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ISSN 1514-3465

 

Motivação em praticantes de exercício físico

em uma academia de Campo Grande/MS

Motivation in Physical Exercise Practitioners at a Gym in Campo Grande/MS

Motivación en practicantes de ejercicio físico en un gimnasio de Campo Grande/MS

 

Alex Nogueira Rodrigues

alexnogueirarod@gmail.com

 

Graduado em Educação Física

pela Universidade Católica Dom Bosco

Atualmente é faixa preta - Rezek Jiu Jitsu

(Brasil)

 

Recepção: 09/11/2023 - Aceitação: 25/01/2024

1ª Revisão: 15/01/2024 - 2ª Revisão: 22/01/2024

 

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Citação sugerida: Rodrigues, A.N. (2024). Motivação em praticantes de exercício físico em uma academia. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(309), 56-68. https://doi.org/10.46642/efd.v28i309.7327

 

Resumo

    O objetivo deste estudo foi verificar os fatores motivacionais dos praticantes de exercícios físicos em uma academia da cidade de Campo Grande/MS. A amostra foi composta por 30% dos clientes (n=35) regularmente ativos. A média de idade dos homens foi de 30,09 e das mulheres foi de 33,93 anos. Foi aplicado o Inventário de Motivação à Prática Regular de Atividade Física IMPRAF-54. Os participantes do estudo, de ambos os sexos, apresentaram percepções semelhantes quanto a sua motivação para prática de exercício físico em academia. As dimensões que motivam os indivíduos são respectivamente a saúde (40,00±5,21), prazer (38,96±5,28), estética (34,56±9,58), o controle de estresse (26,36±9,69), sociabilidade (26,08±10,93) e competitividade (14,68±7,61). O presente estudo identificou que a saúde, prazer e estética foram fatores responsáveis pela permanência de homens e mulheres no programa de atividade física. Embora sociabilidade, competitividade e controle de estresse não tenham se classificado como uma das primeiras posições ele nos mostrou que em um percentual também é responsável pela permanência desses alunos na academia.

    Unitermos: Exercício físico. Motivação. Academia.

 

Abstract

    The aim of this study was to verify the motivational factors of physical exercise practitioners at a gym in the city of Campo Grande/MS. The sample consisted of 30% of regularly active clients (n=35). The average age of the men was 30.09 and the average age of the women was 33.93. The IMPRAF-54 Inventory of Motivation for Regular Physical Activity was used. The study participants, of both sexes, had similar perceptions of their motivation to exercise in gyms. The dimensions that motivate individuals are respectively health (40.00±5.21), pleasure (38.96±5.28), aesthetics (34.56±9.58), stress control (26.36±9.69), sociability (26.08±10.93) and competitiveness (14.68±7.61). This study found that health, pleasure and aesthetics were factors responsible for men and women staying in the physical activity program. Although sociability, competitiveness and stress control were not ranked in the top positions, it showed that a percentage of them are also responsible for these students staying at the gym.

    Keywords: Physical exercise. Motivation. Gym.

 

Resumen

    El objetivo de este estudio fue verificar los factores motivacionales de los practicantes de ejercicio físico en un gimnasio de la ciudad de Campo Grande/MS. La muestra estuvo compuesta por un 30% de clientes activos habitualmente (n=35). La edad media de los hombres fue de 30,09 años y la de las mujeres de 33,93 años. Se aplicó el Inventario de Motivación para la Práctica Regular de Actividad Física IMPRAF-54. Los participantes del estudio, de ambos sexos, presentaron percepciones similares respecto a su motivación para hacer ejercicio en el gimnasio. Las dimensiones que motivan a los individuos son respectivamente salud (40,00±5,21), placer (38,96±5,28), estética (34,56±9,58), control del estrés (26,36±9,69), sociabilidad (26,08±10,93) y competitividad (14,68±7,61). El presente estudio identificó que la salud, el placer y la estética fueron factores responsables de que hombres y mujeres permanecieran en el programa de actividad física. Si bien la sociabilidad, la competitividad y el control del estrés no figuraron entre las primeras posiciones, nos mostró que un porcentaje también es responsable de que estos estudiantes permanezcan en el gimnasio.

    Palabras clave: Ejercicio físico. Motivación. Gimnasio.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 309, Feb. (2024)


 

Introdução 

 

    No Brasil, aproximadamente 300 mil pessoas morrem anualmente devido a doenças crônicas relacionadas ao sedentarismo, tornando-se um grave problema de saúde pública (Ministério da Saúde, 2021). A importância da atividade física é destacada, com a recomendação de 75 minutos de atividade intensa ou 150 minutos de atividade moderada por semana. A adoção de hábitos saudáveis é considerada um fenômeno universal e social com impactos físicos e psicossociais (Moscoso-Loaiza, e Díaz-Heredia, 2018). Profissionais de saúde buscam conscientizar a população sobre a prática de atividade física como medida preventiva primária. (Silva et al., 2023)

 

    O exercício físico é definido como movimentos planejados para melhorar o condicionamento físico e a qualidade de vida (Menezes et al., 2021). Em um contexto moderno, esportes e exercícios ganham importância na prevenção e melhoria dos padrões fisiológicos. (Dominski et al., 2020)

 

    As academias são uma opção conveniente para a prática de exercícios, oferecendo praticidade e uma variedade de modalidades (Ministério da Saúde, 2021). No entanto, a manutenção da frequência é um desafio, com a rotatividade de alunos sendo um problema crescente (Dominski et al., 2020). Desde seu surgimento, as academias têm atraído diversos públicos, exigindo dos profissionais de Educação Física conhecimentos que vão além dos aspectos físicos e biológicos do movimento humano. (Marcellino, 2003)

 

    Estudos sobre fatores motivacionais indicam que a motivação para frequentar academias varia de acordo com o tempo de prática, associando-se ao prazer e bem-estar para praticantes mais experientes, enquanto iniciantes buscam a estética, podendo também estar ligados à depressão e baixa autoestima (Balbinotti, e Capozzoli, 2008). A imagem corporal não é um preditor direto da prática de exercícios. (Macedo et al., 2023)

 

    Diante disso, o estudo propõe investigar os motivos que influenciam a adesão e aderência de praticantes de exercícios em uma academia de Campo Grande/MS, buscando compreender os pontos positivos e negativos relacionados aos objetivos dos alunos.

 

Motivação 

 

    A motivação, impulsionando o indivíduo em direção a objetivos, pode ser intrínseca ou extrínseca (Wyse, 2018). Samulski (2009) destaca a importância da motivação na liderança, influenciando o envolvimento e a qualidade das ações. A motivação intrínseca está ligada à compensação psicológica, como reconhecimento e satisfação, enquanto a extrínseca envolve recompensas externas. (Canuto, 2018)

 

    No Brasil, a falta de uma rotina saudável de exercícios persiste devido à falta de motivação adequada (Almeida, 2023). Apesar dos benefícios evidentes, a adesão à recomendação de 150 a 300 minutos de atividade aeróbica por semana é baixa (OPAS, 2021). O exercício físico regular é vital para prevenir várias doenças, mas a falta de atividade contribui para milhões de mortes anuais. (OPAS, 2020)

 

    As academias, como ambientes promotores de mudança comportamental, têm alta taxa de evasão, aproximadamente 70% (Liz, e Andrade, 2016). Estudar a motivação humana permite entender e prever o comportamento, mas a aderência a longo prazo é desafiadora (Martins et al., 2018; Malavasi, e Both, 2005). A motivação para a prática de exercícios muitas vezes está relacionada à percepção da imagem pessoal (Marcelino, 2003), com fatores intrínsecos como o prazer na atividade sendo determinantes.

 

Teoria da Autodeterminação (TAD) e o exercício físico 

 

    A Teoria da Autodeterminação (TAD) de Ryan, e Deci (2000) destaca que as motivações, tanto intrínsecas quanto extrínsecas, resultam da interação entre o indivíduo e o ambiente. A motivação intrínseca ocorre quando alguém inicia uma atividade por prazer e satisfação, podendo ser influenciada por outros, como professores/treinadores. Estes desempenham um papel crucial na criação de um clima favorável para a motivação intrínseca. Já a motivação extrínseca varia em grau de autonomia, incluindo a regulação externa (comportamento regulado por premiações ou medo de críticas sociais), a regulação interiorizada (comportamento regulado por pressões internas como culpa) e a regulação identificada (realização de tarefas consideradas importantes, mesmo que não sejam do interesse direto do indivíduo). (Ryan, e Deci, 2000; Guimarães, e Boruchovitch, 2004)

 

    Sob a teoria de Ryan, e Deci (2000), pode-se agora dissertar com um pouco mais de ênfase, como funcionam os princípios da motivação intrínseca e extrínseca com relação ao indivíduo e a ação a ser realizada. O que se pode ser dito de antemão é que, é bastante comum ocorrer o erro de estabelecer que a motivação intrínseca seja apenas “interna” e da vontade do indivíduo, pois é muito explícito que as motivações, quaisquer sejam elas, funcionam a partir de uma interação entre indivíduo e ambiente, cuja relação é altamente determinante.

 

    Quando o indivíduo inicia uma atividade por vontade própria, por prazer e satisfação do processo de conhecê-la, explorá-la, aprofundá-la, pode-se dizer que ele está sendo motivado intrinsecamente, entretanto, ela pode ser influenciada pela ação de outras pessoas, sobretudo os professore/treinadores (Guimarães, e Boruchovitch, 2004). Uma vez que o professor é o principal agente transformador do clima no ambiente da prática da atividade física, este pode atuar favorecendo um clima agradável ou não para o desenvolvimento das atividades. Já a motivação extrínseca acontece quando uma atividade é efetuada com outro objetivo que não o inerente à pessoa. Porém, estes motivos podem variar em relação ao seu grau de autonomia, criando, basicamente, três categorias desta motivação: a) aquela de regulação externa: quando o comportamento é regulado por premiações materiais ou medo de implicações negativas, como críticas sociais (observa-se, por exemplo, no âmbito esportivo quando o treinador impõe penas aos atletas, quando não atingirem as tarefas propostas); b) aquela de regulação interiorizada: quando o comportamento é regulado por uma fonte de motivação que, embora inicialmente externa, é internalizada, como comportamentos reforçados por pressões internas como a culpa, ou como a necessidade de ser aceito (este comportamento pode ser visto quando alguém realiza uma atividade por “desencargo de consciência”); c) aquela de regulação identificada: quando o indivíduo realiza uma tarefa (ou comportamento), a qual não lhe é permitida a escolha; uma atividade que é considerada como importante de ser realizada, mesmo que não lhe seja interessante. Este tipo de comportamento é visualizado, por exemplo, no diálogo de um atleta que diz que aulas de alongamento são importantes porque seu treinador disse, e mesmo não gostando de executar ele o realiza. (Ryan, e Deci, 2000)

 

Figura 1. Taxonomia da Motivação

Figura 1. Taxonomia da Motivação

Fonte: Ryan, e Deci (2000)

 

    Em sua pesquisa, Ryan, e Deci (2000) ainda citam a motivação, que seria a construção motivacional apreendida em indivíduos que ainda não estão adequadamente aptos a identificar um bom motivo para realizar alguma atividade física.

 

    Segundo estes indivíduos, a atividade ou não lhes trará nenhum benefício, ou eles não conseguirão realizá-la de modo satisfatório, a partir do seu próprio ponto de vista. Neste amplo espectro de informações, fatores ainda alheios podem interferir sobre o grau de motivação de um indivíduo. Contudo não se deve ater-se somente a esta premissa já que a amplitude de determinação depende unicamente de uma variável: o próprio indivíduo. Desta forma, acredita-se que os motivos que levam uma pessoa a iniciar em um programa de atividade física em determinada academia variam demasiadamente. (Lima, e Takase, 2012)

 

    Saber o que leva o indivíduo a buscar alguma atividade física e manter continuidade é fundamental para mantê-lo ativo, desse modo a formas saber sobre a aderência e uma maior continuidade de prática de exercícios nas academias é por meio da identificação dos motivos que os indivíduos atribuem a essa prática. Em vista do exposto, o objetivo do presente estudo foi investigar os motivos de adesão e desistência da musculação em academia.

 

Metodologia 

 

    Esta pesquisa foi caracterizada como do tipo descritiva, visto que teve por objetivo observar, identificar, analisar e correlacionar fatos ou fenômenos sem manipulá-los, a sua natureza. Foi realizada de acordo com os critérios da análise qualitativa, na qual os dados foram tabulados, e apresentados em valores percentuais. Também tem característica exploratória, a pesquisa exploratória tem por finalidade proporcionar ao pesquisador um maior grau de conhecimento sobre a temática ou problema de pesquisa em perspectiva. (Mattar, 1996)

 

    O primeiro passo deste estudo foi identificar os significados dos dados colhidos e depois traduzi-los em números. Pode-se considerar tal pesquisa como transversal, já que os alunos não foram acompanhados por um determinado tempo, colhendo apenas as suas percepções momentâneas sobre o tema. Na pesquisa transversal só é coletado os dados em um único momento, tendo como objetivo descrever o tema e analisar sua incidência e inter-relação naquele momento. (Sampieri, 2006)

 

    Foi escolhida a academia do Círculo Militar como local da pesquisa, o Círculo Militar-CMCG, sendo uma associação civil sem fins lucrativos, com duração ilimitada e com personalidade jurídica de direito privado, regida pelas leis vigentes no país e pelo estatuto social, elaborado de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo comando do exército. O clube tem como objetivo permitir o estreitamento dos laços de camaradagem, o desenvolvimento do espírito social militar e a integração social entre militares e civis.

 

    Juntamente com a musculação, o clube oferece aulas de Jump, Fit Dance, Step e Circuito Funcional (que é trabalhado o HIIT e Gap). A área da academia com uma estrutura não muito ampla porem com qualidade, com aparelhos e materiais necessários para seus devidos treinamento.

 

    A academia está atendendo atualmente um número de 100 clientes inscritos e frequentes nas diversas modalidades oferecidas, com uma faixa etária bem ampla, com uma variante entre 16 a 60 anos.

 

    Inicialmente, e para se poder realizar a pesquisa dentro das próprias academias, foram contatados os responsáveis, onde requereu-se a permissão de realizá-la dentro de suas instalações. No contato inicial, o pesquisador se identificou, explicou o tema e o objetivo da pesquisa após, os convidados, especificamente aqueles que aceitaram participar, assinaram o termo de consentimentos informado. Por fim, considerando que não era exigida a identificação por nome dos participantes e dados pessoais, os praticantes foram assegurados da confidencialidade de suas respostas.Como o propósito foi descrevera valoração que o participante atribui ao objeto de consulta, a pesquisa não precisou passar pelo conselho de ética de pesquisa (CEP). Os dados foram coletados pelo pesquisador durante 4 semanas, conforme disponibilizado pelo corpo de clientes academia. Como a pesquisa delimita uma população que é caracterizada como praticantes ativos, foram adotados critérios de inclusão para que os indivíduos fossem então analisados. Os critérios estipulados para esta pesquisa foram:

  • Ter uma frequência de no mínimo 1 mês na academia.

  • Ter idade mínima de 18 anos.

  • Ter uma prática frequente de pelo menos 3 vezes semanais em atividade de no mínimo 40 minutos.

    Assim a presente pesquisa foi composta por clientes de ambos os sexos, que se encaixaram nos critérios de inclusão e aceitaram participar voluntariamente da pesquisa. De um total de 82 clientes optou-se por 30% sendo 11 homens e 24 mulheres, fechando um número total de 35 clientes regularmente matriculados e ativos na atividade da academia.

 

    O instrumento utilizado nesta pesquisa foi o Inventário de Motivação à Prática Regular de Atividades Físicas IMPRAF-54 (Barbosa, e Balbinotti, 2006); foram avaliados seis fatores motivacionais associados à prática regular de atividade física no local: Controle de Estresse, Saúde, Sociabilidade, Competitividade, Estética e Prazer.

 

    As respostas do IMPRAF-54 foram dadas conforme uma escala de tipo Likert, bidirecional graduada em 5 pontos, partindo de “isto me motiva pouquíssimo” (1) a “isto me motiva muitíssimo” (5). Os dados foram observados e tido em consideração as dimensões envolvidas no questionário. Depois foi realizado uma análise baseada na classificação entre as respostas, para obter um total. Com isso este número resultante foi comparado com uma tabela normativa, proposta por Ryan, e Deci (2000), para classificar por um percentil dentro de cada fator.

 

    Considerou-se o fato de que o questionário possui seis dimensões propostas equilibradas, assim todos os fatores correspondentes pelos autores à motivação à adesão de atividade física se encontram neles. Com relação a tal aspecto, que nenhum fator em particular é mais privilegiado que outro.

 

Resultados 

 

    A média de idade dos homens foi de 30,09 (±12,57) anos e das mulheres foi de 33,93 (±10,10) anos, sem diferença entre os grupos (p=0,24). Foi aplicado o teste Mann-Whitney, onde o propósito foi: saber se uma população tende a ter valores maiores do que a outra, ou se elas têm a mesma mediana. Os participantes de ambos os sexos apresentam percepções semelhantes quanto a sua motivação para prática de atividade física em academia, uma vez que não houve diferença entre as pontuações obtidas entre homens (n=11) e mulheres (n=24) nos seis fatores motivacionais avaliados pelo IMPRAF-54 (p>0,05). Os valores relacionados a cada fator avaliado estão detalhados no Gráfico 1.

 

    Não houve diferença entre homens e mulheres nos fatores analisados pelo IMPRAF-54 as demais análises foram realizadas considerando ambos os grupos conjuntamente.

 

Tabela 1. Classificação da pontuação obtida junto aos 35 praticantes de academia nos seis fatores 

motivacionais no “Inventário de Motivação para a Prática Regular de Atividade Física” (IMPRAF-54)

Classificação

Pontuação IMPRAF-126

Fatores

40,00 ± 5,21

Saúde

38,96 ± 5,28

Prazer

34,56 ± 9,58

Estética

26,36 ± 9,69

Controle de Estresse

26,08 ± 10,93

Sociabilidade

14,68 ± 7,61

Competitividade

Nota: Valores expressos em Média ± desvio padrão da média. Fonte: Dados de pesquisa

 

    A análise foi feita primeiramente pelo teste Kruskal-Wallis (KW), sendo ele um teste não paramétrico utilizado para comparar três ou mais populações. Foi usado para testar a hipótese nula de que todas as populações possuem funções de distribuição iguais contra a hipótese alternativa de que ao menos duas das populações possuem funções de distribuição diferentes, logo após se aplicou os pós teste Dunn onde foram comparados os resultados dos fatores entre si. Assim a análise de variância entre os fatores comparou as pontuações identificando que os mesmos foram pontuados de forma diferente pelos participantes (p=0,001), sendo especificamente o fator ‘saúde’ melhor pontuado que os fatores ‘sociabilidade’ (p<0,001), ‘competitividade’ (p<0,001) e ‘controle de estresse’ (p<0,001). O fator ‘prazer’ foi melhor pontuado que os fatores ‘estresse’ (p<0,01), ‘sociabilidade’ (p<0,01) e ‘competitividade’ (p<0,01), enquanto o fator ‘estética’ foi mais bem pontuado que o fator ‘competitividade’ (p<0,001). Dentre as demais combinações entre fatores não houve diferença (p>0,05). A classificação dos fatores e a respectiva média de pontuação estão representadas na Tabela 1.

 

    De maneira geral, a Saúde foi o principal fator de motivação para a prática de exercício físico apontado pelos clientes. Na sequência, os outros fatores assinalados pelos frequentadores que mais os motivam, para a prática de exercício físico também foram vinculados à motivação intrínseca: Prazer e Estética, já os fatores vinculados ao controle de estresse, Sociabilidade e Competição se posicionaram como atributos de menor grau de motivação colhidos.

 

Gráfico 1. Representação gráfica da pontuação obtida junto aos 35 praticantes de academia nos seis 

fatores motivacionais no “Inventário de Motivação para a Prática Regular de Atividade Física” (IMPRAF-54)

Gráfico 1. Representação gráfica da pontuação obtida junto aos 35 praticantes de academia nos seis fatores motivacionais no “Inventário de Motivação para a Prática Regular de Atividade Física” (IMPRAF-54)

Nota: Valor de p calculado pelo Teste Kruskal-Wallis, seguido do pós teste de Dunn. As colunas 

expressas nas médias e as barras verticais seus respectivos desvios padrão. Fonte: Dados de pesquisa

 

Discussão 

 

    O estudo identificou fatores motivacionais para a prática de exercícios físicos em uma amostra de clientes de academia, visando intervenções motivacionais mais efetivas. Saúde, prazer e estética destacaram-se como motivadores principais, refletindo a conscientização crescente sobre os benefícios da atividade física (Gaudereto et al., 2021). A busca por saúde é frequentemente associada à prática de exercícios, conforme indicam pesquisas (Liz et al., 2009; Rocha et al., 2022). A estética também desempenha um papel significativo, especialmente entre os mais jovens, refletindo a busca por um corpo bonito e definido. (Tahara et al., 2003)

 

    A motivação das pessoas na busca de prazer ao alcançar seus ideais e objetivos é evidenciada na escolha da musculação como fonte de satisfação. Para muitos, a prática da atividade física se torna um meio de sentir-se bem consigo mesmos, contribuindo para seu bem-estar e auto realização. Essa busca por prazer está relacionada à ativação da dopamina, um neurotransmissor essencial para a sensação de recompensa e contentamento, conforme destacado por Otsuzi (2023).

 

    Pesquisas indicam que a preocupação com a saúde aumenta com a idade, motivando idosos a participar de atividades físicas (Silva et al., 2019). Estudos, como o de Teles et al. (2018), destacam a Teoria da Autodeterminação de Ryan, e Deci (2000), enfatizando a interação intrínseca e extrínseca na alteração do comportamento. As pesquisas convergem ao mostrar que fatores intrínsecos, como saúde e prazer, influenciam significativamente a motivação para a prática de exercícios, embora fatores extrínsecos, como o ambiente da academia, também desempenhem um papel importante.

 

Conclusões 

 

    O presente estudo identificou que a saúde, prazer e estética foram fatores responsáveis pela permanência de homens e mulheres no programa de atividade física. Embora sociabilidade, competitividade e controle de estresse não tenham se classificado como uma das primeiras posições ele nos mostrou que em um percentual também é responsável pela permanência desses alunos na Academia do Círculo Militar. Ainda muitas perguntas relacionadas à motivação à prática de exercício físico ainda precisam ser respondidas, e, portanto, mais estudos precisam ser realizados, já que está pesquisa tem apenas um pequeno fragmento em um assunto que vem crescendo cada vez mais no cenário do Brasil e no mundo.

 

    Acredita-se que estudos como este, possam ser úteis para responder questões relacionadas não somente a adesão, mas também a permanência de clientes na academia. Podendo ser usado como material de auxílio para empreendedores, para montar um plano ou metodologia motivacional, com isso ajudando a conhecer e compreender o que melhor agrada seus atuais e futuros clientes.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 309, Feb. (2024)