ISSN 1514-3465
Aspectos motivacionais em praticantes de CrossFit
Motivational Aspects in CrossFit Training
Aspectos motivacionales en practicantes de CrossFit
Luane Cordeiro Pereira
*luanecordeiro36@gmail.com
Rauno Álvaro de Paula Simola
**rauno.simola@uemg.br
Mateus Camargos Gomes
***mateus.cgomes@yahoo.com.br
Lucas Túlio de Lacerda
+lucas.lacerda@uemg.br
Diego Alcântara Borba
++diego.alcantara@uemg.br
José Vítor Vieira Salgado
+++jose.salgado@uemg.br
*Graduada em Educação Física (bacharelado)
pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) - Unidade Divinópolis
**Doutor em Ciência do Treinamento
pela Ruhr Universität Bochum, Alemanha
Mestre em Ciências do Esporte
pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Atualmente, professor efetivo do curso de Educação Física
da UEMG - Unidade Divinópolis
***
Graduado em Educação Física (bacharelado) pela UFMGMestrando em Ciências do Esporte
no programa de pós graduação da UFMG
+Graduado (Licenciatura/Bacharelado) em Educação Física
com especialização em Atividade Física para Grupos Especiais
e em Treinamento Esportivo/Musculação
Mestre e Doutor em Ciências do Esporte pela UFMG
Atualmente, é professor efetivo do curso de Educação Física
da UEMG - Unidade Divinópolis
++Graduado em Educação Física pelo Centro Universitário de Formiga
Mestrado em Treinamento Esportivo
e doutorado em Ciências do Esporte pela UFMG
Atualmente, é professor efetivo do curso de Educação Física
da UEMG - Unidade Divinópolis
+++Bacharel e Licenciado em Educação Física (Unicamp)
Especialista em Bioquímica, Fisiologia, Treinamento
e Nutrição Desportiva (Unicamp)
Mestre em Educação Física na área de Ciência do Desporto (Unicamp)
Doutor em Educação Física na área Biodinâmica do Movimento Humano (Unicamp)
Bacharel em Gestão do agronegócio (Unicamp)
Atualmente, é professor efetivo do curso de Educação Física
da UEMG - Unidade Divinópolis
(Brasil)
Recepción: 15/09/2023 - Aceptación: 10/07/2024
1ª Revisión: 03/07/2024 - 2ª Revisión: 04/07/2024
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Cita sugerida
: Pereira, L.C., Simola, R.A. de P., Gomes, M.C., Lacerda, L.T. de, Borba, D.A., e Salgado, J.V.V. (2024). Aspectos motivacionais em praticantes de CrossFit. Lecturas: Educación Física y Deportes, 29(316), 243-255. https://doi.org/10.46642/efd.v29i316.7232
Resumo
Tendo em vista os benefícios acerca da prática de atividade física e as problemáticas relacionadas à redução dos níveis dessa prática, faz-se necessário compreender como os fatores motivacionais dos praticantes influenciam nos níveis de adesão e manutenção dessa prática. Esses níveis foram analisados na modalidade CrossFit. O objetivo do estudo foi analisar os aspectos motivacionais que influenciam na prática e permanência no CrossFit, comparando diferentes faixas etárias e frequências de treinamento. Foi realizada uma revisão narrativa qualitativa com objetivo explicativo utilizando as bases de dados Scopus e Web of Science. Foram incluídos 19 artigos, publicados na língua inglesa, considerando o período de publicação delimitado entre os anos de 2000 a 2020. Os resultados demonstram que indivíduos mais jovens sofrem maiores influências de fatores como: afiliação, reconhecimento social e competição, enquanto os mais velhos se motivam mais por motivos de saúde e relacionados ao corpo como controle de peso e aparência. Além disso, a comparação entre as frequências de treino, mostrou que indivíduos independentemente da faixa etária que treinam mais de 5 dias por semana, apresentaram índices mais altos nos fatores intrínsecos, enquanto os que treinam 5 ou menos dias semanais apresentaram maior relação com fatores extrínsecos. Portanto, fatores intrínsecos associados à motivação podem levar a uma maior assiduidade no treinamento de Crossfit.
Unitermos
: Exercício. CrossFit. Motivação.
Abstract
The benefits of the regular practice of physical activity on health as well as the adverse effects associated with sedentarism are already well known. However, the motivational aspects that influence the practice of Crossfit are not well understood. The present study aimed, through a narrative review, to investigate which aspects influence the adherence and maintenance in CrossFit, considering age group and training frequency. A qualitative narrative review was carried out using the Scopus and Web of Science databases. Nineteen articles were included, published in the English language, considering the publication period limited between the years 2000 to 2020. The results demonstrate that younger age people are more influenced by factors such as: affiliation, social recognition and competition, while older adults are more motivated by health and body-related reasons such as weight control and appearance. Moreover, a higher training frequency was associated with higher rates of intrinsic factors, while a lower training frequency was related to extrinsic aspects. Therefore, intrinsic factors associated with motivation can lead to greater attendance in Crossfit training.
Keywords
: Exercise. Crossfit. Motivation.
Resumen
Considerando los beneficios de la práctica de actividad física y los problemas relacionados con la reducción de los niveles de esta práctica, es necesario comprender cómo los factores motivacionales de los practicantes influyen en los niveles de permanencia y mantenimiento de esta práctica. Estos niveles fueron analizados en la modalidad CrossFit. El objetivo del estudio fue analizar los aspectos motivacionales que influyen en la práctica y persistencia en CrossFit, comparando diferentes grupos de edad y frecuencias de entrenamiento. Se realizó una revisión narrativa cualitativa con objetivos explicativos utilizando las bases de datos Scopus y Web of Science. Se incluyeron 19 artículos, publicados en idioma inglés, considerando el período de publicación delimitado entre los años 2000 a 2020. Los resultados demuestran que los individuos más jóvenes están más influenciados por factores como: afiliación, reconocimiento social y competencia, mientras que los individuos de mayor edad están más motivados por cuestiones de salud y relacionados con el cuerpo, como el control de peso y la apariencia. Además, la comparación entre las frecuencias de entrenamiento mostró que los individuos, independientemente del grupo de edad, que entrenaban más de 5 días a la semana tenían niveles más altos de factores intrínsecos, mientras que aquellos que entrenaban 5 ó menos días a la semana tenían una mayor relación con los factores extrínsecos. Por lo tanto, factores intrínsecos asociados a la motivación pueden propiciar una mayor asistencia al entrenamiento de Crossfit.
Palabras clave
: Ejercicio. Crossfit. Motivación.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 316, Sep. (2024)
Introdução
De acordo com o Plano de Ação Global sobre Atividade Física 2018-2030 criado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a prática da atividade física colabora para prevenção e tratamento de doenças não transmissíveis, além de contribuir para o bem estar, qualidade de vida e saúde mental dos seus praticantes (OMS, 2018). No entanto, como relatam Guthold et al. (2018), a meta global da OMS para redução em 10% de inatividade física até 2025 tem ocorrido em um processo lento e de difícil concretização. Sendo assim, estratégias para estimular o aumento dos níveis de atividade física e reduzir o sedentarismo se tornam cada vez mais necessárias. Nesse sentido, atividades caracterizadas por uma duração relativamente baixa e que podem ser adaptadas para diferentes níveis de condicionamento físico, como o CrossFit, são favoráveis para aumentar esses índices. (Heinrich et al., 2014; Feito et al., 2018; Quintero Rondón, e Tomedes Parada, 2018; Koseki, e Peserico, 2022)
O CrossFit, segundo seu criador, Greg Glassman (2007), é uma atividade classificada como constantemente variada, de alta intensidade, e que tem como base os movimentos funcionais, com o intuito de desenvolver o condicionamento e desempenho físico (Meier, Schlie, e Schmidt, 2023; Moscatelli et al., 2023). O CrossFit busca desenvolver o condicionamento físico dos praticantes associado com quatro modelos (Crossfit, Inc. Crossfit Journal, 2020). O primeiro modelo refere-se ao desenvolvimento de capacidades físicas como: agilidade, resistência, força, velocidade e flexibilidade (Crossfit, Inc. Crossfit Journal, 2020) além do aprimoramento de habilidades motoras como: correr, arremessar, equilibrar-se, saltar, entre outras (Crossfit, Inc. Crossfit Journal, 2020). O segundo modelo é caracterizado pelo desempenho em tarefas atléticas, nas quais o indivíduo deve apresentar bons resultados em qualquer tipo de prova, sendo ele especificamente treinado ou não para elas (Crossfit, Inc. Crossfit Journal, 2020). O terceiro modelo diz respeito às vias metabólicas usadas, são elas: oxidativa, glicolítica e fosfogênica. Sendo assim, o condicionamento físico objetivado pela modalidade busca equilibrar o treinamento das três vias (Crossfit, Inc. Crossfit Journal, 2020). O quarto modelo refere-se ao continuum doença, bem estar e condicionamento físico, no qual quanto mais elevado o condicionamento físico, mais distante das doenças e mais saudável o indivíduo deve estar. (Crossfit, Inc. Crossfit Journal, 2020)
A prescrição de exercícios físicos no CrossFit tem como base os movimentos ginásticos (peso corporal), levantamento de peso e condicionamento aeróbico. Vários exercícios são utilizados, em sua maioria multiarticulares, e os treinos são constantemente variados e de alta intensidade. (Crossfit, Inc. Crossfit Journal, 2020)
Além das características associadas aos aspectos físicos e energéticos citadas acima, o CrossFit é um tipo de modalidade que busca criar um espírito de comunidade e inclusão entre os praticantes, já que indivíduos de diferentes níveis de treinamento realizam as atividades na mesma aula (Silva Guerro, e Fachineto, 2016; Jacob et al., 2020). Habilidades de aprendizagem e cumprimento de metas são objetivadas, contribuindo para a promoção de sentimentos de prazer e satisfação, além de estimular o desenvolvimento no esporte e comportamentos motivacionais (Dominski et al., 2020; Dominski et al., 2021; Heinrich et al., 2014; Partridge, Knapp, e Massengale, 2014). Em uma revisão sistemática, Dominski et al. (2021), ao analisarem 34 estudos incluindo 7101 participantes, concluíram que a adesão e manutenção da prática do Crossfit estão associadas com alguns aspectos psicológicos como prazer, desafio e afiliação. Por isso, o CrossFit é uma modalidade crescente em todo o mundo, apresentando mais de 15000 boxes afiliados (Crossfit.com). Logo, considerando as características do Crossfit e o seu potencial para diminuir os níveis de sedentarismo e inatividade física, é importante entender melhor sobre os fatores motivacionais associados à prática do Crossfit. (Partridge, Knapp, e Massengale, 2014; Fisher et al., 2016)
A motivação se caracteriza como um fator determinante para os comportamentos, a fim de atender desejos biológicos e psicológicos (Feito et al., 2018; Maslow, 1943). No meio esportivo, a motivação tem grande relevância para a permanência nas práticas (Feito et al., 2018). Para Samulski (2009), a motivação é um processo ativo, intencional e dirigido a uma meta, podendo ser influenciada por fatores intrínsecos (pessoais), ou extrínsecos (ambientais).
Compreender os fatores motivacionais dos praticantes de Crossfit colabora para estimular o nível de adesão à prática e maior satisfação dos clientes, o que por sua vez pode gerar maior permanência de alunos na modalidade e contribuir para a diminuição dos níveis de sedentarismo.
Portanto, a presente revisão narrativa teve como objetivo analisar os aspectos motivacionais que influenciam na prática e permanência no CrossFit, comparando diferentes faixas etárias e frequências de treinamento.
Metodologia
Trata-se de uma revisão narrativa (Rother, 2007) com abordagem metodológica qualitativa e objetivo explicativo (Gil, 2002; Thomas, Nelson, e Silverman, 2012). A pesquisa foi limitada a artigos publicados em revistas científicas, com livre acesso. As buscas foram referentes a estudos que abordaram a motivação no esporte relacionada ao CrossFit, envolvendo adultos sadios. As bases de dados utilizadas foram Scopus e Web of Science. As palavras-chave utilizadas foram resistence exercise, crossfit, exercise, motivat* (motivation e suas variações), psych* (psychological e suas variações), high_intensit* (high intensity e suas variações). Foram realizadas duas buscas em cada base, uma pesquisando nos títulos, resumos e palavras-chaves, enquanto a outra analisava apenas os títulos. O período de publicação foi delimitado entre os anos de 2000 a 2020. Estudos que envolvessem animais, crianças, adolescentes, idosos e atletas de alto rendimento, além daqueles que trabalharam com aspectos psicológicos não associados à motivação foram excluídos da amostra. Estudos envolvendo doenças físicas e/ou psicológicas também não foram incluídos, já que poderia interferir nos aspectos motivacionais.
Foram identificados 1942 estudos, após a leitura dos títulos e resumos 34 estudos foram selecionados, que posteriormente, foram lidos na integra, destes 11 foram incluídos na revisão. Ao desenvolver da revisão, 8 estudos foram detectados através das referências dos artigos selecionados, totalizando 19 estudos incluídos na revisão (Figura 1).
A motivação
A motivação pode ser entendida como um processo determinante para os comportamentos, a fim de atender aos desejos biológicos e psicológicos (Feito et al., 2018; Maslow, 1943). Ela é um processo ativo, intencional e dirigido a uma meta. Além disso é influenciada por fatores intrínsecos (pessoais) ou extrínsecos (ambientais) (Samulski, 2009). Segundo Deci, e Ryan (2008a) a motivação representa as razões que levam os indivíduos a pensarem, agirem e tomarem decisões. Ainda segundo os mesmos autores, as pessoas possuem três necessidades básicas para os processos evolutivos de desenvolvimento social e pessoal. As necessidades básicas são as seguintes: o relacionamento, desejo de se conectar com o outro; a autonomia, desejo de regular as ações; e a competência, necessidade de ser efetivo com as interações com o ambiente. Além disso, existem diferentes fatores que influenciam as ações de cada indivíduo, podendo ser intrínsecos, ou seja, desejo pessoal, inerente, sem visão de recompensas; ou extrínsecos, nos quais a tarefa é vista como instrumento para alcançar algum resultado, que pode sofrer interferência de outra pessoa ou apenas ser influenciada pela recompensa. (Ryan, e Deci, 2000)
Em um ambiente de realização, os indivíduos podem diferenciar as competências, logo, os objetivos de realização, em relação ao desempenho (ego) ou domínio. Aqueles que buscam o ego determinam as competências de acordo com o seu desempenho em relação a outros. Já os que buscam o domínio avaliam seu rendimento com seus próprios resultados anteriores. Além disso, a competência pode ter objetivos de abordagem ou evitação. Na abordagem o indivíduo busca conseguir resultados positivos, enquanto na evitação, busca evitar resultados negativos. (Partridge, Knapp, e Massengale., 2014)
Algumas teorias são utilizadas para explicar os estímulos motivacionais e uma delas é a Teoria da Autodeterminação. Essa teoria busca investigar os tipos de motivação presentes nas relações, no desenvolvimento e no bem estar. Ela aborda temas como autorregulação, objetivos de vida, comportamentos, personalidades, energia, além de enfatizar como as diferentes condições socioculturais podem incentivar ou não os tipos de motivação (Deci, e Ryan, 2008b). Nesse sentido, a Teoria da Autodeterminação ainda distingue a motivação autônoma da motivação controlada. A primeira engloba questões referentes à motivação intrínseca (desejo pessoal, inerente) e extrínseca (a tarefa é vista como instrumento para um resultado). Nesse caso, o indivíduo identifica o valor de uma atividade e o integra aos seus próprios valores. Geralmente esse valor já é introduzido na identidade da pessoa, ou seja, o indivíduo compreende suas vontades e escolhas. Já a motivação controlada pode ser regulada por fatores externos, na qual se espera uma punição ou recompensa. Mas ela pode ainda ser regulada por fatores internos e, nesse caso, a ação é parcialmente internalizada e impulsionada por motivos de aprovação, autoestima, evitação e ego. Em contraste com as duas formas de motivação citadas, existe a desmotivação, caracterizada por ser a falta de motivação e intenções. (Deci, e Ryan, 2008b)
Na perspectiva da teoria da autodeterminação proposta por Deci, e Ryan (1985), a motivação pode ser definida como a energia e a direção de comportamentos e pode ser dividida em um espectro de acordo com o caráter autodeterminado dos esforços, sendo organizados em um continuum do processo de internalização as seguintes zonas: a desmotivação, a motivação extrínseca, e a motivação intrínseca. (Deci, e Ryan, 2000)
Conforme Deci, e Ryan (2000), a desmotivação consiste no estado de falta de intenção de comportamento, a motivação extrínseca pode ser subdividida em motivação extrínseca de regulação externa, tais comportamentos são executados para satisfazer uma demanda externa ou possibilidade de recompensa. A motivação extrínseca de regulação introjetada relacionam-se à realização para evitar culpa ou ansiedade ou para atingir o ego. A motivação extrínseca de regulação identificada, que reflete uma valorização consciente de um comportamento objetivo ou regulamento, de modo que a ação seja aceita ou considerado pessoalmente importante e a motivação extrínseca de regulação integrada que é a forma mais autônoma de motivação extrínseca, o comportamento é compreendido como importante e coerente com outros aspectos pessoais, sendo a motivação extrínseca, referente a causas ou motivos comportamentais externos ao indivíduo. Já motivação intrínseca, refere-se a causalidades de ação que advém de processos internos ao indivíduo, de forma que este não depende de nada além de sua vontade e interesse por determinada atividade para praticá-la. (Deci, e Ryan, 2000)
Outra teoria que abrange o tema da motivação é a Teoria das Metas de Realização. Essa teoria se caracteriza em trabalhar além dos motivos para as tarefas, como também a forma que os indivíduos compreendem as competências em ambientes de realização. Essas competências são definidas de acordo com os padrões que são avaliados, podendo ser domínio ou desempenho. A primeira se refere a atividades desenvolvidas com o intuito de progredir em relação ao próprio desempenho anterior; já a segunda, leva em consideração resultados de outras pessoas, como intuito de superá-los. (Partridge, Knapp, e Massengale., 2014; Biddle et al., 2003)
Relação entre faixas etárias e a motivação para a prática de Crossfit
Foi encontrado apenas um estudo que analisa diretamente a relação entre as idades e a motivação para a prática de Crossfit. Nesse estudo, Box et al. (2019) contaram com 735 voluntários, a partir de 18 anos até mais de 50 anos. Os participantes responderam um questionário demográfico e o Inventário de Motivações de Exercício (EMI-2) a fim de examinar os motivos da participação nos treinos de Crossfit em indivíduos de diferentes faixas etárias. Os resultados apontam que os indivíduos entre 18-24 anos apresentam maiores relações com os motivos de: gerenciamento de stress, desafio, reconhecimento social, competição e agilidade, comparando-os com as outras faixas etárias. O prazer foi apontado como um motivo de menor importância para indivíduos maiores que 50 anos de idade. Além disso, os motivos relacionados à aparência e controle de peso se mostraram mais importantes para a prática em indivíduos de 33-49 anos e maiores que 50 anos de idade. (Box et al., 2019)
De uma forma geral, a maioria dos participantes, mesmo com a variação das idades, consideraram o prazer, a revitalização, a saúde, a força e a resistência como motivos importantes para a prática do CrossFit (Box et al., 2019). Sendo assim, foi possível notar que os indivíduos mais jovens sofreram maiores influências de fatores extrínsecos (afiliação, reconhecimento social e competição). No entanto, também ocorreu influência dos motivos intrapessoais (gerenciamento do stress, diversão e desafio). Já os mais velhos se motivam mais por motivos de saúde (evitar problemas de saúde) e relacionados ao corpo (controle de peso e aparência). (Box et al., 2019)
Relação entre frequência de treinamento e a motivação para a prática de Crossfit
A relação entre frequência de treinamento e motivação foi estudada por Feito et al. (2018), em um trabalho envolvendo 732 adultos (338 homens; 344 mulheres), com mais de 18 anos e mais de 3 meses de prática no CrossFit. Foi utilizado um questionário online, distribuído para vários países, tanto na língua inglesa como espanhola, que contou com questões demográficas e com o Inventário de Motivações de Exercício (EMI - 2). Com a análise dos resultados foi possível perceber que aqueles com a frequência superior a 5 dias, apresentaram índices mais altos nos fatores intrínsecos, como diversão, desafio, competição e afiliação; enquanto os que treinam 5 ou menos dias apresentaram maior relação com fatores extrínsecos.
Além disso, foi possível perceber que em comparação com os que treinam 5 ou menos dias, aqueles que treinam mais de 5 dias por semana apresentaram maiores índices de motivos interpessoais para a prática (motivos extrínsecos), como reconhecimento social, afiliação; autonomia por motivos psicológicos (motivos intrínsecos), ou seja, prazer, desafio; e a necessidade de competência por motivos de aptidão (motivos extrínsecos), como exemplo a melhora da força e resistência. Em relação aos motivos de saúde, aparência, e gerenciamento do estresse os dois grupos tiveram classificação semelhante. No entanto, em relação ao controle de peso, aqueles que praticam 5 ou menos dias apresentaram índices maiores comparando com os que realizam mais de 5 vezes por semana. Sendo assim, a variedade de estímulos diários vistos no CrossFit reforça os fatores motivacionais para a adesão da prática. (Feito et al., 2018)
Conclusões
A presente revisão da literatura revelou que indivíduos mais jovens sofrem maiores influências de fatores extrínsecos (afiliação, reconhecimento social e competição), enquanto os mais velhos se motivam mais por motivos de saúde (evitar problemas de saúde) e relacionados ao corpo (controle de peso e aparência). Além disso, a comparação entre as frequências de treino mostrou que indivíduos que treinam mais de 5 dias, apresentam índices mais altos nos fatores intrínsecos, como diversão, desafio, competição e afiliação; enquanto os que treinam 5 ou menos dias apresentaram maior relação com fatores extrínsecos.
No entanto, este estudo apresenta limitações como o número reduzido de estudos relacionados com o tempo de prática e idade, o que dificulta comparações a respeito dos temas. A escassez de estudos na língua portuguesa é um ponto que merece atenção, já que o ambiente, a cultura e outros fatores, podem interferir na motivação. Por isso, entender como esta modalidade é vista no Brasil é de grande importância para o crescimento do CrossFit no país. Com isso, sugere-se estudos que analisem a motivação na população brasileira praticante de CrossFit, além de novos estudos a fim de reafirmar os resultados apresentados até o momento.
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