Lecturas: Educación Física y Deportes | http://www.efdeportes.com

ISSN 1514-3465

 

Resposta aguda da autoliberação miofascial associado a

mobilidade articular no tornozelo em praticantes de cross training

Acute Response of Myofascial Self-Release Associated 

with Ankle Joint Mobility in Cross Training Practitioners

Respuesta aguda de autoliberación miofascial asociada con la 

movilidad de la articulación del tobillo en practicantes de cross training

 

Walci Alves Rocha Júnior*

wellkjunior@gmail.com

Elbert Wander Cantão**

elbertcantao@gmail.com

Ludmila Jayme Borges+

ludfulvio@hotmail.com

Fábio Vieira de Andrade Borges++

fabiovieira@unirv.edu.br

 

*Graduado em Educação Física

pela Faculdade UniBras de Rio Verde

Pos graduando em Fisiologia do exercício

pelo o Instituto Marcelo Guerra

Pos graduando em Biomecânica da atividade da saúde e reabilitação

pela Faculdade Faceminas

**Mestrado em Ciências Aplicadas à Saúde (PPGCAS)

na Universidade Federal de Jataí (UFJ)

Pós graduação em Nutrição Humana e Saúde

pela Universidade Federal de Lavras/MG

Pós graduação em Biomecânica da Atividade Física

na Saúde e Reabilitação pela Facuminas/MG

Graduado em Educação Física

pela Faculdade Presbiteriana Gammon-Lavras/MG

Professor Universitário (substituto) do curso de Educação Física

na Universidade Estadual de Goiás (UEG - Quirinópolis)

Treinador da empresa CORE 360

+Mestre em Educação

pela Universidade Federal de Goiás (PPGE/REJ)

Especialização lato sensu em Educação Física Escolar

pela Universidade de Rio Verde-GO

e em Fisiologia e Cinesiologia da Atividade Física e Saúde

pela Universidade Gama Filho

Graduada em Educação Física pela UNIRV

Atualmente, professora efetiva da Secretaria Estadual

de Educação, na cidade de Rio Verde-GO

++Graduado em Matemática

Licenciatura Plena pela Universidade de Rio Verde

Especializado em Matemática e Estatística

pela Universidade Federal de Lavras

Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional - PROFMAT

Ministrado pela Universidade Federal de Goiás

e coordenado pela Sociedade Brasileira de Matemática - SBM

Atualmente é professor efetivo

da Faculdade de Engenharia de Produção

da Universidade de Rio Verde

Professor de Matemática do Ensino Médio

do Colégio Estadual Martins Borges

(Brasil)

 

Recepção: 30/07/2023 - Aceitação: 05/11/2023

1ª Revisão: 18/10/2023 - 2ª Revisão: 31/10/2023

 

Level A conformance,
            W3C WAI Web Content Accessibility Guidelines 2.0
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0

 

Creative Commons

Este trabalho está sob uma licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Rocha Junior, W.A., Cantão, E.W., Borges, L.J., e Borges, F.V. de A. (2023). Resposta aguda da autoliberação miofascial associado a mobilidade articular no tornozelo em praticantes de cross training. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(307), 70-83. https://doi.org/10.46642/efd.v28i307.7153

 

Resumo

    A articulação do tornozelo necessita de estabilidade e boa amplitude de movimento (ADM) no plano sagital para melhorar o rendimento físico e prevenir lesões em praticantes de Cross Training (CT), modalidade variada e de alta intensidade. Objetivo: Analisar a resposta aguda de uma sessão de auto liberação miofascial (ALMF) associado a exercícios de mobilidade articular (MA) na ADM de tornozelo em praticantes de CT. Resultados: As medidas obtidas através do goniômetro foram maiores no pós-teste (M=37,69; DP=4,107) quando comparados com o pré-teste (M=31,66; DP=3,798) (t(31)=29,678, p<0,001), sem diferença entre sexos (t(30)=0,447, p=0,658). Conclusão: A intervenção utilizada mostrou-se eficiente com aumento médio de 6,03 graus entre as medidas pré-teste e pós-teste.

    Unitermos: Liberação miofascial. Amplitude de movimento. Tornozelo. Mobilidade articular.

 

Abstract

    The ankle joint needs stability and good range of motion (ROM) in the sagittal plane to improve physical performance and prevent injuries in Cross Training (CT) practitioners, a varied and high-intensity modality. Objective: to analyze the acute response of a self myofascial release (MPS) session associated with joint mobility (JM) exercises in ankle ROM in TC practitioners. Results: The measurements obtained using the goniometer were higher in the post-test (M=37.69; SD=4.107) when compared to the pre-test (M=31.66; SD=3.798) (t(31)= 29.678, p<0.001), with no statistically significant difference between genders (t(30)=0.447, p=0.658). Conclusion: The intervention used proved to be efficient with an average increase of 6.03 degrees between pre-test and post-test measurements.

    Keywords: Myofascial release. Range of motion. Ankle. Joint mobility.

 

Resumen

    La articulación del tobillo necesita estabilidad y un buen rango de movimiento (RDM) en el plano sagital para mejorar el rendimiento físico y prevenir lesiones en los practicantes de Cross Training (CT), una modalidad variada y de alta intensidad. Objetivo: Analizar la respuesta aguda de una sesión de autoliberación miofascial (ALMF) asociada con ejercicios de movilidad articular (MA) en el RDM del tobillo en practicantes de CT. Resultados: Las mediciones obtenidas mediante el goniómetro fueron mayores en el postest (M=37,69; DE=4,107) en comparación con el pretest (M=31,66; DE=3,798) (t(31)=29,678, p<0,001), sin diferencia entre sexos (t(30)=0,447, p=0,658). Conclusión: La intervención utilizada demostró ser eficiente con un aumento promedio de 6,03 grados entre las mediciones pretest y postest.

    Palabras clave: Liberación miofascial. Rango de movimiento. Tobillo. Movilidad de las articulaciones.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 307, Dic. (2023)


 

Introdução 

 

    A mobilidade articular (MA) está relacionada ao grau de liberdade de movimento de uma determinada articulação e, sendo esta, a junção de dois ou mais ossos e, dependendo da articulação, permite movimentação em um ou mais planos de movimento que resulta de uma frouxidão normal dos ligamentos, músculos e cápsulas articulares (Barbanti, 2003; Floyd, 2011). A MA está relacionada diretamente como um componente dentro da valência física de flexibilidade, na qual a mobilidade está relacionada com as articulações e a flexibilidade com os tecidos moles, adjacentes daquela região e ambas interferem na amplitude de movimento (ADM) de uma determinada articulação. A flexibilidade é a capacidade que se obtém a amplitude durante a execução de movimentos. (Souza et al., 2019)

 

    A articulação do tornozelo necessita de estabilidade e boa amplitude de movimento (ADM) no plano sagital para que as atividades esportivas e cotidianas possam ser realizadas de maneira satisfatória (Teixeira,Olney, 1997; Vieira et al., 2018). Uma baixa ADM dessa região, em especial na amplitude de dorsiflexão, pode afetar negativamente atividades simples, como caminhar, correr ou se manter em equilíbrio. Além disso, a diminuição da ADM do tornozelo em dorsiflexão pode levar a dor patelofemoral, aumentar o risco de lesão nos joelhos e, em efeito em cascata, levar a uma série de disfunções articulares. (Grieve et al., 2022; Boyle, 2015; Basnett et al., 2013)

 

    As fáscias musculares são formadas por tecido conectivo, resistente e elástico que passam por todo o corpo humano, do crânio até os pés, permeando e envolvendo todos os tecidos moles como músculos, nervos e também estão presentes nas vísceras, artérias e veias. Os autores também destacam que as fáscias podem apresentar tensões e enrijecer seu tecido, levando a perda da elasticidade e capacidade adaptativa fisiológica, podendo gerar uma limitação na ADM (Cruz et al., 2018; Arruda, Stellbrink, e Oliveira, 2010). As fáscias são organizadas em trilhos miofasciais, entre eles a Linha Superficial Posterior (LSP) que compõe e protege toda a parte posterior, iniciando na ponta dos dedos passando pelo arco plantar, pelos membros inferiores, tronco e segue até o crânio. Os trilhos miofasciais mostram nosso corpo como uma única unidade, conectando-o através das fáscias. (Myers, 2010)

 

    A Autoliberação Miofascial (ALMF) é uma técnica manual, feita pelo próprio indivíduo, que atua diretamente no tecido conjuntivo das fáscias, aliviando possíveis dores e auxiliando no ganho de ADM. A ALMF atua nestes tecidos moles como uma forma de terapia manual, impedindo a rigidez e a limitação de movimentos (Cruz et al., 2018; Arruda, Stellbrink, e Oliveira, 2010). Dessa forma, há evidências que a ALMF pode, além de aumentar a ADM, reduzir dores e melhorar a funcionalidade da musculatura envolvida (Moraleda, Rosillo, García, e Morencos, 2020). As fáscias podem apresentar tensões e enrijecer seu tecido, levando a perda da elasticidade e capacidade adaptativa fisiológica, podendo haver uma limitação na amplitude de movimentos (Cruz et al., 2018). O estudo de Nehring et al. (2021) analisou os efeitos da ALMF na amplitude de movimento dos isquiotibiais em estudantes universitários divididos em dois grupos com intervenções distintas (30 segundos / 2 minutos) de ALMF. Os autores concluíram que ambos os grupos obtiveram aumentos estatisticamente significativos na ADM sem diferenças significativas entre os grupos.

 

    O Cross Training (CT) é uma modalidade de treinamento funcional, que abrange várias modalidades esportivas, como os levantamentos de peso olímpico, exercícios da ginástica artística e atividades metabólicas como remo, ciclismo e atletismo (Tibana et al., 2015). Uma boa ADM da região do tornozelo é fundamental para melhorar o rendimento físico e prevenir lesões em praticantes de CT, pois pesquisas que relatam lesões em praticantes de CT chegaram à conclusão que as áreas mais comuns de lesão são os ombros, região lombar e joelhos (Weisenthal et al., 2014; Hak, Hodzovic, e Hickey, 2013). Uma boa mobilidade de dorsiflexão é fundamental para evitar possíveis dores nos joelhos, limitação de movimentos, sobrecarga na região lombar e melhora no padrão dos movimentos utilizados nos exercícios. (Coelho et al., 2021; Boyle, 2015)

 

    Sendo assim, a hipótese deste trabalho é que haverá aumento da ADM em dorsiflexão de tornozelos com uma intervenção aguda contendo movimentos de ALMF associados a exercícios de MA para a mesma região. Os objetivos deste trabalho são: (1) verificar se existe ganho de ADM da região do tornozelo após uma única sessão de LMF associada a exercícios de MA; (2) se a idade dos indivíduos interfere de alguma forma nos resultados e (3) comparar os resultados obtidos entre homens e mulheres.

 

Metodologia 

 

Aspectos éticos, amostra e materiais utilizados 

 

    O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Rio Verde-UNIRV (CAAE 50034421.7.0000.5077). Todos os participantes foram informados sobre o objetivo do estudo e os procedimentos adotados na realização do mesmo. Para participar do estudo os indivíduos assinaram um Termo de Consentimento Livre Esclarecido.

 

    A pesquisa foi realizada em uma academia de CT na cidade de Rio Verde, GO. Os critérios de inclusão utilizados foram: praticar CT por pelo menos 2 meses ininterruptos com uma frequência semanal de no mínimo dois treinos por semana; sem histórico de lesão ou dor nos membros inferiores nos últimos seis meses; e sem nenhuma limitação que impedisse a realização dos testes. O não preenchimento dos critérios anteriores e a não conclusão total do protocolo de avaliação-procedimento-reavaliação foram adotados como critérios de exclusão. A amostra do estudo foi composta por 32 voluntários com média de idade de 31,7 ± 7,9 anos, sendo 15 homens com idade média de 31,4 ± 7,6 anos, e 17 mulheres com idade média de 32,0 ± 8,4 anos. Não houve perda amostral.

 

    Foi utilizado um goniômetro digital por aplicativo de celular (Angle Meter) para as avaliações iniciais e finais, um rolo de espuma de consistência dura e uma bola de borracha.

 

Avaliação pré-intervenção 

 

    Estudos prévios já constataram a confiabilidade dos testes utilizando o goniômetro digital como ferramenta de medição da ADM de diversas articulações do corpo humano e essa nova ferramenta mostrou-se uma alternativa tecnológica viável para o Lunge Test tradicional utilizando fita métrica (Beazell et al., 2012; Boyd, 2012; Chisholm et al., 2012; Konor et al., 2012; Thornton et al., 2016). Os indivíduos selecionados ficaram descalços com o pé direito inteiro apoiado no solo, deixando a tíbia de forma perpendicular ao mesmo (formando um ângulo de 90°) e o joelho da mesma perna ficou semiflexionado. O goniômetro digital foi posicionado logo abaixo da tuberosidade da tíbia, conforme estudos prévios e ficou em contato com a tíbia durante as marcações (Beazell et al., 2012; Konor et al., 2012). Antes de iniciar o teste, o goniômetro digital foi calibrado e zerado na posição inicial (Figura 1).

 

    Após o comando do avaliador, os voluntários projetavam o joelho a frente (mantendo semiflexionado) realizando o maior movimento possível de dorsiflexão do tornozelo sem deixar o calcanhar sair do chão (Figura 2). Na maior amplitude alcançada era feita a verificação angular através do goniômetro digital. Os dados foram coletados somente na perna direita.

 

Figura 1. Posição inicial do teste e de 

calibração do goniômetro (em destaque)

Figura 1. Posição inicial do teste e de calibração do goniômetro (em destaque)

Figura 2. Posição final do teste. Ponto 

de coleta do valor do ângulo de ADM

Figura 2. Posição final do teste. Ponto de coleta do valor do ângulo de ADM

Fonte: Autores

 

Intervenção 

 

    Após o teste inicial, os avaliados realizaram um protocolo contendo exercícios de ALMF e MA.

 

1ª etapa: Exercícios de ALMF 

 

    A ALMF foi feita seguindo a rota miofascial da Linha Superficial Posterior (Myers, 2009). O estudo de Nehring et al. (2021) analisou protocolos de 30 segundos e de 2 minutos de ALMF e não achou diferenças significativas na ADM entre os protocolos. Um outro estudo (Souza et al., 2019) utilizou um protocolo baseado em repetições (2x10 repetições e 2x20 repetições) e também não encontrou diferenças estatisticamente significativas entre eles. Baseado nesses estudos, foi realizada uma série de 40 segundos em cada região utilizando o movimento de “vai e vem”, conforme imagens a seguir (Figura 3).Em relação a pressão exercida no rolo de espuma, essa ficou condicionada ao peso corporal de cada participante, pedindo-se uma pressão de intensidade moderada a moderada-forte de acordo com o limiar de dor individual.

 

Figura 3. Autoliberação miofascial pré-avaliação. Fáscia plantar utilizando uma bolinha (A), Gastrocnêmio e Sóleo utilizando o rolo de espuma (B), Isquiotibiais utilizando o rolo de espuma (C), Glúteos utilizando o rolo de espuma (D) e Paravertebrais utilizando o rolo de espuma (E)

Figura 3. Autoliberação miofascial pré-avaliação. Fáscia plantar utilizando uma bolinha (A), Gastrocnêmio e Sóleo utilizando o rolo de espuma (B), Isquiotibiais utilizando o rolo de espuma (C), Glúteos utilizando o rolo de espuma (D) e Paravertebrais utilizando o rolo de espuma (E)

Fonte: Autores

 

2ª etapa: Exercícios de MA 

 

    Após a ALMF, os avaliados realizaram três exercícios de MA com característica de “vai e vem” de forma lenta, controlada e com maior ADM possível. Foram realizadas duas séries de 15 repetições de cada exercício com um intervalo de 45 segundos entre as séries. Os exercícios realizados são apresentados na Figura 4.

 

Figura 4. Exercícios de MA pré-avaliação em movimentação “vai e vem”. Em pé, de frente para a parede, com a ponta do pé encostando na mesma. Manter o joelho estendido e realizar o movimento de dorsiflexão até o limite articular (A). Em pé, em frente a uma parede, mãos apoiadas na parede e joelho da perna da frente semiflexionado. Realizar a máxima projeção do joelho para frente sem tirar o calcanhar do chão, realizando a dorsiflexão até o limite articular (B). Em pé, com o pé apoiado em cima do step, elástico (super band) colocado sobre o tornozelo (maléolos), fazendo uma tensão posterior. Realizar o movimento de projeção do joelho a frente, realizando a dorsiflexão até o limite articular sem tirar o calcanhar do step (C)

Fonte: Autores

 

Avaliação pós-intervenção 

 

    Após a realização da intervenção, foi realizada a reavaliação utilizando o mesmo procedimento da avaliação inicial.

 

Análise de dados 

 

    A análise estatística dos dados foi realizada utilizando o software Microsoft Excel 2019, enquanto o programa estatístico utilizado foi o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 26.0, para posterior tratamento estatístico descritivo. Adotou-se o intervalo de confiança de 95% (IC 95%) e foram considerados significativos valores de p≤0,05. Os dados obtidos foram analisados a cada duas variáveis mediante testes de normalidade (Kolmogorov-Smirnov), t-Student, correlação (Pearson) e regressão linear (Pearson).

 

Resultados 

 

    Foi realizado um teste t de Student de medidas repetidas com o objetivo de investigar se a intervenção aplicada foi capaz fornecer um ganho na amplitude de movimento da articulação do tornozelo na amostra estudada.

    

    A normalidade dos dados foi avaliada por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov e os resultados demonstraram que as variáveis ‘pré-teste’ e ‘pós-teste’ (K-S= 0,239, p> 0,05) apresentaram distribuição normal.

 

    A mobilidade articular do tornozelo foi mensurada antes da intervenção (pré-teste) e após a intervenção (pós-teste). Os resultados (Figura 5) demonstraram que as medidas obtidas através do goniômetro foram maiores no pós-teste (M=37,69; DP=4,107) quando comparados com o pré-teste (M=31,66; DP=3,798) (t(31)=29,678, p<0,001). Foi observado que o tamanho de efeito da diferença foi alto (d de Cohen = 5,25).

 

Figura 5. Comparação entre as médias antes e após a intervenção (IC de 95%)

Figura 5. Comparação entre as médias antes e após a intervenção (IC de 95%)

Fonte: Autores

 

    Para verificar se existe uma diferença significativa entre homens e mulheres, foi realizado um teste t de Student para amostras independentes com as diferenças em graus obtidas na Goniometria de cada participante entre ‘pré-teste’ e ‘pós-teste’. A normalidade dos dados foi avaliada por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov (K-S= 0,209, p> 0,05) e o pressuposto de homogeneidade de variância avaliado pelo teste de Levene (F (30)=1,532, p>0,05).

 

    Os resultados (Figura 6) demonstraram que pessoas do sexo feminino (M= 6,12; DP=1,36) e masculino (M=5,93; DP=0,884) não possuem uma diferença estatisticamente significativa (t (30)=0,447, p=0,658) na mobilidade articular do tornozelo, sendo que o tamanho de efeito da diferença foi baixo (d de Cohen = 0,158).

 

Figura 6. Comparação entre as médias das amplitudes antes e após a intervenção (IC de 95%)

Figura 6. Comparação entre as médias das amplitudes antes e após a intervenção (IC de 95%)

Fonte: Autores

 

    Como as variáveis ‘Idade’ (K-S=0,116, p>0,05) e ‘Diferença (graus)’ (K-S=0,239, p>0,05) apresentaram normalidade por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov foi aplicada uma correlação de Pearson para verificar se existe uma relação significativa entre elas (Tabela 1).

 

Tabela 1. Correlação linear

 

Idade (anos)

Diferença (graus)

Correlação de Pearson

-0,087

Valor-p

0,635

N

32

Nota: p<0,05. Fonte: Autores

 

    A correlação mostrou que a idade teve uma associação negativa e fraca com as diferenças da amplitude de movimento da articulação do tornozelo (r= -0,087, p>0,05) (Figura 7).

 

Figura 7. Correlação entre a Idade e a Diferença (graus) da ADM do tornozelo (p>0,05)

Figura 7. Correlação entre a Idade e a Diferença (graus) da ADM do tornozelo (p>0,05)

Fonte: Autores

 

    Sendo as variáveis “pré-teste’ e ‘pós-teste’ normalmente distribuídas verificou-se a existência de uma correlação muito forte e positiva entre essas variáveis (r= 0,961, p<0,001) (Tabela 2).

 

Tabela 2. Correlação linear

 

Pós-teste

Pré-teste

Correlação de Pearson

0,961

Valor-p

0,001

N

32

Nota: p<0,05. Fonte: Autores

 

    Dessa forma, foi realizada uma análise de regressão linear simples (Pearson) com o objetivo de investigar o quanto as medidas (graus) obtidas no goniômetro no ‘pré-teste’ explicavam as medidas (graus) obtidas no ‘pós-teste’ após a intervenção. O ‘pré-teste’ apresentou uma influência estatisticamente muito significativa no ‘pós-teste’ (F (1, 30)=359, p< 0,001; R²ajustado=0,92). O coeficiente de regressão B (B=1,039, [IC 95%=0,927 - 1,151]) indicou que, em média, o aumento de um grau no goniômetro no ‘pré-teste’ repercutiu um aumento de 1,039 grau no ‘pós-teste’ (Figura 8).

 

Figura 8. Regressão linear: pré-teste x pós-teste. (IC de 95%)

Figura 8. Regressão linear: pré-teste x pós-teste. (IC de 95%)

Fonte: Autores

 

Equação de Regressão: PÓS-TESTEestimada = 4,804 + 1,039 x PRÉ-TESTE

 

Discussão 

 

    As fáscias podem gerar limitação na amplitude de movimento através da perda da elasticidade e capacidade adaptativa fisiológica (Cruz et al., 2018). A intervenção utilizada no estudo foi capaz de atuar nestes tecidos moles, agindo como uma forma de terapia manual, aumentando a ADM da articulação na comparação entre o pré-teste e o pós-teste de forma significativa. Esses achados vão ao encontro de vários outros estudos que também demonstraram aumentos agudos da ADM do tornozelo (Grieve et al., 2022; Nehring, 2021; Skarabot, Beardsley, e Stirn, 2015; Souza et al., 2019). Além disso, o d de Cohen mede a magnitude da diferença encontrada entre as variáveis e, como regra geral, valores maiores que 1,2 nesse quesito já indicam uma grande diferença e o valor encontrado no estudo foi de 5,25.

 

    A ADM da dorsiflexão do tornozelo afeta várias atividades dinâmicas do corpo (Basnett et al., 2013). Essa limitação pode ser uma das causas da dor patelofemoral e de lesões nos joelhos. Pesquisadores mencionam a abordagem articulação por articulação, onde cada articulação ou grupo de articulações tem uma função específica (mobilidade ou estabilidade) e, também uma previsão de disfunção possível levando em conta esse conceito (Boyle, 2015; Teixeira, e Olney, 1997). A revisão sistemática de Grieve et al., (2022) verificou os efeitos da ALMF na ADM de tornozelo em adultos saudáveis. Os autores concluíram que há fortes evidências que sugerem a eficácia da ALMF utilizando rolo de espuma no aumento da ADM de tornozelo na população estudada num prazo de até 30 minutos. Essas informações reafirmam a importância e a significância dos resultados encontrados neste estudo, pois apenas uma sessão de ALMF e MA foi capaz de aumentar a ADM do tornozelo em dorsiflexão, em média 6,03 graus, comparando os dados pré e pós intervenção de toda a amostra.

 

    Pesquisas que relatam lesões em praticantes de CT chegaram à conclusão que as áreas mais comuns de lesão são os ombros, região lombar e joelhos (Weisenthal et al., 2014; Hak, Hodzovic, e Hickey, 2013). Os resultados obtidos neste estudo corroboram com os achados por Coelho et al. (2021) que demonstrou que trabalhos de MA para o tornozelo são capazes de aumentar a ADM, podendo prevenir futuras lesões causadas por limitação de ADM dessa região. Nesta perspectiva, apesar de não ter sido avaliado qualquer tipo de dor articular ou muscular neste estudo, os resultados também se mostram altamente relevantes, pois o aumento na ADM do tornozelo foi significativo e, segundo os estudos citados, o ganho de MA do tornozelo pode influenciar positivamente na melhora desse quadro e ainda ter efeitos profiláticos em possíveis lesões nos joelhos e região lombar.

 

    Na comparação entre os sexos, não foi encontrada diferença estatisticamente significativa entre eles e a variável idade possui uma associação negativa e fraca com as diferenças da ADM da articulação do tornozelo. Existe uma variação do ângulo articular no tornozelo e alguns possíveis fatores de interferência são o sexo e a idade (Cruz et al., 2018). Nossos achados demonstram que a intervenção se mostrou eficiente em aumentar a ADM da região do tornozelo, independentemente do sexo e idade.

 

    Uma correlação muito forte e positiva entre as variáveis pré-teste e pós-teste foi encontrada (r=0,961, p<0,001), sendo possível obter um coeficiente de regressão que consegue “prever” a medida do ‘pós-teste’ apenas com os dados do ‘pré-teste’. O coeficiente de regressão indicou, na média, que o aumento de um grau no goniômetro no ‘pré-teste’ significou um aumento de 1,039 grau no ‘pós-teste’.

 

Conclusão 

 

    A intervenção utilizada no presente estudo para ganho de ADM na articulação do tornozelo mostrou-se eficiente e vai ao encontro da nossa hipótese, que dizia que haveria aumento da ADM após a intervenção com LMF associada a movimentos de MA. A combinação proposta resultou em ganhos significativos ADM. Após uma única sessão da intervenção proposta, foi possível observar um aumento na ADM do tornozelo (média de 6,03 graus) sem diferenças significantes entre sexos e idades diferentes.

 

    Conforme os resultados encontrados e corroborando com os artigos citados, recomenda-se o uso da LMF associada a exercícios de MA para praticantes de CT para melhorar o padrão de execução dos exercícios propostos nos treinamentos, evitar possíveis lesões e melhorar possíveis quadros de dor, principalmente nos joelhos e região lombar.

 

    Sugere-se como nova pesquisa a utilização do protocolo utilizado na intervenção de forma contínua por um período maior de tempo para avaliação dos resultados obtidos de forma crônica.

 

Referências 

 

Arruda, G.A. (2010). Efeitos da liberação miofascial e idade sobre a flexibilidade de homens. Revista Terapia Manual, 8(39). https://www.researchgate.net/publication/258311269

 

Basnett, CR, Hanish, MJ, Wheeler, TJ, Miriovsky, DJ, Danielson, EL, Barr, JB, e Grindstaff, TL (2013). Ankle dorsiflexion range of motion influences dynamic balance in individuals with chronic ankle instability. International Journal of Sports Physical Therapy, 8(2). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23593550/

 

Beazell, J.R., Grindstaff, T.L., Sauer, L.D., Magrum, E.M., Ingersoll, C.D., e Hertel, J. (2012). Effects of a proximal or distal tibiofibular joint manipulation on ankle range of motion and functional outcomes in individuals with chronic ankle instability. Journal of Orthopaedic and Sports Physical Therapy, 42(2). https://doi.org/10.2519/jospt.2012.3729

 

Boyd, B.S. (2012). Measurement properties of a hand-held inclinometer during straight leg raise neurodynamic testing. Physiotherapy, 98(2). https://doi.org/10.1016/j.physio.2011.04.352

 

Boyle, M. (2015). Avanços no treinamento funcional. Artmed Editora.

 

Chisholm, M.D., Birmingham, T.B., Brown, J., MacDermid, J., e Chesworth, B.M. (2012). Reliability and validity of a weight-bearing measure of ankle dorsiflexion range of motion. Physiotherapy Canada, 64(4). https://doi.org/10.3138/ptc.2011-41

 

Coelho, B.A.L., Neves Rodrigues, H. L. das, Almeida, G.P.L., e João, S.M.A. (2021). Immediate effect of ankle mobilization on range of motion, dynamic knee valgus, and knee pain in women with patellofemoral pain and ankle dorsiflexion restriction: A randomized controlled trial with 48-hour follow-up. Journal of Sport Rehabilitation, 30(5). https://doi.org/10.1123/JSR.2020-0183

 

Cruz-Díaz, D., Hita-Contreras, F., Martínez-Amat, A., Aibar-Almazán, A., e Kim, K.M. (2020). Ankle-Joint Self-Mobilization and CrossFit Training in Patients With Chronic Ankle Instability: A Randomized Controlled Trial. Journal of athletic training, 55(2), 159–168. https://doi.org/10.4085/1062-6050-181-18

 

Grieve, R., Byrne, B., Clements, C., Davies, L.J., Durrant, E., e Kitchen, O. (2022). The effects of foam rolling on ankle dorsiflexion range of motion in healthy adults: A systematic literature review. Journal of Bodywork and Movement Therapies, 30. https://doi.org/10.1016/j.jbmt.2022.01.006

 

Hak, P.T., Hodzovic, E., e Hickey, B. (2013). The nature and prevalence of injury during CrossFit training. Journal of strength and conditioning research, Advance online publication. https://doi.org/10.1519/JSC.0000000000000318

 

Konor, M.M., Morton, S., Eckerson, J.M., e Grindstaff, T.L. (2012). Reliability of three measures of ankle dorsiflexion range of motion. International Journal of Sports Physical Therapy, 7(3). https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3362988/

 

Romero-Moraleda, B., López-Rosillo, A., González-García, J., e Morencos, E. (2020). Efectos del foam roller sobre el rango de movimiento, el dolor y el rendimiento neuromuscular: revisión sistemática / Foam roller effects on joint range of motion, pain, and neuromuscular performance: a systematic review. Retos, 38, 879–885. https://doi.org/10.47197/retos.v38i38.75532

 

Myers, T.W. (2009). Trilhos anatômicos: meridianos miofasciais para terapeutas manuais e domovimento (2nd. ed.). Elsevier.

 

Nehring, A., Serafim, TT, Silva, ER, Menezes, FS de, Maffulli, N., Sanada, LS, e Okubo, R. (2021). Effects of myofascial self-release on range of motion, pressure pain threshold, and hamstring strength in asymptomatic individuals: A randomized, controlled, blind clinical trial. Journal of Sport Rehabilitation, 30(6). https://doi.org/10.1123/JSR.2020-0166

 

Škarabot, J., Beardsley, C., e Štirn, I. (2015). Comparing the effects of self-myofascial release with static stretching on ankle range-of-motion in adolescent athletes. International journal of sports physical therapy, 10(2), 203–212. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4387728/

 

Souza, A. de, Sanchotene, C.G., Silva Lopes, C.M. da, Beck, J.A., Silva, A.C.K. da, Pereira, S.M., e Ruschel, C. (2019). Acute effect of 2 self-myofascial release protocols on hip and ankle range of motion. Journal of Sport Rehabilitation, 28(2). https://doi.org/10.1123/jsr.2017-0114

 

Teixeira, L.F., e Olney, S.J. (1997). Anatomia funcional e biomecânica das articulações do tornozelo, subtalar e médio-társica. Fisioterapia e Pesquisa, 4(2), 50-65. https://doi.org/10.1590/fpusp.v4i2.76132

 

Thornton, J., Sabah, S., Segaren, N., Cullen, N., Singh, D., e Goldberg, A. (2016). Validated Method for Measuring Functional Range of Motion in Patients with Ankle Arthritis. Foot and Ankle International, 37(8). https://doi.org/10.1177/1071100716645391

 

Tibana, R.A., Almeida, L.M., e Prestes, J. (2015). Crossfit® Riscos ou Benefícios? O que Sabemos até o Momento? Revista Brasileira de Ciência e Movimento, 23(1). https://doi.org/10.18511/0103-1716/rbcm.v23n1p182-185

 

Vieira, M.T., Soares, B.M., Gomes, I.P. da S., Favero, S.G., Silva, P. L. P. da, e Ocarino, J. de M. (2018). Medida clínica da rigidez passiva de tornozelo detecta diferença entre indivíduos sedentários e praticantes de musculação [Resumo]. Anais do Congresso Brasileiro da Associação Brasileira de Fisioterapia Traumato-Ortopédica - ABRAFITO. https://abrafitobr.com.br/wp-content/uploads/ANAIS_CONGRESSO20ABRAFITO20201720-20Copy2011.pdf

 

Weisenthal, B.M., Beck, C.A., Maloney, M.D., DeHaven, K.E., e Giordano, B.D. (2014). Injury rate and patterns among crossfit athletes. Orthopaedic Journal of Sports Medicine, 2(4). https://doi.org/10.1177/2325967114531177


Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 307, Dic. (2023)