Lecturas: Educación Física y Deportes | http://www.efdeportes.com

ISSN 1514-3465

 

Educação Física e saúde escolar no Brasil. 

Conexões à luz da Base Nacional Comum Curricular

Physical Education and School Health in Brazil. 

Connections in the Light of Common National Curricular Base

Educación Física y salud escolar en Brasil. 

Conexiones a la luz de la Base Curricular Común Nacional

 

Cláudio Oliveira da Gama*

claudiodagama@hotmail.com

Gláucio Oliveira da Gama**

glaucio_gama@hotmail.com

Janaína da Silva Ferreira***

ferreira.js@outlook.com.br

Sidnei Jorge Fonseca Junior***

sjfjunior@gmail.com

 

*Pós Doutor em Educação

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

**Doutorando em Ciências da Reabilitação (UNISUAM)

***Professores adjuntos

da Universidade do Estado do Rio de Janeiro/CAp-UERJ

(Brasil)

 

Recepción: 27/12/2023- Aceptación: 18/02/2024

1ª Revisión: 13/02/2024 - 2ª Revisión: 15/02/2024

 

Level A conformance,
            W3C WAI Web Content Accessibility Guidelines 2.0
Documento accesible. Ley N° 26.653. WCAG 2.0

 

Creative Commons

Esta obra está bajo licencia Creative Commons

Atribución-NoComercial-SinDerivadas 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.es

Cita sugerida: Gama, C.O. da, Gama, G.O. da, Ferreira, J. da S., e Fonseca Junior, S.J. (2024). Educação Física e saúde escolar no Brasil. Conexões à luz da Base Nacional Comum Curricular. Lecturas: Educación Física y Deportes, 29(312), 154-171. https://doi.org/10.46642/efd.v29i312.7405

 

Resumo

    Este estudo teve como objetivo analisar a produção científica realizada com dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar à luz das propostas da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Este estudo exploratório foi realizado por meio de análise documental da Base Curricular e revisão científica de estudos que utilizaram dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar. Os artigos selecionados abordaram temas como hábitos alimentares, atividade física, comportamento sedentário e imagem corporal, juntamente com as covariáveis de participação nas aulas de Educação Física, tempo de tela e sobrepeso e obesidade. Os resultados destacaram questões como a “não participação das meninas nas aulas de educação física”, “comportamentos sedentários”, “excesso de peso”, “insatisfações com o corpo” e “hábitos alimentares inadequados”. A análise desses elementos, juntamente com suas inter-relações, proporcionou um aprofundamento nos conhecimentos sobre o estado de saúde dos adolescentes escolares. Conclui-se que esses insights são fundamentais para o desenvolvimento de propostas pedagógicas curriculares conectadas as Bases Nacionais Comuns Curriculares e proporciona uma abordagem mais ampla e crítica no ambiente escolar.

    Unitermos: Educação Física. Currículo. Escola. Adolescentes. Saúde coletiva. Promoção da saúde.

 

Abstract

    This study aimed to analyze the scientific production carried out with data from the National School Health Survey in light of the proposals of the Common National Curricular Base. This exploratory study was carried out through documentary analysis of the Curricular Base and scientific review of studies that used data from the National School Health Survey. The selected articles addressed topics such as eating habits, physical activity, sedentary behavior and body image, along with covariates participation in Physical Education classes, screen time and overweight and obesity. The results highlighted issues such as “girls’ non-participation in physical education classes”, “sedentary behaviors”, “excess weight”, “dissatisfaction with their body” and “inadequate eating habits”. The analysis of these elements, together with their interrelations, provided a deeper understanding of the health status of school adolescents. It is concluded that these insights are fundamental for the development of curricular pedagogical proposals connected to the National Common Curricular Bases and provide a broader and more critical approach in the school environment.

    Keyword: Physical Education. Curriculum. School. Teenagers. Public health. Health promotion.

 

Resumen

    Este estudio tuvo como objetivo analizar la producción científica realizada con datos de la Encuesta Nacional de Salud Escolar a la luz de las propuestas de la Base Nacional Común Curricular (BNCC). Este estudio exploratorio se realizó a través del análisis documental de la Base Curricular y revisión científica de estudios que utilizaron datos de la Encuesta Nacional de Salud Escolar. Los artículos seleccionados abordaron temas como hábitos alimentarios, actividad física, sedentarismo e imagen corporal, junto con las covariables de participación en clases de Educación Física, tiempo frente a pantallas y sobrepeso y obesidad. Los resultados resaltaron cuestiones como “la falta de participación de las niñas en las clases de educación física”, “comportamientos sedentarios”, “exceso de peso”, “insatisfacción con su cuerpo” y “hábitos alimentarios inadecuados”. El análisis de estos elementos, junto con sus interrelaciones, proporcionó una comprensión más profunda del estado de salud de los adolescentes escolares. Se concluye que estos conocimientos son fundamentales para el desarrollo de propuestas pedagógicas curriculares conectadas a las Bases Curriculares Comunes Nacionales y brindan un enfoque más amplio y crítico en el ámbito escolar.

    Palabras clave: Educación Física. Currículo. Escuela. Adolescentes. Salud pública. Promoción de la salud.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 312, May. (2024)


 

Introdução 

 

    Discussões contemporâneas acerca da Educação Física Escolar (EFE) e de seus conteúdos têm gerado impasses entre os docentes da educação básica. Esses desafios surgem, principalmente, devido às diversas práticas fundamentadas em abordagens pedagógicas que continuam a influenciar a formação profissional dos licenciandos em Educação Física (Darido, 2003; Mantovani, Maldonado, e Freire, 2021). Nos últimos anos, no Brasil, as tensões nesse cenário foram intensificadas com o lançamento de um documento de abrangência federal que estabelece uma proposta com diretrizes para o currículo nacional, segmentando os conteúdos da EFE em unidades temáticas conhecida como Base Nacional Comum Curricular (BNCC). (Brasil, 2018)

 

    Historicamente, a EFE tem sido encarregada de promover a melhoria da saúde dos estudantes (Mantovani, Maldonado, e Freire, 2021). A perspectiva higienista da educação física, fundamentada em um pensamento liberal, visava a utilização de movimentos automatizados e disciplinados para forjar corpos considerados saudáveis. Essa abordagem ainda se manifesta no cotidiano escolar, permeando o discurso da aptidão física relacionada à saúde (Mantovani, Maldonado, e Freire, 2021; Narduchi, e Struchini, 2023). Entretanto, com o fortalecimento das abordagens pedagógicas críticas (Darido, 2003) e a Educação Física sendo integrada à área das linguagens desde a implementação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1997), o contexto biológico deixou de ser o objetivo central na relação desse componente pedagógico com a saúde.

 

    Consequentemente, face às críticas contemporâneas a determinados conteúdos, como a prática hegemônica do quarteto fantástico, expressão usada na área para se referir aos quatro conteúdos esportivos mais ensinados nas aulas de Educação Física, sendo eles o futebol, voleibol, basquetebol e handebol (Milani, e Darido, 2016) em um único ano letivo, ou a abordagem da saúde focalizada no contexto biológico, têm surgido propostas para o desenvolvimento de diversas culturas de práticas corporais. Essas propostas são objeto de sugestões e debates, com uma parcela significativa de docentes dedicando-se a incorporá-las no cotidiano da EFE. (Tenório, e Silva, 2020; Galindo, e Tenório, 2019)

 

    A escola se configura como um importante espaço de acesso ao público adolescente, e faz-se necessário estimular programas de promoção da saúde escolar para reduzir comportamentos de risco à saúde, assim como incentivar comportamentos protetores (Oliveira-Campos et al., 2018). No entanto, ainda persiste na literatura uma insistência de um programa de EFE focado na prevenção de doenças com ênfase apenas nos aspectos biológicos, o que traz dificuldades ao ensino direcionado à promoção da saúde. Ou seja, com a promoção do empoderamento social na busca pela saúde, com uma perspectiva mais abrangente e crítica, emergindo como o principal objetivo. (Knuth, e Loch, 2014; Narduchi, e Struchini, 2023)

 

    Na contemporaneidade, a BNCC, apesar de suscitar críticas na literatura (Neira, 2018), propõe para a EFE na educação básica unidades temáticas como jogos e brincadeiras, esportes, ginásticas, lutas, danças e esportes de aventuras. Esta abordagem pedagógica é expandida com objetos de conhecimento, delineando competências e habilidades a serem desenvolvidas. Em muitos casos, essas competências envolvem conceitos, procedimentos e atitudes relacionados à saúde (Brasil, 2018). Assim, surge a necessidade do docente apresentar conceitos vinculados à epidemiologia da atividade física e ter conhecimentos básicos em saúde coletiva.

 

    Segundo Silva, Schraiber, e Mota (2019) saúde coletiva é o espaço que se concentram as abordagens e pesquisas críticas; abarca as análises críticas em relação à construção biomédica da medicina e busca tecer outras relações entre a saúde e a sociedade. Neste contexto, é crucial relacionar esses conceitos às características específicas da localidade onde leciona. Isso se deve à importância de compreender as possibilidades de realização de práticas corporais e atividades físicas para o lazer e a promoção da saúde, tanto dentro quanto fora do ambiente escolar, a fim de conferir maior relevância ao conteúdo selecionado.

 

    Adicionalmente, uma valiosa fonte de informação para enriquecer o conhecimento do docente ao planejar suas práticas na EFE, em conformidade com a BNCC, é a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE). Trata-se de estudos de base populacional conduzidos pelo governo federal nos anos de 2009, 2012, 2015 e, mais recentemente, em 2019. Esta pesquisa disponibiliza dados cruciais para os profissionais de Educação Física, incluindo informações sobre atividade física no ambiente escolar e extraescolar, imagem corporal, comportamento alimentar, entre outros aspectos relacionados à saúde pública e coletiva (Oliveira et al., 2017). Após uma revisão integrativa da literatura, cujo objetivo foi analisar as produções científicas discutindo as relações entre a EFE e a saúde, concluiu-se pela necessidade de estreitar os vínculos entre ambas as áreas. Isso se justifica ao considerar que a saúde coletiva engloba fatores sociais, econômicos, culturais, étnico-raciais, psicológicos e comportamentais, temáticas amplamente debatidas no contexto educacional contemporâneo. (Mantovani, Maldonado, e Freire, 2021)

 

    Dessa maneira, a exploração das informações já divulgadas pela PeNSE em estudos recentes destaca-se como um passo relevante para ampliar o conhecimento dos profissionais de EFE da educação básica acerca de questões relacionadas à saúde dos escolares. Este avanço visa, sobretudo, estabelecer relações fundamentais com as propostas delineadas na BNCC. Em um estudo mais antigo e em um mais recente, Coledam et al. (2014) e Catabriga et al. (2022) abordaram a importância desse tema no ambiente escolar, enfatizando a necessidade dos alunos além de se tornarem cidadãos ativos, engajados em práticas esportivas, também serem dotados de senso crítico e reflexivo em relação à sua própria saúde e seus direitos. Essa abordagem reforça a urgência de debates contemporâneos que resultem em propostas pedagógicas para a Educação Física Escolar.

 

    Diante desse contexto, o objetivo primordial deste estudo consistiu em analisar a produção científica realizada com dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar à luz das propostas da Base Nacional Curricular Comum. Este enfoque visa fornecer subsídios para reflexões subsequentes sobre o desenvolvimento de práticas pedagógicas na Educação Física Escolar, sobretudo na educação básica brasileira.

 

Métodos 

 

    Este estudo adota uma abordagem exploratória, utilizando métodos de pesquisa documental e revisão de literatura para analisar características qualitativas. Desenvolveu-se por meio da seleção de conteúdos da BNCC relacionados ao tema saúde e dos resultados de estudos obtidos por meio de uma revisão de literatura, realizada mediante uma busca sistematizada de artigos. De acordo com Gil (2002), a pesquisa exploratória proporciona uma maior familiaridade com o problema, com o intuito de torná-lo mais explícito, construir hipóteses, além de aprimorar ideias ou descobrir intuições.

 

    Inicialmente, a análise da BNCC ocorreu por meio da avaliação das competências gerais da educação básica e do componente curricular Educação Física, considerando habilidades, unidades temáticas, objetos e dimensões de conhecimentos que poderiam estar relacionados ao contexto da saúde.

 

    Posteriormente, realizou-se uma revisão da literatura com foco em artigos publicados que utilizaram dados da PeNSE e estavam relacionados à EFE. A PeNSE é um inquérito realizado com adolescentes escolares, fruto de uma parceria entre o Ministério da Saúde (MS) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com o apoio do Ministério da Educação (MEC). A pesquisa é conduzida por amostragem, utilizando como referência para seleção o cadastro das escolas públicas e privadas do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Ela integra as ações do MS para investigar a frequência e distribuição de fatores de risco e proteção para doenças crônicas não transmissíveis entre adolescentes escolares brasileiros. (Ministério da Saúde, [s.d.])

 

    Essa revisão foi conduzida por critérios sistemáticos no mês de junho de 2023, utilizando para a estratégia de busca, os seguintes termos: "educação física" AND PeNSE; e "atividade física" AND PeNSE por meio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). As bases desta biblioteca abrangem dados da Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) e da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS).

 

    A busca priorizou pesquisas que investigaram, por meio de dados descritivos ou tratamentos estatísticos de associação, variáveis como hábitos alimentares, atividade física, comportamento sedentário e imagem corporal, juntamente com as covariáveis de participação nas aulas de Educação Física, tempo de tela e sobrepeso e obesidade. Essas variáveis foram selecionadas por serem frequentemente exploradas em aulas de EFE e por terem afinidades com a BNCC.

 

    Os critérios de exclusão foram aplicados a trabalhos que não estavam relacionados às variáveis selecionadas, não eram artigos publicados em periódicos, estavam duplicados na base de dados e não estavam redigidos nos idiomas pré-estabelecidos: português, inglês e espanhol.

 

Resultados e discussão 

 

A BNCC e a saúde na EFE 

 

    A BNCC é um documento normativo e orientador para os diferentes componentes curriculares da educação básica, que assegura os direitos de aprendizagem no Brasil. Apresenta dez competências gerais, além de competências e habilidades específicas por área do conhecimento, incluindo tanto os saberes necessários da Educação Básica quanto a capacidade de mobilizá-los e aplicá-los. (Brasil, 2018)

 

    No que concerne ao conteúdo relacionado à saúde, este está presente na oitava competência da BNCC, que aborda preocupações tanto com a saúde física quanto mental. No componente curricular "Educação Física", a ênfase na saúde física e mental, com dimensões abrangentes e críticas, também foi evidenciada na competência oito. Nas competências específicas três, quatro e oito, destaca-se a busca pela reflexão dos alunos acerca das interações entre a prática da atividade física, o processo saúde-doença e a promoção da saúde. Além disso, é enfatizada a identificação dos padrões de desempenho, saúde, beleza e estética corporal.

 

    No contexto das habilidades, observam-se preocupações voltadas para a construção coletiva de convívio na prática de atividade física com o intuito de promover a saúde. Essas considerações são notadas apenas nos anos finais do ensino fundamental. Além disso, as habilidades abordam padrões de desempenho, saúde e beleza, a prática excessiva de exercícios físicos e o uso de medicamentos para a melhoria do desempenho ou potencialização das transformações corporais. Essas práticas são adequadas às características e necessidades de cada indivíduo, visando a melhoria das condições de vida, saúde, bem-estar e o autocuidado. (Brasil, 2018)

 

    No Quadro 1 são apresentadas, à luz da BNCC, as competências gerais e específicas da educação física, além das habilidades em que o contexto da saúde pode estar estabelecido diretamente.

 

Quadro 1. Seleção de competências gerais e competências e habilidades do componente curricular educação física que envolve o contexto da saúde

Competências Gerais da Educação Básica

Competência 8 - Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.

Competências Específicas da Educação Física para o Ensino Fundamental

Competência Específica 3 - Refletir, criticamente, sobre as relações entre a realização das práticas corporais e os processos de saúde/doença, inclusive no contexto das atividades laborais.

Competência Específica 4 - Identificar a multiplicidade de padrões de desempenho, saúde, beleza e estética corporal, analisando, criticamente, os modelos disseminados na mídia e discutir posturas consumistas e preconceituosas.

Competência Específica 8 - Usufruir das práticas corporais de forma autônoma para potencializar o envolvimento em contextos de lazer, ampliar as redes de sociabilidade e a promoção da saúde.

Habilidades nos anos finais

(EF67EF09) Construir, coletivamente, procedimentos e normas de convívio que viabilizem a participação de todos na prática de exercícios físicos, com o objetivo de promover a saúde.

(EF89EF07) Experimentar e fruir um ou mais programas de exercícios físicos, identificando as exigências corporais desses diferentes programas e reconhecendo a importância de uma prática individualizada, adequada às características e necessidades de cada sujeito.

(EF89EF08) Discutir as transformações históricas dos padrões de desempenho, saúde e beleza, considerando a forma como são apresentados nos diferentes meios (científico, midiático, etc.).

(EF89EF09) Problematizar a prática excessiva de exercícios físicos e o uso de medicamentos para a ampliação do rendimento ou potencialização das transformações corporais.

(EF89EF11) Identificar as diferenças e semelhanças entre a ginástica de conscientização corporal e as de condicionamento físico e discutir como a prática de cada uma dessas manifestações pode contribuir para a melhoria das condições de vida, saúde, bem-estar e cuidado consigo mesmo.

(EF67EF09) Construir, coletivamente, procedimentos e normas de convívio que viabilizem a participação de todos na prática de exercícios físicos, com o objetivo de promover a saúde.

Fonte: Brasil (2018)

 

    Além disso, complementando as competências e habilidades, a BNCC destaca que as vivências e experiências efetivas nas práticas corporais proporcionam aos alunos a participação autônoma em contextos de lazer e saúde. Um dos elementos comuns a essas práticas é o "produto cultural vinculado ao lazer/entretenimento e/ou ao cuidado com o corpo e a saúde". (Brasil, 2018)

 

    As dimensões do conhecimento na BNCC também estabelecem relações e delimitam as competências e habilidades. A dimensão "Uso e Apropriação" refere-se ao conhecimento necessário para realizar de forma autônoma práticas corporais e potencializar esse envolvimento no lazer ou saúde. A dimensão "Análise" envolve o conhecimento de um determinado exercício físico no desenvolvimento de uma capacidade física. Já a dimensão "Protagonismo Comunitário" aborda atitudes, ações e conhecimentos necessários para orientar a democratização do acesso das pessoas às práticas corporais, com base em valores favoráveis à convivência social.

 

    Essas especificações sobre o tema saúde, na BNCC, podem orientar diversas abordagens pedagógicas dos docentes em suas práticas, o que pode gerar conflitos (Dessbesell, e Fraga, 2020). Knuth, e Loch (2014), por exemplo, destacam a coexistência de três correntes teóricas com interesse particular nos temas de saúde na EFE: aptidão física relacionada à saúde, abordagem crítica e atividade física e saúde, com foco principal em conhecimentos oriundos da epidemiologia, refletindo uma abordagem ampla na concepção de saúde. Além disso, Catabriga et al. (2022), após entrevistas semiestruturadas com quatro docentes sobre o desenvolvimento do tema saúde, identificaram a necessidade de formação continuada devido à carência de conhecimentos, ao suporte insuficiente da escola para trabalhos multidisciplinares e à necessidade de uma delimitação mais clara do tema nos documentos norteadores.

 

A PeNSE e os dados aplicados à EFE 

 

    Até o momento, foram realizadas quatro edições da PeNSE: 2009, 2012, 2015 e 2019. As duas primeiras envolveram escolares do 9° ano do Ensino Fundamental. Nas edições de 2015 e 2019, amostras de estudantes de 13 a 17 anos foram adicionadas, abrangendo do 7° ano do Ensino Fundamental ao 3° ano do Ensino Médio, visando comparações com inquéritos internacionais. (Oliveira et al., 2017)

 

    Em particular, na edição de 2019 da PeNSE houve avanços em relação às edições anteriores, com uma subdivisão em diversas variáveis, incluindo características básicas da população de estudo (socioeconômicas), contexto escolar, informações gerais do ambiente escolar, hábitos alimentares, atividade física (incluindo participação nas aulas de Educação Física), comportamento sedentário, uso de substâncias, saúde sexual e reprodutiva, segurança e violências, hábitos de higiene pessoal, imagem corporal, saúde mental, uso de serviços de saúde, e políticas de saúde na escola.

 

    As informações geradas por estudos que utilizaram a PeNSE podem estabelecer conexões com as propostas da BNCC, conforme apresentado no Quadro 1, aprimorando o entendimento dos princípios da saúde coletiva, bem como iniciativas de saúde na escola através de uma abordagem crítica da promoção da atividade física, incorporando cuidados abrangentes com a saúde e o corpo.

 

Síntese de estudos relacionais 

 

    A estratégia de pesquisa inicial recuperou 118 títulos e resumos de artigos, conforme os registros selecionados após a busca na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS). Na primeira fase de triagem, os títulos e resumos dos artigos foram examinados, identificando dezessete duplicatas, quatro teses e setenta e quarto estudos que não atendiam aos critérios de seleção, sendo considerados não relevantes para o estudo. Nessa etapa, noventa e cinco trabalhos foram excluídos por não atenderem aos critérios de elegibilidade.

 

    Um total de 23 artigos foi selecionado para leitura na íntegra. Posteriormente, foram escolhidos 18 trabalhos para a síntese qualitativa. Na Figura 1 o fluxograma traz detalhes da busca na BVS por artigos considerados pertinentes para propostas pedagógicas em Educação Física, especialmente na abordagem da temática saúde e suas relações com as propostas da BNCC.

 

Figura 1. Fluxograma adotado para a busca por estudos

Figura 1. Fluxograma adotado para a busca por estudos

Fonte: Dados da pesquisa

 

    O Quadro 2 exibe os resultados e conclusões subdivididos em variáveis de saúde investigadas nos estudos que utilizaram dados da PeNSE, destacando aquelas que possuem possíveis relações com a EFE, .

 

Quadro 2. Características dos estudos incluídos

Relação entre Saúde, PeNSE e EFE

Principais resultados e conclusões (Autores, ano)

Participação na EFE

§  Meninas, negros (as) e alunos de escolas públicas têm menores tempos de atividade física na EFE. (Martins, Vasquez, e Mion, 2022)

§  Relevante quantitativo de não participantes em aulas de EFE. (Malta et al., 2014)

Prática de atividade física (AF)

§  As atividades extracurriculares, deslocamento ativo e as aulas de educação física possuem relação com a atividade física total. (Couto et al., 2020)

§  Redução da atividade física entre 2015 e 2019. (Ferreira et al., 2022)

§  Maior disponibilidade das escolas privadas para a prática de atividade física. (Souza et al., 2022)

§  Nível socioeconômico mais baixo associado ao comportamento sedentário e a inatividade física. (Monteiro et al., 2020; Silva et al., 2020; Condessa et al., 2019; Ferreira et al., 2018)

§  Ser do gênero feminino está associada a insuficiência de AF. (Leal et al., 2019; Ferreira et al., 2018)

Prevalência de comportamento sedentário e (in)ativos físicamente

§  Meninas possuem maior comportamento sedentário. (Monteiro et al., 2020; Ferreira, e Andrade, 2021; Silva et al. 2020; Condessa et al., 2019)

§  Baixa prevalência de jovens ativos >300 min/sem e com duas ou mais aulas de EF. (Hallal et al., 2010; Gomes et al., 2022)

Hábitos alimentares inadequados

§  As meninas não apresentam práticas alimentares desejáveis e nos meninos ocorre a associação do alto consumo de refrigerantes com a escolaridade materna. (Monteiro et al. 2020; Leal et al., 2019)

§  Adolescentes com idades mais avançadas e maior nível socioeconômico têm maiores cuidados com a dieta saudável; além dos que possuem menor comportamento sedentário consumir menos alimentos ultraprocessados; em 2009 foi observada a existência da associação entre comportamento sedentário e alimentação inadequada independente de demais variáveis investigadas. (Matias et al., 2018; Costa et al., 2018; Camelo et al., 2012)

§  Redução do consumo de refrigerantes e vegetais entre 2015 e 2019. (Ferreira et al., 2022)

§  Escolas públicas possuem ambiente mais favorável à alimentação saudável. (Souza et al., 2022)

Tempo de tela

§  Alta prevalência de jovens com mais de duas horas assistindo televisão. (Malta et al., 2014)

Obesidade e sobrepeso

§  Tempo excessivo de tela, consumo de alimentos ultraprocessados e a baixa atividade física apresentaram relações com o aumento do índice de massa corporal. (Lourenço et al., 2021)

Imagem corporal

§  A prática de atividade física se associa com a diminuição da preocupação com a imagem corporal em meninos. (Gomes et al., 2021)

§  Atividades sedentárias se associam com o aumento da preocupação com a imagem corporal. (Gomes et al., 2021)

Fonte: Dados da pesquisa

 

Reflexões para o desenvolvimento de práticas pedagógicas: o enfoque na Saúde 

 

    Para iniciar as reflexões acerca do desenvolvimento de práticas pedagógicas voltadas para a saúde na EFE, é crucial debater a participação dos estudantes nas aulas de Educação Física, bem como nas atividades físicas e esportivas em projetos extracurriculares dentro e fora da escola, e analisar suas inter-relações. No contexto epidemiológico, essa variável, investigada pela PeNSE, é considerada fundamental para que os adolescentes possam ser classificados como ativos fisicamente, pois aumenta o tempo de movimentação e, consequentemente, o nível de atividade física. (Malta et al., 2014; Soares, e Hallal, 2015; Martins, Vasquez, e Mion, 2022)

 

    Para uma compreensão mais abrangente sobre a inatividade física, especialistas na área da motricidade destacam a relevância do desenvolvimento psicomotor a partir de atividades físicas e práticas corporais desde a educação infantil. Este enfoque visa promover a manutenção de uma vida ativa em idades mais avançadas, ressaltando a importância da Educação Física no contexto da epidemiologia da atividade física. (Galahue, e Ozmun, 2005; Soares, e Hallal, 2015; Yu et al., 2021; Karppanen et al., 2021)

 

    A não participação nas aulas de Educação Física tem sido objeto de discussão em diversos âmbitos (Soares, e Hallal, 2015; Jaco, e Altmann, 2017; Araújo et al., 2019). Uma abordagem destaca a necessidade de uma Educação Física inclusiva, que estimule a participação de indivíduos menos habilidosos, pessoas com deficiências (PCDs), do gênero feminino e outros que possam ser excluídos por alguma razão. Essa perspectiva busca superar outra abordagem que se concentra no desenvolvimento motor sem tantas intenções de inclusão. (Soares, e Hallal, 2015; Jaco, e Altmann, 2017; Araújo et al., 2019; Yu et al., 2021)

 

    Considerando este contexto, as características abordadas no estudo de Martins, Vasquez, e Mion (2022) sobre a menor participação de meninas, indivíduos negros e estudantes de escolas públicas podem integrar essas reflexões. Para melhor reflexão sobre a temática, no estudo conduzido por Santos et al. (2019) com dados coletados pelos autores de estudantes de Rondônia, fatores como sexo feminino, idade acima de 12 anos, estar além do sétimo ano escolar, uso diário de tecnologia por mais de duas horas, fazer menos de três refeições diárias e a condição de excesso de peso foram associados à não participação nas aulas de Educação Física. As características identificadas entre os não participantes tornam-se elementos relevantes para refletir sobre os fatores que afastam esses alunos das aulas de Educação Física e de outras atividades físicas e práticas corporais.

 

    Em revisão de literatura conduzida por Araújo et al. (2019) sobre a participação nas aulas de Educação Física em escolas públicas, parte dos resultados revelou índices inferiores a 50%. Diferenças de participação entre os gêneros foram atribuídas a questões culturais, comportamentais, curriculares e motivacionais. Os rapazes demonstraram maior confiança em suas habilidades esportivas, valorizando atividades competitivas, muitas vezes selecionadas como conteúdos de aulas, predominantemente esportivas, com destaque para o futebol. Além disso, a intensidade das atividades durante as aulas foi apontada como um fator que contribui para a baixa participação das moças, conforme destacado por Kremer, Reichert, e Hallal (2012), em um estudo que foram observadas aulas práticas de educação física.

 

    Importa ressaltar que, culturalmente, as meninas são menos incentivadas a participar de determinadas práticas corporais, e tais preconceitos devem ser problematizados no contexto da EFE (Jaco, e Altmann, 2017). Essa abordagem visa promover uma Educação Física mais alinhada à saúde coletiva, ou seja, com uma dimensão mais ampla e crítica no contexto da saúde.

 

    Diante da proposta da BNCC e de suas diferentes unidades temáticas distribuídas ao longo da educação básica, parece que o desafio para os docentes está em adaptar as propostas de aulas ao seu público diversificado, desenvolvendo estratégias de inclusão. Essa tarefa pode não ser fácil e expõe a necessidade de valorização nas divulgações de relatos de experiências, pesquisa-ação e formações continuadas como suporte aos docentes, capacitando-os a oferecer novas práticas corporais e experiências pedagógicas. (Jaco, e Altmann, 2017; Catabriga et al., 2022)

 

    Segundo pesquisas (Silva, 2021; Reis et al., 2018), os comportamentos de risco relacionados à saúde tendem a se agrupar entre os adolescentes brasileiros e estão associados a características do contexto familiar. Neste contexto, as informações obtidas em estudos de associações com dados PeNSE desempenham um papel crucial para estratégias de estímulos ao comportamentos ativos em jovens na escola, reduzindo o comportamento sedentário (Couto et al., 2020; Ferreira et al., 2022; Souza et al., 2022; Monteiro et al., 2020; Silva et al., 2020; Condessa et al., 2019; Ferreira et al., 2018; Leal et al., 2019; Ferreira, e Andrade, 2021; Hallal et al., 2010; Gomes et al., 2022). As relações entre a inatividade física, a não participação em aulas, a importância de deslocar-se para a escola de maneira ativa e a realização de práticas corporais extracurriculares devem ser destacadas em debates sobre a promoção da saúde escolar e na EFE (WHO, 2022). Dessa forma, reflexões críticas que transcendem o mero movimento e a preocupação com o desenvolvimento de habilidades motoras, muitas vezes associadas à culpa pelo não praticante, devem visar também competências e habilidades voltadas para a saúde, embasadas em abordagens críticas.

 

    Além disso, estabelecer relações entre práticas corporais, atividades laborais e promoção da saúde implica discussões institucionais sobre a rotina de poucas aulas semanais estabelecidas pelo currículo escolar, aumento da adesão às aulas e na possibilidade da escola oferecer diversas práticas corporais por meio de atividades extracurriculares (Mantovani, Maldonado, e Freire, 2021; WHO, 2022). Nessa esteira, ressalta-se a importância do acompanhamento dos comportamentos dos escolares brasileiros, uma vez que a exposição aos fatores de risco ainda na infância pode aumentar as chances de desenvolver algum tipo de doença crônica não transmissível na vida adulta. (Ferreira, 2023)

 

    A promoção de experiências positivas com as práticas corporais pode favorecer a autonomia para sua realização em contextos de lazer e saúde, ampliando as redes de sociabilidade. Tal atitude auxilia no empoderamento para ações relacionadas à saúde, tanto individualmente quanto em grupo, promovendo o protagonismo comunitário, conforme destacado pela BNCC nas dimensões do conhecimento de Educação Física e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no diálogo sobre Promoção da Atividade Física na Escola. (Brasil, 2018; WHO, 2022)

 

    A variável imagem corporal, investigada na PeNSE, revela diversas conexões com as competências e habilidades identificadas na BNCC. Gomes et al. (2021), utilizando dados da PeNSE, destacaram que a prática de atividade física está associada a uma maior satisfação corporal, enquanto atividades sedentárias apresentam associação negativa. Esta informação, somada ao que a literatura retrata, é relevante para o profissional de educação física em sua práxis com adolescentes. Práticas corporais que buscam atender padrões estéticos determinados pela mídia, práticas excessivas e o uso de substâncias para melhoria do desempenho devem ser questionados, uma vez que nem sempre estão alinhados com a promoção da saúde (Fonseca Junior, Oliveira, e Pierucci, 2014). A literatura menciona, ainda, a busca por corpos musculosos e atléticos na adolescência e em jovens, em geral, influenciada por padrões estéticos sociais, e ressalta os riscos para a saúde mental quando não se enquadram nesses estereótipos. (Fonseca Junior, Oliveira, e Pierucci, 2014; Gama, 2021; Gama et al., 2022; Segura et al., 2015)

 

    De acordo com Dessbesell, e Fraga (2020), o exercício físico, caracterizado por atividades planejadas e regulares com objetivos estéticos e/ou de melhoria da aptidão física e saúde, tem se popularizado, inclusive em camadas sociais mais populares, por meio de academias de ginástica. Essas práticas são consideradas parte da cultura corporal, integrada à unidade temática "ginásticas" da BNCC, sendo reconhecidas como influentes no processo saúde-doença na contemporaneidade. No entanto, esses autores ressaltam as críticas ao movimento fitness por parte de pensadores que advogam por uma educação física mais alinhada às pedagogias críticas. A compreensão de como realizar o exercício físico de maneira saudável no tempo de lazer, em busca de saúde em vez de seguir padrões estéticos, assim como o uso de espaços públicos comunitários e a defesa de políticas públicas de lazer, são considerados aspectos importantes. Esses elementos devem complementar propostas pedagógicas de promoção da saúde, configurando uma abordagem de ensino que se relaciona com as descobertas da PeNSE, estabelecendo conexões com a BNCC e fundamentando-se em perspectivas críticas. (Dessbesell, e Fraga, 2020)

 

    Na unidade temática "ginásticas" da BNCC, é possível identificar a proximidade dos objetos de conhecimento, como a "ginástica de condicionamento e consciência corporal", com práticas voltadas para o exercício físico e atividade física destinadas à saúde e qualidade de vida. Um exemplo desse enfoque é evidenciado no trabalho de Testa (2022), que utilizou a ginástica de condicionamento físico apoiada por tecnologias para promover a "educação para o lazer ativo" durante a pandemia, visando a melhoria da qualidade de vida por meio de um estilo de vida mais ativo.

 

    O sobrepeso, a obesidade e hábitos alimentares inadequados, frequentemente discutidos no ambiente escolar em propostas interdisciplinares, apresentaram relações com a inatividade física e comportamento sedentário, conforme evidenciado em estudos com dados da PeNSE (Lourenço et al., 2021; Monteiro et al., 2020; Leal et al., 2019). Características específicas da alimentação dos escolares, não alinhadas com a saúde, foram outras identificações nas pesquisas específicas (Matias et al., 2018; Costa et al., 2018; Camelo et al., 2012; Monteiro et al. 2020; Leal et al., 2019), assim como aumento do tempo de tela, outro comportamento inadequado da sociedade contemporânea. (Malta et al., 2014)

 

    Esses resultados destacam a importância de reconhecer essas informações e relacioná-las ao comportamento dos jovens no ambiente escolar em que o docente atua, visando planejar propostas pedagógicas. Em escolas públicas, informações sobre a importância da merenda escolar oferecida e suas relações com uma alimentação mais saudável, conforme destacado no estudo de Souza et al. (2022) com dados da PeNSE, por exemplo, devem ser exploradas. A compreensão do consumo inadequado de suplementos alimentares e o uso de medicamentos para aumento de desempenho são temas do cotidiano dos jovens que podem ser esclarecidos em discussões adicionais às unidades temáticas. Em geral, motivar, dialogar e construir coletivamente comportamentos saudáveis e normas de convívio são estratégias importantes e continuam sendo grandes desafios para este componente pedagógico em tempos de BNCC.

 

Conclusões 

 

    A BNCC apresenta contextos críticos ao longo de suas competências e habilidades, exigindo a integração de conceitos biológicos para uma compreensão mais aprofundada e efetiva consecução dos objetivos procedimentais e atitudinais relacionados à promoção da saúde. Os estudos epidemiológicos realizados com dados da PeNSE fornecem informações relevantes sobre a saúde dos adolescentes, as quais devem ser conhecidas, debatidas e refletidas pelos docentes de Educação Física, para que sejam capazes de vencer o desafio de propor novas abordagens para a promoção da saúde na EFE e contemplar habilidades, competências e dimensões de ensino a partir das unidades temáticas e objetos de conhecimento propostos pela BNCC.

 

    A não participação em aulas por um número significativo de alunos deve ser amplamente discutida no contexto da EFE, considerando fatores como questões raciais, socioeconômicas, de gênero, insatisfação com o corpo, sobrepeso, obesidade, comportamentais e culturais. Recomenda-se a oferta de práticas corporais extracurriculares pela escola, além das atividades curriculares, de modo a promover a autonomia e o protagonismo dos estudantes na adoção de uma atividade física contínua no convívio diário e durante o lazer, com o intuito de alcançar um estilo de vida mais saudável. O estudo ratifica o estímulo à produção científica e a criação de produtos educacionais que favoreçam uma maior participação e engajamento nas aulas. A formação continuada também se revela essencial para capacitar a EFE a desenvolver unidades temáticas, objetos de conhecimento, habilidades e competências propostas pela BNCC, especialmente no que tange à saúde, abordando-a de forma mais ampla, dialógica e crítica. É imperativo que as discussões e pesquisas no campo da EFE sejam fortalecidas, propiciando o surgimento de novas estratégias e metodologias para enfrentar os desafios contemporâneos e contribuir efetivamente para o bem-estar dos estudantes e da sociedade em geral.

 

Referencias 

 

Araújo, B.G., Tassitano, R.M., Dias, M., e Tenório, M.C. (2019). Participação de adolescentes brasileiros nas aulas de educação física escolar: revisão sistemática. Pensar a Prática, 22, 53618. https://doi.org/10.5216/rpp.v22.53618

 

Brasil (1997). Parâmetros Curriculares Nacionais. Secretaria de Educação Fundamental. Ministério da Educação e do Desporto. http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf

 

Brasil (2018). Base Nacional Comum Curricular.Ministério da Educação.  MEC. http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase

 

Camelo, L. do V., Rodrigues, J.F. de C., Giatti, L., e Barreto, S.M. (2012). Lazer sedentário e consumo de alimentos entre adolescentes brasileiros: Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), 2009. Cad. Saúde Pública, 28(11), 2155-2162. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2012001100015

 

Catabriga, L.M., Alves, C.M., Reis, L.C. dos, Anversa, A.L., e Souza, V. de F.M. de (2022). Da aplicabilidade à ação interventiva da BNCC da educação física escolar: em pauta o tema saúde. Research, Society and Development, 11(3), e35411326568. http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i3.26568

 

Coledam, D.H.C., Ferraiol, P.F., Pires Junior, R., dos-Santos, J.W., e Oliveira, A.R. de (2014). Prática esportiva e participação nas aulas de educação física: fatores associados em estudantes de Londrina, Paraná, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 30(3), 533-545. https://doi.org/10.1590/0102-311X00087413

 

Condessa, L.A., Chaves, O.C., Silva. F.M., Malta, D.C., e Caiaffa, W.T. (2019). Sociocultural factors related to the physical activity in boys and girls: PeNSE 2012. Rev. de Saúde Pública, 53. https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2019053000516

 

Couto, J. de O., Araujo, R.H.O., Silva, C.C.M. da, Soares, N.M.M., Santos, A.E. dos, e Silva, R.J. dos S. (2020). Qual a contribuição de cada domínio da atividade física para a atividade física total em adolescentes. Rev. Bras. Cineantropometria Desempenho humano, 22, e70170. https://doi.org/10.1590/1980-0037.2020v22e70170

 

Costa, C. dos S., Flores, T.R., Wendt, A., Neves. R.G., Assunção, M.C.F., e Santos, I.S. (2018). Comportamento Sedentário e consumo de alimentos ultraprocessados entre adolescentes brasileiros: Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), 2015. Cad. de Saúde Pública, 34(3), e00021017. https://doi.org/10.1590/0102-311X00021017

 

Dessbesell, G., e Fraga, A.B. (2020). Exercícios físicos na Base Nacional Comum Curricular: Um estranho no nicho da cultura corporal do movimento. Movimento (Porto Alegre), 26, e26007. https://doi.org/10.22456/1982-8918.92736

 

Darido, S.C. (2003). Educação Física na Escola: questões e reflexões. Editorial Guanabara Koogan.

 

Ferreira, C., e Andrade, F.B. (2021). Desigualdades socioeconômicas associadas ao excesso de peso e sedentarismo em adolescentes brasileiros. Cien. Saúde Coletiva, 26(3), 1095-1104. https://doi.org/10.1590/1413-81232021263.09022019

 

Ferreira, A., Silva, A.G. da, Gomes, C.S., e Malta, D.C. (2023). Associação do trabalho infantil com fatores de risco e proteção para doenças crônicas não transmissíveis em escolares brasileiros: Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2015. Ver. Bras. Epidemiol., 26(supl.1), e230012. https://doi.org/10.1590/1980-549720230012.supl.1.1

 

Ferreira, ACM, Silva, AG, Sá, ACMGN, Oliveira, PPV, Felisbino-Mendes, MS, Pereira, CA, e Malta, DC (2022). Fatores de risco e proteção para as doenças crônicas não transmissíveis entre escolares brasileiros: pesquisa nacional de saúde do escolar 2015 e 2019. REME - Rev. Min. Enferm., 26, e1451. https://doi.org/10.35699/2316-9389.2022.38620

 

Ferreira, R.W., Ramirez, A., Monteiro, L.Z., e Häfele, C.A. (2018). Desigualdades Sociodemográficas na prática de atividade física de lazer e deslocamento ativo para a escola em adolescentes: Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2009, 2012 e 2015). Cad. Saúde Pública, 34(4), e00037917. https://doi.org/10.1590/0102-311X00037917

 

Fonseca-Júnior, S.J., Oliveira, A., e Pierucci, A.P.T. (2014). Dismorfia muscular em homens não atletas praticantes de treinamento resistido: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, 8(43), 52-57. http://www.rbne.com.br/index.php/rbne/article/view/420

 

Galahue, D., e Ozmun, J. (2005). Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. Phorte Editora.

 

Galindo, V.A., e Tenório, J.G. (2019). Atividade física de aventura na natureza (AFAN) nas aulas de educação física do ensino fundamental 1: uma perspectiva cultural. Rev. Salusvita (Online), 38(4), 1019-1038. https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1117723

 

Gama, C.O. (2021). Insatisfação corporal de universitários no Brasil: Conceitos e evidências empíricas [Tese, Doutorado em Epidemiologia em Saúde Pública. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz]. https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/49505

 

Gama, CO, Gama, GO, Pires, VNL, Cupolillo, AV, Fonseca Júnior, SJ, Braga, JU, e Maciel, EMGS (2022). Conceptos y reflexiones sobre la evaluación de la insatisfacción corporal en Brasil. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(287), 160-179. https://doi.org/10.46642/efd.v27i287.3084

 

Gil, A.C. (2002). Como elaborar projetos de pesquisas (4ª ed.). Editora Atlas.

 

Gomes, T., Thuany, M., Santos, F.K. dos, Rosemann, T., e Knetchtle, B. (2022). Physical (in)activity, and its predictors, among Brazilian adolescents: a multilevel analysis. BMC Public Health, 22(1), 219. https://doi.org/10.1186/s12889-021-12336-w

 

Gomes, M.L.B., Tornquist, L., Tornquist, D., e Caputo, E.L. (2021). Body image is associated with leisure-time physical activity and sedentary behavior in adolescent: data from the Brazilian National School-based Health Survey (PeNSE 2015). Braz. J. Psychiatry, 43(6), 584-589. https://doi.org/10.1590/1516-4446-2020-1515

 

Hallal, P.C. (2010). Prática de atividade física em adolescentes brasileiros. Ciênc. Saúde Coletiva (Impr.), 15(Supl.2), 3035-3042. https://doi.org/10.1590/S1413-81232010000800008

 

Jaco, J.F., e Altmann, H. (2017). Significados e expectativas de gênero: olhares sobre a participação nas aulas de educação física. Educação em Foco, 22(1). https://doi.org/10.22195/2447-524620172219899

 

Karppanen, A., Hurtig, T., Miettunen, J., Niemelä, M., Tammelin, T., e Korpelainen, R. (2021). Infant motor development and physical activity and sedentary time at midlife. Scand. J. Med. Sci. Sports, 31(7), 1450-1460. https://doi.org/10.1111/sms.13954

 

Knuth, A.G., e Loch, M.R. (2014). “Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa”? Um ensaio sobre a educação física e a saúde na escola. Rev. Bras. Ativ. Fis. e Saúde, 19(4), 429-440. https://doi.org/10.12820/rbafs.v.19n4p429

 

Kremer, M.M., Reichert, F.F., e Hallal, P.C. (2012). Intensidade e duração dos esforços físicos em aulas de Educação Física. Revista de Saúde Pública, 46(2), 320-326. https://doi.org/10.1590/S0034-89102012005000014

 

Leal, M.A., Lima, C.E.B. de, Mascarenhas, M.D.M., Rodrigues, M.T.P., Paiva, S.S.C. de, Sousa, C.R. de O. (2019). Associações entre fatores sociodemográficos e comportamentos de risco à saúde cardiovascular de adolescentes brasileiros com 13 a 17 anos: dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2015. Epidemiol. Serv. Saúde, 28(3), e2018315. https://doi.org/10.5123/S1679-49742019000300008

 

Lourenço, C. L. M., Christofoletti, M., Malta, D.C., e Mendes, E.L. (2021). Associação entre tempo excessivo frente à TV e índice de massa corporal em adolescentes brasileiros: uma análise de regressão quantílica da PeNSE, 2015. Cien. Saúde Colet., 26(11), 5817-5828. https://doi.org/10.1590/1413-812320212611.28352020

 

Malta, Dc, Andreazzi, MAR, Oliveira-Campos, M., Andrade, SSCA, Sá, NNB, Moura, L. Dias, AJR, Crespo, CD, e Silva Júnior, JB (2014). Tendência dos fatores de risco e proteção de doenças crônicas não transmissíveis em adolescentes, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2009 e 2012). Rev. Bras. Epidemiol., 17(supl.1), 77-91. https://doi.org/10.1590/1809-4503201400050007

 

Mantovani, T.V.L., Maldonado, D.I., e Freire, E.S. (2021). A relação entre a saúde e educação física escolar: uma revisão integrativa. Movimento (Porto Alegre), 27, e27003. https://doi.org/10.22456/1982-8918.106792

 

Martins, M.Z., Vasquez, V.L., e Mion, M.P.L. (2022). Associações entre gênero, classe e raça e participação nas aulas de Educação Física. Rev. Bras. Ativ. Fís. Saúde, 27, 1-8. https://doi.org/10.12820/rbafs.27e0285

 

Matias, T.S. (2018). Clustering of diet, physical activity, and sedentary behavior among Brazilian adolescents in the national school - based health survey (PeNSE 2015). BMC Public Health, 18(1), 1283. https://doi.org/10.1186/s12889-018-6203-1

 

Milani, A.G., e Darido, S. (2016). Os conteúdos atitudinais no currículo de Educação Física do estado de São Paulo. Pensar a Prática, 19(2). https://doi.org/10.5216/rpp.v19i2.33201

 

Ministério da Saúde (s.d.). Assuntos/Saúde de A a Z. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar - PeNSE. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/p/pense

 

Monteiro, L., Varela, A.R., Souza, P., Maniçoba, A.C., e Braga Junior, F. (2020). Hábitos alimentares, atividade física e comportamento sedentário entre escolares brasileiros: Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, 2015. Rev. Bras. Epidemiol, 23(e200034). https://doi.org/10.1590/1980-549720200034

 

Narduchi, F., e Struchini, M. (2023). Educação Física e Saúde na Escola Pública. Uma Revisão Sistemática da Literatura. Movimento (Porto Alegre), 29, e29020. https://doi.org/10.22456/1982-8918.128492

 

Neira, M. (2018). Incoerências e inconsistências da BNCC de educação física. Rev. Bras. Ciênc. Esporte, 40(3), 215-223. https://doi.org/10.1016/j.rbce.2018.04.001

 

Oliveira, M.M. de, Campos, M.O., Andreazzi, M.A.R. de, e Malta, D.C. (2017). Características da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar - PeNSE. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 26(3), 605-616. https://dx.doi.org/10.5123/s1679-49742017000300017

 

Oliveira-Campos, M., Oliveira, MM, Silva, SU, Santos, MAS, Barufaldi, LA, Oliveira, PPV, Andrade, SCA, Andreazzi, MAR, Moura, L., Malta, DC, e Souza, MFM (2018). Fatores de risco e proteção para as doenças crônicas não transmissíveis em adolescentes nas capitais brasileiras. Revista Brasileira de Epidemiologia, 21, e180002. https://doi.org/10.1590/1980-549720180002.supl.1

 

Reis, A.A.C. dos, Malta, D.C., e Furtado, L.A.C. (2018). Challenges for public policies aimed at adolescence and youth based on the National Scholar Health Survey (PeNSE). Cien. Saúde Colet., 23(9), 2879-2890. https://doi.org/10.1590/1413-81232018239.14432018

 

Santos, JP, Mendonça, JG, Barba, CH, Carvalho Filho, J., Bernaldino, ES, Farias, ES, e Souza, OF (2019). Factors associated with non-participation in education classes school physics in adolescents. J. Phys. Educ., 30, e3028. https://doi.org/10.4025/jphyseduc.v30i1.3028

 

Segura, A.M., Castell, E.C., Baeza, M.M., e Guillén, V. (2015). Valoración de la dieta de usuarios de sala de musculación con dismorfia muscular (vigorexia). Nutr. Hosp.,32(1), 324-329. https://dx.doi.org/10.3305/nh.2015.32.1.8922

 

Silva, M.J., Schraiber, L.B., e Mota, A. (2019). O conceito de saúde na saúde coletiva: contribuições a partir da crítica social e histórica da produção científica. Physis: Revista de Saúde Coletiva, 29(1), 1-23. https://doi.org/10.1590/S0103-73312019290102

 

Silva, R., Andrade, A.C. de S., Caiaffa, W.T., Medeiros, D.S. de, e Bezerra, V.M (2020). National Adolescent School-based Heath Survey - PeNSE 2015: Sedentary behavior and its correlates. PLoS One, 15(1), e0228373. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0228373

 

Silva, R.M.A., Andrade, A.C. de S., Caiaffa, W.T., e Bezerra, V.M. (2021). Coexistência de comportamentos de risco à saúde e o contexto familiar entre adolescentes brasileiros, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (2015). Revista Brasileira de Epidemiologia, 24, e210023. https://doi.org/10.1590/1980-549720210023

 

Soares, C.A., e Hallal, P. (2015). Interdependência entre a participação em aulas de Educação física e níveis de atividade física de jovens brasileiros: estudo ecológico. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde, 20(6). https://doi.org/10.12820/rbafs.v.20n6p588

 

Souza, L.B.O., Azevedo, A.B.C. de, Bandoni, D.H., e Canella, D.S. (2022). Characteristics of Brazilian school food and physical activity environments: PeNSE 2015. Rev. Saúde Pública, 55(115). https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055003377

 

Tenório, J.G., e Silva, C.L. da (2020). Experiência pedagógica em aulas de educação física a partir dos jogos esportivos coletivos no ensino médio. Rev. Bras. Ciênc. Mov., 28(1), 1-23. https://doi.org/10.31501/rbcm.v28i1.9066

 

Testa, W.L. (2022). Educação para o Lazer e Promoção da Saúde por Meio da Ginástica de Condicionamento Físico: Reflexão Metodológica de uma Intervenção Durante a Pandemia do Covid-19. LICERE - Revista Do Programa De Pós-graduação Interdisciplinar Em Estudos Do Lazer, 25(1), 502-532. https://doi.org/10.35699/2447-6218.2022.39117

 

WHO (2022). Promoting physical activity through schools: policy brief. World Health Organization. https://www.who.int/publications/i/item/9789240049567

 

Yu, J.J., Capio, C.M., Abernethy, B., e Sit, C.H.P. (2021). Moderate-to-vigorous physical activity and sedentary behavior in children with and without developmental coordination disorder: Associations with fundamental movement skills. Res. Cev. Disbil, 118, 104070. https://doi.org/10.1016/j.ridd.2021.104070


Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 312, May. (2024)