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ISSN 1514-3465

 

Auriculoterapia e exercício físico resistido na melhora 

da qualidade de vida de pacientes em hemodiálise

Auriculotherapy and Resisted Physical Exercise in Improving the Quality of Life of Hemodialysis Patients

Auriculoterapia y ejercicio físico resistido en la mejora de la calidad de vida de los pacientes en hemodiálisis

 

Josiano Guilherme Puhle*

josiano.guilherme@unoesc.edu.br

Pâmela Letícia Weber**

paamelaweber@gmail.com

Alessandra Yasmin Hoffmann**

hoffmann.ay@gmail.com

Natan Rodrigues de Oliveira+

natanr.oliveira@gmail.com

Victória Galletti dos Santos Arraes+

vicgalletti@hotmail.com

Lucas Zannini Medeiros Lima+

lucas.medeiros@estudante.uffs.edu.br

Ana Carolina Gonçalves Zietz+

ana.zietz@estudante.uffs.edu.br

Guilherme Vinicio de Sousa Silva+

guilhermemeduffs@gmail.com

Débora Tavares de Resende e Silva++

debora.silva@uffs.edu.br

 

*Mestre em Ciências Biomédicas

Docente da Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC)

São Miguel do Oeste/SC

**Discente do Curso de Enfermagem

da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) - Chapecó/SC

+Discente do Curso de Medicina UFFS

++Doutora em Ciências (Patologia Geral)

Docente da UFFS

(Brasil)

 

Recepção: 03/09/2023 - Aceitação: 19/11/2023

1ª Revisão: 20/10/2023 - 2ª Revisão: 15/11/2023

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Puhle, JG, Weber, PL, Hoffmann, AY, Oliveira, NR, Arraes, VGS, Lima, LZM, Zietz, ACG, Silva, GVS, e Silva, DTR (2023). Auriculoterapia e exercício físico resistido na melhora da qualidade de vida de pacientes em hemodiálise. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(307), 120-131. https://doi.org/10.46642/efd.v28i307.7209

 

Resumo

    A perda na qualidade de vida é um achado comum em pacientes com doença renal crônica durante o tratamento hemodialítico e está associada ao desenvolvimento de outros processos patológicos, bem como na progressão da própria doença. Assim, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito da auriculoterapia e do exercício físico resistido, associados ou não, com terapias não farmacológicas sobre a qualidade de vida de pacientes com doença renal crônica submetidos à hemodiálise. A amostra foi dividida em 4 grupos sendo: Grupo Controle, Grupo Auriculoterapia, Grupo Exercício Físico Resistido, Grupo Auriculoterapia+Exercício Físico Resistido. A qualidadede vida foi analisada pelo questionário 36- Item Short Form Survey (SF-36). Para as análises estatísticas foram utilizados os testes de normalidade de Shapiro-Wilk e o teste de Dixon paraoutliers, posteriormente os testes de Willcoxon através do software Statistica® 8.0 (STATSOFT). Os aspectos da qualidade de vida melhoraram (p≤0,05) em todos os grupos de intervenção, dando ênfase na associação entre auriculoterapia e exercício físicoresistido que teve impacto em todos os componentes. A aplicação dos tratamentos de auriculoterapia e exercício físico resistido em pacientes em hemodiálise serviram como ferramentas para o aumento da percepção de qualidade de vida, sendo alternativas complementares ao tratamento convencional e conservador.

    Unitermos: Auriculoterapia. Exercício físico. Qualidade de vida. Insuficiência renal crônica.

 

Abstract

    Loss of quality of life is a common finding in patients with chronic kidney disease during hemodialysis and is associated with the development of other pathological processes, as well as the progression of the disease itself. Thus, the objective of this study was to evaluate the effect of auriculotherapy and resistance physical exercise, associated or not, with non-pharmacological therapies on the quality of life of chronic renal patients undergoing hemodialysis. The sample was divided into 4 groups: Control Group, Auriculotherapy Group, Resistance Physical Exercise Group, Auriculotherapy + Resistance Physical Exercise Group. Quality of life was analyzed using the 36-Item Short Form Survey (SF-36). For statistical analyses, the Shapiro-Wilk normality test and the Dixon test for outliers were used, later the Willcoxon and two-way ANOVA tests using the Statistica® 8.0 software (STATSOFT). Aspects of quality of life improved (p≤0.05) in all intervention groups, emphasizing the association between auriculotherapy and resistance physical exercise, which had an impact on all components. The application of auriculotherapy treatments and resisted physical exercise in hemodialysis patients served as tools to increase the perception of quality of life, being complementary alternatives to conventional and conservative treatment.

    Keywords: Auriculotherapy. Physical exercise. Quality of life. Chronic renal failure.

 

Resumen

    La pérdida de calidad de vida es un hallazgo común en pacientes con enfermedad renal crónica durante el tratamiento de hemodiálisis y se asocia con el desarrollo de otros procesos patológicos, así como con la progresión de la propia enfermedad. Así, el objetivo del presente estudio fue evaluar el efecto de la auriculoterapia y el ejercicio físico resistido, asociados o no, con terapias no farmacológicas sobre la calidad de vida de pacientes con enfermedad renal crónica sometidos a hemodiálisis. La muestra se dividió en 4 grupos: Grupo Control, Grupo Auriculoterapia, Grupo Ejercicio Físico Resistido, Grupo Auriculoterapia+Ejercicio Físico Resistido. La calidad de vida se analizó mediante la Encuesta breve de 36 ítems (SF-36). Para el análisis estadístico se utilizó la prueba de normalidad de Shapiro-Wilk y la prueba de Dixon para valores atípicos, seguido de la prueba de Willcoxon utilizando el software Statistica® 8.0 (STATSOFT). Los aspectos de calidad de vida mejoraron (p≤0,05) en todos los grupos de intervención, con énfasis en la asociación entre auriculoterapia y ejercicio físico resistido, que tuvo impacto en todos los componentes. La aplicación de tratamientos de auriculoterapia y ejercicio físico resistido en pacientes en hemodiálisis sirvieron como herramientas para incrementar la percepción de calidad de vida, siendo alternativas complementarias al tratamiento convencional y conservador.

    Palabras clave: Auriculoterapia. Ejercicio físico. Calidad de vida. Enfermedad renal crónica.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 307, Dic. (2023)


 

Introdução 

 

    A doença renal crônica caracteriza-se por uma diminuição lenta e progressiva da capacidade dos rins de filtrar os resíduos metabólicos do sangue, e que em alguns casos pode ocorrer de maneira aguda. Observa-se a ocorrência da doença em período variável, determinado por condições associativas e desencadeantes como hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e glomerulopatias. (Silva et al., 2020)

 

    Segundo o Ministério Brasileiro da Saúde (2014), em suas Diretrizes Clínicas para o cuidado ao paciente com doença renal crônica no Sistema Único de Saúde, a doença é considerada um grave problema à saúde pública, pois a incidência e a prevalência estão em considerável aumento e o custo do tratamento torna-se elevado, demonstrando necessidade de ações preventivas e de tratamentos auxiliares. Uma das alternativas mais eficazes para o tratamento desta patologia é hemodiálise, que consiste em uma técnica de filtração do sangue realizada por uma máquina capaz de reter toxinas e outros componentes metabólicos, realizando a função básica dos rins. (Silva et al., 2020)

 

    Analisa-se que tanto a condição crônica de saúde quanto a dinâmica de tratamento, são fatores estressores que podem desestruturar a rotina e as expectativas desses pacientes, ocasionando um impacto considerável em sua qualidade de vida, o que acarretará mais dificuldades durante o tratamento. (Bezerra, Hora, e Gil, 2018; Melo et al., 2020)

 

    Sendo assim, buscam-se cada vez mais alternativas para o tratamento auxiliar da doença renal crônica, sendo o exercício físico empregado como terapêutica, tendo em vista seus benefícios em outras doenças e condições de saúde, como diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmcica. Esses benefícios incluem melhora dos sintomas apresentados pelos pacientes, melhora o controle glicêmico, diminuição dos fatores de risco cardiovascular e diminuição dos valores de pressão arterial em repouso. (Heiwe, e Jacobson, 2014; Aoike et al., 2015; Oliveira et al., 2020)

 

    Outra alternativa adotada para o manejo de pacientes é a auriculoterapia, mostrando resultados positivos na melhora clínica e no tratamento de sintomas oriundos de diversas doenças e condiçõesde saúde, como em dores crônicas, no tratamento de diabetes mellitus, alergias e problemas osteomusculares. (Hou et al., 2015; Alimi, e Chelly, 2018; Lu, e Li, 2020)

 

    Tendo em vista o comprometimento físico e psicológico dos pacientes que se encontram em hemodiálise, a auriculoterapia e o exercício físico empregam-se como tratamentos auxiliares por meio da percepção de melhora dos pacientes. (Yeh et al., 2014; Hou et al., 2015; Alimi, e Chelly, 2018; Melo et al., 2019; Lu, e Li, 2020)

 

    Percebendo os benefícios da prática do exercício físico bem como da utilização da auriculoterapia, o presente estudo teve como objetivo avaliar o efeito da auriculoterapia e do exercício físico resistido, associados ou não, como terapias não farmacológicas sobre a qualidade de vida de pacientes com doença renal crônica submetidos à hemodiálise.

 

Metodologia 

 

Tipo de estudo, população e amostra 

 

    Este foi um estudo de abordagem quantitativa e consistiu em estudo intervencional, de caráter comparativo. Foi composto por pacientes em tratamento hemodialítico há no mínimo 6 meses, de ambos os sexos, provenientes da Clínica Renal Oeste, situada na cidade de Chapecó-SC.

 

    Previamente foi realizado cálculo amostral com poder de 0,95, resultando em 52 pacientes. Até o presente momento existem 150 pacientes em tratamento hemodialítico na Clínica Renal Oeste.

 

    Para as intervenções, devido demanda e interesse voluntário pelos tratamentos ofertados durante a pesquisa, foram elegidos 96 pacientes. Eles foram divididos em quatro grupos homogêneos, dependendo do seu turno de hemodiálise, seguindo todos os critérios de inclusãoe exclusão estabelecidos.

 

Critérios de inclusão e exclusão 

 

    Fizeram parte do estudo pacientes de ambos os sexos, com idade maior ou igual a 18 anos que estavam em acompanhamento médico devido à diagnóstico de doença renal crônica, sob tratamento hemodialítico há no mínimo 6 meses. Os pacientes que não concordaram em participar da pesquisa, os que vieram a óbito (5) ou desistiram da participação (2), assim como aqueles que já realizavam exercícios e/ou auriculoterapia fora da pesquisa (1), foram excluídos. Os pacientes que apresentaram adesão menor que 75% do total de sessões do programa de exercício físico resistido e/ou auriculoterapia (1) também foram excluídos do estudo.

 

Execução 

 

    O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal da Fronteira Sul (CAAE - 42603621.20000.5564). Os pacientes elegíveis foram previamente informados sobre a pesquisa, por meio de uma conversa realizada presencialmente com os mesmos na Clínica Renal. Em seguida, o TCLE foi apresentado aos voluntários que aceitaram participar do estudo.

 

    Posteriormente ao consentimento iniciou-se a coleta de dados com a aplicação do questionário de qualidade de vida (SF-36). Na semana posterior ao fim das intervenções foi realizada a segunda entrevista, também sido realizada antes da sessão de hemodiálise. As intervenções ocorreram de maneira intradialítica, ou seja, foram realizadas durante o procedimento de hemodiálise, nos três turnos distribuídos e organizados pela Clínica Renal.

 

Grupos 

 

    Os pacientes recrutados foram distribuídos em 4 grupos, levando em consideração os dias da semana e os turnos que os mesmos realizavam hemodiálise. Os pacientes do primeiro turno (5h 30min) fizeram parte do Grupo Exercício Físico Resistido; os pacientes do segundo turno (10h) fizeram parte do Grupo Auriculoterapia+Exercício Físico Resistido; os pacientes do terceiro turno (14h 30min) fizeram parte do Grupo Auriculoterapia; e os pacientes que concordaram em participar da pesquisa porém não realizaram nenhum tipo de intervenção, independentemente do turno de hemodiálise, foram inclusos no Grupo Controle.

 

Intervenções 

 

    Protocolo de Auriculoterapia 

 

    A intervenção foi realizada e supervisionada por um Profissional de Educação Física especialista em Acupuntura e com formação em auriculoterapia, constituída por um protocolo fechado de 12 sessões, sendo realizada uma sessão por semana. O protocolo ocorreu com alternância de orelha, ou seja, quando uma sessão era realizada na orelha esquerda, a próxima sessão era realizada na orelha direita, consequentemente foram realizadas 6 sessões em cada orelha. (Lopes, e Suliano, 2020)

 

    A estimulação foi realizada com sementes de mostarda, que permaneciam fixas até a próxima sessão, onde eram retiradas e colocadas novas sementes na outra orelha. O protocolo fechado foi constituído pelos pontos selecionados: Sistema nervoso central - SNC, rins, sistema nervosoautônomo - SNA, hipotálamo, adrenal, subcortex, lumbago, analgesia, ureter, baço, uretra erelaxamento muscular. (Lopes, e Suliano, 2020)

 

    Protocolo de Exercício Físico Resistido 

 

    O programa de exercício físico resistido foi executado e supervisionado por um Profissional de Educação Física e por uma Fisioterapeuta. As sessões de exercícios foram realizadas em posição sentada e/ou deitada, em uma cadeira padrão de hemodiálise, 3 vezes por semana durante 12 semanas, totalizando 36 sessões. Os exercícios foram realizados com faixas elásticas, halteres e caneleiras com diferentes pesos, onde de acordo com o desempenho e progresso de cada paciente, os exercícios evoluíram no que se refere à intensidade e à carga. Dependendo da localização da fístula arteriovenosa localizada na fossa cubital e/ou do cateter venoso central localizado na jugular, subclávia e femoral, os exercícios próximos ou referentes aquela região anatômica eram dispensados, somente sendo realizados no lado contrário.

 

    O protocolo de exercício físico resistido utilizado no estudo foi baseado e adaptado à partirdo protocolo de Cheema et al. (2007), onde cada sessão teve duração de 30-45 minutos, compostapor 10-15 repetições distribuídas em 3 séries de execução de cada um dos seguintes exercícios:

  • Extensão do joelho e posterior retorno (flexão) para a posição inicial;

  • Flexão do quadril e posterior retorno (extensão) para a posição inicial;

  • Abdução do quadril e posterior retorno (adução) para a posição inicial;

  • Rotação medial do quadril e posterior retorno (rotação medial) para a posição inicial;

  • Flexão do cotovelo e posterior retorno (extensão) para a posição inicial;

  • Extensão do cotovelo e posterior retorno (flexão) para a posição inicial;

  • Elevação da escápula e posterior retorno (depressão) para a posição inicial;

  • Abdução do ombro e posterior retorno (adução) para a posição inicial.

    Protocolo de Auriculoterapia + Exercício Físico Resistido 

 

    Foi composto pela associação de 24 sessões de Exercício Físico Resistido, 2 vezes por semana durante 12 semanas, com 12 sessões de Auriculoterapia, 1 vez na semana durante 12 semanas. Foram utilizados os mesmos pontos, materiais, exercícios e cargas dos protocolos descritos anteriormentes.

 

Análise da Qualidade de Vida 

 

    O 36-Item Short Form Survey (SF-36) foi aplicado em cada paciente antes e após as intervenções, para a avaliação de qualidade de vida. O SF-36 é um questionário validado e multidimensional composto por 36 itens com duas dimensões: saúde mental e saúde física. Essas dimensões são constituídas por oito componentes: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estadogeral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. É válido ressaltarque os únicos componentes que fazem parte tanto da dimensão de saúde mental quanto de saúde física, são a vitalidade e o estado geral de saúde.

 

    O SF-36 é composto por 11 perguntas, subdivididas ou não em itens, com possibilidade para assinalar de 1 a 5 dependendo da identificação do paciente sobre o que é solicitado. Essas alternativas são convertidas e a pontuação final do SF-36 varia de 0 a 100, onde 0 corresponde ao pior e 100 corresponde o melhor estado de qualidade de vida (Ware et al., 1994). O SF-36 é utilizado paraavaliar a qualidade de vida em diversas doenças e processos patológicos, incluindo na doença renal crônica, destacando sua validação para avaliar pacientes em hemodiálise (Diaz-Bruxo et al., 2000). O SF-36 foi traduzido e validado para a língua portuguesa por Ciconelli et al. (1999).

 

Análise estatística 

 

    As diferenças estatísticas entre os conjuntos de valores dos diferentes tratamentos foram determinadas usando os testes de Willcoxon, além da utilização do teste de Dixon para os outliers. O software utilizado para as análises foi o Statistica® 8.0 (STATSOFT). As diferenças foram consideradas estatisticamente significativas com p ≤ 0,05.

 

Resultados e discussão 

 

    Das oito dimensões avaliadas pelo questionário de qualidade de vida SF-36, foi possível observar melhora e resultados positivos em todos os grupos, porém somente em alguns componentes encontrou-se diferença significativa (p ≤ 0,05).

 

Tabela 1. Parâmetros da qualidade de vida antes e após intervenções

 

Controle

Auriculoterapia

Exercício Físico Resistido

Auriculoterapia + Exercício Físico Resistido

Pré

Pós

p

Pré

Pós

p

Pré

Pós

p

Capacidade Funcional

55,50

37,50

57,21

0,012*

55,50

63,83

0,258

50,71

69,64

0,033

Aspectos Físicos

15,83

19,12

47,06

0,003*

10,83

65,83

<0,001*

16,96

57,14

<0,001*

Dor

54,87

52,26

69,94

0,012*

64,27

56,43

0,277

41,25

75,61

<0,001*

Estado Geral de Saúde

43,27

51,32

60,15

0,099

48,90

55,63

0,108

48,57

61,32

<0,001*

Vitalidade

50,33

58,09

72,35

0,026*

56,67

63,50

0,065

55,89

78,39

<0,001*

Aspectos Sociais

66,67

78,31

78,31

0,951

74,58

82,13

0,122

73,66

90,63

0,029*

Aspectos Emocionais

24,44

35,29

70,59

0,003*

14,44

66,67

<0,001*

25,00

77,38

<0,001*

Saúde Mental

37,71

57,41

72,12

0,049*

56,13

72,40

<0,001*

49,86

73,57

<0,001*

SF-36 Short Form Survey 36; Dados expressos em média; *denota diferença significativa (p≤0,05)

antes e após a intervenção de acordo com o Teste de Wilcoxon. Fonte: Dados de pesquisa

 

    Após o tratamento, o grupo auriculoterapia apresentou melhoras significativas (p ≤ 0,05) nos componentes da qualidade de vida referente a Capacidade Funcional, Aspectos Físicos, Dor, Vitalidade, Aspectos Emocionais e Saúde Mental. No que se refere a intervenção de exercíciofísico resistido, exprime-se resultados significantes (p ≤ 0,05) nos componentes relacionadosaos Aspectos Físicos, Aspectos Emocionais e SaúdeMental.

 

    No que corresponde à intervenção baseada na associação ente auriculoterapia e exercício físico resistido, denota-se resultados significativos (p ≤ 0,05) em todos os componentes da qualidade de vida, a saber: Capacidade Funcional, Aspectos Físicos, Dor, Estado Geral de Saúde, Vitalidade, Aspectos Sociais, Aspectos Emocionais e Saúde Mental.

 

    Pacientes em hemodiálise apresentam alterações na percepção de qualidade de vida, devido todas as conjunturas e consequências que sua condição de saúde proporciona. Tendo sua qualidade de vida alterada, pode-se constatar um manejo clínico com maiores dificuldades, considerando os impactos que a diminuição da qualidade de vida pode causar sobre a saúde física e mental destes pacientes. (Bezerra, Hora, e Gil, 2018; Santos et al., 2018)

 

    A hemodiálise configura-se como um método eficaz e importante, no que tange a manutenção da vida dos pacientes que se encontram nessa condição, entretanto, por vezes essa modalidade de tratamento caracteriza-se também pelo seu potencial debilitante, pois afeta e interfere em diverso ssegmentos do indivíduo submetido a essa prática (Santos et al., 2018). Sendo assim, analisa-se que tanto a condição crônica de saúde quanto a dinâmica de tratamento desses pacientes, são fatores estressores que podem desestruturar a rotina e as expectativas desses pacientes, causando muitas vezes problemas sociais como isolamento, desemprego, abandono de atividades de lazer e exercícios físicos. (Bezerra, Hora, e Gil, 2018; Santos et al., 2018)

 

    A qualidade de vida dos pacientes com doença renal crônica submetidos a hemodiálise é significativamente mais baixa em comparação às pessoas que não são acometidas pela doença e/ou aquelas que não realizam nenhum tratamento. Os domínios físico e psicológico são comprometidose alterados, tendo em vista todas as condições e as intercorrências clínicas adversas apresentadas pelos pacientes em questão e também como resultado das conjunturas desse tratamento. (Jesus et al., 2019)

 

    A melhora na qualidade de vida dos pacientes após intervenção com exercício físico resistido foi constatada no presente estudo, corroborando com outros estudos que relatam efeitos positivos de intervenções com exercícios físicos na qualidade de vida de pacientes com doença renal crônica. Aioke et al. (2015) estudaram 15 pacientes em hemodiálise e observaram melhora na capacidade física e consequentemente na qualidade de vida após intervenção de 12 semanas com exercícios físicos, concomitantemente Marchesan, Nunes e Rombaldi (2014) relatam que o treinamento físico aeróbico e de força também causou melhora nos domínios de saúde geral, função física, dor e bem-estar emocional de 11 pacientes em hemodiálise. Ainda destaca-se que segundo os autores Suhardjono et al. (2019) que a associação de treinamento físico resistido com treinamento aeróbico durante 12 semanas, proporcionou aumento no índice geral de qualidade de vida de 82 pacientes em hemodiálise.

 

    Nesse sentido, sugere-se que a prática regular de atividade física e/ou exercício físico pode contribuir para uma melhor percepção de qualidade de vida de pacientes hemodialíticos, evidenciada pelo estudo de Fukushima et al. (2018). Nesse estudo foram comparados grupos de pacientes ativos fisicamente e sedentários, ressaltando por meio da comparação que o exercício físico influencia positivamente na qualidade de vida.

 

    Referindo-se a auriculoterapia é possível constatar melhora significativa na percepção de qualidade de vida pelos pacientes em hemodiálise, o que também é retratado por Wang et al. (2014) referente seu protocolo de estimulação auricular realizado em pacientes diagnosticados com doença renal crônica durante o procedimento de hemodiálise. É perceptível melhora nos domínios social, físico e psicológico, o que denota a auriculoterapia como um tratamento eficaz quando utilizado como intervenção visando melhora da qualidade de vida e na saúde de pacientes com doença renal crônica. (Melo et al., 2020)

 

    Ainda, Costa et al. (2019) evidenciaram com seu protocolo de auriculoterapia, com estimulação de pontos de acupuntura, que após 12 semanas, houve melhoria significativa da qualidade de vida, visto que, reduziram-se as queixas referidas pelos pacientes, assim como pela diminuição da administração de medicamentos durante a hemodiálise, com relatos de aumento da disposição para atividades diárias.

 

    A associação da auriculoterapia com exercícios físicos ou treinamento físico, conforme descrito por Carmo, e Antoniassi (2018), pode potencializar os efeitos benéficos já relatados por essas alternativas isoladamente. Salienta-se que a percepção subjetiva da qualidade de vida pode ser aumentada levando em consideração os sentimentos e juízos de valor de cada paciente, situação justificável no presente estudo, tendo em vista a percepção dos pacientes sobre o cuidado integral e atenção dos profissionais durante os tratamentos ofertados.

 

    Nesse sentido, a auriculoterapia e o exercício físico resistido mostram-se como ferramentas práticas e eficientes para o tratamento de pacientes com doença renal crônica que se encontram em hemodiálise. Além de possuírem métodos de utilização e avaliação não invasivos, proporcionam aos pacientes melhora na percepção de qualidade de vida e melhora clínica no que se refere aos sintomas adversos que o tratamento hemodialítico proporciona.

 

Conclusão 

 

    A partir dos resultados encontrados na presente pesquisa, o uso da auriculoterapia e do exercício físico resistido associados ou não, apresentam-se como terapias não farmacológicos promissoras na melhoria da qualidade de vida dos pacientes com doença renal crônica durante tratamento hemodialítico.

 

    Referente a melhora na qualidade de vida verifica-se resultados em todos os domínios (físico, psicológico e social) dando ênfase após a utilização combinada de auriculoterapia e exercício físico resistido, enquanto as intervenções individuais de auriculoterapia e exercício físico resistido apresentaram melhoras em alguns componentes, sendo eles aspectos físicos, dor e aspectos emocionais e aspectos físicos, dor, aspectos emocionais e saúde mental, respectivamente.

 

    Conclui-se, então, que a aplicação dos tratamentos de auriculoterapia e de exercício físico resistido em pacientes submetidos à hemodiálise serviram como ferramentas para o aumento da percepção de qualidade de vida.

 

Referências 

 

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Bezerra, R.M., Hora, A.C.C.F., e Gil, M.M. (2018). Hemodiálise e a experiência de mudança de vida. CIPEEX. Associação educativa Unievangélica, 3° congresso internacional de pesquisa, ensino e extensão, 2. http://anais.unievangelica.edu.br/index.php/CIPEEX/article/view/2781

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 307, Dic. (2023)