ISSN 1514-3465
Panorama do cheerleading no Brasil
Panorama of Cheerleading in Brazil
Panorama de cheerleading en Brasil
Vinícius Kazuo Hayashi Novaes
*kazuohayashi16@gmail.com
Letícia Cristina Lima Moraes
**letsmoraes96@gmail.com
William Ferraz de Santana
+wf.santana@ufl.edu
Letícia Bartholomeu de Queiroz Lima
++leticia_queiroz@hotmail.com
*Graduando em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná.
**Doutoranda em Educação Física no Programa de Pós-Graduação
em Educação Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Mestra em Educação Física pelo Programa de Pós-graduação
em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)
na linha de pesquisa de Aspectos socioculturais do Esporte e Lazer
Graduada em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná
+Doutorando em Sport Management pela University of Florida
Mestre em Ciências da Atividade Física pela EACH-USP
com dissertação focada no cheerleading e na gestão do esporte no Brasil
Bacharel em Educação Física pela EEFE-USP
++Graduada em Bacharelado em Esporte
pela Escola de Educação Física e Esporte
da Universidade de São Paulo (USP)
com período sanduíche na Faculdade de Desporto
da Universidade do Porto (Portugal)
Mestra em Ciências da Motricidade
pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp)
Doutora em Educação Física e Sociedade
pela Faculdade de Educação Física da Universidade de Campinas (Unicamp)
Membro do Grupo de Pesquisa em Ginástica (GPG) da FEF-Unicamp
e do Grupo de Estudos e Pesquisa em Gestão do Esporte (GEPAE) da EEFE-USP
Docente do curso de Educação Física da UFPR
(Brasil)
Recepción: 17/01/2024 - Aceptación: 26/09/2024
1ª Revisión: 21/09/2024 - 2ª Revisión: 22/09/2024
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
Este trabalho está sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt |
Cita sugerida
: Novaes, V.K.H., Moraes, L.C.L., Santana, W.F. de, e Lima, L.B. de Q. (2024). Panorama do cheerleading no Brasil. Uma revisão integrativa. Lecturas: Educación Física y Deportes, 29(318), 109-125. https://doi.org/10.46642/efd.v29i318.7430
Resumo
Esta pesquisa tem como objetivo descrever o processo de desenvolvimento e a situação atual do cheerleading no Brasil, utilizando uma abordagem metodológica descritiva. Esta se baseia em documentos de campeonatos nacionais, com destaque para o Cheerfest, a maior competição da modalidade no país e em fontes especializadas como o Portal Cheer. Os resultados revelaram um crescimento significativo nas participações de equipes de diferentes estados, ultrapassando a concentração no eixo Rio de Janeiro-São Paulo-Paraná. Um aspecto central identificado foi a predominância de equipes universitárias na modalidade. Como considerações, reconhece-se que a modalidade está em pleno desenvolvimento e carece de uma gestão e organização mais profissional. Apesar disso, é evidente o potencial promissor do cheerleading no Brasil, destacado também por sua recente aproximação junto ao Comitê Olímpico Internacional.
Unitermos:
Cheerleading. Torneio Cheerfest. Esporte Universitário.
Abstract
The study uses a descriptive methodological approach to describe the development process of cheerleading and its current situation in Brazil. It is based on national championships documents, emphasizing Cheerfest, the country's largest competition in the category, and on specialized sources like Portal Cheer. The results showed significant growth in the participation of teams from different states, surpassing the concentration in the Rio de Janeiro-São Paulo-Paraná axis. A central aspect identified was the predominance of university teams in the category. In conclusion, it is recognized that the category is in full development and lacks more professional management and organization. Nevertheless, the promising potential of cheerleading in Brazil is evident, also highlighted by its recent approach to the International Olympic Committee.
Keywords
: Cheerleading. Cheerfest Tournament. Varsity Sport.
Resumen
Esta investigación tiene como objetivo describir el proceso de desarrollo y la situación actual del cheerleading en Brasil, utilizando un enfoque metodológico descriptivo. Esto se basa en documentos de campeonatos nacionales, con énfasis en Cheerfest, la competencia de este deporte más grande del país, y fuentes especializadas como Portal Cheer. Los resultados revelaron un crecimiento significativo en la participación de equipos de diferentes estados, superando la concentración en el eje Río de Janeiro-São Paulo-Paraná. Un aspecto central identificado fue el predominio de equipos universitarios en el deporte. Como consideraciones, se reconoce que la modalidad se encuentra en pleno desarrollo y requiere de una gestión y organización más profesional. A pesar de esto, el potencial prometedor del cheerleading en Brasil es evidente, resaltado también por su reciente acercamiento al Comité Olímpico Internacional.
Palabras clave
: Cheerleading. Torneo Cheerfest. Deporte Universitario.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 318, Nov. (2024)
Introdução
O Cheerleading competitivo, originado nos Estados Unidos na década de 1970, tem suas raízes profundamente entrelaçadas com a cultura estadunidense (Grindstaff, e West, 2010). Esta modalidade esportiva evoluiu a partir do cheerleading de animação, prática já estabelecida em jogos de futebol americano universitários, que remonta a pelo menos cem anos antes de sua estreia competitiva (Santana, 2022). Inicialmente, o foco era impulsionar o espírito das torcidas por meio de cantos e gritos de incentivo. (Mullarkey, 2010)
Com o tempo, o Cheerleading começou a incorporar novos elementos, enriquecendo suas apresentações e rotinas. Pompons e cartazes passaram a fazer parte do espetáculo, e técnicas de acrobacia inspiradas na Ginástica Artística foram integradas, aumentando a complexidade e o apelo visual do esporte (Cassman, 2010; Wright, 2011). Essa evolução reflete não apenas a diversificação do Cheerleading, mas também sua adaptação e crescimento como uma disciplina esportiva competitiva.
O Cheerleading rapidamente se espalhou para além do contexto norte-americano, atraindo um número significativos de praticantes globalmente, o que culminou no reconhecimento de sua instituição mundial, a International Cheer Union (ICU) pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) no ano de 2021. (International Cheer Union, 2021)
No Brasil, o esporte ganhou formalização entre 2005 e 2008, marcado pela criação da Comissão Paulista de Cheerleading (CPC) e posteriormente da União Brasileira de Cheerleaders (UBC). Estas organizações foram pioneiras na realização de campeonatos nacionais no início da década de 2010 (Santana, 2023). Desde 2019, a Confederação Brasileira de Cheerleading e Desporto (CBCD) tem sido o órgão principal na supervisão do Cheerleading no Brasil. Sua fundação ocorreu um ano após a criação das federações estaduais nos estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais, marcando um passo significativo na organização e promoção do esporte no país (Santana, 2023). Atualmente, a CBCD se destaca como a única instituição de Cheerleading no Brasil afiliada à International Cheer Union, o órgão mundial da modalidade.
No Brasil, a modalidade tem conquistado certo público, principalmente no meio universitário. A primeira edição do Campeonato Nacional de Cheer e Dance, promovido pela UBC em 2011, contou com a participação de apenas três equipes, e desde então a modalidade sofreu um crescimento exponencial, registrando na edição de 2018 do Torneio Cheerfest, ocorrido em Uberlândia-MG, a participação de mais de 1.000 (mil) atletas. (Globo, 2018)
A expansão do Cheerleading no Brasil é notável, especialmente em termos de aprimoramento técnico e evolução dos elementos obrigatórios da modalidade. Contudo, este crescimento contrasta com a escassez de estudos acadêmicos e a falta de sistematização de dados sobre este esporte no cenário nacional.
Tendo em vista a emergência da modalidade no país e a carência de dados oriundos tanto de pesquisas científicas quanto da própria documentação/registro de dados das principais competições realizadas em território brasileiro, há uma justificativa clara para a necessidade e relevância do levantamento e análise dos dados das principais competições de Cheerleading no país, de forma a compreender melhor e promover este esporte em ascensão.
Assim, diante dessa lacuna de pesquisa e da necessidade de compreender a dinâmica do Cheerleading no Brasil, esta pesquisa tem como objetivo descrever seu processo de desenvolvimento e a situação atual no país. Entender o crescimento do Cheerleading no Brasil é crucial não só para documentar sua evolução, mas também para avaliar suas implicações sociais, culturais, educacionais e esportivas. Isso fornecerá diretrizes para o avanço sustentável do esporte.
Método
A presente pesquisa adota uma abordagem metodológica de caráter descritivo a partir de uma análise documental, com o intuito de examinar sistematicamente registros sobre a prática no país, contribuindo assim para o progresso da modalidade.
Segundo Gil (2002, p. 42) as pesquisas classificadas como descritivas “[...] têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis”.
Tendo em vista o ainda amadorismo da prática em território brasileiro, nos deparamos com diversas barreiras para ter acesso aos registros destes campeonatos. Inicialmente, direcionamos nossa análise ao estado do Paraná, por meio de sua principal competição, o Campeonato Paranaense de Cheerleading, organizado pela Associação Paranaense de Cheerleading. Ao tentarmos acessar informações sobre o evento, encontramos dificuldades, uma vez que tais dados estavam armazenados em um dispositivo externo privado. Apesar de nossas tentativas subsequentes, não conseguimos obter retorno ou acesso aos registros desejados.
Posteriormente buscamos por meio da CBCD analisar o Campeonato Brasileiro e Nacional de Cheerleading por meio de contato disponibilizado em página oficial da instituição. No entanto, apesar de diversas tentativas de comunicação, não fomos bem-sucedidos em receber qualquer retorno da principal entidade responsável por essa modalidade esportiva no país. Este fato suscita a possibilidade de que a instituição não detenha os registros formais desses eventos ou esteja enfrentando desafios na prontidão para dialogar visando o aprimoramento e desenvolvimento da referida modalidade esportiva.
Por fim, focamos em analisar um dos campeonatos mais populares e de maior destaque nacionalmente, o Cheerfest, o qual foi objeto de análise da presente pesquisa.
Documentos
Os dados analisados para a elaboração desse estudo foram os resultados referentes às edições dos anos de: 2017, 2018, 2019 e 2022, do Campeonato Cheerfest Supernational, um dos maiores campeonatos a nível nacional. Apesar do evento contar com sua primeira edição no ano de 2015, também encontramos dificuldades para o acesso e aquisição dos dados anteriores a 2017, devido a problemas de organização e armazenamento dos documentos pelas entidades gestoras.
Para a aquisição dos documentos, foi realizado contato com a organização do Campeonato Cheerfest, e em seguida com o Portal Cheer. O Portal Cheer refere-se ao principal canal de notícias do mundo de Cheerleading no Brasil. Conforme expresso em seu website oficial, sua missão é registrar os eventos históricos e dados da modalidade, tendo como visão torna-se uma referência em dados e informações sobre o Cheerleading brasileiro (Portal Cheer, 2021). O Portal se dedica à cobertura de eventos da modalidade, incluindo o Cheerfest Supernational.
A comunicação com a instituição Cheerfest, bem como com o Portal Cheer, foi estabelecida por meio de mensagens via redes sociais e e-mail. Por meio desse contato inicial com ambas as instituições, tivemos acesso apenas ao ranking das categorias Team Cheer da edição do ano de 2022, realizada em Osasco/SP. O referido documento também inclui as divisões: All Star e Universitário; All Boy, All Girl e Coed, além dos níveis em que os(as) atletas/equipes competiram.
Ainda com dificuldades de acesso aos dados de edições anteriores da competição, optamos por analisar o Cheer One Chanel. O Cheer One Chanel, trata-se de um canal de notícias e registros destinados ao Cheerleading no Brasil com início em 2017 (Cheer One Channel, 2021). No entanto, tal canal de comunicação foi descontinuado e retirado do ar no final de 2021, sendo substituído pelo Portal Cheer (que por sua vez é uma iniciativa de dois diretores do antigo Cheer One Channel). Para tanto, na tentativa de rememorar tais dados de extrema importância da modalidade no país utilizamos a ferramenta Way Back Machine – internet archive (https://web.archive.org/), website que permite um resgate a acervos mais antigos. Dessa forma, obtivemos acesso aos rankings gerais das edições do Cheerfest Supernational dos anos de 2017, 2018 e 2019.
Esses dados, por sua vez, consideram apenas os resultados da categoria Team Cheer, omitindo os resultados das categorias individuais. Os rankings das três edições incluem as divisões: All Star e Universitário; All Girl e Coed, além dos níveis em que as equipes competiram.
Análise dos dados
A análise dos dados foi realizada por meio da estatística descritiva. De acordo com Reis (2009), esse método nos permite descrever, analisar e compreender de forma clara e objetiva, as relações que se estabelecem entre as variáveis. Para isso, utilizamos alguns instrumentos como quadros, gráficos e indicadores numéricos, facilitando assim a exposição e interpretação de tais elementos.
Resultados e discussão
O Cheerfest em números: estados e equipes participantes
O campeonato Cheerfest Supernational vem apresentando crescimento ao longo dos anos, em relação a quantidade de equipes participantes do campeonato, tendo como base as edições de 2017, 2018, 2019 e 2022 (Tabela 1).
Tabela 1. Quantidade de equipes participantes por ano e por estado do Cheerfest de 2017 a 2022
Estado |
2017 |
2018 |
2019 |
2022 |
||||
Universitárias |
All Star |
Universitárias |
All Star |
Universitárias |
All Star |
Universitárias |
All Star |
|
Bahia |
- |
- |
- |
- |
1 |
- |
- |
1 |
Distrito Federal |
- |
- |
2 |
3 |
3 |
5 |
- |
3 |
Espírito Santo |
- |
- |
- |
- |
1 |
- |
- |
- |
Goiás |
- |
- |
- |
- |
1 |
1 |
- |
1 |
Mato Grosso |
- |
- |
- |
- |
2 |
- |
3 |
1 |
Minas Gerais |
- |
- |
3 |
2 |
7 |
8 |
2 |
- |
Paraná |
3 |
- |
5 |
2 |
2 |
3 |
4 |
5 |
Rio de Janeiro |
2 |
7 |
4 |
14 |
2 |
13 |
1 |
18 |
Rio Grande do Sul |
- |
- |
- |
- |
1 |
- |
- |
- |
Santa Catarina |
- |
- |
1 |
- |
1 |
- |
2 |
- |
São Paulo |
4 |
1 |
9 |
3 |
6 |
8 |
13 |
15 |
Fonte: Cheer One Channel (2018) e Portal Cheer (2023). Fonte: Dados de pesquisa
Em sua terceira edição (2017) o evento contou com 17 equipes participantes, sendo 9 universitárias e 8 All Star. No entanto, estas estavam restritas a apenas três estados: Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. Estes três estados se configuravam como importantes polos para o Cheerleading durante o crescimento inicial da modalidade no país (Tabela 1).
Para o ano seguinte (2018), o número de equipes participantes no evento saltou de 17 para 51 equipes, um crescimento de 200% em um ano. A edição de 2018 foi reconhecida como o maior campeonato de Cheerleading do país até então (Tabela 1). Além disso destacou-se com a participação de três equipes internacionais, duas delas pertencentes ao ginásio Rage Chile (CL): uma equipe All Girl, vencedora da categoria All Girl nível 2, e uma equipe Coed nível 4 (Cheer One Channel, 2018).
Outra equipe chilena marcou presença nesta edição, também na categoria Coed nível 4, a Spirit Royal Blood, essa garantindo a terceira colocação no ranking final da categoria. Além das equipes internacionais, a disputada competição contou com 24 equipes universitárias vindas de 5 estados mais o Distrito Federal, e 27 equipes all star, totalizando 13 ginásios (Tabela 1).
É possível notar que, em 2018, a maior parte das equipes ainda se concentrava principalmente no eixo Rio-São Paulo-Paraná, totalizando 18, 12 e 7 equipes, respectivamente, o que representava aproximadamente 72,5% de todas as equipes participantes naquele ano (Tabela 1).
No ano de 2019 o evento continuou a crescer gradativamente, contabilizando 65 equipes participantes, sendo 27 equipes universitárias e 38 equipes All Star. Nesta ocasião, houve uma distribuição geográfica mais ampla, abrangendo um total de 10 estados, além do Distrito Federal (Tabela 1).
Como mencionado previamente, a edição do ano de 2018 foi realizada pela primeira vez no município de Uberlândia/MG, escolhida devido ao seu potencial promissor e crescimento significativo. Esta foi a primeira vez que o estado de Minas Gerais se destacou com um número expressivo de equipes, totalizando 15, igualando-se ao estado do Rio de Janeiro (15) e superando o estado de São Paulo (14) (Tabela 1). Além disso, o êxito e a localização da competição contribuíram para que a estreia de algumas regiões no evento. Estados como a Bahia, Espírito Santo e Rio Grande do Sul estiveram representados por uma equipe cada, enquanto Goiás e Mato Grosso apareciam com duas equipes cada (Tabela 1).
Mesmo após um intervalo de dois anos decorrente pela pandemia da Covid-19, podemos observar que o Cheerfest Supernational continuou a crescer em números no ano de 2022. Embora a edição tenha apresentado a participação de duas equipes universitárias a menos em comparação a última edição (2019), o saldo total ainda foi superior, contabilizando 69 equipes, das quais 25 eram universitárias e 44 All star (Gráfico 1). Essa edição, sediada na cidade de Osasco/SP, destacou novamente o estado, que contou com 28 equipes ao todo, assim como os estados do Rio de Janeiro e Paraná, com 19 e 9 equipes, respectivamente (Tabela 1).
O estado de Minas Gerais que havia apresentado um ginásio repleto de seus atletas em 2019, registrou uma queda significativa, contando agora apenas com duas equipes. Ademais, o Distrito Federal, que vinha aumentando sua representatividade com cinco equipes em 2018 e oito equipes em 2019, reduziu sua participação para um total de apenas três equipes (Tabela 1).
Conquistas e Teams
Cheerfest 2017
Conforme mencionado anteriormente, a edição do ano de 2017 do Cheerfest Supernational teve a participação de apenas três estados (RJ, PR, SP). Isso resultou em algumas categorias que não obtiveram a quantidade mínima de equipes inscritas para que fosse possível formar um pódio completo. Um exemplo disso foi a categoria “All Girl nível 2”, que teve a junção das equipes Royal Cheer Rio/Lady Rain (RJ) e UFABC/All Girl (SP), equipe All Star e equipe Universitária respectivamente. Apesar disso, o campeonato manteve um alto nível de performances, chegando a ter concorrência dos níveis 2 ao 4.
Na divisão All Star houve um domínio das primeiras colocações por parte do ginásio Royal Cheer Rio (RJ), este garantiu as medalhas de ouro para as categorias “All Girl nível 2” (Lady Rain); “Coed nível 2” (Summer) e “Coed nível 4” (40 graus). Além disso, assegurou a segunda colocação na categoria “Coed nível 3” (Carnival). No entanto, nessa última categoria, a medalha dourada foi conquistada pelo ginásio Elite, também do Rio de Janeiro (Black Diamonds).
O único ginásio All Star paulista da edição, Spirit of Titans garantiu a prata na categoria “Coed nível 4” com a equipe Cronos. E, por fim, o terceiro ginásio carioca a aparecer no pódio foi o Trinity com dois bronzes nas categorias “Coed nível 3” (Delirium) e “Coed nível 4” (Destruction).
Na divisão Universitária, os dados nos apresentam pódios um pouco mais distribuídos, com as equipes paranaenses Manada/Unicesumar e Epidemia/UEM garantindo o primeiro lugar nas categorias “Coed nível 2 e 3”, respectivamente, enquanto as medalhas de prata das mesmas categorias foram para a carioca Sparks/UFF (Coed n2) e para a paranaense Helgas e Hagares/UFPR (Coed n3). O bronze nessas categorias foi conquistado pela equipe paulista Psicoliders/UNESP (Coed n2) e pela equipe Cerberus/UFRJ, do Rio de Janeiro (Coed n3).
No nível 4 da divisão, o campeonato contou com apenas duas equipes inscritas, ambas do estado de São Paulo. A segunda equipe representando a instituição UNESP no ano de 2017, denominada Deliders, obteve a medalha de ouro, enquanto a UFABC ficou com a medalha de prata, totalizando duas medalhas de pratas para a instituição (All Girl n2 e Coed n4).
Cheerfest
2018
A quarta edição do Cheerfest Supernational (2018), foi a maior edição brasileira de um campeonato de Cheerleading até então. O Cheer One Channel nos informa que:
Quando [...] as equipes começaram a passar pelo tatame, ficou claro para qualquer um [...] que aquele campeonato mudava tudo. A evolução dos times era enorme, a concorrência era muito apertada e um erro ou outro que no ano anterior podiam ser vistos como normais, dessa vez era decisivo para definir a cor de uma medalha e a presença ou não no pódio (Cheer One Channel, 2018, online).
Em 2018, houve uma significativa mudança na configuração das equipes que se destacaram na divisão All Star, entretanto, mesmo com essa alteração, o estado do Rio de Janeiro continuou dominando as primeiras colocações.
Nesta ocasião, a competição no nível 2 da categoria “All Girl” tornou-se internacional, resultando na vitória da equipe chilena Rage Chile, enquanto a carioca RFA conquistou a medalha de prata. Quanto ao nível 3, o ouro foi conquistado pelo ginásio Arkhaios (RJ), líder da divisão All Star com quatro pódios, garantindo dois ouros e dois bronzes.
Nas categorias mistas (Coed) de nível 2 e 3, os ginásios do Distrito Federal e de Minas Gerais se destacaram, assegurando as primeiras colocações com as equipes Xclusive (DF) e Bravo! Cheer (MG), respectivamente. O Rio de Janeiro ocupou as posições de segundo e terceiro lugar em ambos os níveis.
Na quarta edição (2018), a divisão Universitária foi altamente competitiva. No nível 2, a equipe Pride/UNIFOA (RJ) competiu contra 13 outras equipes e conquistou a primeira colocação, ficando à frente da Hunters/UNB (DF) e da Under Pressure/IFRJ (RJ), que alcançaram o segundo e terceiro lugar, respectivamente.
Da mesma forma que na edição anterior (2017), o Paraná registrou uma presença significativa no pódio do nível 3, com o Vikings C7/UFPR (anteriormente conhecido como Helgas e Hagares) conquistando a primeira colocação pela primeira vez no Cheerfest Supernational, e a Epidemia/UEM garantindo o terceiro lugar. O nível 4, por sua vez, não teve alteração em relação ao ranking do ano de 2017, com a Deliders/UNESP (SP) conquistando a medalha de ouro e a UFABC Cheer (SP) ficando com a prata.
Segundo o Cheer One Channel, no ano de 2018 o Grand Champion (Grande Campeão) da edição, ou seja, a equipe com a maior pontuação final do campeonato independente da divisão, nível ou categoria foi a equipe Dynasty, equipe All Girl do ginásio Arkhaios (RJ). Como reconhecimento por essa conquista, a equipe recebeu um prêmio no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais) concedido pela empresa de artigos de Cheerleading “Trust Cheer” (Cheer One Channel, 2018).
Cheerfest
2019
No ano de 2019 o ranking das categorias All Star foi menos plural que nos anos anteriores. O ginásio brasiliense Brasília Xtreme conquistou quatro ouros das cinco disputas da divisão, se consagrando campeões nas categorias: All Girl níveis 2 e 3 (Xplore e Xplosion); Coed níveis 2 e 4 (Xclusive e X4CE). Além disso, garantiu a segunda colocação no Coed nível 3 (Xcellence) ficando atrás da bicampeã Bravo! (MG), vencedora da categoria no ano anterior (2018), esta que ainda conseguiu o segundo lugar no Coed nível 4.
A liderança da divisão foi seguida pelos ginásios cariocas Arkhaios com duas pratas (Dynasty e Phoenix) e um bronze (Empire), enquanto Elite garantiu uma medalha de prata (Lady Diamond) e duas de bronze (Steel Diamonds e Golden Diamonds).
No nível 2 da divisão Universitária, outra equipe brasiliense conquistou o ouro, sendo a Hunters da UNB. No nível 3, o primeiro lugar foi alcançado pela equipe local, Sexylions/UFU, de Uberlândia/MG. Enquanto no nível 4.31 as paulistas UFABC e Deliders/UNESP disputaram com a estreante na categoria, Vikings C7/UFPR, culminando na conquista do ouro pela equipe da Universidade do ABC Paulista.
Cheerfest
2022
A primeira edição do pós-pandemia (2022) foi histórica para o Cheerleading brasileiro, pois teve pela primeira vez, a participação de uma equipe All Boy, o Atlas do Spirit of Titans (SP). Outra categoria estreante foi o Pom Dance, na qual competiram duas equipes paulistas: UFABC Pom, que conquistou a medalha de ouro, e a Spirit of Titans/Gaia, que alcançou o segundo lugar.
A divisão All Star foi liderada pelos tradicionais ginásios cariocas. O Marvel conquistou dois ouros, duas pratas e um bronze, seguido pelo Royal Cheer Rio, com dois ouros e duas pratas. O Arkhaios também se destacou, garantindo dois ouros, uma prata e um bronze.
Por outro lado, na divisão Universitária, o nível 2 da categoria non-tumbling foi dominado pelo estado de São Paulo, com as equipes da capital paulista no All Girl, e as equipes do município de São Carlos liderando o Coed, que contava com 13 equipes ao todo. A liderança do nível 3 da divisão foi assegurada pela estreante Cachorrada/UFRJ, enquanto a UFABC garantiu um pódio pela quarta edição consecutiva.
No gráfico 2, é perceptível a distribuição das medalhas das quatro edições do Cheerfest Supernational abordadas neste estudo. Em geral, podemos observar uma predominância dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo em relação ao número de vitórias e conquistas. No entanto, alguns fatores devem ser considerados como o número de participações de equipes desses estados no campeonato, como por exemplo, no ano de 2017, em que apenas os dois estados mais o Paraná tiveram equipes que lhes representassem (Gráfico 2).
Podemos observar que o Paraná fica atrás do Distrito Federal no quadro geral de medalhas, o que poderia ser explicado pelos resultados que o ginásio Brasília Xtreme demonstrou durante a temporada de 2019, por exemplo, além das demais equipes brasilienses que garantiram alguma colocação em pódios (Gráfico 2).
Outro fator que contribui para o somatório final de medalhas pode ser explicado pelo fato de que o estado do Rio de Janeiro possui alguns dos ginásios All Star mais tradicionais do Brasil, como é o caso dos ginásios: Arkhaios All Star, Royal Cheer Rio All Star, Marvel All Star e Elite All Star. Além desses ginásios contarem com a possibilidade de possuir uma equipe para cada categoria em que desejarem competir, o trabalho feito desde os primórdios do Cheerleading no Brasil garante um refinamento e aprimoramento das habilidades de seus/suas atletas, garantindo assim maiores chances de subirem ao pódio. Ao passo que estados que também configuravam importantes polos iniciais da modalidade, como São Paulo e Paraná, possuem uma tradição maior de equipes universitárias.
Ademais, devemos considerar também que diversos motivos podem levar alguns ginásios All Star e/ou equipes universitárias de estados fora da região Sudeste a não participarem de muitas edições do campeonato, como: custos de deslocamento para a região sudeste (onde ocorreram todas as edições do Cheerfest até hoje), hospedagem, inscrições, dentre outros.
De toda maneira, é perceptível que mesmo os estados que tiveram pouca participação no campeonato ao longo dos anos analisados, em comparação com os estados mais ativos, como Goiás, Mato Grosso, Espírito Santo e Santa Catarina, também conseguiram assegurar conquistas em termos de medalhas (vide Gráfico 2). Isso pode indicar uma tendência de contínuo crescimento e disseminação do Cheerleading no Brasil.
Locais de Prática
Na figura 1, apresenta-se um panorama geral da distribuição das instituições onde é possível encontrar equipes que participaram de uma ou mais edições do Cheerfest Supernational no período compreendido entre os anos de 2017 e 2022, abrangendo tanto ginásios All Star quanto instituições Universitárias.
De modo geral, observa-se uma predominância dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, o que pode ser justificada pelo histórico da modalidade no Brasil, conforme abordado anteriormente. Esses estados representam os dois centros onde o Cheerleading começou a ser efetivamente difundido, além de abrigarem as primeiras equipes formadas no país.
Em seguida, nota-se os estados do Paraná e Minas Gerais liderando em temos de quantidade de instituições de prática no país. Ambos se mantiveram como importantes polos nos anos iniciais após a criação das primeiras federações estaduais e dos campeonatos nacionais, dentre eles o Cheerfest (Figura 1). Por sua vez, o Distrito Federal contou com apenas três instituições participantes ao todo; no entanto, vem apresentando resultados promissores, como apontado anteriormente.
Após oito anos da primeira edição do Cheerfest, tendo como base as edições analisadas, o campeonato recebeu atletas de dez estados, além do Distrito Federal, incluindo também atletas internacionais durante as edições analisadas nesse estudo. Apesar desse amplo alcance, ainda há potencial para crescimento, uma vez que não abrange todas as regiões do país. É notável que regiões como o Nordeste, com apenas um estado participante ao todo, e o Norte do país, com pouquíssimas ou nenhuma participação ao longo dos anos, tiveram uma participação limitada no campeonato, que é considerado o mais relevante para a modalidade em território nacional (Figura 1).
Como foi mencionado anteriormente, o Cheerleading, em suas várias formas, dentre eles o Cheerleading Competitivo, é uma prática importada. Diferente do seu país de origem (EUA), não é uma atividade intrínseca à cultura brasileira. Muitos atletas de Cheerleading são pessoas que migraram de outras práticas ou tiveram um primeiro contato com a modalidade quando ingressam no ensino superior. Essa realidade pode justificar a quantidade e força das equipes universitárias no cenário atual.
Dos estados com menor participação nas edições de 2017 a 2022, como Bahia, Espírito Santo, Goiás, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que juntos somam oito instituições representadas, apenas duas instituições são do tipo ginásio All Star, nomeadamente BPS All Stars (BA) e Sealand Cheer (GO).
Das 18 instituições concentradas no estado de São Paulo, por exemplo, 10 (55,55%) são universitárias. No Paraná, 50% das instituições são All Star e 50% são universitárias. Já no estado do Rio de Janeiro, que acumula o maior número de medalhas do Cheerfest, como apontado previamente, há uma cultura mais voltada aos ginásios All Star, com 6 (60%) ginásios contra 4 (40%) instituições universitárias presentes nas edições analisadas.
Em síntese, os dados do Campeonato Cheerfest demonstram como o Cheerleading começou de forma amadora e concentrada no eixo Rio-São Paulo. Com o passar do tempo, podemos observar uma descentralização gradual para outros estados e regiões do país, acompanhada por um aumento no número de adeptos. Isso aponta para um futuro promissor da modalidade no país, indicando um crescimento contínuo e uma expansão da prática para além de seus centros iniciais.
Conclusões
Tendo em vista a trajetória do Cheerleading no Brasil, é coerente observar a escassez de estudos que busquem sistematizar de forma geral ou detalhada as informações relacionadas à modalidade, suas características e aos seus/suas praticantes no país.
Além da carência de estudos que tratem do fenômeno do Cheerleading no Brasil, observa-se também certa desorganização e amadorismo por parte das instituições responsáveis por gerir este esporte no país, seja no registro ou no armazenamento dos dados relativos à modalidade em âmbito estadual e nacional. Com efeito, deparamo-nos com algumas dificuldades para a obtenção de informações para a condução e ampliação deste estudo, o que exigiu a delimitação da base de dados e o universo da pesquisa.
Dito isto, este estudo se revela mais uma vez essencial, uma vez que teve como propósito inicial mapear a modalidade no Brasil, destacando sua trajetória, características, percursores e principais resultados.
Em suma, podemos observar que a modalidade, que inicialmente estava concentrava no eixo Rio de Janeiro-São Paulo-Paraná, está se expandindo e atingindo cada vez mais estados, regiões e adeptos. Isso evidencia o potencial que a modalidade pode alcançar no país, mesmo que sua gestão e organização ainda sejam conduzidas de maneira amadora.
Por fim, sinalizamos a necessidades de mais estudos acerca da modalidade no país, refletindo, analisando e registrando diferentes vertentes da prática que ainda se encontra em estágio inicial no âmbito acadêmico e científico. Essa abordagem pode contribuir significativamente para o aprimoramento e desenvolvimento do Cheerleading no Brasil.
Nota
Devido ao baixo nível de habilidades de tumbling das equipes universitárias, foi criada a categoria 4.3 que consiste em uma rotina de nível 4 com tumbling de nível 3.
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