José Jander Teixeira de Oliveira*

jander.prof.teixeira@gmail.com

Arliene Stephanie Menezes Pereira**

stephanie_ce@hotmail.com

Symon Tiago Brandão de Souza***

symontiago@hotmail.com

*Mestre em Educação

pela Universidade Estadual do Ceará (UECE)

Graduado em Licenciatura plena

em Educação Física (UVA) e em Dança (UFC)

Professor Efetivo da Rede Municipal de Fortaleza.

**Doutora em Educação (UECE)

Mestra em Educação Física (UFRN)

Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)

Líder do grupo de pesquisa Corponexões: corpo, cultura e sociedade (IFCE).

***Docente do IFCE

Mestre em Educação pela UECE

Especialista em Treinamento Esportivo pela UECE

Membro do grupo de pesquisa Corponexões: corpo, cultura e sociedade (IFCE)

e do grupo de estudos e pesquisa em Educação Física Escolar (GEPEFE/UECE)

(Brasil)

Recepção: 11/08/2023 - Aceitação: 10/10/2023

1ª Revisão: 31/08/2023 - 2ª Revisão: 04/10/2023

Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0

Citação sugerida: Oliveira, J.J.T. de, Pereira, A.S.M., e Souza, S.T.B. de (2023). Dança e Educação Física: um estudo com professores das escolas municipais de Fortaleza-CE. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(307), 16-25. https://doi.org/10.46642/efd.v28i307.7170

 

Resumo

    A escola é um espaço capaz de proporcionar habilidades físico-motoras, psicológicas, afetivas e socioculturais e ainda permitindo aos discentes o desenvolvimento de competências, além do contato com pessoas e culturas diferentes. A Dança é um conteúdo obrigatório definido pelos Parâmetros Curriculares Nacionais no Bloco de Conteúdos Atividades Rítmicas e Expressivas. E ainda na Base Nacional Comum Curricular que a propõe como uma unidade temática no Ensino Fundamental em uma construção progressiva a partir dos objetos do conhecimento: Dança no contexto comunitário e regional; Danças do Brasil e do mundo; Danças de matrizes indígenas e africanas; e Danças urbanas. O presente trabalho objetivou analisar a percepção dos professores de Educação Física sobre o ensino da Dança em cinco escolas municipais do bairro Conjunto Ceará, na cidade de Fortaleza-CE. Para isso, a metodologia utilizada foi um questionário específico sobre Dança (Wholqol-Bref), dividido em Blocos temáticos e aplicado com os docentes das escolas a fim de saber quais suas percepções sobre o conhecimento do conteúdo Dança, o desenvolvimento que a Dança é capaz de proporcionar, as dificuldades encontradas e os interesses sobre a temática e sua abrangência. Os resultados apontaram que há uma defasagem referente ao conteúdo de Dança e dificuldades para trabalhar as abordagens e metodologias de aulas sobre o processo de ensino-aprendizagem dos discentes. Confirmou-se também que os professores possuem pleno conhecimento quanto aos benefícios que o conteúdo possui.

    Unitermos: Dança. Ensino. Educação Física.

 

Abstract

    The school is a space capable of providing physical-motor, psychological, affective and sociocultural skills and also allowing students to develop skills, in addition to contact with different people and cultures. Dance is a mandatory content defined by the National Curriculum Parameters in the Content Block Rhythmic and Expressive Activities. And also in the National Common Curricular Base that proposes it as a thematic unit in Elementary School in a progressive construction from the objects of knowledge: Dance in the community and regional context; Dances of Brazil and the world; Dances of indigenous and African matrices; and Urban dances. The present study aimed to analyze the perception of Physical Education teachers about the teaching of Dance in five municipal schools in the Conjunto Ceará neighborhood, in the city of Fortaleza-CE. For this, the methodology used was a specific questionnaire on Dance (Whoqol-Bref), divided into thematic blocks and applied with the teachers of the schools in order to know their perceptions about the knowledge of the Dance content, the development that Dance is able to provide, the difficulties encountered and the interests on the theme and its scope. The results pointed out that there is a gap regarding the content of Dance and difficulties to work the approaches and methodologies of classes on the teaching-learning process of the students. It was also confirmed that teachers have full knowledge about the benefits that the content has.

    Keywords: Dance. Teaching. Physical Education.

 

Resumen

    La escuela es un espacio capaz de proporcionar habilidades físico-motrices, psicológicas, afectivas y socioculturales y también permitir a los estudiantes desarrollar habilidades, además del contacto con diferentes personas y culturas. El baile es un contenido obligatorio definido por los Parámetros Curriculares Nacionales en el Bloque de Contenidos de Actividades Rítmicas y Expresivas. Y también en la Base Curricular Común Nacional que la propone como unidad temática en la Educación Primaria en una construcción progresiva a partir de objetos de conocimiento: El Baile en el contexto comunitario y regional; Bailes de Brasil y del mundo; Bailes de origen indígena y africano; y Bailes urbanos. El presente trabajo tuvo como objetivo analizar la percepción de profesores de Educación Física sobre la enseñanza del Baile en cinco escuelas municipales del barrio Conjunto Ceará, en la ciudad de Fortaleza-CE. Para ello, la metodología utilizada fue un cuestionario específico sobre Baile (Wholqol-Bref), dividido en bloques temáticos y aplicado con profesores de las escuelas con el fin de conocer cuáles son sus percepciones sobre el conocimiento del contenidos de Baile, el desarrollo que el Baile es capaz de aportar, las dificultades encontradas y los intereses sobre el tema y su alcance. Los resultados mostraron que existe un vacío en los contenidos del Baile y dificultades para trabajar los enfoques y metodologías de clase en el proceso de enseñanza-aprendizaje de los estudiantes. También se confirmó que los docentes tienen pleno conocimiento de los beneficios que tiene el contenido.

    Palabras clave: Baile. Enseñanza. Educación Física.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 307, Dic. (2023)

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Introdução 

 

    O espaço escolar é capaz de proporcionar habilidades físico-motoras, psicológicas, afetivas e socioculturais, que permitem aos discentes o desenvolvimento de competências e o contato com as diferentes culturas.

 

    A Dança é um conteúdo obrigatório definido pelos Parâmetros Curriculares Nacionais-PCNs (Brasil, 1998) no Bloco de Conteúdos Atividades Rítmicas e Expressivas, permitindo que o aprendiz tenha vivências em diferentes campos do saber. Santiago, Maia, e Pereira (2020) destacam que a partir desse documento é possível compreender o papel que a Educação Física tem para a compreensão da importância das práticas corporais.

 

    O conteúdo também é definido na Base Nacional Comum Curricular-BNCC (Brasil, 2018) como uma unidade temática nos anos iniciais (1º ao 5º ano) e finais (6º ao 9º ano) do Ensino Fundamental em uma construção progressiva a partir dos objetos do conhecimento: Dança no contexto comunitário e regional; Danças do Brasil e do mundo; Danças de matrizes indígenas e africanas; e Danças urbanas. Sobre este documento Pereira, e Gomes (2018a) mencionam as práticas corporais em variadas significações sociais, incorporando a socialização e acrescentando perspectivas expressivas. Sobre a Dança ainda pode ser afirmado que a mesma se apresenta também como um meio de difusão cultural nos mais variados espaços sociais. (Pereira, Gomes, e Castro, 2019; Pereira, 2019; Pereira, 2021)

 

    Oliveira (2023) afirma que o pensar a Dança e o movimento como mecanismos potentes de construção de novos sentidos “Afinal, o corpo é espaço e a noção de espacialidade atravessa o corpo, e gera experiência” (p. 15).

 

    Sobre a Dança no âmbito escolar, Marques (2003, p. 17) afirma que a escola é “[...] sem dúvida, um lugar privilegiado para que isto aconteça e, enquanto ela existir, a Dança não poderá continuar mais sendo sinônimo de festinhas de fim de ano”. Complementando essa afirmação, e dialogando com Solano Núñez, e Guillén Pereira (2022), eles dizem sobre as incontáveis possibilidades na Educação Física que escapam do contexto tradicional, e a Dança se encontra entre uma delas.

 

    A partir desta afirmação, foi elencado um questionamento gerador, qual seja: como está sendo ministrado este conteúdo nas escolas? Importante mencionar que a formação de professores de Educação Física também é colocada em questão quando pensa-se o fato de o Brasil ser um país “dançante” e com inúmeras manifestações.

 

    O processo de formação de professores de Educação Física para ministrar conteúdos como a Dança é um ponto importante a se pesquisar, visto que muitas vezes os professores não têm segurança de trabalhá-lo. Por esse motivo acaba sendo “esquecido” e ficando defasado na abordagem em sala de aula, o que finda por colocá-lo apenas no contexto das apresentações em festas escolares (Nascimento, 2018). Tal pensamento é validado por Pereira, Santiago, Souza, Maia, e Nunes (2020) que ao falar da Dança na escola, afirma que isso não significa propor apenas apresentações culturais em datas festivas.

 

    Segundo Marques (1997) a escola tem o objetivo, não de reproduzir a Dança, mas de instrumentalizar e construir conhecimentos através dela com seus alunos, sendo uma forma de conhecimento e elemento essencial para a educação de seres sociais. É preciso planejar, pensar metodologias, vivenciar e avaliar todo o processo de ensino-aprendizagem, tanto quanto outros conteúdos.

 

    Diante desse cenário, no qual questões político-educativas têm sido discutidas para melhoria do ensino e aprendizagem nas escolas, gerou-se o anseio de analisar a percepção dos professores referente à qualidade do ensino do conteúdo de Dança em escolas públicas.

 

    A presente pesquisa foi aplicada em cinco escolas municipais do bairro Conjunto Ceará, localizado no Distrito V da Cidade de Fortaleza no estado do Ceará, em virtude de sua grande extensão como bairro e pela aproximação de um dos pesquisadores com a comunidade local por já ter atuado como docente de umas das escolas em questão. O referido bairro contém cerca de 8 escolas municipais de Ensino Fundamental(dados informados pelo Distrito V de Educação de Fortaleza). Para a pesquisa priorizou-se turmas de 8º e 9° anos, com alunos dos sexos masculino e feminino. Desse modo, elencaram-se como objetos de estudo desta pesquisa: a percepção dos professores que ministram a disciplina de Educação Física no contexto escolar sobre as aulas de Dança e seus benefícios no processo de ensino-aprendizagem dos alunos; e o nível de conhecimento destes professores acerca do conteúdo de Dança e suas possíveis dificuldades. Para isto, utilizou-se um questionário específico sobre Dança (Wholqol-Bref), aplicado aos docentes das escolas.

 

    Desse modo, o objetivo em tela desta pesquisa é analisar a percepção dos professores de Educação Física no ensino da Dança, em cinco escolas municipais do bairro Conjunto Ceará, na cidade de Fortaleza-CE.

 

Metodologia 

 

    Esta pesquisa é um estudo de abordagem quanti-qualitativa, que segundo Pereira, Sousa e Ferreira (2021) é também denominada de abordagem mista ou híbrida, ou seja: “é uma combinação multimétodo entre os enfoques qualitativo e quantitativo” (p. 4).

Os sujeitos da pesquisa foram os docentes de Educação Física (entre homens e mulheres) lotados em cada uma das escolas municipais do bairro Conjunto Ceará, apontadas pelo Distrito V de Educação.

 

    A coleta de dados foi realizada através de contato inicial, a princípio com os professores das 8 escolas do referido bairro, dos quais somente 5 professores afirmaram que gostariam de participar da pesquisa. Feito o contato inicial, partiu-se para a assinatura do Termo de Esclarecimento Livre e Esclarecido (TCLE) pelos professores, o qual explicitava o objetivo da pesquisa, a metodologia utilizada, os respectivos preceitos éticos e a garantia do anonimato. Bem como, a assinatura do Termo de Anuência assinado pelos responsáveis pelas respectivas instituições escolares dos quais os professores faziam parte.

 

    Posteriormente foi utilizado o questionário Whoqol-Bref, voltado para especificidades sobre o conteúdo de Dança, através de quatro Blocos de perguntas: Conhecimento, Desenvolvimento, Dificuldades e Interesse sobre a temática e a escola, o qual foi aplicado aos docentes. Por fim, foram analisados os resultados contidos no questionário aplicado.

 

Resultados e discussões 

 

    Os dados iniciais do questionário apontaram que os professores pesquisados tinham idade entre 32 a 39 anos, com a média entre 6 a10 anos de experiência docente, e entre 6 a 11 anos de formação em Educação Física.

 

    No Bloco I do Questionário, apresentou-se perguntas quanto ao conhecimento dos professores na disciplina de Dança, sendo verificado que 60% dos professores afirmaram ter conhecimento sobre a temática e para ministrarem aulas.

 

    Após, e ainda neste mesmo bloco, a pergunta fazia menção aos professores se sentirem seguros em ministrar o conteúdo, e nesse contexto o mesmo tinha relação com “não ter vergonha”, referindo-se a questão do professor se sentir constrangido em realizar as atividades. Com isso, 80% dos professores responderam não se sentirem seguros em ministrar aulas sobre o conteúdo. Somente um dos professores afirmou possuir segurança sobre o tema, porém não ter vergonha de ministrar as aulas.

 

    Já quando foi perguntados se os alunos se sentiam motivados, 20% dos professores responderam que reconheciam tal motivação, 40% informaram que vêem os alunos “mais ou menos” motivados, e o restante que não viam qualquer motivação por parte dos discentes.

 

    Necessário mencionar ainda que três professores escreveram observações nos questionários, que se referiam sobre a afirmação da falta de conhecimento sobre o conteúdo de Dança, por questões formativas, como o comentário do Professor A: “Sinto também que preciso de mais formação na área de Dança para conseguir dinamizar melhor as aulas”. E o seguinte comentário do Professor B: “O principal limitante para que não ocorram aulas de Dança é minha total falta de conhecimento no aspecto prático. Mas concordo plenamente que a Dança é um tema fundamental dentro da disciplina de Educação Física”.

 

    Foi corroborado o comentário do professor com o pensamento de Strazzacappa (2001), a qual afirma que o despreparo vivido por alguns docentes tem gerado o aumento da falta de compreensão dos mecanismos da Dança no contexto escolar, o que por consequência gera a resistência dos alunos.

 

    Outro professor mencionou um fator importante sobre as questões de gênero implicadas no conteúdo de Dança: a falta de motivação principalmente dos meninos, que aparentavam carregar consigo certo receio da prática, vendo-a como afeminada. Sobre isso, Silva (2012) chama a atenção para o fato de que cabe ao professor de Educação Física adaptar as aulas de modo a evitar as exclusões entre meninos e meninas e a fim de desconstruir ideias pré-concebidas sobre a sexualidade e a Dança.

 

    No Bloco II do questionário apresentaram-se perguntas quanto ao desenvolvimento dos alunos e os seus aspectos motores, saúde e qualidade de vida. aprendizado, memória e concentração, melhoria da socialização e quebra de preconceitos.

 

    No que tange ao desenvolvimento dos aspectos motores, todos os professores afirmaram que entediam o conteúdo de Dança sendo capaz de desenvolver os aspectos motores dos discentes durante as aulas.

 

    Quando questionados sobre saúde e qualidade de vida, todos os professores também concordavam que tais aspectos se elencavam a temática da Dança. Sobre isso, e tecendo comentários acerca da Educação Física escolar de um modo geral, se confirma com o que afirmam Pereira, e Souza (2020) que através das práticas corporais, nos seus mais diversos âmbitos, a Educação Física possibilita a adoção de hábitos saudáveis, pois oferece oportunidades para que os discentes se tornem sujeitos de sua própria saúde.

 

    Quando questionados sobre o aprendizado, melhoramento da socialização e quebra de preconceitos, novamente todos os professores responderam que entendem a Dança como um conteúdo capaz de gerar tais preceitos sobre os alunos, aprimorando o aprendizado, memória e concentração dos participantes, e entendendo a Dança como uma proposta capaz de melhorar a socialização e o rompimento de estereótipos. Um dos docentes ainda afirmou que “[...] apesar de não trabalhar a Dança em minhas aulas, concordo com todos os fatores” (Professor C).

 

    A Dança, sendo primordial para o desenvolvimento da criança, age como proposta lúdica de trabalhar as habilidades motoras, dispondo de prazer e alegria aos partícipes. A prática da Dança proporciona ao aluno uma ampla consciência corporal em relação ao mundo, desenvolvendo a criatividade, a liderança e a exteriorização dos seus sentimentos.

 

    Para além de uma proposta lúdica, a Dança, tem uma compreensão sobre processos sensíveis, apresentando uma diversidade sobre o campo de conhecimento cultural (Pereira, e Gomes, 2018b). Assim, sugere-se que os professores escolham fatos do cotidiano como condição para que os alunos possam trabalhar pequenas composições, ainda que direcionadas pelo próprio professor. Sem que este, no direcionamento, possa interferir diretamente na composição singular de cada um.

 

    As composições coreográficas são elementos riquíssimos para que os alunos possam desempenhar suas habilidades, inclusive sua criatividade. Segundo Miranda (1979):

    [...] sentimentos contrastantes ou não, imagens abstratas, elementos da natureza, uma pintura, uma poesia, uma escultura, um sonho ou até um fato do cotidiano podem ser usados isoladamente ou em combinação como ponto de partida para uma estrutura coreográfica. (Miranda, 1979, p. 58)

    Com esse pensamento, compreende-se que é preciso dimensionar os momentos de discussão e vivências práticas nas aulas de forma que os discentes sejam também autores principais do processo, que possam criar e (re)criar a partir das histórias, culturas e vivências de cada um.

Dando sequência ao presente estudo, os Blocos III e IV do questionário investigavam especificamente: No Bloco III as dificuldades enfrentadas no âmbito estrutural, material e prático da escola; e no Bloco IV os interesses e perspectivas do professor sobre o assunto abordado na pesquisa.

 

    Na análise dos dados dos referidos blocos foi inferido que quando questionados sobre o preconceito da Dança entre os alunos, 20% dos professores responderam que notavam o referente aspecto, 60% informaram que notavam parcialmente, e o restante (20%) que não notava tal fato durante as aulas.

 

    Sobre esta análise, Castro, Silva, e Júlio (2010) apontam que a participação dos meninos pode ser intercedida por transformações emergentes do contexto cultural em que a comunidade escolar está inserida. É importante tornar o aluno o protagonista do processo de ensino-aprendizagem.

 

    Entre os sujeitos da presente pesquisa, 80% dos professores responderam que notavam certa dificuldade sobre a participação nas aulas práticas de Dança, porém que possuíam material para suporte da aula (como Datashow, Internet, livros, etc.), enquanto 20% disseram ter realmente materiais adequados.

 

    O mesmo dado foi encontrado quando indagados sobre a adequação do espaço, e colocando que isso dificultava bastante a realização das aulas principalmente práticas. Já os outros 20% informaram ter efetivamente um espaço adequado.

 

    Ainda sobre a adequação do espaço um professor relatou sobre a vergonha dos alunos, com um relato direcionado para a necessidade de um espaço mais reservado:

    Sinto necessidade de um espaço mais reservado para o trabalho com os alunos. Muitas vezes a quadra está cheia de outros alunos e a turma fica envergonhada de participar. Algumas vezes realizo as experiências práticas na sala de aula para que os mesmos fiquem mais à vontade, contudo o espaço é reduzido e inadequado (Professor A).

    Sousa, e Hunger (2019) também discutiram sobre a questão do espaço para aulas de Dança, apontando como umas das indicações sobre a infraestrutura escolar, e evidenciaram três tipos de problemas, quais sejam: a limitação do espaço, a estrutura física inadequada e a falta de um espaço físico.

 

    Sobre a compreensão do conteúdo em questão, todos os professores até relataram entender a Dança como uma evidência na escola, colocando que ela promove a disseminação da cultura em outros espaços e que também entendiam a importância em trabalhá-la na escola. E 60% disseram dar incentivo para que os alunos continuem aprimorando-se em grupos extraescolares. Com isso o Professor A externou o seguinte relato “Tento incentivá-los a participarem inclusive do grupo de Dança da escola, o qual direciono nos projetos especiais, contudo, o horário é muito ruim para a maioria (11h a 12h) ficando difícil um trabalho mais completo e direcionado”.

 

    Quando indagados se “gostavam de dar aulas de Dança”, os dados já se apresentaram idênticos. Para isso, Marques (2011) aponta que um dos grandes problemas é que a maioria dos professores não sabem precisamente o que, como e porque ensinar Dança na escola, por isso não se sentem seguros, alegando “não gostar” de ministrar o conteúdo.

 

    Desse forma, compreende-se que os dados e relatos da pesquisa autenticam a necessidade de formação na área de Dança para que os professores possam ter melhor preparo para direcionar suas aulas e garantir uma participação efetiva dos discentes.

 

Conclusões 

 

    A presente pesquisa se baseou na aplicação do questionário Whoqol-Bref, o qual objetivou analisar o nível de conhecimento sobre o conteúdo de Dança dos professores de Educação Física das escolas municipais do bairro Conjunto Ceará para alunos de 8º e 9º anos.

 

    Foi verificado que há uma notável defasagem relatada pelos professores e foram identificadas certa dificuldades por parte dos mesmos para trabalhar as abordagens e metodologias nas aulas e facilitar o processo de ensino-aprendizagem sobre a Dança. Os Professores de Educação Física vêem que há uma gama de possibilidades de atuação, mas é fato que acabam por direcionar seus conhecimentos às disciplinas que mais gostam. E isto acaba por distanciar os saberes que deveriam ser repassados na Educação Básica. Se reforça, ainda, que muitos professores estão apenas utilizando de suas habilidades mais latentes para ministrar as aulas, gerando uma formação básica incompleta.

 

    Confirmou-se também que os professores possuem pleno conhecimento quanto aos benefícios no processo de ensino-aprendizagem dos alunos sobre a temática em questão, apontando inclusive o desenvolvimentos de aspectos psicomotores, afetivos e cognitivos.

 

    O direcionamento sobre a Dança e seus aspectos socioafetivos efetivam-se para que a quebra de preconceitos possa ser incentivada no meio escolar. A proposta era explorar como os professores assistiam essas ações no meio escolar, e agora identificados, infere-se para que tal nuance possa ser futuramente minimizada.

 

    Nota-se também, segundo a pesquisa, que as escolas necessitam de espaços físicos mais adequados (salas práticas, espaços temáticos) para a ministração das aulas práticas de Dança, reiterando que a maioria dos professores disseram estar insatisfeitos com a estrutura escolar em que trabalham. Aumentando assim a privação em realizar atividades nesta temática.

 

    Deste modo, considera-se que é necessário propor processos de intervenções e capacitações iniciais e continuadas para os professores de Educação Física, os quais sejam voltadas as especificidades deste conteúdo para que os professores se sintam mais seguros e preparados para abordar tal temática.

 

    Vale ressaltar que existem mais campos a se pesquisar, de modo que a escola, o ensino, o professor e o aluno sejam beneficiados da mesma. Mas, espera-se que tal trabalho possa ter contribuído teoricamente através da pesquisa nesta área. E que através destes meios, a prática da Dança tenha mais espaço para que seja potencializada nas escolas.

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 307, Dic. (2023)