Lecturas: Educación Física y Deportes | http://www.efdeportes.com

ISSN 1514-3465

 

Tecnologias remotas nas ações de matriciamento entre 

atenção ambulatorial especializada e atenção primária em saúde

Remote Technologies in Matrix Actions between Specialized Outpatient Care and Primary Care

Tecnologías remotas en acciones matriciales entre la 

atención ambulatoria especializada y la atención primaria de salud

 

Nayra de Oliveira Duarte*

nayraduarte.sesmg@gmail.com
Simone Antunes Silva**

simone.ant@yahoo.com
Pollyanne Alves Ribeiro***
pollyalvesribeiro@hotmail.com

 

*Servidora da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais

como Especialista em Políticas e Gestão da Saúde (2015-atual)

Coordenadora do setor de Redes de Atenção à Saúde (2018 - atual)

Graduada em Enfermagem pela Universidade Federal

dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM)

Pós Graduação Latu-Sensu em Saúde Pública com Ênfase

em Saúde da Família pelas Faculdades Integradas

Pitágoras de Montes Claros (FIP-MOC)

Pós Graduação Latu-Sensu em Auditoria e Gestão em Saúde pelas FIP-MOC

Pós Graduação Latu-Sensu em Educação Permanente em Saúde pela UFRGS

Pós Graduação Latu-Sensu em Micropolítica e gestão da Saúde pela UFF

Pós Graduação Latu-Sensu em Gestão de Redes de Atenção à Saúde pela FIOCRUZ
**Graduada em Serviço Social

pela Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES)

Atualmente é Gerente Administrativa CEAE

da Prefeitura Municipal de Brasília de Minas

***Graduada em enfermagem

Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE)

(Brasil)

 

Recepción: 15/06/2024 - Aceptación: 17/03/2025

1ª Revisión: 13/02/2025 - 2ª Revisión: 04/03/2025

 

Level A conformance,
            W3C WAI Web Content Accessibility Guidelines 2.0
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0

 

Creative Commons

Este trabalho está sob uma licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Cita sugerida: Duarte, N. de O., Silva, S.A., e Ribeiro, P.A. (2025). Tecnologias remotas nas ações de matriciamento entre atenção ambulatorial especializada e atenção primária em saúde. Lecturas: Educación Física y Deportes, 30(323), 147-158. https://doi.org/10.46642/efd.v30i323.7726

 

Resumo

    Este artigo pretende relatar a experiência do Centro Estadual de Atenção Especializada (CEAE) de Brasília de Minas-MG na implementação de tecnologias de comunicação remota para ações de matriciamento junto às equipes de gestão e de Atenção Primária durante a pandemia de COVID-19. A partir de 2021, foram desenvolvidas e implementadas metodologias remotas que garantiram a continuidade dos alinhamentos de fluxos, orientações sobre os cuidados a profissionais e pacientes de alto risco, fortalecendo a cooperação entre níveis de atenção. Os resultados mostraram que ocorreram 16 encontros entre os anos de 2021 e 2022 com a participação de 99 pessoas. Além disso, adotou estratégias que facilitaram o acesso aos serviços disponíveis, a eficiência das ações de saúde, com redução de custos e aumento da adesão às atividades de matriciamento, oferecendo percepções relevantes para a integração de tecnologias digitais na gestão das redes de cuidado.

    Unitermos: Atenção Primária à Saúde. Níveis de atenção à saúde. Atenção Secundária à Saúde. Integralidade em saúde.

 

Abstract

    This article aims to report on the experience of the State Center for Specialized Care (CEAE) of Brasília de Minas-MG in implementing remote communication technologies for matrix support actions with management and Primary Care teams during the COVID-19 pandemic. From 2021 onwards, remote methodologies were developed and implemented to ensure the continuity of flow alignments, guidance on care for professionals and high-risk patients, strengthening cooperation between levels of care. The results showed that 16 meetings took place between 2021 and 2022, with 99 people taking part. In addition, it adopted strategies that facilitated access to available services, the efficiency of health actions, with reduced costs and increased adherence to matrix support activities, offering relevant insights for the integration of digital technologies in the management of care networks.

    Keywords: Primary Health Care. Health care levels. Secondary Care. Integrality in health.

 

Resumen

    Este artículo tiene como objetivo relatar la experiencia del Centro Estadual de Atención Especializada (CEAE) de Brasilia de Minas - MG en la implementación de tecnologías de comunicación remota para acciones de apoyo matricial con la gestión y los equipos de Atención Básica durante la pandemia de COVID-19. A partir de 2021, se desarrollaron e implementaron metodologías remotas que aseguraron la continuidad de los alineamientos de flujos, orientación en la atención a profesionales y pacientes de alto riesgo, fortaleciendo la cooperación entre niveles de atención. Los resultados mostraron que entre 2021 y 2022 se realizaron 16 reuniones con la participación de 99 personas. Además, se adoptaron estrategias que facilitaron el acceso a los servicios disponibles, la eficiencia de las acciones de salud, la reducción de costos y el aumento de la adherencia a las actividades de la matriz, ofreciendo conocimientos relevantes para la integración de las tecnologías digitales en la gestión de las redes de atención.

    Palabras clave: Atención Primaria de Salud. Niveles de atención en salud. Atención Secundaria de Salud. Integralidad en salud.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 323, Abr. (2025)


 

Introdução 

 

    A Atenção Ambulatorial Especializada (AAE) constitui um componente essencial da rede de cuidados de saúde, sobretudo no manejo de doenças crônicas de alto risco, como hipertensão arterial, diabetes mellitus, doença renal crônica e neoplasias malignas (Brasil, 2013).

 

    A eclosão da pandemia de COVID-19, em março de 2020, provocou perturbações profundas na organização dos serviços de saúde globalmente, exigindo uma rápida adaptação e reorganização das práticas assistenciais, tanto no âmbito da Atenção Primária quanto na secundária, conforme apontado pela Organização Pan-Americana de Saúde (2020). Inicialmente, essa reorganização se concentrou nos serviços hospitalares devido à gravidade dos quadros agudos, mas, ao longo do período, também afetou os serviços de Atenção Primária e Secundária. Isso se deu em virtude da necessidade de assistência diferenciada tanto para os casos agudos quanto para os crônicos, relacionados à COVID-19 e não à COVID-19. (OPAS, 2020; De Lima et al., 2020)

 

    As medidas de biossegurança adotadas para mitigar a disseminação do vírus resultaram em uma drástica redução dos atendimentos presenciais, criando uma discrepância significativa entre a crescente demanda por cuidados de saúde e a capacidade disponível para atendê-la (OPAS, 2020; De Lima et al., 2020). Essa situação ressaltou a urgência de estratégias alternativas para garantir a continuidade do cuidado durante a pandemia, evidenciando as lacunas no sistema de saúde. (OPAS, 2020)

 

    Nesse contexto, a adoção de soluções inovadoras tornou-se imprescindível para garantir a continuidade do cuidado, particularmente para as populações com maior vulnerabilidade clínica.

 

    A AAE de risco e alto risco relacionada às linhas de cuidado materno infantil, propedêutica do câncer de colo e mama, hipertensão arterial, diabetes mellitus e renal crônico estruturou-se no Estado de Minas Gerais, ao longo dos anos, em serviços ambulatoriais financiados e normatizados por este, tendo atualmente seu local de atendimento os Centros Estaduais de Atenção Especializada (Minas Gerais, 2024a). Os Centros Estaduais de Atenção Especializada (CEAEs), regulamentados pela Resolução SES/MG no 6.946 de 04 de dezembro de 2019 (Minas Gerais, 2019), enfrentaram o desafio de adaptar seus processos de matriciamento, historicamente realizados de forma presencial, para modalidades remotas.

 

    O matriciamento envolve ações colaborativas entre os níveis de Atenção Primária e Secundária, incluindo interconsultas, discussões clínicas e atividades de educação permanente, visando ao cuidado compartilhado e integrado de populações específicas. (Machado, e Camatta, 2013; Bonfim, et al., 2013; Santos et al., 2021)

 

    A conformação trazida pelos CEAEs mostrou novos formatos de trabalho em equipe, com predomínio do uso de tecnologias leves, as quais ocorrem através da interação entre profissionais de saúde dos diferentes pontos de atenção e destes com os usuários para se produzir um novo modo de fazer o cuidado. (Soares et al., 2017)

 

    Com as exigências da pandemia de COVID-19 e as regulamentações organizativas dos CEAEs, fez-se necessário identificar e definir novas metodologias para que as ações de matriciamento entre AAE e Atenção Primária em Saúde (APS) permanecessem e permitissem a participação e discussões com todos os atores que integram a organização dos processos de cuidado diretos e indiretos. (De Lima et al., 2020; Minas Gerais, 2020a)

 

    A Secretaria de Estado da Saúde (SES) de Minas Gerais elaborou e publicou diversos documentos com a finalidade de delimitar a assistência dos CEAEs nos cenários da pandemia para orientar gestores e profissionais de saúde sobre as ações necessárias à organização e à continuidade da assistência, bem como a adoção de medidas preventivas e de segurança para evitar a evolução do contágio. (Minas Gerais, 2024b)

 

    Destaca-se que a pandemia impactou diretamente o cuidado aos usuários e a evolução dos quadros clínicos. A mudança assistencial trazida pela pandemia mostrou que se tornava necessário manter a continuidade dos processos de educação permanente/continuada entre diferentes pontos de atenção em saúde para manutenção da qualificação assistencial e reflexo no cuidado ofertado aos usuários. (De Lima et al., 2020; Minas Gerais, 2020b; Porto et al., 2022)

 

    Esse artigo tem por como objetivo relatar a experiência do CEAE de Brasília de Minas/Minas Gerais na implementação de tecnologias de comunicação remota para viabilizar a continuidade das ações de matriciamento junto às equipes de gestão e de Atenção Primária durante o período de restrições impostas pela pandemia de COVID-19. Bem como relatar os principais desafios enfrentados, frente as mudanças propostas pertinentes ao período pandêmico.

 

Métodos 

 

    Trata-se de um relato de experiência sobre a reorganização da AAE no CEAE de Brasília de Minas-MG, com foco na continuidade das ações de matriciamento por meio de tecnologias remotas. A nova estratégia foi implementada em maio de 2021, em meio às restrições da pandemia, e foi introduzida como processo de trabalho do serviço.

 

    A metodologia adotada incluiu a realização de reuniões gerenciais entre a equipe do CEAE, a APS da área de abrangência de atendimento do serviço, com apoio da SES de Minas Gerais por meio da Unidade Regional de Saúde (URS) de referência. Utilizaram-se plataformas digitais de videoconferência disponíveis gratuitamente na internet. Os encontros abordaram temas pré-definidos no roteiro específico que versavam sobre fluxos para acesso aos atendimentos, regulação de vagas, absenteísmo e compartilhamento do cuidado.

 

    O roteiro para as reuniões foi baseado no "Guia de Visita Técnica" da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (Minas Gerais, 2020c), o qual foi adaptado para o formato remoto. O roteiro incluía tópicos como metas de atendimento, uso adequado de vagas e indicadores de performance dos municípios.

 

    As reuniões envolveram gestores municipais de saúde, coordenadores de atenção primária, profissionais responsáveis pela regulação de vagas, profissionais da gestão e assistência do CEAE e um profissional da URS, o qual atuava como mediador nas discussões e alinhamentos entre as partes. Todos os participantes receberam treinamento básico sobre o uso das plataformas digitais e as ferramentas de videoconferência.

 

Resultados e discussão 

 

    O CEAE de Brasília de Minas-MG organiza-se para atendimento de alto risco nas linhas de cuidado materno infantil, propedêutica do câncer de mama e colo de útero, hipertensão arterial, diabetes mellitus, renal crônico e angiologia. Possui dentre o rol de recursos humanos profissionais nas especialidades médicas e da equipe multiprofissional, além de gerente administrativo e coordenador assistencial. (Minas Gerais, 2019)

 

    Com o decreto da pandemia de COVID-19, os CEAE’s precisaram reorganizar os atendimentos de forma a cumprir os protocolos de biossegurança e evitar a contaminação entre usuários e profissionais de saúde. (Minas Gerais, 2020a)

 

    Dentre os diversos rearranjos implementados, houve consequências assistenciais catalogadas e descritas a seguir:

  • Redução do quantitativo de pessoas atendidas diariamente;

  • Absenteísmos por resistência no deslocamento para consultas no CEAE pelo medo de uma possível contaminação no trajeto ou no atendimento;

  • Não disponibilização de transporte em saúde;

  • Agudizações de alguns usuários;

  • Encaminhamentos sem cumprir os critérios pré-definidos;

  • Planos de cuidado não executados pelos usuários;

  • Redução do contato com a regulação do CEAE;

  • Não aproveitamento das vagas disponíveis;

  • Redução da busca ativa na Atenção Primária;

  • Descontinuidade da assistência no território de origem.

    Diante disso, a URS juntamente com o CEAE utilizando-se do roteiro “Guia de Visita Técnica aos municípios de abrangência do Centro Estadual de Atenção Especializada” realizou encontros online para discussão de processos de trabalho comuns entre ambos os pontos de atenção, os quais qualificam a assistência através da organização dos fluxos de encaminhamento e compartilhamento do cuidado. (Minas Gerais, 2020a, 2020b, 2020c)

 

    Houve a adaptação da metodologia prevista na legislação estadual, de visitas técnicas in loco, para o formato virtual através de reuniões por videoconferência. A pandemia gerou a necessidade do uso de tecnologias de acesso remoto, como videoconferências, para realização de encontros que antes aconteciam de forma presencial, tendo em vista ser uma forma de evitar a contaminação e propagação do vírus entre as pessoas. (Minas Gerais, 2020b; CONASEMS, e CONASS, 2020; Porto et al., 2022)

 

    O novo formato de reuniões passou a ser através de videoconferências, sendo iniciado a primeira com a apresentação aos gestores municipais de saúde, coordenadores de atenção primária, profissionais da assistência, CEAE e URS, a estratégia e roteiro a ser utilizado nos encontros virtuais. Nessa, foi alinhada a forma de preenchimento do roteiro e como o mesmo seria utilizado como norteador das questões a serem discutidas em momento posterior específico com cada município da área de abrangência do serviço de AAE.

 

    O roteiro para o matriciamento foi encaminhado por e-mail em formato editável aos profissionais de gestão e assistência dos municípios de abrangência para que realizassem uma primeira discussão em nível local com o preenchimento preliminar. O preenchimento anterior do roteiro possibilita o conhecimento prévio dos assuntos abordados, além de facilitar a discussão no momento da reunião entre os pontos de atenção.

 

    O alinhamento anterior ao uso de tecnologias virtuais requer uma preparação por todos os envolvidos, desde o planejamento, local e recursos tecnológicos disponibilizados, consentimento daqueles que participarão e o registro das ações. (Barbosa, Rockenback, e Bez, 2023; Brasil, 2020; CONASEMS, e CONASS 2020)

 

    As reuniões aconteceram em um turno (manhã ou tarde), com links criados por meio de plataformas digitais gratuitas de videoconferências, encaminhados por e-mail pelo CEAE, através de convites direcionados ao município de abrangência específico. As datas eram previamente alinhadas de forma a certificar a participação de todos os representantes.

 

    Ao longo da leitura do roteiro, as dúvidas e respostas previamente preenchidas pelo município foram discutidas, a fim de que todos os pontos discutidos pudessem ser alinhados e esclarecidas as dúvidas e aqueles que não fosse possível a resolução no momento da reunião, eram direcionados para o plano de ação.

 

    Ao final do roteiro, eram descritos em plano de ação todos os ajustes que deveriam acontecer para melhoria dos processos de trabalho gerencial e assistencial tanto da Atenção Primária como da Secundária, como as que envolvessem ambos os níveis. O plano de ação estruturava-se em: conclusão e recomendações, constando os seguintes itens: ação, responsáveis e prazo. (Minas Gerais, 2020c)

 

    Para validação do roteiro como documento oficial do encontro virtual, o mesmo foi impresso no município de origem, coletadas as assinaturas, entregue o meio físico no CEAE, o qual procedeu com as assinaturas e protocolou o documento na URS de referência, onde acontecia a última assinatura. Nesta, o roteiro era escaneado e enviado para todos por e-mail. O documento permanecia arquivado na URS.

 

    Na Tabela 1 estão descritos o número de reuniões ocorridas entre 2021 e 2022, bem como o número de participações de profissionais de saúde dos pontos de atenção citados. O período citado foi aquele em que a metodologia foi utilizada em 100% dos encontros de matriciamento citados neste relato de experiência.

 

Tabela 1. Descrição das reuniões de matriciamento do CEAE por ano de realização e número de participantes

Ano

No de municípios

No de profissionais que participaram dos matriciamento (total)

Total

CEAE

Município

URS

2021

7

7

20

7

34

2022

9

12

28

9

49

Total

16

19

48

16

99

Fonte: Dados internos do CEAE de Brasília de Minas/MG a partir dos Guias de Matriciamento preenchidos. Fonte: Dados de pesquisa

 

    Os resultados observados a partir do início das reuniões de matriciamento por meio de videoconferência foram a participação maior dos envolvidos, a otimização do tempo dos profissionais dos municípios, do CEAE e da Unidade Regional de Saúde, pois já estavam disponíveis para o trabalho no outro turno em que não acontecia a reunião.

 

    A implementação das tecnologias remotas permitiu a continuidade das ações de matriciamento durante o período mais restritivo da pandemia, garantindo a comunicação constante entre os diversos pontos de atenção. Um dos principais benefícios foi a otimização de recursos públicos, uma vez que a realização de reuniões virtuais eliminou os custos com deslocamento e hospedagem das equipes envolvidas, além de proporcionar maior flexibilidade nos agendamentos. (Silva, et al., 2022; Freire, 2023)

 

    Em termos de adesão, observou-se uma participação mais ampla dos profissionais de saúde, uma vez que o formato remoto facilitou a organização das agendas e reduziu o tempo gasto com logísticas presenciais. Isso contribuiu para a melhora na qualidade das discussões de casos e para a implementação de ações conjuntas entre a Atenção Primária e o CEAE. (Celuppi, 2021; Mendes, 2012)

 

    Ao longo das reuniões, constatou-se que muitos profissionais da ponta desconheciam as normatizações que envolviam o próprio município, como as relacionadas ao CEAE, como metas de agendamento de consultas e procedimentos, as quantiqualitativas e a carteira de serviços ofertados pelo ponto de AAE.

 

    Identificou-se a necessidade de maior aproximação entre os pontos de atenção para compartilhamento do cuidado de forma efetiva, a fim de favorecer a assistência ao usuário. A atenção contínua, integrada e eficaz para o cuidado a usuários estáveis de alto e muito alto risco pela APS apoiada pela AAE acontece por meio de qualificação entre equipes em vários momentos e diferentes métodos para o compartilhamento do cuidado. (Mendes, 2012)

 

    Na pandemia de COVID-19, diante do medo pelo novo vírus circulantes, diversos serviços optaram pela redução ou interrupção dos atendimentos. Os usuários evitaram sair das suas casas para continuidade de acompanhamentos pelas condições crônicas, ocasionando dificuldades tanto de acessos como agudizações e complicações dos quadros. (De Lima et al., 2020)

 

    Ocorreram alinhamentos importantes relacionados ao agendamento, busca ativa dos faltosos, absenteísmos, absorção de vagas por especialidades, tendo em vista que os municípios de abrangência devem fazer uso do serviço conforme disponibilidade de vagas e metas pactuadas previamente em Comissão Intergestores Bipartite microrregional.

 

    No entanto, alguns desafios também foram identificados. A ausência de familiaridade com tecnologias digitais por parte de alguns profissionais exigiu um esforço adicional para capacitação e suporte técnico durante as reuniões. Além disso, alguns municípios enfrentavam dificuldades de conexão à internet, o que comprometeu a qualidade da participação em determinadas situações. Essas barreiras tecnológicas já foram discutidas na literatura sobre telemedicina, que destaca a necessidade de infraestruturas robustas para a adoção plena dessas tecnologias. (Caetano, et al., 2020; Freire, et al., 2023)

 

    O estudo alcançou os objetivos propostos de promover as ações de matriciamento mesmo com as restrições dos encontros presenciais ocasionados pela pandemia, mas verificou-se como limitações as dificuldades de acesso à Internet nos diversos municípios; disponibilização de horário específico para participação nos encontros.

 

    Apesar das limitações, estudos corroboram que os resultados globais indicam que a estratégia foi eficaz na manutenção da integralidade do cuidado e na continuidade da educação permanente entre as equipes (Porto et al., 2022). Observou-se, ainda, que muitos municípios participantes não conheciam em profundidade as metas e normativas referentes ao CEAE, o que foi corrigido com o alinhamento realizado durante as reuniões. A literatura sobre gestão remota de cuidados corrobora esses achados, enfatizando o papel crucial das tecnologias digitais na continuidade de processos assistenciais durante crises. (Barbosa, Rockenback, e Bez, 2023; Entidade Reguladora da Saúde, 2020; Smith et al., 2020)

 

Conclusões 

 

    A pandemia de COVID-19 exigiu respostas rápidas e criativas dos sistemas de saúde para garantir a continuidade dos cuidados assistenciais, especialmente para populações vulneráveis. O uso de tecnologias remotas pelo CEAE de Brasília de Minas-MG para manter as ações de matriciamento entre as equipes de gestão, de Atenção Primária e Secundária demonstrou ser uma solução viável e eficaz, contribuindo para a reorganização dos fluxos de trabalho e para a otimização dos recursos.

 

    A experiência descrita neste relato ressalta a importância de integrar tecnologias de comunicação ao cotidiano da gestão em saúde, mesmo após o fim da pandemia, como uma estratégia sustentável para a melhoria da assistência. As barreiras encontradas, como dificuldades tecnológicas e resistência inicial dos profissionais, foram superadas com a capacitação e a adaptação dos processos.

 

    Futuras iniciativas podem se beneficiar dessa experiência ao considerar o uso de tecnologias digitais em redes de cuidado integradas, especialmente em regiões onde os recursos para deslocamento e encontros presenciais são limitados.

 

Referências 

 

Barbosa, D.N.F., Rockenback, L.D.S., e Bez, M. (2023). Educação permanente mediada por tecnologias digitais na atenção primária à saúde. Rev Enferm Atenção Saúde, 12(2), e202378. https://doi.org/10.18554/reas.v12i2.6732

 

Bonfim, I.G., Bastos, E.N.E., Góis, C.W. de L., e Tófoli, L.F. (2013). Apoio matricial em saúde mental na atenção primária à saúde: uma análise da produção científica e documental. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, 17(45), 287-300. https://doi.org/10.1590/S1414-32832013005000012

 

Brasil (2013). Diretrizes para o cuidado das pessoas com doenças crônicas nas redes de atenção à saúde e nas linhas de cuidado prioritárias. Ministério da Saúde. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes%20_cuidado_pessoas%20_doencas_cronicas.pdf

 

Brasil (2020). Estratégia de Saúde Digital para o Brasil 2020-2028. Ministério da Saúde. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estrategia_saude_digital_Brasil.pdf

 

Caetano, R., Silva, AB, Guedes, ACCM, Paiva, CCN, Ribeiro, GR, Santos, DL, e Silva, RM (2020). Desafios e oportunidades para telessaúde em tempos da pandemia pela COVID-19: uma reflexão sobre os espaços e iniciativas no contexto brasileiro. Cadernos de Saúde Pública, 36(5). https://doi.org/10.1590/0102-311X00088920

 

Celuppi, I.C., Lima, G. dos S., Rossi, E., Wazlawick, R.S., e Dalmarco, E.M. (2021). Uma análise sobre o desenvolvimento de tecnologias digitais em saúde para o enfrentamento da COVID-19 no Brasil e no mundo. Cadernos de Saúde Pública, 37(3), e00243220. https://doi.org/10.1590/0102-311X00243220

 

CONASEMS, e CONASS (2020). COVID-19. Guia orientador para o enfrentamento da pandemia na rede de atenção à saúde. http://www.conass.org.br/wpcontent/uploads/2020/05/Instrumento-Orientador-Conass-Conasems.pdf

 

De Lima, J., Lopes, M.G., e Santos, C.C. dos (2020). Continuidade das ações em saúde na atenção ambulatorial especializada durante a pandemia pela Covid-19. Revista de Saúde Pública do Paraná, 3(Supl. 1). https://doi.org/10.32811/25954482-2020v3sup1p140

 

Entidade Reguladora da Saúde (2020). Informação de monitorização. Impacto da pandemia COVID-19 no Sistema de Saúde - período de março a junho de 2020. ERS. https://www.ers.pt/media/3487/im-impacto-covid-19.pdf

 

Freire, M.P., Silva, L.G., Meira, A.L.P., e Louvison, M.C.P. (2023). Telemedicina no acesso à saúde durante a pandemia de covid-19: uma revisão de escopo. Rev Saude Publica. 57(Supl 1), 4s. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023057004748

 

Machado, D.K. de S., e Camatta, M.W. (2013). Apoio matricial como ferramenta de articulação entre a Saúde Mental e a Atenção Primária à Saúde. Cadernos Saúde Coletiva, 21(2), 224-232. https://www.scielo.br/j/cadsc/a/7tBHt6hxRRRxK64d6qSQbVv/

 

Mendes, E.V. (2012). O cuidado das condições crônicas na atenção primária à saúde. O imperativo da consolidação da estratégia de saúde da família. Organização Pan-Americana da Saúde. https://iris.paho.org/handle/10665.2/49107

 

Minas Gerais (2020b). Cuida de Minas. Guia de orientações para a retomada dos atendimentos presenciais e diretrizes para os atendimentos remotos nos serviços ambulatoriais e hospitalares eletivos, vinculados às redes temáticas no SUS-MG. Belo Horizonte. https://www.saude.mg.gov.br/

 

Minas Gerais (2019). Resolução SES/MG no 6.946, de 04 de dezembro de 2019. Secretaria de Estado da Saúde. https://www.saude.mg.gov.br/images/documentos/RESOLU%C3%87%C3%83O%20SES%206946.pdf

 

Minas Gerais (2020a). Orientações sobre atendimento assistencial dos Centros Estaduais de Atenção Especializada (CEAE) em virtude da Pandemia por Coronavírus. Nota informativa COES Minas COVID-19 No02/2020: Secretaria de Estado da Saúde.

 

Minas Gerais (2020c). Guia de visita técnica para o matriciamento às unidades de atenção primária de saúde (UAPS) dos municípios de abrangência do Centro Estadual de Atenção Especializada - CEAE. Secretaria de Estado da Saúde.

 

Minas Gerais (2024a). Centro Estadual de Atenção Especializada (CEAE). Secretaria de Estado da Saúde. https://www.saude.mg.gov.br/component/gmg/page/1843-centro-estadual-de-atencao-especializada-ceae

 

Minas Gerais (2024b). Coronavirus. Secretaria de Estado da Saúde. https://coronavirus.saude.mg.gov.br/

 

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). (2020). Folha informativa - COVID-19 (doença causada pelo novo coronavírus). https://www.paho.org/pt/covid19/historico-da-pandemia-covid-19.

 

Porto, A.O., Santos, L.B., Santos, S.D. dos, Silva, A.P., e Dantas, V.B. (2022). Educação permanente como instrumento de qualificação da assistência em uma USF rural durante a pandemia. Journal Health NPEPS, 7, e5877. https://doi.org/10.30681/252610105877

 

Santos, T., Oliveira, J., Azevedo, R., e Penido, C. (2021). O caráter técnico-pedagógico do apoio matricial: uma revisão bibliográfica exploratória. Physis: Revista de Saúde Coletiva, 31(3), e310316. https://doi.org/10.1590/S0103-73312021310316

 

Silva, T.C., Nitschke, R.G., Nascimento, L.C. do, Tafner, D.P.O. do V., e Viegas, S.M. da F. (2022). Tecnossocialidade no quotidiano de profissionais da saúde e interação com usuários na pandemia de covid-19. Escola Anna Nery, 26(spe), e20220123. https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2022-0123pt

 

Smith, A.C., Thomas, E., Snoswell, CL, Haydon, H., Mehrotra, A., Clemensen, J., e Caffery, LJ (2020). Telessaúde para emergências globais: implicações para a doença do coronavírus 2019 (COVID-19). Journal of Telemedicine and Telecare, 26, 309-313. https://doi.org/10.1177/1357633x20916567

 

Soares, M.Q., Carlos, C.F.L.V., Sabino, J.S.N., Ribeiro, D.N., e Vieira, J.A. (2017). O processo de trabalho e a equipe multidisciplinar: um relato de experiência do Centro Estadual de Atenção Especializada. JMPHC | Journal of Management & Primary Health Care, 7(1), 100-100. https://doi.org/10.14295/jmphc.v7i1.427


Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 323, Abr. (2025)