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ISSN 1514-3465

 

Motivação e principais barreiras para a prática de atividade

 física para estudantes de nível superior. Um estudo descritivo

Motivation and Main Barriers to the Practice of Physical 

Activity for Higher Level Students. A Descriptive Study

Motivación y principales barreras para la práctica de actividad 

física en estudiantes de educación superior. Un estudio descriptivo

 

Moisés Augusto de Oliveira Borges*

m.oliveiraborges@hotmail.com

Wanderson Fernandes de Souza**
wanderson.souza@gmail.com

 

*Graduado em Educação Física

pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

Especialista em Atividade Física e Fisiologia do Exercício,

ênfase em Psicofisiologia e Recuperação Pós-Exercício

Mestre em Psicologia (PPGPSI - UFRRJ),

ênfase em Psicologia do Esporte

Pesquisador e orientador no Laboratório de Avaliação e Saúde (LAVs)

Associado do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE-RJ)

Associado da Associação Brasileira de Gestão do Esporte

**Graduado em Psicologia pela UFRRJ

Mestre em Ciências pelo Departamento de Epidemiologia

e Métodos Quantitativos em Saúde (Epidemiologia)

da ENSP (Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz)

Doutor em Saúde Pública pela ENSP/Fiocruz

Professor Adjunto da UFRRJ e do Programa de Mestrado

e Doutorado em Psicologia da UFRRJ (PPGPSI)

(Brasil)

 

Recepción: 28/02/2024 - Aceptación: 31/05/2024

1ª Revisión: 07/05/2024 - 2ª Revisión: 27/05/2024

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Cita sugerida: Borges, M.A. de O., e Souza, W.F. de (2024). Motivação e principais barreiras para a prática de atividade física para estudantes de nível superior. Um estudo descritivo. Lecturas: Educación Física y Deportes, 29(315), 46-60. https://doi.org/10.46642/efd.v29i315.7493

 

Resumo

    Introdução: Estudantes universitários constituem uma população vulnerável para o comprometimento da sua saúde física, mental e social, aumentando o risco dessa população incorporar hábitos sedentários. Objetivo: Investigar os fatores motivacionais que levam estudantes de graduação de uma universidade pública brasileira a praticarem atividade física e identificar as principais barreiras para a sua prática. Metodologia: Foram aplicados dois instrumentos para 255 alunos de graduação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ): a MPAM-R e um questionário sociodemográfico. Resultados: Do total de entrevistados, 69,02% praticavam atividade física antes de ingressar no ensino superior e 72,16% praticam atividade física atualmente e de forma regular. O fator Diversão foi considerado como o mais motivador, enquanto o fator Social foi considerado como o de menor motivação. Além disso, 27,84% não praticam atividade física regular, sendo o principal motivo a “falta de tempo”.

    Unitermos: Motivação. Inatividade física. Exercício físico. Saúde.

 

Abstract

    Introduction: University students constitute a population vulnerable to compromising their physical, mental and social health, increasing the risk of this population to incorporate sedentary habits. Objective: To investigate the motivational factors that lead students from a Brazilian public university to practice physical activity and to identify the main barriers to their practice. Methodology: Two instruments were applied to 255 undergraduate students from the Federal Rural University of Rio de Janeiro (UFRRJ): the MPAM-R and a sociodemographic learning. Results: Of the total number of emotions, 69.02% practiced physical activity before entering higher education and 72.16% currently practiced physical activity on a regular basis. The Fun factor was considered the most motivating, while the Social factor was considered the least motivating. In addition, 27.84% do not practice regular physical activity, the main reason being “lack of time”.

    Keywords: Motivation. Physical inactivity. Physical exercise. Health.

 

Resumen

    Introducción: Los estudiantes universitarios constituyen una población vulnerable por comprometer su salud física, mental y social, aumentando el riesgo de que esta población adopte hábitos sedentarios. Objetivo: Investigar los factores motivacionales que llevan a estudiantes de pregrado de una universidad pública brasileña a practicar actividad física e identificar las principales barreras para su práctica. Metodología: Se aplicaron dos instrumentos a 255 estudiantes de pregrado de la Universidad Federal Rural de Río de Janeiro (UFRRJ): el MPAM-R y un cuestionario sociodemográfico. Resultados: Del total de encuestados, el 69,02% practicaba actividad física antes de ingresar a la educación superior y el 72,16% actualmente practica actividad física de forma regular. El factor Diversión fue considerado el más motivador, mientras que el factor Social fue considerado el menos motivador. Además, el 27,84% no practica actividad física habitual, siendo el principal motivo la “falta de tiempo”.

    Palabras clave: Motivación. Inactividad física. Ejercicio físico. Salud.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 315, Ago. (2024)


 

Introdução 

 

    Em consequência das exigências acentuadas da vida universitária e de outros fatores, estudantes universitários são normalmente acometidos com frequência a problemas psicoativos. Constituindo, assim, uma população vulnerável para o comprometimento da sua saúde física, mental e social. (Cardoso et al., 2019)

 

    A corroborar com essas afirmativas, Adewuia et al. (2006) estimaram que 15% a 25% dos universitários desenvolvem algum tipo de transtorno psiquiátrico ao longo da graduação, sendo a depressão e a ansiedade os mais comuns. No Brasil, Perini, Delanogare e Souza (2019), encontraram prevalência de 40% de transtornos mentais comuns em estudantes de ensino superior, sendo que 88,8% destes não recebiam atendimento especializado em saúde mental. Além disso, a prevalência de sobrepeso e obesidade entre jovens também é um importante problema de saúde pública atualmente. Em muitos casos, associada à inatividade física. (Melo et al., 2019)

 

    De fato, autores apontaram que 27,5% da população mundial não atinge o mínimo recomendável de 150 minutos de atividade física semanal (Guthold et al., 2018). Enquanto isso, no Brasil, o percentual de insuficientemente ativos equivale a 44% da população (Brasil, 2019). Em relação aos jovens, pesquisas demonstram que adolescentes tendem a adotar comportamentos sedentários, muitas vezes, devido a rotina estressante entre estudos, estágios e trabalho (comuns ao estudante de ensino superior), o que vem a contribuir para a inatividade física desta população. (Cardoso et al., 2019)

 

    Sem dúvidas a inatividade física está associada aos maiores problemas de saúde pública da atualidade, como a prevalência de sobrepeso e obesidade entre jovens, a alta taxa de mortalidade por DCNT e riscos à saúde mental (Melo et al., 2019). Nesse sentido, Aro, Agbo, e Omole (2018) apontam que a manutenção dos níveis de atividade física é mais fácil quando os indivíduos se sentem motivados para a prática. A motivação tem sido objeto de estudo de pesquisadores, professores e treinadores por ser considerada um fator importante para o aprendizado e desempenho nas atividades esportivas. (Loures, Krachychyn, e Teixeira, 2017; Paula et al., 2019; Matias, Andrade, e Manfrin, 2018)

 

    Para Weinberg, e Gould (2017), a motivação é um fator primordial no desenvolvimento do indivíduo, pois o excita a querer buscar e alcançar determinado nível de aprendizagem ou desempenho. Vale destacar que a motivação de uma pessoa varia conforme a força de seus motivos e se modificam em função da interação entre diferentes atributos demográficos e situações específicas. (Weinberg, e Gould, 2017)

 

    No campo da atividade física, diferentes posicionamentos teóricos consideram que as metas ou objetivos que se desejam atingir através da prática de exercícios físicos são importantes determinantes para sua prática, como é o caso da Teoria da Autodeterminação (TAD). A TAD foi proposta por Deci na década de 1970 e aprimorada posteriormente por Deci, e Ryan (2008). Desde então a TAD vem sendo utilizada em estudos para explicar os diferentes fatores motivacionais que levam a população a iniciar, persistir ou abandonar a prática de atividade físico-esportiva (Marcos-Pardo, Martínez-Rodríguez, e Gil-Arias, 2018; Paula et al., 2019). A motivação, nessa teoria, é direcionada para o bem-estar geral do indivíduo principalmente direcionado às questões psicológicas. Ela é compreendida de forma continuada, que varia em intensidade da mais autodeterminada (motivação intrínseca) a menos autodeterminada (Motivação Extrínseca e desmotivação). (Ryan, e Deci, 2000)

 

    Nessa perspectiva, a motivação é capaz de explicar as razões que levam os estudantes universitários a iniciarem e a continuarem uma prática de atividade física, como também os motivos para o abandono. (Aro, Agbo, e Omole, 2018; Marcos-Pardo, Martínez-Rodríguez, e Gil-Arias, 2018)

 

    Nesse contexto, estudos sobre motivação são relevantes para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes na promoção da saúde de estudantes universitários, por meio de ações que contribuam para o aumento da adesão à prática de atividade física e que acarretem a mudança de comportamentos e de hábitos mais saudáveis (Marcos-Pardo, Martínez-Rodríguez, e Gil-Arias, 2018; Cardoso et al., 2019). Além disso, Matias, Andrade, e Manfrin (2018), apontam que a produção científica acerca dos fatores motivacionais que influenciam a tomada de decisão de jovens adultos brasileiros na adoção de hábitos saudáveis é limitada, reiterando a necessidade de estudos realizados com esta finalidade.

 

    Sendo assim, o objetivo deste estudo foi investigar os fatores motivacionais que levam discentes de uma universidade pública brasileira a praticarem atividade física de esporte e lazer, assim como as principais barreiras para a sua prática.

 

Método 

 

    Este é um estudo descritivo, de corte transversal e de metodologia quantitativa. (Thomas, Nelson, e Silverman, 2012)

 

    O tamanho amostral foi por conveniência e não-probabilístico, sendo considerados aqueles que desejaram participar da pesquisa. Assim, a amostra inicial foi composta por 285 alunos de graduação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Foram incluídos nesta investigação indivíduos que consentiram espontaneamente em participar das entrevistas mediantes a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

 

    Participaram das entrevistas aqueles com idade igual ou superior a 18 anos, de ambos os gêneros, que praticam ou não exercícios físicos regulares, atividades esportivas ou de lazer. Foram excluídos da investigação aqueles que não consentiram em participar da pesquisa, aqueles que entregaram formulários incompletos, rasurados ou ilegíveis, alunos de pós-graduação, assim como aqueles que não se enquadraram nos critérios de inclusão. Também foram excluídos desta investigação indivíduos que estivessem em fase de reabilitação pós-lesão ou que fossem atletas. Após aplicação dos critérios, foram considerados 255 discentes para esse estudo, sendo uma perda amostral de 10,53%.

 

    Os procedimentos deste estudo estão de acordo com os padrões éticos da Declaração de Helsinque de 1975 (revisada em 2013), e segue as normas éticas previstas quanto à assinatura do TCLE, sendo informado aos participantes que apareceriam em anonimato. O presente estudo foi aprovado pelo processo 23083.014229/2019-72 e protocolo nº 1.349/19.

 

    Os dados foram coletados com alunos da UFRRJ, campus Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil. O contato inicial foi realizado por meio de mídia social de acesso dos estudantes. Em seguida, foram aplicados os instrumentos de pesquisa, de forma individual e pelo mesmo pesquisador. A coleta de dados e a aplicação dos questionários durou, em média, 12 minutos.

 

    Nessa investigação foram utilizados dois instrumentos: a Escala de Motivação à Prática de Atividades Físicas (MPAM-R) e um questionário sociodemográfico, elaborado pelos autores, contendo perguntas referentes às informações pessoais e acadêmicas. A MPAM-R é uma escala desenvolvida a partir da Teoria da Autodeterminação (TAD), proposta por Deci na década de 70 e aprimorada posteriormente por Deci, e Ryan (2008). Desde então a TAD vem sendo utilizada em estudos para explicar os diferentes fatores motivacionais que levam a população a iniciar, persistir ou abandonar a prática de atividade físico-esportiva. (Marcos-Pardo, Martínez-Rodríguez, e Gil-Arias, 2018; Paula et al., 2019)

 

    A MPAM-R é uma escala que avalia cinco (5) motivos para a prática dos exercícios físicos por atletas e não atletas de ambos os gêneros e diferentes idades: Diversão, Competência, Aparência, Saúde e Social. A escala original, a MPAM, foi criada por Frederick, e Ryan (1993), e posteriormente revisada por Ryan et al. (1997) e validada culturalmente para a população brasileira por Gonçalves, e Alchieri (2010). A MPAM-R oferece sete opções de resposta, por meio de uma escala do tipo Likert, variando de 1 = Discordo totalmente a 7 = Concordo totalmente, avaliando o grau de discordância/concordância dos participantes nos motivos para se praticar atividade física.

 

    Os dados foram tratados por meio da estatística inferencial (média, desvio padrão e frequência percentual), sendo os mesmos analisados pelo programa SPSS 20.0.

 

Resultados 

 

    Atualmente a UFRRJ conta com mais de 24 mil alunos matriculados em seus cursos de graduação, sendo o tamanho amostral deste estudo correspondente a, aproximadamente, 1,06% do total de discentes de graduação. Nesse sentido, a amostra foi composta por 255 alunos dos diversos cursos de graduação da Universidade, sendo 109 homens (42,75%) e 146 mulheres (57,25%), com idade entre 18 e 55 anos, sendo média de 23,5±6,3. Outras características da amostra podem ser conferidas na Tabela 1.

 

Tabela 1. Outras características da amostra

Variável

n

Porcentagem

Curso

Educação Física

82

32,16%

Física

34

13,33%

Letras

32

12,55%

Química

29

11,37%

Educação do Campo

29

11,37%

Ciências Sociais

27

10,59%

Outros

22

8,63%

Período

Entre o 1º e o 2º Período

40

15,69%

Entre o 3º e o 4º Período

37

14,51%

Entre o 5º e o 6º Período

40

15,69%

Entre o 7º e o 8º Período

44

17,25%

Entre o 9º e o 10º Período

48

18,82%

Acima do 10º Período

46

18,04%

Turno do curso

Integral

209

81,96%

Noturno

26

10,20%

Diurno

16

6,27%

Tardino

4

1,57%

Fonte: Elaborado pelos próprios autores

 

    Buscando identificar o perfil de prática de atividade física da amostra, verificou-se que 176 praticavam atividade física antes de ingressar no ensino superior (69,02%) e que 184 praticam atividade física atualmente e de forma regular (72,16%). Dados como frequência, intensidade e tempo de prática podem ser vistos na Tabela 2.

 

Tabela 2. Frequência, intensidade e tempo de prática de atividade física da amostra estudada

Variável

n

Porcentagem

Frequência de prática semanal

Menos de 3 x por semana

78

42,39%

Entre 3 x e 5 x por semana

101

54,89%

Mais de 5x por semana

5

2,72%

Intensidade dos exercícios

Leve

24

13,04%

Moderada

120

65,22%

Intensa

40

21,74%

Há quanto tempo pratica

Menos de 3 meses

71

38,59%

Entre 3 meses e 1 ano

34

18,48%

 Mais de 1 ano

79

42,93%

Fonte: Elaborado pelos próprios autores

 

    Um dos objetivos desta investigação foi identificar as principais barreiras para a prática da atividade física pela perspectiva deste grupo de alunos de graduação da UFRRJ. Dentre aqueles que praticavam atividade física antes de ingressar no ensino superior, 25 interromperam suas atividades durante os períodos letivos (9,80%). No total, 71 dos entrevistados não praticam nenhum tipo de atividade física regular atualmente (27,84%). Os principais motivos para a interrupção ou não prática de atividade física pelos participantes deste estudo podem ser vistos na Tabela 3.

 

Tabela 3. Principais motivos para não praticar atividade física atualmente

Variável

n

Porcentagem

Motivo para não praticar atividade física

 

 

Falta de tempo

27

38,03%

Não tem lugar para praticar atividade física que eu goste

14

19,72%

Falta de orientação de um professor

14

19,72%

Falta de dinheiro

9

12,68%

 Outro

7

9,86%

Fonte: Elaborado pelos próprios autores

 

    O objetivo principal dessa pesquisa foi investigar os fatores motivacionais que levam discentes da UFRRJ a praticarem atividades físicas de esporte e lazer. A Tabela 4 mostra a média e desvio padrão de cada um dos cinco fatores da MPAM-R. Após análise dos dados obtidos, verificou-se que o fator Diversão é o principal fator de motivação à prática de atividade física para os participantes, seguido por Saúde, Competência, Aparência e, por último, o fator Social como o menos motivador.

 

Tabela 4. Resultados da MPAM-R

Fatores

Média

DP

Fatores I

Diversão

6,03

0,17

Fatores II

Competência

5,38

0,32

Fatores III

Aparência

4,45

1,16

Fatores IV

Saúde

6,02

0,23

Fatores V

Social

3,98

1,09

Fonte: Elaborado pelos próprios autores

 

Discussão 

 

    A partir da análise dos resultados obtidos, verificou-se que os fatores Diversão e Saúde foram os que apresentaram maior fator motivacional, possivelmente devido à busca de atividade física voltada para o lazer e a conscientização da população na importância do exercício físico para a qualidade de vida e no auxílio no tratamento e prevenção de doenças (Apolinário et al., 2019; Pereira, 2009). Outros estudos sobre motivação de jovens e adultos para práticas esportivas também apontaram o fator Diversão como o maior fator motivacional. (Borges et al., 2019; Paula et al., 2019; Pallarés et al., 2020; Bernardino et al., 2021)

 

    Vale salientar que o fator Diversão é considerado um fator de motivação intrínseca, pois representa a satisfação, permanência e aderência à prática de atividade física, sendo associada à benefícios físicos e psicológicos. Ainda, a motivação intrínseca é considerada um preditor de vitalidade subjetiva em universitários que realizam atividade físico-esportiva regularmente (Martínez-Alvarado et al., 2022), e estando a intensidade do exercício relacionada a motivações mais autodeterminadas. (Duque Ramos et al., 2022)

 

    Nessa perspectiva, outro fator que também pode ser considerado de motivação intrínseca é a Competência. Já os fatores Saúde, Aparência e Social, estes são considerados como motivação extrínseca, uma vez que a prática acaba sendo realizada para atingir recompensas ou resultados outros que não da prática em si. (Ryan et al., 1997; Ryan, e Deci, 2000; Weinberg, e Gould, 2017)

 

    Nesse estudo, o fator Social foi o de menor motivação, mas não estando abaixo do que seria considerado a pontuação média da escala, tendo resultados semelhantes a outro estudo envolvendo jovens adultos (Borges et al., 2021). O segundo fator de menor motivação foi Aparência, embora que alguns autores considerem o fator Aparência/Estética um grande influenciador motivacional, mesmo que não seja o principal motivo ou objetivo da prática de atividade física, uma vez que um corpo magro e definição muscular são considerados padrões de beleza. Nesse contexto, a estética pode vir a influenciar na prática de atividades físicas, ainda mais que o conceito de estética pode ser confundido com saúde, que, no caso, foi o segundo maior fator motivacional neste estudo. (Sampedro et al., 2014)

 

    Dessa maneira, destaca-se a necessidade de analisar o contexto por trás dos fatores motivacionais Competência e Aparência, sendo estes fatores relacionados a estímulos extrínsecos, em razão da possível influência de imagens de corpos magros e musculosos, valorizados pela sociedade moderna, na imagem corporal do indivíduo (Baldo, 2015). Em relação as barreiras percebidas para prática de atividade física, os universitários participantes deste estudo apontaram a falta de tempo como principal limitação (38,03%).

 

    Outros autores que estudaram os motivos que levam a desistência ou a inatividade física identificaram a falta de tempo como principal fator. Além disso, outros motivos como desencorajamento familiar, estrutura precária, falta de energia e falta de motivação costumam ser citados com frequência. (Weinberg, e Gould, 2017; Braga, Alves, e Souza, 2022)

 

    Autores consideram que estudantes universitários podem ser considerados como população vulnerável, tendo em vista as inúmeras situações potenciadoras de estresse, podendo ocasionar distúrbios emocionais como o estresse, ansiedade ou depressão (Pereira, 2009). A corroborar com essas afirmativas, Adewuia et al. (2006) estimaram que 15% a 25% dos universitários desenvolvem algum tipo de transtorno psiquiátrico ao longo da graduação, sendo a depressão e a ansiedade os mais comuns. No Brasil, Perini, Delanogare, e Souza (2019), encontraram prevalência de 40% de transtornos mentais comuns em estudantes de ensino superior, sendo que 88,8% destes não recebiam atendimento especializado em saúde mental.

 

    Como enfatizado anteriormente, a inatividade física é diretamente relacionada aos principais problemas de saúde pública da atualidade, como a incidência crescente de sobrepeso e obesidade entre os jovens, óbitos por DCNT e riscos à saúde mental, principalmente transtornos mentais comuns (Melo et al., 2019). Nesse sentido, destaca-se que, de 255 alunos entrevistados, 46 (18,04%) não praticavam atividade física antes de ingressar no ensino superior e continuam sem praticar atividade física regularmente.

 

    Em relação aos jovens, pesquisas demonstram que adolescentes tendem a adotar comportamentos sedentários, muitas vezes, devido a rotina estressante entre estudos, estágios e trabalho (comuns ao estudante de ensino superior), o que vem a contribuir para a inatividade física desta população. (Cardoso et al., 2019; Bardin, e Camargo, 2020)

 

    Para Palma (2000), a pouca ou inexistente prática de educação física escolar reflete diretamente no hábito de praticar atividade física na fase adulta. Além disso, 71 dos entrevistados afirmaram não estarem praticando nenhum tipo de atividade física regular (27,84%). E, para a amostra entrevistada, a “falta de tempo” é considerada a principal barreira à prática de atividade física e a principal responsável pela inatividade física desta população, sendo citada por 27 (38,03%) dos respondentes considerados insuficientemente ativos.

 

    No geral, pesquisas que tiveram como objetivo investigar os motivos que levam a desistência ou a pouca prática de atividade física da população identificaram a falta de tempo como principal fator (Weinberg, e Gould, 2017; Vieira, e Silva, 2019; Duarte et al., 2022). Adolescentes estão preocupados com o futuro acadêmico, com o ingresso ou conclusão do curso de ensino superior, o que ocupa grande parte do seu tempo. Com relação ao público adulto, a jornada de trabalho extensa restringe a adesão à prática de atividade física. Nas palavras de Vieira, e Silva (2019, p. 14), no Brasil, “há a tendência de supervalorização de uma vida pautada na preparação para o futuro em detrimento do presente (adolescentes) e um estilo de vida fundamentado no Ter em detrimento do Ser (adultos).”

 

    Outro fator de destaque é “falta de dinheiro”, citado nove vezes como motivo para inatividade física. Segundo um levantamento feito pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), em 2019, 70,2% dos alunos das universidades e institutos federais são provenientes de famílias de baixa renda, ou seja, com renda mensal de até 1,5 salário-mínimo. Este motivo pode estar relacionado com a falta de tempo, uma vez que, ainda segundo a pesquisa da Andifes, 29,9% possuem vínculo empregatício e 45,9% destes trabalham mais de 30 horas semanais, o que afeta o tempo de dedicação aos estudos e hábitos saudáveis, como à prática regular de atividade física. (Andifes, 2019)

 

    De mesma forma, pode-se relacionar a “falta de dinheiro” com a “falta de orientação de um professor”. Atualmente, a atenção de um profissional qualificado, na maioria das vezes, implica na compra de pacotes de serviços em algum espaço que oferte a atividade física desejada e/ou a contratação direta dos serviços do profissional. Por outro lado, programas e projetos sociais oferecem atividade física supervisionada e gratuita, como é o caso de projetos de extensão ativos nas próprias universidades e institutos federais. No entanto, estes possuem capacidade reduzida de atendimento, por limitações orçamentárias e de profissionais disponíveis, além da principal barreira para prática de atividade física, a “falta de tempo”, restringir o acesso da população a estes projetos e programas. (Weinberg, e Gould, 2017; Vieira, e Silva, 2019)

 

    Este estudo limitou-se a investigar os fatores motivacionais que levam discentes da UFRRJ a praticarem atividades físicas de esporte e lazer, assim como as principais barreiras para a sua prática, não tendo participado da pesquisa atletas universitários, alunos de pós-graduação da UFRRJ ou alunos e atletas de graduação e pós-graduação de outras universidades e instituições federais, estaduais ou privadas. Outras limitações do estudo que podem ser citadas são, a amostra do estudo não ser composta por alunos de todos os cursos de graduação da UFRRJ e o tamanho amostral reduzido.

 

Conclusão 

 

    Em resposta aos objetivos do presente estudo, verificou-se que, dos 255 discentes de nível superior entrevistados, 69,02% praticavam atividade física antes de ingressar no ensino superior e que 72,16% praticam atividade física atualmente e de forma regular, sendo a principal motivação, identificada pela avaliação da MPAM-R, o fator Diversão, caracterizando predominação da motivação intrínseca. Em segundo lugar, o fator Saúde, demonstrando a conscientização da população na importância do exercício físico para qualidade de vida. O fator Social foi considerado como o de menor motivação para o grupo estudado. Além disso, do total de entrevistados, 27,84% não praticam atividade física regular, sendo o principal motivo para o comportamento sedentário a “falta de tempo”.

 

Aplicações práticas 

 

    Com este estudo, buscou-se levantar informações importantes para ampliar os saberes teóricos na área da psicologia do esporte, a fim de elucidar questões relativas aos motivos que levam as pessoas a iniciarem ou desistirem da prática regular de exercício físico, subsidiando a implementação de novos projetos esportivos e de incentivo à prática regular, voltados para esta população em questão, de grande vulnerabilidade. Cabe destacar que estes são resultados parciais de um projeto de pesquisa amplo acerca da motivação à prática de atividade física de estudantes de ensino superior.

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 315, Ago. (2024)