ISSN 1514-3465
Atividade física e comportamentos sedentários em mulheres com filhos
Physical Activity and Sedentary Behaviors in Women with Children
Actividad física y conductas sedentarias en mujeres con hijos
Beatriz Alexandra Rosa da Silva
*biasilva03001@gmail.com
Carlos Eduardo Gonçalves da Costa Vasconcelos
**cvasconcelos@esev.ipv.pt
*Licenciatura em Desporto e Atividade Física
na Escola Superior de Educação de Viseu, Instituto Politécnico de Viseu
Técnica de Exercício Físico no Ginásio Forlife em Viseu
Técnica de Atividades de Enriquecimento Curricular
Agrupamento de Escolas do Viso Viseu
**Doutoramento em Ciências do Desporto
na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Mestrado em Atividade Física e Saúde
na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
Licenciatura em Desporto e Educação Física
na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
Membro integrado do CI&DEI
Professor no Departamento de Ciências do Desporto e Motricidade
da Escola Superior de Educação de Viseu, Instituto Politécnico de Viseu
(Portugal)
Recepción: 15/11/2023- Aceptación: 30/03/2024
1ª Revisión: 06/01/2024 - 2ª Revisión: 26/03/2024
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
Este trabalho está sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt |
Cita sugerida:
Silva, B.A.R. da, e Vasconcelos, C.E.G. da C. (2024). Atividade física e comportamentos sedentários em mulheres com filhos. Lecturas: Educación Física y Deportes, 29(312), 71-83. https://doi.org/10.46642/efd.v29i312.7159
Resumo
Uma elevada percentagem de pessoas não cumpre com as recomendações de atividade física e comportamentos sedentários, principalmente mulheres com filhos. O objetivo do presente estudo transversal foi o de analisar os níveis de atividade física e comportamentos sedentários de mulheres com filhos e averiguar se há diferenças de acordo com o número de filhos que têm. Participaram 29 mulheres com uma média de idades de 44,9 ± 8,7 anos (14 com 1 filho e 15 com 2 filhos), que eram utentes de um Ginásio em Viseu, Portugal. Os dados foram obtidos através da versão curta do International Physical Activity Questionnaire. O número de filhos também foi questionado, para efeitos de análise. Cerca de 72% das participantes não cumpre com as recomendações de atividade física moderada, 69% não cumpre com as recomendações de atividade física vigorosa, e 72% e 90% cumpre com as recomendações para tempo sentado (durante a semana e ao fim-de-semana respetivamente). Não foram encontradas diferenças significativas entre mulheres com 1 e 2 filhos no tempo de atividade física moderada (p=0,478), vigorosa (p=0,516) e no tempo sentado durante a semana (p=0,053) e ao fim-se-semana (p=0,405). A maioria das participantes não cumpre com as recomendações de atividade física moderada e vigorosa e cumpre com as recomendações para o tempo sentado. O número de filhos não influencia os níveis de atividade física e de comportamentos sedentários.
Unitermos:
Mulheres. Filhos. Atividade física. Comportamentos sedentários.
Abstract
A high percentage of women do not comply with the recommendations for physical activity and sedentary behavior, especially women with children. The objective of this cross-sectional study was to analyze the levels of physical activity and sedentary behavior of women with children and to find out if there are differences according to the number of children they have. Participants were 29 women with a mean age of 44.9 ± 8.7 years (14 women with 1 child and 15 with 2 children), who were users of a Gym in Viseu, Portugal. Data were obtained using the short version of the International Physical Activity Questionnaire. The number of children was also questioned for analysis purposes. About 72% of women do not meet the recommendations for moderate physical activity, 69% do not meet the recommendations for vigorous physical activity and 72% and 90% comply with the recommendations for sitting time (during the week and at the weekend respectively). No significant differences were found between women with 1 and 2 children in time of moderate (p=0.478), vigorous (p=0.516) and sitting time during the week (p=0.053) and weekend (p=0.405). Most of the women do not comply with the recommendations for moderate and vigorous physical activity and comply with the recommendations for sitting time. The number of children does not influence levels of physical activity and sedentary behavior.
Keywords:
Women. Children. Physical activity. Sedentary behaviors.
Resumen
Un alto porcentaje de personas no cumple con las recomendaciones de actividad física y sedentarismo, especialmente las mujeres hijos. El objetivo de este estudio transversal fue analizar los niveles de actividad física y conductas sedentarias de mujeres con hijos y determinar si existen diferencias según el número de hijos que tienen. Participaron 29 mujeres, con una edad media de 44,9 ± 8,7 años (14 con 1 hijo y 15 con 2 hijos), usuarias de un gimnasio en Viseu, Portugal. Los datos se obtuvieron utilizando la versión corta del Cuestionario Internacional de Actividad Física. También se consideró el número de hijos con fines de análisis. Alrededor del 72% de los participantes no cumple con las recomendaciones de actividad física moderada, el 69% no cumple con las recomendaciones de actividad física intensa y el 72% y el 90% cumple con las recomendaciones de tiempo sentado (durante la semana y los fines de semana respectivamente). No se encontraron diferencias significativas entre mujeres con 1 y 2 hijos en el tiempo de actividad física moderada (p=0,478), vigorosa (p=0,516) y tiempo sentada entre semana (p=0,053) y fin de semana (p=0,405). ). La mayoría de las participantes no cumple con las recomendaciones de actividad física moderada y vigorosa y cumple con las recomendaciones de tiempo sentado. El número de hijos no influye en los niveles de actividad física y conductas sedentarias.
Palabras clave
: Mujeres. Hijos. Actividad física. Conductas sedentarias.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 312, May. (2024)
Introdução
A Atividade Física é considerada qualquer movimento corporal produzido pelo músculo esquelético, que resulta em gasto energético (Cilar Budler, e Budler, 2022). A atividade física pode ser realizada em diferentes contextos, tais como: lazer, desporto, atividades profissionais, doméstico e de transporte (Santos-Rocha et al., 2022). A Organização Mundial de Saúde (2020) recomenda que as pessoas pratiquem pelo menos entre 150 a 300 minutos de atividade física de intensidade moderada ou entre 75 a 150 minutos de intensidade vigorosa, por semana para benefícios de saúde. Esta recomendação é feita para adultos entre os 18 e 64 anos, apontando que a inatividade física (não cumprimento das recomendações acima referidas) foi reconhecida como a quarta principal causa de mortalidade, somente após as doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral e diabetes mellitus. (Chan et al., 2019).
Além disso, a Organização Mundial de Saúde (2020) recomenda também que as pessoas limitem o seu comportamento sedentário, considerado por Mello et al. (2020) como comportamento com baixo gasto energético (≤1.5 equivalentes metabólicos [METs]) enquanto sentado, deitado ou reclinado. O comportamento sedentário não deve superar as 7 horas por dia (quando avaliado por instrumentos auto-reportados), sob pena de aumento de risco de mortalidade por todas as causas. (Ku et al., 2018)
A parentalidade é considerada uma mudança na vida de uma pessoa que afeta o seu nível de atividade física (Sjögren et al., 2011), sendo que as mães são geralmente menos ativas do que os pais (Bellows-Riecken, e Rhodes, 2008; Albright et al., 2005; Hull et al., 2010). Para muitas mulheres, a parentalidade é marcada por numerosos eventos de stress, incluindo mudanças de função, isolamento social (Humenick, 2003), variações nos padrões de sono (Bayer et al., 2007) e depressão pós-parto (Rubin, e Maki, 2015). Uma vez que a prática regular de atividade física e a diminuição de comportamento sedentário estão associados à diminuição de doenças cardiovasculares, cancro, diabetes e hipertensão, é de todo pertinente que as mulheres com filhos consigam atingir as recomendações de atividade física e de comportamento sedentário (Currie, 2004; Hamilton, e White, 2010; Norman et al., 2010). A investigação sobre a associação de atividade física e parentalidade referem que ter filhos pode ser um obstáculo à prática de atividade física regular (Abbasi, 2014; Adamo et al., 2012; Carson et al., 2018; Nelson et al., 2014). Da revisão da literatura, foram encontrados vários estudos que analisaram o nível de atividade física de mulheres em função do número de filhos (Guardino et al., 2018; Carson et al., 2018; Uijtdewilligen et al., 2015; Bellows-Riecken, e Rhodes, 2008). Na sua maioria, foram realizados fora da Europa (não tendo conhecimento de nenhum realizado em Portugal) e não analisaram a relação dos comportamentos sedentários com o número de filhos. O objetivo do presente estudo foi o de analisar os níveis de atividade física e comportamentos sedentários de mulheres com filhos e averiguar se há diferenças nestes comportamentos de estilo de vida de acordo com o número de filhos que têm.
Métodos
Desenho da pesquisa
Este é um estudo transversal analítico que foi conduzido na cidade de Viseu, Portugal.
Participantes
Este estudo integrou 29 participantes (44,9 ± 8,7 anos), que frequentavam um Ginásio da cidade de Viseu no ano de 2023 e frequentavam aulas de Pilates uma vez por semana. Os critérios de inclusão foram os seguintes: disponibilidade para participação; inscrito no Ginásio onde foi aplicado o questionário; assiduidade a todas as aulas de Pilates no mês anterior à aplicação do questionário; ser do sexo feminino; ter pelo menos um filho. O único critério de exclusão foi o facto de as entrevistadas não terem qualquer filho.Todas as participantes preencheram o consentimento informado antes da participação no estudo. Foram implementados os procedimentos adequados para garantir a confidencialidade dos dados.
Avaliação do nível de Atividade física e Comportamentos Sedentários
O nível de atividade física e de comportamentos sedentários da presente amostra foi avaliado através da versão curta do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) (Craig et al., 2003), que inclui 8 questões relacionadas ao tempo e número de dias de atividades físicas (caminhada, atividade física moderada e vigorosa) e comportamentos sedentários. As perguntas incluem as atividades que as pessoas realizam no trabalho, para ir de um lugar a outro, por lazer, por desporto, exercício ou como parte das suas atividades em casa ou no jardim. Para todas as perguntas relacionadas com a atividade física (num total de 6 perguntas), os inquiridos são informados que devem incluir, somente, as atividades com uma duração mínima de 10 minutos contínuos. O número de dias e o tempo passado sentado num dia da semana ou num dia de fim-de-semana foi considerado uma medida reveladora do comportamento sedentário dos participantes.
Número de filhos
A informação referente ao número de filhos foi obtida a partir de duas perguntas no início do questionário: 1. Tem filhos (Sim; Não); 2. Se sim, quantos filhos tem?
Procedimentos
No que concerne aos aspetos metodológicos conducentes à organização e obtenção dos dados, enumeram-se os seguintes: a) O Diretor Técnico do Ginásio foi contactado pessoalmente para explicação dos objetivos do estudo e obtenção da respetiva autorização; b) levantamento do correio eletrónico de 100 utentes do sexo feminino inscritos no referido Ginásio; c) envio de e-mail para os 100 contactos previamente referidos indicando o objetivo do estudo, o link para acesso ao questionário online e a garantia de anonimato do inquirido e confidencialidade das respostas; d) recolha das respostas dos questionários realizados online, no qual só foram tratados aqueles que apresentavam a informação de que as entrevistadas tinham pelo menos um filho.
Análise estatística
As variáveis categóricas são apresentadas como proporções (número e percentagem), enquanto as variáveis contínuas são apresentadas como médias e desvio padrão (DP). O teste t de student foi utilizado para avaliar as diferenças na prática de atividade física e comportamentos sedentários entre as mulheres que tinham um ou dois filhos. Todas as análises estatísticas foram realizadas usando Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 26. O nível de significância estatística foi estabelecido em p<0,05.
Resultados
As 29 participantes têm uma média de idades de 44,9 ± 8,7 anos. Conforme Tabela 1, a maioria tem entre os 45 e os 62 anos (n=16; 55%), são casadas (n=22; 75,9%) e têm 2 filhos (n=15; 52%).
Tabela 1. Caracterização da amostra
Características
da amostra |
N
(%) |
|
Sexo |
Feminino |
29
(100%) |
Idade |
Dos
30 aos 44 anos |
13
(45%) |
Dos
45 aos 62 anos |
16
(55%) |
|
Estado
Civil |
Casada |
22
(75,9%) |
Divorciada |
5
(17,2%) |
|
Solteira |
2
(6,9%) |
|
Tem
filhos |
1
filho |
14
(48%) |
2
filhos |
15
(52%) |
Fonte: Dados da pesquisa (2023)
Na Tabela 2 é apresentada a comparação dos níveis de atividade física e comportamentos sedentários consoante o número de filhos. Verifica-se que em função do número de filhos, não há diferenças significativas: 1) no número de dias que passam a caminhar pelo menos 10 minutos (p = 0,330); 2) no tempo a caminhar pelo menos 10 minutos contínuos por dia (p = 0,664); 3) número de dias de prática de atividade física moderada (p = 0,820); 4) tempo de atividade física moderada de pelo menos 10 minutos por dia (p = 0,478); 5) número de dias de atividade física vigorosa (p = 0,618); 6) tempo de atividade física vigorosa de pelo menos 10 minutos por dia (p = 0,516); 7) tempo sentado num dia de semana (p = 0,053); 8) tempo sentado num dia de fim-de-semana (p = 0,405).
Tabela 2. Atividade física e comportamentos sedentários consoante o número de filhos
Variáveis |
1 filho |
2 filhos |
p value |
Nº dias caminhar pelo menos 10 min. |
3,1 ± 2,3 |
3,9 ± 2,4 |
0,330 |
Tempo caminhar (min.) |
91,4 ± 110,4 |
73,7 ± 107,2 |
0,664 |
Nº dias AF moderada |
3,6 ± 2,1 |
3,5 ± 2,1 |
0,820 |
A.F. moderada (min.) |
96,1 ± 99,9 |
120,3 ± 79,7 |
0,478 |
Nº dias AF vigorosa |
2,1 ± 2,0 |
1,7 ± 1,5 |
0,618 |
A.F. vigorosa (min.) |
74,3 ± 98,3 |
55,3 ± 43,7 |
0,516 |
Tempo sentado dia semana (min.) |
214,3 ± 142,6 |
346,0 ± 203,1 |
0,053 |
Tempo sentado fim semana (min.) |
227,1 ± 159,9 |
182,0 ± 123,4 |
0,405 |
Nº: número; min.: minutos; A.F.: Atividade Física. Fonte: Dados da pesquisa (2023)
Na Figura 1 são apresentados dados de apenas 27 entrevistadas, uma vez que 2 participantes não reportaram ter praticado atividade física moderada por pelo menos 10 minutos contínuos. Dessas 27 respostas, constata-se que nas mulheres com apenas um filho, 10 delas (77%) praticaram atividade física moderada durante menos de 150 minutos, 2 (15%) praticaram durante 150 a 300 minutos e 1 (8%) praticou durante mais de 300 minutos. Relativamente às mulheres que têm dois filhos, 9 delas (64%) realizaram atividade física moderada durante menos de 150 minutos e 5 delas (36%) durante 150 a 300 minutos.
Na Figura 2 foram consideradas apenas 20 respostas, uma vez que 9 participantes não reportaram praticar atividade física vigorosa por pelo menos 10 minutos contínuos. Dessas 20 respostas, pode-se observar que a maior percentagem das entrevistadas (quer com um [45%] quer com dois filhos [64%]) praticaram atividades vigorosas durante menos de 75 minutos. Nas mulheres com um filho, houve ainda 3 (33%) que realizaram atividade física vigorosa com uma duração entre 75 e 150 minutos e 2 (22%) que realizaram mais de 150 minutos. Nas mulheres com 2 filhos, os 36% sobrantes realizaram atividade física vigorosa com uma duração entre 75 e 150 minutos.
A Figura 3 apresenta dados relativos ao tempo total em que as participantes do estudo estão sentadas num dia de semana e ao fim-de-semana. Nas mulheres que têm apenas 1 filho (n = 14): num dia de semana, 6 (43%) passam menos de 3 horas, 6 (43%) estão entre 3 a 7 horas e 2 (14%) passam mais de 7 horas sentadas por dia; ao fim-de-semana, 6 (43%) passam menos de 3 horas sentadas por dia, 5 (36%) passamentre 3 a 7 horas e 3 (21%) passam mais de 7 horas. Relativamente às mulheres que têm 2 filhos (n = 15): num dia de semana 4 (27%) passam sentadas menos de 3 horas por dia, 5 (33%) passam entre 3 a 7 horas e6 (40%) passam mais de 7 horas; ao fim-de-semana, 7 (47%) passam sentadas menos de 3 horas sentadas por dia, enquanto 8 (53%) passam entre 3 a 7 horas.
Discussão
Relativamente ao tempo a caminhar por dia, para atender às diretrizes de prática de atividade física da Organização Mundial de Saúde (2020), os indivíduos são incentivados a caminhar um mínimo de 3.000 passos em 30 minutos em 5 dias por semana. Três períodos de 1000 passos em 10 minutos por dia também podem ser usados para atingir a meta recomendada. (Marshall et al., 2009). No presente estudo, houve 21% dos participantes caminharam 5 dias ou mais durante 10 minutos contínuos,sendo que 65% caminharam mais de 30 minutos contínuos por dia.
O cumprimento das recomendações de atividade física preconizadas pela Organização Mundial de Saúde (2020) tem uma associação direta e significativa com a qualidade de vida das mães,controlando as variáveis de raça/etnia, renda anual materna e nível de escolaridade materna (Limbers et al., 2020). No estudo de Abell et al. (2019), realizado com 6266 mulheres com idades compreendidas entre os 25 e os 44 anos, 50% da amostra não cumpriu com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (2020) para os níveis de atividade física para população adulta. Desses 50%, cerca de um terço (33%) reportou ter um ou mais filhos. Em conformidade, Limbers et al. (2020) concluíram que mais de 50% (54% mais especificamente) das mães não cumpriu com as diretrizes recomendadas pela Organização Mundial de Saúde para atividade física semanal. São vários os fatores que condicionam a atividade física das mães: 1) fatores biológicos (recuperação pós-parto; fadiga, mudanças fisiológicas); 2) fatores individuais (limitação de tempo; alteração de prioridades);3) fatores psicológicos (barreiras para deixar o filho; auto-controlo); 4) fatores interpessoais (influência social e do filho); e 5) fatores ambientais (preço da prática de atividade física estruturada) (Versele et al., 2022). Como forma de inverter a inatividade física das mães, Versele et al. (2022) sugerem as seguintes intervenções: 1) modificação comportamental, realizada em grupo, através de objetivos de prática de atividade física a curto prazo; 2) mudanças nos locais de trabalho das mães, permitindo a prática de atividade física regular em contexto laboral; 3) mudança de paradigma que o Homem tem menos responsabilidade com os filhos em comparação com a Mulher; 4) serviço de babysitter nos locais de prática de exercício físico; 5) criação de mais oportunidades de prática conjunta de exercício físico das mães com os seus filhos. Estas duas últimas estratégias são também propostas por Ballesteros et al. (2020). Relativamente à prática de atividade física em contexto laboral, apesar de estar descrita a sua contribuição para melhorias na qualidade de vida dos trabalhadores, incluindo aumento de níveis de atividade física (Silva, e Mocarzel, 2019), há um número inexpressivo de programas voltados para a saúde e bem-estar dos trabalhadores (Hipólito et al., 2017). Após aplicação de um programa de ginástica laboral de 8 semanas (3 vezes por semana), houve um aumento dos níveis de atividade física dos trabalhadores, dos quais 70% eram mulheres adultas (apesar de as diferenças não serem significativas) (Rodrigues, 2023). Corroborando Júnior et al. (2013), a participação dos pais em atividades físicas com os filhos foi identificada como fator inversamente associado ao baixo nível de atividade física de crianças pré-escolares.
Segundo Ku et al. (2018), elevados períodos de tempo em comportamento sedentário estão diretamente associados a um elevado risco de mortalidade por todas as causas em pessoas adultas.Ainda conforme os autores, tendo como base investigações realizadas com instrumentos auto-reportados (como é o caso do IPAQ), o valor de 7 horas sentado diariamente corresponde àquele a partir do qual o risco de mortalidade por todas as causas aumenta exponencialmente. Nesse sentido, o facto de a maioria das entrevistadas apresentarem valores de tempo sentado abaixo das 7 horas diárias é um aspeto bastante positivo e relevante para a sua saúde.No entanto, deve-serealçar que o tempo sedentário avaliado através de instrumentos auto-reportados como o IPAQ, leva a uma subestimação do tempo sedentário total de 2 a 3,5 horas. (Gupta et al., 2017)
No estudo de Abell et al. (2019), a atividade física das mães foi significativa e inversamente associada com o número de filhos. Em comparação com pessoas sem filhos, houve uma menor probabilidade de as mães com 1 (25%), 2 (21%) e 3 ou mais filhos (20%) cumprirem com as recomendações de atividade física. Após terem sido controladas as variáveis socioeconómicas e o estado civil, os autores referem que ter filhos em casa (1 ou mais filhos vs. 0 filhos), e não o número de filhos (1 ou mais), é o principal obstáculo à prática de atividade física regular para as mães (Abell et al., 2019). Resultados similares foram encontrados por Carson et al. (2018), que referem que mães (independentemente do número de filhos que têm) apresentam menor probabilidade (31%) de cumprir com as recomendações de atividade física para mulheres com filhos (independentemente do número), comparativamente com pessoas sem filhos. Estes resultados corroboram opresente estudo, no qual não houve diferenças significativas no nível de atividade física (moderada e vigorosa) e no comportamento sedentário (durante a semana e fim-se-semana) entre mães com 1 e 2 filhos.
Já no que diz respeito ao comportamento sedentário, que maioritariamente é determinado pelo tempo que as pessoas passam sentadas durante o dia, mulheres com filhos (independentemente do seu número) têm maior probabilidade em cumprir com as recomendações de tempo sentado por dia em comparação com mulheres sem filhos (Carson et al., 2018). No que diz respeito aos fatores que interferem com o comportamento sedentário estes são: situacionais (questões laborais, limitação de tempo), biológicos (saúde física), psicológicos (autorregulação) e interpessoais (cuidar do filho). (Versele et al., 2022)
Algumas limitações foram identificadas no desenvolvimento da pesquisa: 1) design transversal, o que não permite a determinação de causa-efeito; 2) pouca representatividade, dada a amostra reduzida. Desta forma, não se pode efetuar qualquer generalização dos dados; 3) os dados foram auto-reportados; 4) inexistência de grupo de controlo; 5) não foi efetuada a recolha de dados relativos ao trabalho das participantes do estudo. No entanto, esta investigação apresenta os seguintes pontos fortes: 1) dar resposta a uma lacuna existente na literatura (existência de poucos estudos acerca desta temática); 2) utilização de um instrumento validado para recolha de dados. Investigações futuras devem implementar um design longitudinal e instrumentos objetivos de avaliação dos níveis de atividade física e comportamentos sedentários, como por exemplo os acelerómetros. Além disso, pode ser feita uma análise dos níveis de atividade física e comportamentos sedentários de mães em função da idade dos filhos.
Conclusões
A maioria das participantes não cumpre com as recomendações de atividade física moderada e vigorosa e cumpre com as recomendações para o tempo sentado. Desta forma, as mães são um grupo de risco para o não cumprimento dos níveis ideais de atividade física para benefícios de saúde. No que diz respeito à comparação dos níveis de atividade física e de comportamentos sedentários de mães com um e dois filhos, não foram encontrados resultados significativos nos níveis de atividade física e de comportamentos sedentários. Os resultados reforçam a ideia da necessidade de desenvolvimento de estratégias para inverter esta tendência de inatividade física neste público alvo.
Referências
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 29, Núm. 312, May. (2024)