ISSN 1514-3465
Prevalência de insatisfação corporal entre
universitários brasileiros. Revisão sistemática e metanálise
Prevalence of Body Dissatisfaction among Brazilian University Students. Systematic Review and Meta-Analysis
Prevalencia de insatisfacción corporal entre estudiantes universitarios brasileños. Revisión sistemática y metanálisis
Cláudio Oliveira da Gama
*claudiodagama@hotmail.com
Gláucio Oliveira da Gama
**glaucio_gama@hotmail.com
Nancy Vieira Ferreira
***nancyvireiraferreira@yahoo.com.br
Agnaldo José Lopes
+alopes@souunisuam.com.br
Valéria Nascimento Lebeis Pires
++valerianlp@uol.com.br
Amparo Villa Cupolillo
++amparo@ufrrj.br
Jose Ueleres Braga
+++ueleres@gmail.com
Elvira Maria Godinho de Seixas Maciel
+++seixasmaciel@gmail.com
*
Pós Doutor em EducaçãoUniversidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
**
Doutorando em Ciências da ReabilitaçãoUniversidade Augusto Motta (UNISUAM)
***
Mestre em Saúde PúblicaFundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)
+
Docente Universidade Augusto Motta (UNISUAM)++
Docente Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)+++
Pesquisador Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)
Recepción: 21/01/2024 - Aceptación: 26/03/2024
1ª Revisión: 23/02/2024 - 2ª Revisión: 20/03/2024
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
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Cita sugerida:
Gama, CO, Gama, GO, Ferreira, NV, Lopes, AJ, Pires, VNL, Cupolillo, AV, Braga, JU, y Maciel, EMGS (2024). Prevalência de insatisfação corporal entre universitários: revisão sistemática e metanálise. Lecturas: Educación Física y Deportes, 29(313), 161-178. https://doi.org/10.46642/efd.v29i313.7437
Resumo
Objetivo: Estimar a magnitude da insatisfação corporal de estudantes universitários no Brasil. Método: Revisão sistemática de estudos transversais que utilizaram o instrumento Body Shape Questionnaire (BSQ), com buscas realizadas entre janeiro e março de 2021, sem restrições ao ano de publicação. Foram pesquisadas as bases MEDLINE, EMBASE, LILACS e outras fontes, adotando descritores de Ciências da Saúde. As prevalências foram sumarizadas pela classificação do BSQ. Foram analisados os subgrupos sexo, tipo de universidade, região territorial e pontos de corte do instrumento. Resultados: A estratégia de pesquisa recuperou 563 registros. Após triagem/rastreamento, 104 artigos foram selecionados para elegibilidade. Quarenta e nove estudos preencheram os critérios e foram incluídos na revisão e metanálise. O estudo totalizou 10.848 participantes entre os anos de 2006-2020. Verificou-se uma prevalência global de 30,2% de insatisfação (IC95%: 25,3-35,2; I²=96,8%); no subgrupo sexo: 33% feminino (IC95%: 27,8-38,5; I²=95%) e 5,6% masculino (IC95% 2,8-9,1; I²=84%); no subgrupo ponto de corte, 15,0% no BSQ>110 pontos (IC95%: 11,9-18,5; I²= 89%); 37,9% no BSQ>80 (IC95%: 33,9-42; I²=88%) e 40,1% no BSQ ≥70 (IC95%: 22,6-58,9; I²=97%). Estudos que consideraram BSQ ≥70 apresentaram 2,67 vezes mais insatisfação. Conclusão: Cerca de um terço dos estudantes universitários brasileiros apresentaram insatisfação, com diferenças determinantes entre sexo e pontos de corte no BSQ. Recomenda-se revisões sistemáticas explorando fatores associados.
Unitermos:
Imagem corporal. Insatisfação corporal. Estudantes. Metanálise em rede.
Abstract
Objective: To estimate the magnitude of body dissatisfaction among university students in Brazil. Method: Systematic review of cross-sectional studies that used the Body Shape Questionnaire (BSQ) instrument, with searches carried out between January and March 2021, with no restrictions on the year of publication. MEDLINE, EMBASE, LILACS and other sources were searched, adopting Health Science descriptors. Prevalences were summarized using the BSQ classification. Subgroups of gender, type of university, territorial region and cutoff points of the instrument were analyzed. Results: The search strategy retrieved 563 records. After screening/screening, 104 articles were selected for eligibility. Forty-nine studies met the criteria and were included in the review and meta-analysis. The study had a total of 10,848 participants between the years 2006-2020. There was an overall prevalence of 30.2% of dissatisfaction (95%CI: 25.3-35.2; I²=96.8%); in the gender subgroup: 33% female (95%CI: 27.8-38.5; I²=95%), and 5.6% male (95%CI 2.8-9.1; I² = 84%); in the cutoff point subgroup, 15.0% in the BSQ>110 points (95% CI: 11.9-18.5; I² = 89%); 37.9% in BSQ>80 (95%CI: 33.9-42; I² = 88%) and 40.1% in BSQ≥70 (95%CI: 22.6-58.9; I² = 97%). Studies that considered BSQ≥70 showed 2.67 times more dissatisfaction. Conclusion: A one-third of Brazilian university students were dissatisfied, with significant differences between gender and BSQ cutoff points. Systematic reviews exploring associated factors are recommended.
Keywords:
Body image. Body dissatisfaction. Students. Network meta-analysis.
Resumen
Objetivo: Estimar la magnitud de la insatisfacción corporal entre estudiantes universitarios en Brasil. Método: Revisión sistemática de estudios transversales que utilizaron el instrumento Body Shape Questionnaire (BSQ), con búsquedas realizadas entre enero y marzo de 2021, sin restricciones en el año de publicación. Se realizaron búsquedas en MEDLINE, EMBASE, LILACS y otras fuentes, adoptando descriptores de Ciencias de la Salud. Las prevalencias se resumieron utilizando la clasificación BSQ. Se analizaron los subgrupos de género, tipo de universidad, región territorial y puntos de corte del instrumento. Resultados: La estrategia de búsqueda recuperó 563 registros. Después de la selección/seguimiento, se seleccionaron 104 artículos para su elegibilidad. Cuarenta y nueve estudios cumplieron los criterios y se incluyeron en la revisión y el metanálisis. El estudio contó con 10.848 participantes entre los años 2006-2020. Hubo una prevalencia global de insatisfacción del 30,2% (IC95%: 25,3-35,2; I²=96,8%); en el subgrupo de sexo: 33% mujeres (IC95%: 27,8-38,5; I²=95%) y 5,6% hombres (IC95% 2,8-9,1; I²=84%); en el subgrupo de punto de corte, 15,0% en BSQ>110 puntos (IC95%: 11,9-18,5; I²= 89%); 37,9% en BSQ>80 (IC95%: 33,9-42; I²=88%) y 40,1% en BSQ≥70 (IC95%: 22,6-58,9; I²=97%). Los estudios que consideraron BSQ≥70 mostraron 2,67 veces más insatisfacción. Conclusión: Alrededor de un tercio de los estudiantes universitarios brasileños estaban insatisfechos, siendo determinantes las diferencias entre género y puntos de corte del BSQ. Se recomiendan revisiones sistemáticas que exploren los factores asociados.
Palabras clave
: Imagen corporal. Insatisfacción corporal. Estudiantes. Metanálisis en red.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 313, Jun. (2024)
Introdução
A insatisfação corporal é um constructo complexo, derivado dos aspectos afetivo e cognitivo do componente atitudinal da imagem corporal (Campana, e Tavares, 2009; Carvalho, 2014) que desempenham um papel significativo na formação da identidade individual e na saúde psicológica e emocional das pessoas.
Ao longo dos séculos, esses construtos têm sido influenciados por uma miríade de fatores, incluindo contextos sociopolíticos, culturais e epidemiológicos. A insatisfação corporal traduz-se como pensamentos negativos de uma pessoa a respeito do seu próprio corpo, incluindo julgamentos sobre tamanho, forma e tônus muscular, geralmente envolvendo uma discrepância entre o tipo físico de alguém (atual) e o tipo físico "ideal". (Garner, e Garfinkel, 1981; Grogan, 2008; Miranda et al., 2011; Laus et al., 2014; Gama, 2016; Pires, 2017)
Não se trata de uma doença no sentido tradicional, mas de uma condição (passageira ou duradoura) que impacta significativamente o bem-estar psicológico e emocional das pessoas, podendo variar em intensidade, desde sentimentos leves de desconforto até preocupações graves. Investigações sobre a temática de avaliação da imagem corporal em estudantes universitários brasileiros têm se intensificado nos últimos anos, dada a relação observada com distúrbios alimentares, comportamentais, transtornos mentais e suicídio. Isso ocorre principalmente entre adultos jovens, sendo, pelo contexto de transição para a fase adulta, considerados um público vulnerável à insatisfação e preocupações com o corpo, uma vez que a influência sociocultural e os questionamentos de valores e crenças produzem impactos na saúde. (Brito, Gordia, e Quadros, 2016; Pires, 2017; Gama et al., 2021)
Em um estudo que procurou identificar fatores associados à insatisfação com a imagem corporal em universitários de diferentes países, jovens brasileiros apresentaram maiores níveis de insatisfação nas variáveis sexo feminino, peso e forma corporal, bem como na consideração de procedimentos estéticos para o alcance do ideal corporal. (Souza, 2017)
Verifica-se que a determinação da prevalência e da magnitude da insatisfação corporal em adultos jovens tem sido o foco de trabalhos científicos. (Souza, e Alvarenga, 2016)
No Brasil, estudos têm apresentado divergências quanto à forma de aferição, seja através de instrumentos com versões discrepantes, seja por critérios de classificação (Laus et al., 2014; Souza, e Alvarenga, 2016; Pires, 2017; Gama et al., 2022), o que dificulta a avaliação comparativa entre os achados dos diferentes trabalhos.
Diversas associações têm sido comumente relatadas na literatura, tais como diferentes países, influências culturais, cursos universitários, níveis de estresse, depressão, competitividade, composição corporal, atividade física, inteligência emocional, insegurança, baixa autoestima, transtorno alimentar e práticas comportamentais inadequadas. (Serifović, Dinnel, e Sinanović, 2005; Mahmud, e Crittenden, 2007; Atencio et al., 2008; Yahia et al., 2011; Santos, 2012; Nergiz-Unal, Bilgiç, e Yabancı, 2014)
Para a avaliação da prevalência de insatisfação nos estudos nacionais, a maioria tem utilizado a Escala de Figuras e Silhuetas e o instrumento Body Shape Questionnaire (BSQ). (Stunkard, Sorensen, e Schulsinger, 1983; Cooper et al., 1987; Thompson, e Gray, 1995; Kakeshita, 2008; Gama et al. 2022)
Na tentativa de apontar caminhos para novos estudos, bem como aprofundar o entendimento acerca da problemática no Brasil, propõe-se neste estudo dar destaque ao BSQ, visto tratar-se de um importante instrumento que avalia preocupações e satisfação com a forma do corpo, e que tem sido o maior expoente avaliativo em estudos de imagem corporal, inclusive internacionalmente. (Souza, e Alvarenga, 2016).
Destaca-se ainda o público de estudantes universitários, por compreender uma faixa etária suscetível à insatisfação com o corpo e, ainda, o ineditismo da proposta, dada a escassez de estudos sistemáticos com metanálise, segundo análise minuciosa realizada após extensa busca na literatura.
Considerando esse contexto, propomos este estudo com o objetivo de estimar a magnitude da insatisfação corporal entre estudantes universitários no Brasil. Buscaremos avaliar estudos existentes que utilizaram o Body Shape Questionnaire (BSQ), um instrumento amplamente reconhecido para avaliação da insatisfação corporal, com o intuito de fornecer uma análise abrangente, considerando o cenário brasileiro, e atualizada sobre esse tema de grande relevância social e científica na contemporaneidade.
Métodos
Empreendeu-se uma revisão sistemática com metanálise conduzida por rigorosas diretrizes, incluindo registro e acompanhamento das recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) (Page et al., 2022). O protocolo desta revisão foi registrado no Internacional Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO) sob o registro CRD42021266366 (Gama, Pires, e Braga, 2021). A pergunta da revisão foi formulada utilizando a estratégia PICO, focando nos seguintes componentes: Population (P) - estudantes universitários brasileiros; e Outcome (O) - insatisfação corporal, medida pelo Body Shape Questionnaire (BSQ).
Critérios de elegibilidade
Foram considerados elegíveis os estudos transversais realizados no Brasil que, após uma leitura minuciosa, atenderam aos seguintes critérios: (i) estudantes universitários, sem restrição de idade; e (ii) disponibilidade de informações sobre a prevalência da insatisfação corporal ou dados que possibilitassem o seu cálculo. Os critérios de exclusão adotados foram os seguintes: (a) estudos que se destinavam apenas à validação de instrumentos; (b) estudos que avaliavam exclusivamente a percepção corporal atual em relação à real (comumente avaliados por escalas de figuras); (c) estudos que não forneciam informações sobre os instrumentos ou critérios utilizados para avaliação do desfecho; (d) publicações duplicadas, ou seja, dados provenientes da mesma população(sendo selecionada a fonte que apresentasse os dados mais abrangentes); e (e) estudos que avaliaram exclusivamente a insatisfação por meio da escala de silhuetas.
Fontes de informação
Foram realizadas buscas nas bases de dados Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Excerpta Medica Database (EMBASE) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). A busca também alcançou outras fontes, como o site de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e o ScientificEletronicLibrary Online (SciELO), além de literatura cinza, através do Google Acadêmico. Por fim, realizou-se uma seleção cruzada com base na lista de referências. Em relação à literatura cinza, devido ao grande número de resultados encontrados, foram considerados elegíveis apenas os artigos diretamente relacionados à temática. As buscas ocorreram no período entre janeiro e março de 2021, sem restrições quanto ao ano de publicação.
Estratégias de busca
Foram identificados estudos de prevalência da insatisfação corporal em estudantes universitários no Brasil por meio de termos de descritores em ciências da saúde (Mesh e Decs, combinados por operadores booleanos AND e OR), levando em consideração estudos relacionados à temática (conforme mostrado no Quadro 1).
Quadro 1. Estratégia completa empregada na busca, 2021
Base |
Estratégia
de busca |
Data
da busca |
MEDLINE |
"incidence"[All Fields] OR
"incidence"[MeSH Terms] OR "prevalence"[All Fields]
OR "prevalence"[MeSH Terms] AND "body
dissatisfaction"[MeSH Terms] OR ("body"[All Fields] AND
"dissatisfaction"[All Fields]) OR "body
dissatisfaction"[All Fields] OR ("negative"[All Fields]
AND "body"[All Fields] AND "image"[All Fields]) OR
"negative body image"[All Fields] OR ("body"[All
Fields] AND "image"[All Fields] AND
"dissatisfaction"[All Fields]) OR "body image
dissatisfaction"[All Fields] AND ( ("college"[All Fields]
OR "college s"[All Fields] OR "colleges"[All
Fields]) AND ("student s"[All Fields] OR
"students"[MeSH Terms] OR "students"[All Fields] OR
"student"[All Fields] OR "students s"[All Fields]) )
OR ( ("academe"[All Fields] OR "academic"[All
Fields] OR "academic s"[All Fields] OR
"academical"[All Fields] OR "academically"[All
Fields] OR "academics"[All Fields]) AND ("student
s"[All Fields] OR "students"[MeSH Terms] OR
"students"[All Fields] OR "student"[All Fields] OR
"students s"[All Fields]) ) |
25/01/2021 |
EMBASE |
"incidence"/exp OR "incidence" OR
"prevalence"/exp OR "prevalence" AND "body
dissatisfaction”/exp OR "body dissatisfaction” OR “negative
body image”/exp OR “negative body image” OR (negative AND
(“body”/exp OR body) AND (“image”/exp OR image) ) AND
"college students"/exp OR "college students” OR (
(“college”/exp OR college) AND (“students”/exp OR students) ) OR
“academic students” OR (academic AND (“students”/exp OR
students) ) |
25/01/2021 |
LILACS |
mh:
("Incidência") ) OR ("Incidência") OR (mh:
("prevalência") ) OR ("prevalência") AND (mh:
("insatisfação corporal") ) OR ("insatisfação
corporal") OR (insatisfação corporal) OR (insatisfação da
imagem corporal) OR (mh: ("imagem negativa do corpo") ) OR
("imagem negativa do corpo") OR (mh: ("insatisfação com
a imagem corporal") ) OR ("insatisfação com a imagem
corporal") OR (mh: ("insatisfação com o corpo") ) OR
("insatisfação com o corpo") OR (mh: ("insatisfação
com o próprio corpo") ) OR ("insatisfação com o próprio
corpo") AND (mh: ("estudantes") ) OR
("estudantes") OR (“universitários” ) OR (“estudantes
universitários” ) OR (mh: (“universidades” ) ) OR
("universidades") OR (“acadêmicos” ) OR (mh:
("Alunos") ) OR ("alunos") OR ("graduação") |
02/02/2021 |
Portal
de periódicos CAPES |
“insatisfação
corporal” AND “universitários” OR “estudantes” |
08/03/2021 |
SciELO |
“insatisfação
corporal” AND “universitários” OR “estudantes” |
08/03/2021 |
Google
Acadêmico |
“prevalência”
AND “fatores associados” AND “insatisfação corporal” AND
“universitários” OR “estudantes” |
08/03/2021 |
Fonte: Dados de pesquisa
Processo de seleção
O processo foi conduzido em duas etapas: rastreamento e seleção. O rastreamento envolveu a leitura de resumos dos estudos disponíveis, publicados em português, espanhol e inglês, de acordo com os critérios de elegibilidade. Após seleção e remoção de duplicatas, o texto completo de cada estudo foi lido na íntegra por dois revisores, de maneira independente. Eventuais divergências foram resolvidas por um terceiro revisor, com o auxílio do software gerenciador de referências Zotero (versão 6.0.26).
Processo de coleta de dados
Os dados extraídos foram organizados em planilhas, com eventuais discrepâncias entre revisores solucionadas por meio de consenso. As tabelas incluíram informações sobre os desfechos na forma absoluta, com alguns casos necessitando de cálculos para somatório das prevalências, considerando os subgrupos analisados. Foi utilizado o software Microsoft Excel® (versão 2013).
Lista de dados
Considerou-se informações sobre autoria, ano de publicação, local de realização, características gerais, delineamento, instrumentos e achados relativos à insatisfação.
Avaliação do risco de viés dos estudos
O viés em estudos pode ter um impacto significativo. Portanto, os estudos selecionados foram submetidos a uma avaliação crítica utilizando a ferramenta do Instituto Joanna Briggs (JBI) (Munn et al., 2015). Foram avaliados os seguintes critérios: procedimentos de amostragem, características da população, análise de dados, métodos de medição do desfecho e análise estatística. Cada critério recebeu uma avaliação, o que permitiu uma síntese abrangente e específica da qualidade dos estudos selecionados (ver Tabela 2).
Medidas de efeito
As análises estatísticas foram realizadas com o pacote meta e a função metaprop do software R (versão 3.1). Para o cálculo das prevalências foram consideradas medidas de frequência tendo em vista o número de eventos em relação aos participantes de cada estudo. Para inferências de grande magnitude dentro dos subgrupos, foram realizadas divisões entre duas medidas de ocorrência.
Métodos de síntese
O desfecho medido pelo instrumento BSQ apresenta classificações que variam de acordo com a intensidade (leve, moderada e grave). Este instrumento, desenvolvido por Cooper et al. (1987) e adaptado para o Brasil em um estudo transversal (DiPietro, e Silveira, 2009), é considerado um instrumento autoaplicável, capaz de avaliar a insatisfação/satisfação subjetiva global. A versão brasileira, semelhante à original, possui 34 perguntas respondidas através de uma escala de Likert (1 “nunca”; 2 “raramente”, 3 “às vezes”, 4 “frequentemente”, 5 “muito frequentemente” e 6 “sempre”), refletindo o estado do entrevistado nas últimas quatro semanas, com pontuação variando entre 34 e 204 pontos. Neste instrumento, quanto maior a pontuação, maior o grau de insatisfação. (Campana, e Tavares, 2009)
Para artigos analisados que não apresentaram dados de prevalência, optou-se por utilizar o ponto de corte mínimo como estratégia. Considerando que diferentes estudos propuseram pontos de cortes distintos para classificar a insatisfação corporal (variando de ≥70; 80; ou >110 pontos), realizou-se uma análise por subgrupos que abordasse esses pontos de corte.
Os valores das medidas combinadas foram obtidos utilizando o método do inverso da variância. Além disso, foi avaliada a heterogeneidade estatística por meio dos testes do qui-quadrado e I², juntamente com seus valores de p. Adicionalmente, foram considerados subgrupos com base no sexo, região do Brasil e esfera administrativa (pública/privada) onde o estudo foi realizado. Para investigar os fatores que explicam a heterogeneidade identificada, foi realizada uma análise de metarregressão. O viés de publicação foi examinado por meio de gráficos de funil e do teste de Egger.
Avaliação de vieses de relato
Com o objetivo de reduzir vieses, os estudos que não forneceram dados de prevalência foram submetidos a cálculos. Em muitos desses estudos, investigou-se estágios específicos de insatisfação (leve, moderada ou grave). Nesses casos, para calcular a prevalência total, todos os grupos foram considerados, uma vez que o foco do cálculo da prevalência é determinar a proporção de insatisfeitos ou satisfeitos. Os resultados de prevalência foram individualmente extraídos por cada revisor, levando em conta o número de eventos e subgrupos.
Resultados
A estratégia de pesquisa recuperou inicialmente 563 registros. Após processo de triagem e rastreamento dos títulos e resumos, 104 artigos foram selecionados para avaliação de elegibilidade. Destes, 49 estudos preencheram os critérios e foram incluídos na análise de revisão e metanálise (Figura 1).
Os estudos tiveram como foco a insatisfação corporal, embora alguns tenham abordado temas relacionados. A autorreferência do índice de massa corporal foi comumente usada devido a sua praticidade e baixo custo. A faixa etária dos estudantes nos estudos variou de 19 a 27,5 anos. A maioria dos estudos avaliou universitários na área da saúde, com destaque para os cursos de Nutrição (13 estudos), Educação Física e Medicina (ambos com 5 estudos), representando cerca da metade dos estudos. A maioria dos estudos estava em língua portuguesa e não apresentou dados sobre nível socioeconômico, cor, raça e etnia. Em relação ao BSQ, os estudos seguiram as recomendações dos autores que criaram e validaram o instrumento no Brasil.
A maioria dos estudos (45) informou ter submetido suas pesquisas aos Conselhos de Ética e utilizaram amostras por conveniência (não probabilísticas). No total, os estudos envolveram 10.848 estudantes (1.925 homens, 5.872 mulheres e 3.051 sem especificação) em todo o Brasil, com destaque para as regiões Sudeste (23 estudos), Sul (12 estudos) e Nordeste (11 estudos). As características dos estudos estão detalhadas na Tabela 1.
Tabela 1. Características dos estudos incluídos
Identificação do estudo |
Amostra (n) |
Mulheres (%) |
Idade (µ/min-max) |
Média IMC |
Aferição do IMC |
Cursos graduação |
Local |
Tipo de universidade |
Pontos de corte BSQ |
Alexandre 2013 |
100 |
55 |
22,2/18-31 |
23,55 |
Autorreferido |
Medicina |
SP/SE |
Privada |
>110 |
Bandeira 2016 |
300 |
100 |
25,45/17-51 |
22,9 |
Aferido |
Área da Saúde |
CE/NO |
Privada |
>80 |
Batista 2015 |
207 |
80,7 |
22,95/19-45 |
23 |
Autorreferido |
Estética, Educação Física e Nutrição |
MG/SE |
Ambos |
>110 |
Batista 2017 |
79 |
100 |
24,18/18-43 |
|
Não especificado |
Estética |
RS/S |
Privada |
>110 |
Bento 2016 |
174 |
100 |
20,34/18-26 |
22,82 |
Aferido |
Enfermagem, Fisioterapia e Nutrição |
PE/NO |
Pública |
>80 |
Bernardino 2019 |
72 |
69,4 |
19/15-25 |
|
Aferido |
Área da Saúde |
SP/SE |
Privada |
>80 |
Bosi 2006 |
193 |
100 |
20,9/17-32 |
20,8 |
Autorreferido |
Nutrição |
RJ/SE |
Pública |
>80 |
Bosi 2008 |
191 |
100 |
21,7/17- |
21,3 |
Autorreferido |
Educação Física |
RJ/SE |
Pública |
>110 |
Bosi 2014 |
189 |
100 |
20,8/18-22 |
21,5 |
Autorreferido |
Medicina |
RJ/SE |
Pública |
>110 |
Bosi 2009 |
175 |
100 |
21,2/17- |
20,08 |
Autorreferido |
Psicologia |
RJ/SE |
Pública |
>110 |
Bracht 2013 |
31 |
83,9 |
23/20-42 |
|
Aferido |
Nutrição, Educação Física, Pedagogia e
Biologia |
RS/S |
Comunitária |
≥70 |
Cardoso 2020 |
364 |
81 |
22,8/18-46 |
|
Aferido |
Área da saúde |
MG/SE |
Privada |
>110 |
Carvalho 2013 |
587 |
47 |
20,98/- |
|
Autorreferido |
Saúde, Exatas e Humanas |
MG/SE |
Pública |
>110 |
Costa e Vasconcelos 2010 |
220 |
100 |
20,2/- |
21,3 |
Aferido |
Diversos |
SC/S |
Pública |
>80 |
Cruz 2018 |
24a |
|
22,04/18-25 |
23,58 |
Aferido |
Nutrição |
SP/SE |
Privada |
>80 |
Damasceno 2011 |
89 |
100 |
- /18-30 |
|
Não especificado |
Diversos |
PR/S |
Pública |
>80 |
DiPietro e Silveira 2009 |
164 |
43,3 |
19,65/- |
22,41 |
Autorreferido |
Medicina |
SP/SE |
Pública |
>110 |
Ferrari 2012ª |
832 |
41,7 |
20,1/- |
|
Autorreferido |
Diversos |
SC/S |
Pública |
>110 |
Garcia 2010 |
104 a |
|
22/17-46 |
21,57 |
Aferido |
Nutrição |
RS/S |
Pública |
>80 |
Gaudioso 2017 |
95 |
100 |
25,34/- |
22,61 |
Não especificado |
Diversos |
MS/ CO |
Privada |
>80 |
Kessler e Poll 2018 |
225 |
100 |
22,65/18-48 |
23,05 |
Autorreferido |
Área da saúde |
RS/S |
Comunitária |
>80 |
Laus 2009 |
127 |
100 |
- /18-22 |
|
Autorreferido |
Saúde e Humanas |
SP/SE |
Privada |
≥70 |
Legnani 2012 |
229 |
54,6 |
25,1/ - |
22,66 |
Autorreferido |
Educação Física |
PR/S |
Pública |
>110 |
Lizot e Nicoletto 2018 |
130 a |
|
21,5/17-53 |
22,3 |
Autorreferido |
Nutrição |
RS/S |
Privada |
>80 |
Lofrano-Prado 2015 |
408 |
69,4 |
19,28/18-23 |
21,64 |
Aferido |
Área da saúde |
PE/NO |
Pública |
>80 |
Lopes 2020 |
154 |
100 |
/18-25 |
|
Aferido |
Medicina |
MS/ CO |
Privada |
>80 |
Lopes 2012 |
104 |
0 |
27,5/19-45 |
24,67 |
Autorreferido |
Educação Física e Administração |
SP/SE |
Privada |
≥70 |
Lustosa 2017 |
90 a |
|
- /20-53 |
|
Não especificado |
Educação Física |
CE/NO |
Privada |
>110 |
Maia 2018 |
52 |
100 |
23/- |
23,39 |
Aferido |
Nutrição |
CE/NO |
Pública |
≥70 |
Mazzaia e Santos 2018 |
120 a |
|
21,9/18-48 |
23,3 |
Aferido |
Enfermagem |
SP/SE |
Pública |
>80 |
Miranda 2012 |
535 |
54,2 |
20,82/ - |
22,33 |
Autorreferido |
Saúde, Exatas e Humanas |
MG/SE |
Pública |
>110 |
Moraes 2016 |
254 |
100 |
21/17-49 |
|
Autorreferido |
Nutrição |
MA/NO |
Pública e Privada |
>110 |
Nascimento e Araújo 2019 |
135 a |
|
24,16/18-54 |
23,77 |
Aferido |
Área da saúde |
PE/NO |
Privada |
>110 |
Neto 2018 |
866 a |
|
23,1/18 - |
22,95 |
Autorreferido |
Saúde e não Saúde |
MG/SE |
Ambos |
>80 |
Nilson 2013 |
65 |
36,9 |
- / - |
23 |
Autorreferido |
Educação Física |
RS/S |
Pública |
>80 |
Oliveira 2020 |
45 |
100 |
27,2/21- |
|
Autorreferido |
Área da saúde |
MG/SE |
Pública |
>110 |
Paiva 2017 |
90 |
100 |
21,4/20-30 |
20,96 |
Aferido |
Nutrição |
PI/ NO |
Pública |
≥70 |
Parente 2018 |
243 a |
|
- /18-30 |
|
Não especificado |
Biológicas e Saúde |
CE/NO |
Pública |
>80 |
Penaforte 2018 |
141 a |
|
21,5/18- |
22,9 |
Aferido |
Nutrição |
MG/SE |
Pública |
>80 |
Pieper e Cordova 2018 |
89 |
100 |
24,66/- |
|
Não especificado |
Nutrição, Fisioterapia |
RS/S |
Privada |
>80 |
Regis 2018 |
479 a |
|
22,5/- |
23 |
Autorreferido |
Medicina |
SP/SE |
Pública |
>80 |
Reis e Soares 2017 |
165 |
100 |
21,06/- |
20,86 |
Autorreferido |
Nutrição |
MG/SE |
Pública |
>80 |
Santos 2019 |
719 a |
|
21,20/18-59 |
|
Não especificado |
Diversos |
MG/SE |
Pública |
>110 |
Silva 2012 |
175 |
100 |
21,54/18- |
21,3 |
Aferido |
Nutrição |
MG/SE |
Pública |
>80 |
Sousa 2020 |
26 |
100 |
- /18-31 |
|
Autorreferido |
Nutrição |
MA/NO |
Privada |
>80 |
Sousa 2015 |
100 |
30 |
27,17/- |
|
Não especificado |
Educação Física |
CE/NO |
Privada |
>80 |
Souza e Verrengia 2012 |
126 |
100 |
22,15/18-28 |
|
Não especificado |
Nutrição |
PR/S |
Privada |
>110 |
Toral 2016 |
427 |
100 |
22,5/- |
|
Autorreferido |
Nutrição |
Nacional |
Pública e privada |
≥70 |
Vargas 2016 |
339 |
51 |
22,9/- |
23,19 |
Autorreferido |
Saúde, Exatas e Humanas |
SP/SE |
Privada |
≥70 |
Notas: IMC= Índice de Massa Corporal, aAmostra com a população sem especificação de sexo. Fonte: Os autores
A avaliação geral da qualidade dos estudos foi considerada satisfatória, com seis dos nove critérios da JBI atendidos. Os critérios mais bem avaliados foram os seguintes: estratégia amostral apropriada; descrição dos participantes e contexto; análise de dados em conformidade com a cobertura amostral; métodos válidos para a identificação do estudo/desfecho; estatística apropriada; e taxa de resposta adequada. Os critérios menos atendidos foram os seguintes: participantes amostrados apropriadamente; tamanho amostral; e medição padronizada/confiável da condição de estudo/desfecho. A maioria dos estudos não apresentou informações sobre o treinamento da equipe. A avaliação crítica da qualidade individual está na Tabela 2.
Tabela 2. Avaliação da qualidade dos estudos
Identificação
do estudo |
1:
Estratégia amostral |
2:
Recrutamento |
3:
Tamanho amostral |
4:
Participantes e contexto |
5:
Análise de dados |
6:
Método |
7:
Desfecho |
8:
Análise estatística |
9:
Taxa de resposta |
Alexandre
et al. 2013 |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Bandeira
2016 |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Batista
2015 |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Batista
2017 |
Sim |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Bento
2016 |
Sim |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Bernardino
2019 |
Sim |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Bosi
2006 |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Bosi
2008 |
Sim |
Não
claro |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Bosi
2014 |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Bosi
2009 |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Bracht
2013 |
Sim |
Não |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Cardoso
2020 |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Carvalho
2013 |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Costa
e Vasconcelos 2010 |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Cruz
2018 |
Sim |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Damasceno
2011 |
Sim |
Não |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
DiPietro
e Silveira 2009 |
Sim |
Não |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Ferrari
2012ª |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Garcia
2010 |
Sim |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Gaudioso
2017 |
Sim |
Não |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Kessler
e Poll 2018 |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Laus
2009 |
Sim |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Legnani
2012 |
Sim |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Lizot
e Nicoletto 2018 |
Sim |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Lofrano-Prado
2015 |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Lopes
2020 |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Lopes
2012 |
Sim |
Não |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Lustosa
2017 |
Sim |
Não
claro |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Maia
2018 |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Não
claro |
Mazzaia
e Santos 2018 |
Sim |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Miranda
2012 |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Moraes
2016 |
Sim |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Nascimento
e Araújo 2019 |
Sim |
Não
claro |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Neto
2018 |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Nilson
2013 |
Sim |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Oliveira
2020 |
Sim |
Não |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Paiva
2017 |
Sim |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Parente
2018 |
Sim |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Penaforte
2018 |
Sim |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Pieper
e Cordova 2018 |
Sim |
Não |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Regis
2018 |
Sim |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Reis
e Soares 2017 |
Sim |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Santos
2019 |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Silva
2012 |
Sim |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Sousa
2020 |
Sim |
Não |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Não
claro |
Sousa
2015 |
Sim |
Não
claro |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Souza
e Verrengia 2012 |
Sim |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Toral
2016 |
Sim |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Vargas
2016 |
Sim |
Não |
Sim |
Sim |
Sim |
Sim |
Não
claro |
Sim |
Sim |
Fonte: Os autores
A prevalência global de insatisfação corporal foi de 30,2% (IC95%: 25,3-35,2; I² = 96,8%), com variações entre os estudos de 8,3% (IC95%: 5,1-12,7) (Legnani et al., 2012) a 60,6% (IC95%: 51,6-69,2) (Laus, Moreira, e Costa, 2009), inconsistências importantes a serem investigadas em estudos de metanálise a partir de análise de subgrupos. (Coutinho, e Braga, 2009)
A inspeção visual do gráfico de funil revelou uma distribuição simétrica dos estudos em todos os subgrupos analisados, com valores de p acima de 5% (Figura 2).
A prevalência de insatisfação nos subgrupos de sexo foi de 5,6% para o sexo masculino (IC95%: 2,8-9,1; I² = 84%), 33% para o feminino (IC95%: 27,8-38,5; I²= 95%) e 32,4% para o grupo sem especificação de sexo (IC95%: 23,7-41,8; I² = 96%). Quanto a variação da prevalência (considerando estudos com os menores e maiores valores, respectivamente), foi encontrado valores de 0% a 60% para o sexo masculino, com dois estudos encontrando 0% de insatisfação (IC95%: 0-7,9 (Alexandre et al., 2013) e IC95%: 0-8,8 (Batista et al., 2015), respectivamente), e outro (Bracht et al., 2013) o valor máximo de 60% (IC95%: 14,7- 94,7). Já no sexo feminino, a variação encontrada oscilou entre 9,8% a 60,6%, (IC95%: 6,7-13,8 (Batista et al., 2015) e IC95%: 51,6-69,2 (Laus, Moreira, e Costa, 2009), enquanto no grupo sem especificação de sexo essa variação foi de 10,0 a 52,5% (IC95%: 4,7-18,1 (Lustosa et al., 2017) e IC95%: 43,9-60,9 (Penaforte et al. 2018). (Figura 3)
Não foram encontradas diferenças significativas nas análises entre os tipos de universidades. Nas universidades privadas, a prevalência de insatisfação corporal foi de 29,1% (IC95%: 21,1-37,9; I² = 95%), nas públicas foi de 27,9% (IC95%: 21,9-34,4; I² = 97%) e, em ambas, foi de 30% (IC95%: 20,2-55,2; I² = 98%). Dois estudos avaliaram estudantes de universidades comunitárias, com uma prevalência de 51,2% (IC95%: 45-57,4; I² = 0%) (Figura 4).
Embora se esperasse que as características regionais brasileiras pudessem apresentar divergências, considerando o contexto multicultural e social do país, não foram encontradas diferenças significativas. Nas análises por região, a prevalência foi de 26,3% no Sudeste (IC95%: 20,1-33,1; I² = 97%), 30,1% no Nordeste (IC95%: 21,8-39,2; I² = 94%), 34,4% no Sul (IC95%: 21,9-47,9; I² = 97%) e 36,2% no Centro-Oeste (IC95%: 16,4-58,7; I² = 92%). Apenas um estudo transversal (Toral et al., 2016) foi de base populacional universitária, encontrando prevalência de 54,3% de insatisfação corporal (IC95%: 49,6-59) (Figura 5).
Com relação a variável ponto de corte do BSQ (70; 80 e 110 pontos) a prevalência de insatisfação foi de 15,0% quanto utilizado BSQ >110 pontos (IC95%: 11,9-18,5; I² = 89%); 37,9% quando BSQ >80 pontos (IC95%: 33,9-42; I² = 88%); e 40,1% BSQ ≥70 pontos (IC95%: 22,6-58,9; I² = 97%). (Figura 6).
Dois fatores foram identificados como explicativos da heterogeneidade estatística observada nesta metanálise: o gênero masculino (coeficiente de -0,291; p = 0,001) e o critério ponto de corte >110 pontos para o BSQ (-0,241; p = 0,001). Não se observou influência significativa nos fatores localização geográfica e tipo de universidade, conforme verificado na metaregressão, Tabela 3.
Tabela 3. Fatores associados a heterogeneidade da prevalência de insatisfação corporal por metaregressão
|
Coeficiente
(IC95%) |
Erro
padrão |
Valor
de p |
Intercepto |
0,652
(0,419;0,885) |
0,119 |
<0,001 |
Sexo
masculino |
-0,291
(-0,361; -0,221) |
0,036 |
<0,001 |
Sexo
não especificado |
0,000
(-0,075; 0,076) |
0,038 |
0,997 |
BSQ
> 110 pontos |
-0,241
(-0,340; -0,143) |
0,050 |
<0,001 |
BSQ
> 80 pontos |
-0,015
(-0,114; 0,084) |
0,051 |
0,768 |
Região
nacional |
0,177
(-0,128; 0,482) |
0,155 |
0,255 |
Região
nordeste |
-0,007
(-0,173; 0,160) |
0,085 |
0,937 |
Região
sudeste |
0,037
(-0,130; 0,205) |
0,086 |
0,664 |
Região
sul |
0,075
(-0,096; 0,245) |
0,087 |
0,393 |
Universidade
comunitária |
0,115
(-0,102; 0,332) |
0,111 |
0,299 |
Universidade
privada |
0,013
(-0,124; 0,149) |
0,070 |
0,857 |
Universidade
pública |
-0,001
(-0,132; 0,130) |
0,067 |
0,988 |
Fonte: Os autores
Discussão
Os achados referentes à frequência global de insatisfação apresentaram variação similar à encontrada em revisão integrativa no Brasil, quando comparou ambos os sexos e instrumento (Souza, 2017). Os resultados combinados de prevalência global, considerando a amplitude dos intervalos de confiança, também foram semelhantes ao de outros países. (Atencio et al. 2008; Yahia et al. 2011; Santos, 2012)
A maioria dos trabalhos analisados nesta revisão (n = 26) avaliou a insatisfação corporal usando o escore do Body Shape Questionnaire (BSQ) com mais de 80 pontos, seguido de mais de 110 pontos (n = 16) e ≥70 pontos (n = 7). Ao analisar subgrupos com o mesmo critério de pontuação, houve uma redução na heterogeneidade, embora ela ainda tenha permanecido alta. A versão mais relevante no contexto brasileiro tem sido aquela com uma pontuação >110 pontos, conforme citado por DiPietro e Silveira (2009), autores que adaptaram o questionário para o Brasil, e por Campana, e Tavares (2009), importantes autoras brasileiras no estudo da insatisfação corporal.
Dado o maior número de estudos que utilizaram a pontuação >80 pontos e alguns adicionais com pontuação ≤70 pontos, propusemos discutir todos os pontos de corte. Recomenda-se, entretanto, que estudos futuros de metanálise escolham o ponto de corte mais apropriado para a sumarização da prevalência, a fim de eliminar as fontes de heterogeneidade observadas.
Outras limitações parecem influenciar nos resultados, como algumas das questões propostas no próprio instrumento BSQ, quando aparentemente direcionam contextos inerentes ao público feminino, deslocando a uma forte tendência de insatisfação relacionada ao "excesso de peso" em detrimento à "magreza". (Gama et al., 2022)
Quanto aos pontos de corte do BSQ, os autores que avaliaram prevalência da insatisfação apresentam divergências em relação à pontuação. Alguns trabalhos geralmente consideram a combinação dos níveis "leve", "moderado" e "grave" como representativos da prevalência global, enquanto outros autores não incluem a classificação "leve" em suas avaliações. Essas divergências têm dificultado a análise de estudos que apresentem dados combinados sobre a prevalência, o que impede uma comparação confiável sobre os resultados. Para além disso, já existem na literatura propostas alternativas, como versões reduzidas do instrumento BSQ (Campana, e Tavares, 2009) assim como outros instrumentos.
Alguns autores argumentam que, devido à multidimensionalidade do construto da insatisfação corporal, ela deve ser examinada sob várias perspectivas. Portanto, há recomendações em relação às peculiaridades dos procedimentos metodológicos e populacionais, bem como à necessidade de uma análise de conteúdo fidedigna, dado a ausência de uma padronização considerando a amplitude de termos e definições apresentados. (Tavares et al., 2010; Laus, 2014, Gama, Pires, e Braga, 2021; Gama et al., 2022)
Na mesma linha, outros autores sugerem que sejam realizados estudos probabilísticos em todo o país, com a padronização dos instrumentos, objetivando esclarecer pontos ainda desconhecidos (Souza, e Alvarenga, 2016). Essas recomendações e evidências destacam as limitações existentes.
Muitos dos estudos desta revisão avaliaram exclusivamente o sexo feminino - o que parece ser uma tendência, já que a literatura indica um número expressivo de pesquisas com este público apresentando níveis elevados de insatisfação. Isso pode ser atribuído ao fato de que mulheres jovens são frequentemente pressionadas a se conformar com um estereótipo corporal predefinido, atrelado ao sucesso por modelos corporais de beleza que adotam esse suposto padrão. Além disso, mulheres são mais vulneráveis às pressões dos padrões socioculturais, econômicos e estéticos, sendo um público que chama mais atenção, apresentando níveis mais alto de distorção. (Damasceno et al., 2011; Carvalho, 2014)
Esses achados mencionados são corroborados por um estudo transversal realizado em 96 universitárias da Bósnia e dos Estados Unidos, onde se apontou que americanas eram significativamente mais insatisfeitas. (Serifović, Dinnel, e Sinanović, 2005)
Um segundo estudo (Mahmud, e Crittenden, 2007), também internacional, envolveu 390 mulheres na Austrália e no Paquistão, revelando que australianas apresentavam maior insatisfação.Um estudo transversal realizado em Beirute, no Líbano (Yahia et al., 2011), encontrou taxa de insatisfação de 36% em uma amostra composta por 144 mulheres e 108 homens universitários. Entre os com grave insatisfação, 89% eram mulheres que praticavam hábitos inadequados, como o uso de laxantes, "emagrecedores" e cigarros. Em Portugal, um estudo publicado por Santos (2012) avaliou 198 mulheres e 202 homens, encontrando uma taxa de insatisfação de 22,5% (considerando apenas os níveis moderado e grave). Outro estudo na Venezuela (Atencio et al., 2008), com 134 mulheres e 55 homens (universitários do curso de Medicina, Nutrição e Enfermagem), demonstrou insatisfação em 37,5% da amostra.
Subgrupo: Sexo
No que diz respeito a análise pelo subgrupo sexo, o presente estudo destaca também o público feminino, que apresentou insatisfação corporal muito superior em relação ao masculino. Isso ficou bem demarcado por pesquisas em que homens sequer apresentaram algum grau de insatisfação (Alexandre et al. 2013; Batista et al., 2015). Em contraponto, um dos estudos (outliers) de desenho transversal, encontrou taxa de 60% de insatisfação masculina (Bracht, 2013) - neste, em particular, os autores avaliaram insatisfação em uma universidade comunitária (uma categoria de universidade em que se cobra mensalidades, porém não há fins lucrativos) no estado de Rio Grande do Sul, com uma amostra extremamente pequena. Dessa amostra, 84% eram mulheres matriculadas em cursos da área da Saúde e de Pedagogia, utilizando ponto de corte do BSQ ≥70 pontos. Presume-se que a alta prevalência de insatisfação no público masculino possa ter sido influenciada pela desproporção na composição da amostra, peculiar de ambientes educativos de alguns cursos específicos, onde há maior preferência e adesão pelo público feminino e de gêneros não heterossexuais. Talvez, estudos desta natureza sejam mais bem esclarecidos quando confrontados por subgrupos de gêneros, em detrimento do sexo.
Subgrupo: Esfera administrativa (pública/privada)
Quanto a variável que envolve a esfera administrativa da universidade (pública, privada, em ambas e comunitárias), não foram encontradas grandes diferenças estatísticas entre elas. Destaca-se que na categoria "ambas" (públicas e privadas) três estudos apresentaram grande heterogeneidade (I² = 98%), com dois destes apresentando resultados divergentes entre si. No primeiro, publicado em 2015, por Batista et al., realizado na região Sudeste (com estudantes de Estética, Educação Física e Nutrição) utilizando o instrumento BSQ no ponto de corte >110 pontos, somente o sexo feminino apresentou insatisfação 16,9% (IC95% 12,1-22,7). No segundo (Toral et al., 2016), uma amostra de nível nacional e um escore do BSQ ≥70 pontos, avaliou-se apenas universitárias de Nutrição por meio de um questionário online, encontrando 54,3% de IC (IC95% 49,5-59,1). Fatores como sexo, curso e ponto de corte podem explicar os resultados heterogêneos deste subgrupo.
Subgrupo: Regiões brasileiras
No que tange as regiões brasileiras, Sudeste e Sul apresentaram menor e maior prevalência de insatisfação, respectivamente, embora sem significância estatística. A região Centro-Oeste, com apenas dois estudos e grande heterogeneidade, não permitiu uma inferência precisa sobre seus resultados. Gaudioso et al. (2017) encontrou-se uma prevalência de 25,3% (IC95%: 16,9-35,2), em uma instituição privada em Ponta Porã, Mato Grosso do Sul, envolvendo somente mulheres e utilizando o corte do BSQ >80 pontos. Lopes et al. (2020), encontrou-se uma prevalência de 47,4% (IC95%: 39,3-55,6), avaliando acadêmicas de Medicina de uma instituição privada em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, com um escore do BSQ ≥80 pontos. Ao que parece, curso e cidade de localização do campus podem influenciar nos resultados divergentes desta região.
Verifica-se ainda que estudos destoantes na região Sudeste se mostraram influenciados por sexo e ponto de corte do instrumento BSQ. Duas pesquisas de Minas Gerais utilizaram um escore do BSQ para insatisfação >110 pontos (Cardoso et al., 2020; Carvalho et al., 2013) e outro estudo, de São Paulo, que utilizou um escore ≥70 pontos, com sexo exclusivamente feminino (Laus, Moreira, e Costa, 2009). Na região Sul, destacaram-se como outliers as baixas prevalências de dois estudos (Ferrari et al., 2012; Legnani et al., 2012) com menos de 10% de insatisfação, diferindo da maioria dos trabalhos elencados na região. Ao analisá-los, os pontos de corte ≥110 pontos e a participação de ambos os sexos na pesquisa, sugerem influenciar nestes resultados. Acrescenta-se o fato de que o trabalho de Ferrari et al. (2012), realizado em Santa Catarina, apresentou uma grande amostra (n = 832), considerando diversos cursos e participantes, enquanto o estudo de Legnani et al. (2012) no Paraná, foi realizado exclusivamente com estudantes de Educação Física (possível indicador de satisfação, dada a motivação e engajamento para realização de atividades físicas).
No Nordeste, baixas prevalências de insatisfação também foram identificadas em dois estudos (cerca de 10%), chamando a atenção o ponto de corte do BSQ, somados a características distintas. O primeiro (Bento et al., 2016), foi realizado na cidade de Petrolina, Pernambuco, cidade com melhor qualidade de vida da região Nordeste (Leite, e Santos, 2021), fator que pode ter influenciado na prevalência. E o segundo, realizado no Ceará (Lustosa et al., 2017). Este último, em particular, apresentou baixa prevalência de insatisfação com o BSQ >110, entretanto com uma amostra composta por 90% de homens, universitários de Educação Física e praticantes de esportes (possível indicador de satisfação corporal).
Subgrupo: Pontos de corte
Analisando a categoria pontos de corte e seus valores discrepantes, foram observados casos extremos, elencados em cada faixa de corte especificada.
Com o ponto de corte do BSQ >110 pontos, um estudo a chamou atenção. Realizado em Minas Gerais (Batista et al., 2017), esta pesquisa evidenciou 53,2% de insatisfação (IC95%: 41,6-64,05). Ainda que o ponto de corte do BSQ tendesse a baixas prevalências, este resultado pode ser explicado pelo tipo de curso (Estética) e pela amostra predominante (feminina).
Na análise do BSQ >80 pontos, o estudo realizado em Petrolina-PE por Bento et al. (2016), destacou-se com a menor prevalência 10% (IC95%: 6,2-15,9), com amostra puramente feminina e região com características distintas. (Leite, e Santos, 2021)
Na categoria de ponto de corte ≥70 pontos, dois estudos foram destoantes. O primeiro, realizado em São Paulo e publicado em 2012, por Lopes et al., avaliou-se apenas a população masculina dos cursos de Administração e Educação Física, com o curso de Administração apresentando o dobro de insatisfeitos (mais uma vez, um possível indicador de satisfação para Educação Física). No segundo, realizado por Vargas et al. (2016) no Estado de São Paulo com estudantes de Saúde, Humanas e Exatas. Apenas o curso de Educação Física representou os cursos da área da Saúde. Os resultados mostraram uma insatisfação global de 12,7% (IC95% 9,3-16,7), com 5,4% no sexo masculino e 19,7% feminino, nas análises por subgrupo. Ressalta-se que a pesquisa foi conduzida em Itararé, cidade do interior de São Paulo, com uma população relativamente pequena (IBGE). Estudos que consideraram o BSQ ≥70 pontos apresentaram 2,67 vezes mais insatisfação ao BSQ >110 pontos.
Conclusão
A insatisfação com a imagem corporal é considerada uma questão de saúde mental em ascensão, amplamente estudada na literatura científica, que impacta significativamente o bem-estar psicológico e emocional dos indivíduos.
Além de servir como estrutura basilar para outros estudos na temática, este trabalho foi concebido com o propósito de diagnóstico. Nossa abordagem visou identificar prevalências e eventuais discrepâncias que as justificassem, de acordo com a literatura atual brasileira sobre o assunto, sem objetivos de criar consensos ou observações finalísticas, limitando-se a recomendações.
Partimos da premissa de que, para classificar adequadamente essa condição de saúde, critérios uniformes para medição, categorização e controle de qualidade deveriam ser estabelecidos como padrão, com o objetivo de orientar pesquisadores interessados nesse tema, oferecendo caminhos para enfrentar os desafios relacionados à avaliação desse importante construto.
Estudos que adotaram um ponto de corte de BSQ ≥70 pontos para classificar a insatisfação demonstraram uma prevalência mais elevada desse fenômeno, quando em comparação com estudos que adotaram pontos de corte maiores (80 e 110 pontos). A explicação fica a cargo da característica intrínseca do questionário de imagem corporal (quanto maior sensibilidade do instrumento, menor será seu ponto de corte).
Cerca de um terço dos universitários brasileiros apresentaram insatisfação corporal, influenciada pelo sexo e pelo critério de pontuação. Ações de natureza social, cultural e política visando melhorias no bem-estar e na qualidade de vida dos jovens devem ser fomentadas.
Quanto aos próximos estudos, recomenda-se novas revisões sistemáticas, sobretudo com o grupo restrito de grave insatisfação (não explorada neste artigo, mas que apresenta grande importância na evolução de quadros mais graves, comprovadamente patológicos, como o transtorno dismórfico corporal), bem como a exploração de demais fatores associados à insatisfação, tais como grupos específicos de pessoas, estado nutricional, influência midiática, diferenças regionais, entre outros.
Em síntese, este estudo teve como principal objetivo estimar a magnitude da insatisfação corporal entre estudantes universitários no Brasil. Espera-se que os resultados desta pesquisa contribuam para a compreensão mais aprofundada da insatisfação corporal entre jovens universitários e subsidiem intervenções e políticas públicas voltadas para a promoção da saúde mental e bem-estar desses indivíduos.
Agradecimento
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES)
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 313, Jun. (2024)