Peacock, S.J., e Prescott, H.C. (2020). Pathophysiology, Transmission, Diagnosis, and Treatment of Coronavirus Disease 2019 (COVID19). JAMA. https://doi.org/10.1001/jama.2020.12839


Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 322, Mar. (2025)