ISSN 1514-3465
Intensidade interna e externa no futsal: o caso de uma equipe semiprofissional
Internal and External Intensity in Futsal: The Case of a Semiprofessional Team
Intensidad interna y externa en el futsal: el caso de un equipo semiprofesional
Matheus Henrique da Silva Pacheco
*pfpacheco99@gmail.com
Gustavo de Conti Teixeira Costa
**conti02@hotmail.com
Gustavo Ferreira Pedrosa
***gustavo.pedrosa@ufsm.br
Henrique de Oliveira Castro
+henriquecastro88@yahoo.com.br
Gabriel Ivan Pranke
++pranke.cefd@gmail.com
Dr. Thiago José Leonardi
+++thiago.leonardi@ufrgs.br
Dr. Lorenzo Iop Laporta
*laporta.lorenzo@ufsm.br
*Núcleo de Estudos em Performance Analysis Esportiva
Universidade Federal de Santa Maria (NEPAE/UFSM)
**Núcleo de Estudos e Pesquisas Avançadas em Esportes
Universidade Federal de Goiás (NEPAE/UFG).
***Grupo de Pesquisa Aplicada em Treinamento de Força
Universidade Federal de Santa Maria (GPATF/UFSM).
+Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Física e Esportes
Universidade Federal de Mato Grosso (GEPEFE)
++Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
+++Laboratório de Estudos Multidisciplinares em Esporte
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (LEME/UFRGS)
(Brasil)
Recepción: 18/03/2024 - Aceptación: 23/05/2024
1ª Revisión: 21/04/2024 - 2ª Revisión: 19/05/2024
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
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Cita sugerida
: Pacheco, MHS, Costa, GCT, Pedrosa, GF, Castro, HO, Pranke, GI, Leonardi, TJ, e Laporta, LI (2024). Intensidade interna e externa no futsal: o caso de uma equipe semiprofissional. Lecturas: Educación Física y Deportes, 29(314), 78-93. https://doi.org/10.46642/efd.v29i314.7517
Resumo
O futsal é um esporte intermitente e que exige demandas de alta intensidade. O controle e monitoramento das intensidades torna-se importante para quantificar e qualificar as demandas de treinamento. Objetivou-se descrever a variação da intensidade interna (PSE dos atletas e a planejada pelo treinador) e externa (fadiga neuromuscular) de treinamento em jogadores de futsal semiprofissional ao longo de diferentes fases da temporada. A amostra caracterizou-se por 18 jogadores (idade de 25,0±6,6 anos; altura de 176,8±5,7 cm; massa corporal de 77,0±10,5 kg). Coletou-se a Percepção Subjetiva de Esforço (PSE) dos atletas e planejada pelo treinador, intensidade de treinamento e desempenho no salto vertical com contra movimento (CMJ) no início e no final da semana de treinamento. A pré-temporada foi caracterizada por maior intensidade na percepção dos atletas com valores iniciais da PSE mais elevados. A PSE do grupo não apresentou um aumento significativo ao longo da temporada, ocorrendo a superestimação planejada de PSE pelo treinador ao longo do ano. As análises do CMJ indicaram que o grupo de jogadores, em grande parte das semanas, não apresentou acúmulo excessivo de fadiga neuromuscular ao final da semana com o aumento do desempenho do CMJ ao longo da temporada, apresentando adaptações positivas mesmo em semanas intensas. Análises comparativas entre jogador e planejado pelo treinador em diferentes momentos da temporada permitem avaliar oscilações da PSE e aproximar o conhecimento sobre os atletas, evitando superestimação e excessos que levem os atletas a perda de desempenho ou, ainda, lesões.
Palavras chaves:
Preparação física. Esporte de rendimento.Treinamento. Exercício físico.
Abstract
Futsal is an intermittent sport that demands high intensity. In parallel, the control and monitoring of intensities become important to quantify and qualify training demands. Variations in internal and external training intensity were analyzed in semi-professional futsal players, along with the training intensity planned by the coach during regular weeks and in the final phase of the championship throughout the season. For this purpose, the sample consisted of 18 players (age 25.0±6.6 years; height 176.8±5.7 cm; body mass 77.0±10.5 kg). The athletes' rate of perceived exertion (RPE) was collected, as well as that planned by the coach, training intensity, and performance in the countermovement vertical jump (CMJ) at the beginning and end of the training week. The pre-season was characterized by higher intensity in athletes' perception with higher initial SPE values. The RPE did not show a significant increase throughout the season, and the coach's planned RPE was overestimated for the year. Regarding CMJ, the players' group did not typically exhibit excessive accumulation of neuromuscular fatigue at the end of most weeks. There was an increase in CMJ performance throughout the season, indicating positive adaptations even during intense weeks. Comparative analyses between the player and coach-planned RPE at different times of the season enable the evaluation of SPE fluctuations and contribute to advancing knowledge about the athletes. This approach helps avoid overestimation and excessive demands that could potentially result in performance loss or injuries.
Keywords:
Physical preparation. Performance sports. Training. Physical exercise.
Resumen
El futsal es un deporte intermitente que requiere exigencias de alta intensidad. Controlar las intensidades es importante para cuantificar demandas de entrenamiento. El objetivo fue describir la variación de la intensidad interna (PSE de los deportistas y planificada por el entrenador) y externa (fatiga neuromuscular) del entrenamiento en jugadores semiprofesionales de futsal a lo largo de la temporada. Fueron evaluados 18 jugadores (edad 25,0±6,6 años; altura 176,8±5,7 cm; masa corporal 77,0±10,5 kg). La Percepción Subjetiva del Esfuerzo (PSE) fue recogida y planificada por el entrenador, la intensidad del entrenamiento y el rendimiento en el salto vertical con contramovimiento (CMJ) al inicio y al final de la semana de entrenamiento. La pretemporada se caracterizó por una mayor intensidad en la percepción de los deportistas con valores iniciales de PSE más elevados. El PSE del grupo no mostró un aumento significativo a lo largo de la temporada, lo que provocó que el entrenador sobreestimara el PSE a lo largo del año. Los análisis del CMJ indicaron que el grupo de jugadores, en la mayoría de las semanas, no mostró acumulación excesiva de fatiga neuromuscular con el aumento del rendimiento del CMJ a lo largo de la temporada, mostrando adaptaciones positivas incluso en semanas intensas. Los análisis comparativos entre el jugador y el entrenador planificados en diferentes momentos de la temporada permiten evaluar las fluctuaciones de la PSE y acercar el conocimiento sobre los deportistas, evitando sobreestimaciones y excesos que lleven a los deportistas a la pérdida del rendimiento o incluso lesiones.
Palabras clave
: Preparación física. Deporte de rendimiento. Entrenamiento. Ejercicio físico.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 314, Jul. (2024)
Introdução
O futsal é um esporte de quadra com exigências intermitentes e de alta intensidade, que requer alto grau de habilidades técnico-táticas e equilíbrio psicológico (Naser et al., 2017; Borges et al., 2022; Spyrou et al., 2020). O fornecimento de energia pode ser considerado como misto (aeróbio e anaeróbio), sendo que para execução de esforços máximos e de curta duração, a energia é proveniente principalmente do sistema ATP-CP, enquanto que nas situações de transição ataque-defesa e contra-ataques sucessivos, o metabolismo anaeróbio lático é o principal responsável pela manutenção das ações. Por sua vez, durante o decorrer do período total da partida a via aeróbia possui uma participação expressiva de aproximadamente 90%. (Silva et al., 2020)
Os deslocamentos realizados na quadra, durante um jogo de futsal de alto nível, são determinados pela posição tática do atleta, bem como de níveis de solicitação metabólica específica, conforme o tempo que o atleta atua em quadra, fatores que podem ser limitantes para um bom desempenho durante os jogos. Nessa mesma linha, a intensidade exigida durante os jogos é relativa à categoria, nível de competição, dimensões da quadra e, principalmente pelo momento em que este jogo é disputado, sendo maiores as intensidades em jogos decisivos. (Soares et al., 2022)
Paralelamente, o controle e o monitoramento da intensidade de treinamento tornam-se importantes para quantificar e qualificar as demandas de treinamento, analisar e ajustar questões de volume e intensidade impostos aos atletas para uma melhor tomada de decisão da intensidade e da recuperação adequada pré e pós-sessão de treinamento, diminuindo assim o risco de lesão (Burgess et al., 2017). A intensidade de treinamento é o termo utilizado por cientistas desportivos, treinadores e atletas como a variável de entrada que é manipulada para obter uma resposta de treino desejada nos atletas, sendo classificada em intensidade interna e externa. (Staunton et al., 2022)
A intensidade externa é caracterizada pelo trabalho estimado realizado pelo atleta e quantificada diretamente como tempo de estímulo e descanso, séries, repetições, carga (i. e., kg), número de voltas, distância percorrida, velocidade de corrida, número de acelerações e desacelerações, número de saltos e mudanças de direções. (Impellizzeri et al., 2019)
A intensidade interna refere-se normalmente ao estresse e respostas psicofisiológicas sofridas por um atleta ao lidar com as exigências provocadas pela intensidade externa, independente da forma como a intensidade externa é quantificada (Kalkhoven et al., 2021). Essa variável pode ser representada pelo consumo de oxigênio, frequência cardíaca, Percepção Subjetiva de Esforço (PSE), marcadores bioquímicos como lactato, creatina quinase (CK), níveis hormonais como testosterona e cortisol entre outros. (Rodrigues et al., 2019)
Sabe-se que as intensidades externa e interna possuem uma relação, mesmo que não seja direta ou inversamente proporcional, para determinar a qualidade ou quantidade da demanda nos esportes coletivos de elite (Lima et al., 2022). Além desses mecanismos citados anteriormente, a intensidade interna também é influenciada pelas características individuais como por exemplo, o nível de condicionamento e potencial genético. Este novo paradigma propõe que a combinação da intensidade externa com as características individuais determinará a magnitude da intensidade interna de treinamento, que, em última instância, será a responsável pelo surgimento das adaptações desejadas e o aumento do desempenho.
A PSE é um dos métodos mais utilizados para quantificar a intensidade interna de treinamento, com validade e fiabilidade reconhecida no mundo dos esportes coletivos (Miloski et al., 2012), além da alta associação encontrada entre os métodos de quantificação de intensidade de treinamento no monitoramento do treinamento na modalidade futsal. (Matzenbacher et al., 2021)
O monitoramento da PSE permite que os treinadores ajustem a intensidade de treino para atender às necessidades individuais dos jogadores e maximizar o potencial de cada atleta, assim como, os treinadores podem ajustar a intensidade e o volume do treinamento com base no feedback dos jogadores, o que pode ajudar a prevenir lesões relacionados ao excesso de treinamento (Inoue et al., 2022). Além disso, a análise do efeito do treinamento sobre os jogadores seja através de intensidade externa, interna ou ambas, permite a gestão de variação dos estímulos, a otimização da individualização do treino, a redução do risco de lesão, a detecção precoce de um possível estado de overreaching e a minimização da possibilidade de síndrome do overtraining. (Clemente et al., 2019)
A importância do controle e monitoramento do treinamento é amplamente estudada, trazendo consigo informações valiosas para a comissão técnica tomar as melhores decisões acerca das sessões de treinos seguintes e feedback das sessões anteriores de treinamento. A comparação da PSE do treinador com a PSE apresentada pelos jogadores é discutida na literatura dentro dos diversos esportes como no futsal (Rabelo et al., 2016), no tênis júnior (Murphy et al., 2016), e no voleibol (Rodriguez-Marroyo et al., 2014), evidenciando a importância desse processo para as tomadas de decisões e compreensão do comportamento da equipe. Vale ressaltar, de forma complementar, que o monitoramento da altura do salto vertical com contra movimento (CMJ), como forma de avaliação da intensidade externa do treinamento e da fadiga causada nos jogadores, é um instrumento importante durante o processo de controle. (Wilke et al., 2021)
Assim, cada sessão/semana ou bloco de treinamento durante a temporada possuem uma variação de intensidade interna e externa, sendo que durante a temporada ocorrem semanas normais (com um jogo) e semanas congestionadas (com mais de um jogo por semana), o que altera as percepções e intensidades que os atletas acumulam durante as semanas de treinamento (Clemente et al., 2019). Estudos acerca da monitorização através da intensidade interna de treinamento revela que em três dias antes da partida (Matchday 3 ou MD-3) a intensidade era maior nas semanas normais do que nas semanas congestionadas (Clemente et al., 2019), pois em semanas normais se tem um tempo maior de treino e descanso entre um jogo e outro. Por outro lado, em semanas congestionadas, a carga MD-2 foi moderadamente maior do que a intensidade no MD-3 e largamente maior do que a carga no MD-1, pois os treinadores utilizaram o MD-3 para recuperação e o MD-2 para aplicar uma intensidade maior, considerando que havia apenas três dias entre jogos. (Clemente et al., 2019)
Desta forma, o presente estudo tem o objetivo de descrever a variação da intensidade interna (PSE dos atletas e a planejada pelo treinador) e externa (fadiga neuromuscular) de treinamento em jogadores de futsal semiprofissional ao longo de diferentes fases da temporada.
Métodos
Amostra
Caracteriza-se por ser um estudo longitudinal com uma equipe semiprofissional de futsal ao longo de uma temporada de 8 meses de treinos e jogos no ano de 2023, com três sessões treinos semanais de 2 horas cada. A amostra constituiu-se de dezoito jogadores semiprofissionais de futsal com idade de 25,0 ± 6,63 anos; altura de 176,85 ± 5,71 cm; massa corporal de 77,03 ± 10,55 kg.
Instrumentos
Para a coleta da estatura foi utilizado um estadiômetro fixo da marca Cardiomed®, com resolução de 0,1 cm e alcance máximo de 220 cm mensurada de acordo com os procedimentos descritos por Petroski (2011). Para avaliação da massa corporal, utilizou-se uma balança digital da marca Marte®, com resolução de 0,1 kg e capacidade máxima de 180 kg, seguindo os procedimentos descritos por Stewart et al. (2011).
Para os dados sobre a intensidade interna, a PSE foi coletada 30 minutos após o treino (Clemente et al., 2019). Os atletas respondiam através de um formulário gerado no drive, com a seguinte frase: “Quão intenso foi a sessão de treino para você?” A partir disso os atletas visualizavam uma escala que vai de 0 a 10 e respondiam no espaço destinado a isso um valor podendo ser um número entre 4 e 5, por exemplo. Já a PSE observada pelo treinador foi coletada pré-treino no momento em que ele enviava o plano de trabalho do dia. Os desempenhos no CMJ foram coletados no primeiro e último treino da semana após um aquecimento articular padronizado, utilizando-se o aplicativo Physics Toolbox Sensor Suite. Os dados da PSE e CMJ foram tabulados em uma planilha ad hoc do software Microsoft® Excel® 2019.
Considerou-se como os períodos de treinamento da temporada e o foco de cada fase: Pré-temporada sendo o período preparatório que incide sobre a melhoria dos aspectos fisiológicos, voltados à força, a velocidade e a resistência impactada por um trabalho físico geral (Silva, 2022), nesta primeira fase foi realizado dois jogos amistosos; Fase Competitiva de Grupos com aplicações de cargas elevadas em momentos com menor número de jogos referentes a competição, objetivando a manutenção da aptidão física (Miloski et al., 2012), sendo realizado um jogo oficial por semana a partir desta fase; e Fase Competitiva Final considerada como baixa intensidade de treino e apresentou como objetivo principal a recuperação entre os jogos, na qual os atletas foram constantemente expostos a treinos regenerativos (como corridas ou atividades recreativas, ambas de baixa intensidade) no intervalo entre as partidas. (Miloski et al., 2012)
Procedimentos
Monitorou-se os atletas durante a segunda quinzena do mês de março (sendo as duas primeiras semanas uma fase de familiarização por parte do grupo de atletas com o questionário e CMJ), até o mês de outubro, correspondendo ao total de 90 sessões de treino, 15 partidas oficiais. Os desempenhos no CMJ eram coletados duas vezes por semana, no primeiro dia de treino da semana e último, após o mesmo tipo de aquecimento articular e mobilidade. Todos os atletas voluntários deste estudo foram informados dessa pesquisa, implicações, riscos e benefícios. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos da UFSM pelo número CAAE: 74524123.3.0000.5346.
Análise estatística
Inseriu-se os dados em uma planilha (Microsoft Excel) ad hoc contendo todas as variáveis do estudo. O processo de análise estatística foi realizado no pacote estatístico IBM SPSS 28.0 para Macintosh (IBM Corp: Armonk, NY, EUA). A estatística descritiva foi utilizada para verificar as frequências das categorias e eventos emergentes.
Resultados
A Tabela 1 mostra uma análise descritiva por momento da temporada (pré-temporada, fase competitiva - grupos e fase competitiva - final), tempo de treino (minutos), potência de membros inferiores medida pelo desempenho no CMJ além da PSE do grupo de jogadores e a PSE estimada pelo treinador. Os resultados indicam um aumento do CMJ do início e fim da semana na fase competitiva (44,76 ± 2,16 e 45,62 ± 1,73) respectivamente em relação a pré-temporada (41,83 e 40,49 ± 0,69).
Tabela 1. Análise descritiva por momento da temporada
Variável |
Média |
Desvio
Padrão |
Mínimo |
Máximo |
Pré-temporada |
||||
Tempo
treino, minutos (n=5) |
94,80 |
23,08 |
54,00 |
110,00 |
PSE
semanal atletas (n=6) |
4,70 |
0,60 |
4,08 |
5,31 |
PSE
semanal estimada (n=6) |
5,67 |
0,52 |
5,00 |
6,00 |
CMJ
início da semana, cm (n=1) |
41,83 |
NA |
41,83 |
41,83 |
CMJ
final da semana, cm (n=2) |
40,49 |
0,69 |
40,00 |
40,98 |
Diferença
CMJ, cm (n=1) |
-2,67 |
NA |
-2,67 |
-2,67 |
Fase
competitiva - grupos |
||||
Tempo
treino, minutos |
87,80 |
17,68 |
35,00 |
140,00 |
PSE
semanal atletas (n=56) |
4,51 |
0,66 |
2,00 |
5,96 |
PSE
semanal estimada (n=56) |
5,31 |
0,94 |
3,00 |
7,00 |
CMJ
início da semana, cm (n=17) |
44,76 |
2,16 |
41,21 |
50,75 |
CMJ
final da semana, cm (n=13) |
45,62 |
1,73 |
43,56 |
48,97 |
Diferença
CMJ, cm (n=10) |
1,16 |
1,59 |
-2,41 |
3,25 |
Fase
competitiva – final (n=10) |
||||
Tempo
treino, min (n=56) |
96,25 |
15,75 |
75,00 |
120,00 |
PSE
semanal atletas (n=8) |
4,67 |
0,91 |
3,42 |
6,06 |
PSE
semanal estimada (n=8) |
5,25 |
1,17 |
3,00 |
6,00 |
CMJ
início da semana, cm (n=2) |
45,32 |
2,06 |
43,87 |
46,77 |
CMJ
final da semana, cm (n=2) |
49,04 |
0,89 |
48,41 |
49,67 |
Diferença
CMJ, cm (n=2) |
3,85 |
0,17 |
3,73 |
3,97 |
Legenda: PSE: Percepção subjetiva de esforço; CMJ: Salto com Contramovimento; NA: não se aplica.
Fonte: Dados de pesquisa
A Figura 2, apresenta a variação da Percepção Subjetiva de Esforço ao longo dos três momentos da temporada. Percebe-se nas semanas 1 a 7 (4,30 ± 1,88) e nas semanas 18 a 25 (4,70 ± 1,93) valores superestimados de PSE por parte do treinador. Houve, ainda, momentos da temporada em que as linhas se encontravam sobrepostas, como por exemplo nas semanas 8 (4,71 ± 2,04), 9 (3,95 ± 1,87), 15 (3,90 ± 1,85), 16 (4,51 ± 2,13) e 17 (4,96 ± 2,22), e na semana 14 (4,16 ± 1,82) os atletas apresentaram uma PSE mais alta do que a estimada pelo treinador.
A potência de membros inferiores medida pelo teste do CMJ revela a diferença de altura do início da semana para o final da semana de treino na pré-temporada (-2,67), na fase competitiva-grupos (1,16 ± 1,59) e na fase competitiva - final (3,85 ± 0,17). Na Figura 3 estão representados os valores de diferença de CMJ no início e no final de cada semana, para cada fase da temporada. Nas semanas 1 (-2,67) e 26 (-2,41 ± 1,59) observou-se performance no CMJ final da semana menor que o CMJ inicial. Na fase competitiva final, a diferença média de CMJ foi de 3,85 cm (± 0,17). Com exceção, portanto, das semanas 1 e 26, observa-se que o treinamento ministrado não causou fadiga muscular acumulada ao longo das semanas de treinamento monitoradas pelo CMJ.
Discussão
O objetivo do presente estudo foi analisar a variação da intensidade interna e externa de treinamento em jogadores de futsal semiprofissional e informações do treinador durante semanas normais e em fase final de campeonato ao longo da temporada.
Percebe-se que o valor da PSE estimada pelo treinador foi mais elevada quando comparado com a PSE do grupo de atletas nos momentos de alta intensidade, sendo elas a pré-temporada, tendo alta intensidade física, e fase competitiva de grupos, especialmente nos momentos finais dessa fase, contendo altas intensidades de treinamentos técnicos e táticos. Esses dados vão de acordo com a literatura em que o treinador superestimou a PSE dos atletas no treinamento físico do voleibol (Rodriguez et al., 2014) e em jogadores de tênis de elite júnior (Murphy et al., 2014), como também em nadadores moderadamente treinados (Barroso et al., 2015). Estes resultados parecem estar associados à períodos que exijam dos jogadores no âmbito técnico, tático ou físico, desta forma o treinador tende a superestimar a PSE. Além disso, esse fato, pode estar relacionado a experiência do treinador na gestão das equipes, experiência dos atletas em entender real percepção de esforço que aquela sessão de treino provocou no organismo, tempo de experiência com o questionário da PSE, entre outros fatores.
Outro ponto interessante é que na pré-temporada o trabalho e o tempo de treinamento são mais altos, seguidas de redução dessas variáveis na segunda etapa (fase competitiva), a fim de melhorar o desempenho do salto vertical (Domingos et al., 2022). Esse processo é comum nos esportes coletivos nos quais o período de pré-temporada é curto e os atletas estão voltando de um período de férias. Aliado a isso, os treinamentos no decorrer das semanas passam por uma crescente, tanto em volume quanto em intensidade, para que os jogadores adquiriram um melhor condicionamento mais rápido (Miloski et al., 2012), causando maior estresse interna e externamente, elevando a PSE por parte dos atletas e com uma carga total de treino maior neste período quando comparado com os outros momentos da temporada.
O segundo ponto diz respeito a oscilação da PSE do treinador, tendo em vista a intensidade dos treinamentos aumentar no decorrer da temporada, alguns momentos a PSE foi superestimada em relação a média do grupo que por sua vez não apresentou grandes oscilações. Estes achados estão de acordo com a literatura, tendo em vista que é esperado que a PSE estimada pelo treinador oscile ao longo da temporada, enquanto a PSE dos atletas não tenha um aumento considerado por situações de altas demandas físicas, técnicas ou táticas e um ciclo de pouco tempo de descanso entre jogos no meio da temporada, na qual a intensidade baixa e o processo de ajustes dos treinamentos ocorrem (Brink et al., 2014). Estes resultados podem estar associados à complexa relação entre aplicação adequada da intensidade de treinamento e o processo de recuperação. (Inoue et al., 2022)
Já os sinais de fadiga através do CMJ em meses com mais jogos (julho, agosto e setembro) apresentaram uma diferença de salto (CMJ inicial/CMJ final) positiva indicando um processo de potenciação ao longo das semanas (Borba et al., 2017). Sabe-se que o desempenho em exercícios de elevada intensidade é dependente do nível de potência muscular, ou seja, da capacidade de recrutamento neural, do aproveitamento do ciclo alongamento-encurtamento e da taxa de liberação de energia por meio da via metabólica anaeróbia (Behrens et al., 2023).
A partir disso, o CMJ obtido durante a temporada auxilia na avaliação semanal dos índices de fadiga e da evolução individual do atleta na capacidade de potência de membros inferiores (Kunrath et al., 2016). Os dados indicam que na maioria das semanas os indivíduos não apresentaram sinais de desgaste elevado tendo valores próximos de zero, indicando que a semana de treino em muitos momentos não foi capaz de gerar fadiga excessiva a ponto dos atletas não recuperarem até a próxima sessão de treino. Nota-se, também, que há diferença estatística na altura do salto ao longo da temporada, evidenciando um aumento na performance dos jogadores nesta capacidade física. Esses dados vão ao encontro da literatura do futsal, em que atletas de futsal sub-18 apresentaram evolução significativa nos valores de CMJ no início do período de treinamento (37,3 ± 3,52 cm) e no final do período de treinamento (43,2 ± 4,03 cm) de 31 semanas, (Matzenbacher et al., 2016). Esses achados vão ao encontro também de Kunrath et al. (2016), no qual o controle da PSE e CMJ dos atletas de futebol sub-20 nos treinamentos auxiliou a não causar diminuição no desempenho do salto horizontal e no CMJ, favorecendo treinar em situações nas quais o processo de fadiga seja minimizado, tendo zonas de PSE moderadas.
Conclusão
O presente estudo buscou investigar a variação da intensidade interna e externa de treinamento em jogadores de futsal semiprofissional ao longo de diferentes fases da temporada, explorando a relação entre a PSE estimada pelo treinador e a percebida pelos atletas e a avaliação do CMJ no início e final das semanas de trabalho. Os resultados revelaram que com o aumento natural e gradual da intensidade do treinamento, a PSE dos atletas tem a tendência a variar, entretanto o treinador deve considerar e evitar superestimação da mesma para estar sempre alinhado com o período de treinamento e com a manifestação do grupo. A hipótese de fadiga acumulada em meses com mais jogos não foi confirmada, indicando que o controle contínuo da PSE e do desempenho do CMJ é uma importante ferramenta para otimizar e controlar o treinamento, permitindo uma adaptação individual e coletiva ao treinamento.
Esse estudo contribui para um entendimento do controle do treinamento e enfatiza a necessidade de estratégias personalizadas para maximizar o desempenho dos atletas ao longo da temporada. Como limitações do estudo, a amostra foi composta por jogadores semiprofissionais cuja grande maioria desempenhava outras funções durante o dia, não sendo possível controlar uma possível interferência externa das suas rotinas fora do âmbito de treino nos resultados. Junto a isso, foi feita uma média da PSE do grupo de atletas, logo valores mais baixos dos goleiros e ou atletas que tinham uma minutagem pequena de treino foram registrados junto com o grupo como um todo. Como futuros estudos, sugere-se analisar essas variáveis em equipes profissionais com um calendário no qual enfrentam semanas normais (com apenas 1 jogo por semana) e semanas congestionadas (mais de 1 jogo por semana), além de buscar controlar a PSE treinador x PSE atleta para cada posição no jogo.
Referências
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Borba, D., Ferreira-Júnior, J.B., Santos, L.A. dos, Carmo, M.C. do, e Coelho, L.G.M. (2017). Efeito Da Potencialização Pós-Ativação no Atletismo: uma Revisão Sistemática. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, 19(1), 128-138. https://doi.org/10.5007/1980-0037.2017v19n1p128
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Brink, M.S., Frencken, W.G., Jordet, G., e Lemmink, K.A. (2014). Coaches’ and players’ perceptions of training dose: not a perfect match. International journal of sports physiology and performance, 9(3), 497-502. https://doi.org/10.1123/ijspp.2013-0009
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 314, Jul. (2024)