Ocorrência de transtornos alimentares em acadêmicos do curso de nutrição
Occurrence of Eating Disorders in Nutrition Course Students
Presencia de trastornos alimentarios en estudiantes de un curso de nutrición
Denilson Gomes Silva*
dgsilva19@hotmail.com
Francisca Amanda Araújo Nunes**
amandanunesnutricao@gmail.com
*Mestre em Saúde da Família, Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Piauí
**Nutricionista, Centro Universitário INTA – UNINTA, Sobral, Ceará
(Brasil)
Recepção: 17/07/2018 - Aceitação: 15/09/2019
1ª Revisão: 10/05/2019 - 2ª Revisão: 10/09/2019
Este trabalho está sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt |
Resumo
Os transtornos alimentares são caracterizados pela preocupação excessiva com o peso e a imagem corporal, principalmente por jovens do sexo feminino. Estudantes de nutrição estão em contato constante com o alimento e tem a percepção que a boa aparência pode ser uma importante medida de valor pessoal rumo a uma profissão de sucesso. Trata-se de uma pesquisa descritiva, que foi realizada no Centro Universitário INTA – UNINTA. Amostra foi composta por 26 acadêmicos do curso de bacharel em Nutrição, cursando do 6º ao 9º semestre. A coleta de dados ocorreu em novembro de 2017; os dados foram coletados através da aplicação de um questionário, e também foi aplicado o Teste de Atitudes Alimentares versão português (TAA - 26), e realizada antropometria. Os resultados foram organizados considerando as informações e suas especificidades em gráficos. Em relação aos resultados, pode-se observar que os estudantes, a maioria 80,77% era sexo feminino, e somente 19,23% do sexo masculino. Quanto ao teste de atitudes alimentares, 26,92% dos universitários participantes possuem risco elevado para desenvolver transtornos alimentares. Já os estudantes que apresentam baixo risco ou nenhum para desenvolvimento de transtornos alimentares foram 73,07%. Foi possível verificar também que 73,09% da amostra dessa pesquisa responderam o teste, apresentando uma recusa patológica a comidas de alto valor calórico e preocupação intensa com a forma física. Ao questionar as estudantes se houve alguma mudança na sua forma de se alimentar durante o curso de Nutrição, 69,23% responderam que sim, afirmando que se preocupam com a qualidade dos alimentos consumidos. Os valores de Índice de Massa Corporal revelaram que a maioria da amostra encontra - se com sobrepeso. Portanto, os resultados encontrados nesse estudo são bastante expressivos, sendo que é preocupante o total de universitários do curso de Nutrição que estão insatisfeitos com o peso. Considera-se assim a necessidade de cuidados com a alimentação desta população no espaço acadêmico, principalmente por se tratarem de profissionais em formação na área da saúde.
Unitermos: Nutrição. Transtornos alimentares. Acadêmicos.
Abstract
Eating disorders are characterized by excessive preoccupation with weight and body image, especially by young females. Nutrition students are in constant contact with food and have the perception that good looks can be an important measure of personal value towards a successful profession. This was a descriptive study, which was carried out at INTA - UNINTA University Center. The sample consisted of 26 undergraduate students in Nutrition, from the 6th to the 9th semester. Data collection took place in November 2017. Data were collected through the application of a questionnaire, and the Portuguese version of the Food Attitudes Test (TAA - 26) was also applied, and anthropometry. The results were organized considering the information and their specificities in graphs. Regarding the results, it can be observed that the students being the majority 80.77% female, and only 19.23% male. As for the food attitudes test, 26.92% of university students are at high risk for developing eating disorders. Students with low or no risk for development of eating disorders were 73.07%. It was also possible to verify that 73.09% of the sample of this research answered the test, presenting a pathological refusal to foods of high caloric value and intense preoccupation with the physical form. When questioning the students if there was any change in their way of eating during the course of Nutrition, 69.23% answered yes, stating that they care about the quality of food consumed. The values of Body Mass Index revealed that the majority of the sample is overweight. Therefore, the results found in this study are quite expressive, and it is worrying the total number of undergraduate Nutrition students who are dissatisfied with the weight. Therefore, it is considered the need of care with the feeding of this population in the academic space, mainly because they are professionals in formation in the health area.
Keywords: Nutrition. Eating disorders. Students.
Resumen
Los trastornos alimentarios se caracterizan por la preocupación excesiva con el peso y la imagen corporal, principalmente en mujeres jóvenes. Los estudiantes de nutrición están en contacto constante con el alimento y tienen la percepción de que la buena apariencia puede ser una importante medida de valor personal hacia una profesión exitosa. Se trata de una investigación descriptiva, que fue realizada en el Centro Universitario INTA - UNINTA. La muestra fue compuesta por 26 estudiantes del curso de bachiller en Nutrición, del 6º al 9º semestre. La recolección de datos se realizó en noviembre de 2017; los datos fueron recogidos mediante la aplicación de un cuestionario, y también se utilizó la versión portuguesa Eating Attitudes Test (TAA - 26), y se realizó la antropometría. Los resultados fueron organizados considerando las informaciones y sus especificidades en gráficos. En cuanto a los resultados, se puede observar que los estudiantes, son en su mayoría (80,77%) del sexo femenino, y sólo el 19,23% del sexo masculino. En cuanto a la prueba de actitudes alimenticias, el 26,92% de los universitarios participantes tienen riesgo elevado para desarrollar trastornos alimentarios. Los estudiantes que presentan bajo riesgo o ninguno para el desarrollo de trastornos alimentarios fueron el 73,07%. Se verificó también que el 73,09% de la muestra de esa investigación respondía a la prueba, presentando un rechazo patológico a comidas de alto valor calórico y preocupación intensa con la forma física. Al preguntar a las estudiantes si hubo algún cambio en su forma de alimentarse durante el curso de Nutrición, el 69,23% respondió que sí, afirmando que se preocupan por la calidad de los alimentos consumidos. Los valores de índice de masa corporal revelaron que la mayoría de la muestra se encuentra con sobrepeso. Por lo tanto, los resultados encontrados en este estudio son bastante significativos, siendo que es preocupante el total de universitarios del curso de Nutrición que están insatisfechos con el peso. Se considera así la necesidad de cuidados con la alimentación de esta población en el espacio académico, principalmente por tratarse de profesionales en formación en el área de la salud.
Palabras clave: Nutrición. Trastornos de la alimentación. Estudiantes.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 24, Núm. 256, Sep. (2019)
Introdução
Os transtornos alimentares podem ser definidos como síndromes comportamentais, cujos critérios diagnósticos têm sido amplamente estudados nos últimos anos (Soares, Andrade, Rumin, Molina, 2009). A prática ou comportamento alimentar de um indivíduo pode ser entendida como todas as formas de convívio com os alimentos (Philippi, 2014), os distúrbios alimentares são a terceira causa de doenças crônicas na população jovem, já que esse público procura muito pouco os serviços de saúde. (Malta, 2014)
Os transtornos alimentares mais conhecidos são a anorexia nervosa e a bulimia nervosa. Ambos são caracterizados pela preocupação excessiva com o peso, principalmente por jovens do sexo feminino. Considerando a complexidade multifatorial relacionada ao aparecimento destes distúrbios, frequentemente há uma ideia negativa da imagem corporal, temor à obesidade e facilidade de adesão a diferentes métodos inadequados para o controle de peso (Silva; Oliveira; Nemer, 2012). Assim são susceptíveis ao seu desenvolvimento mulheres jovens, profissionais ligados à moda, nutricionistas, educadores físicos e universitários em geral. (Soares; Andrade; Rumin; Molina, 2009)
Ao ingressar no ensino superior, o universitário passa por uma série de mudanças no estilo de vida como, por exemplo, o estresse, omissão de refeições e dificuldade em preparar sua própria refeição devido à escassez de tempo, principalmente se houver concomitância entre trabalho e estudo, universitários tendem a substituir as refeições de qualidade por lanches rápidos, além da pouca disposição para atividade física. (Souza; Bastos; Oliveira, 2014)
Estudantes de nutrição estão em contato constante com o alimento e acham que a boa aparência pode ser uma importante medida de valor pessoal rumo a uma profissão de sucesso. Além disso, possuem conhecimentos quantitativos a respeito dos alimentos que podem usar para se manter de acordo com os rígidos padrões estéticos vigentes. Esses fatores sugerem que futuras nutricionistas se inserem em um ambiente favorável ao desenvolvimento de transtornos alimentares de características obsessivas, tal como a anorexia. (Soares; Andrade; Rumin; Molina, 2009)
Os transtornos de comportamento alimentar têm aumentado desde as últimas décadas do século passado. O conhecimento da suscetibilidade ao desenvolvimento de tais doenças em estudantes da área de saúde, em especial a Nutrição, é de extrema importância. Esta profissão remete a uma preocupação constante com a aparência física e a boa forma. (Silva; Oliveira; Nemer, 2012)
Está cada vez mais evidente, nas sociedades ocidentais, a supervalorização da magreza como padrão de beleza. O corpo magro passou a ser perseguido por um número cada vez maior de homens e mulheres por sua associação com atratividade sexual, sucesso, competência e felicidade. Por outro lado, o excesso de peso está cada vez mais associado com incompetência, fraqueza, descontrole e fracasso pessoal. Apesar disso, há uma grande variedade e disponibilidade de alimentos industrializados e de alto valor calórico que favorecem o aumento de peso e a obesidade. (Cruz; Stracieri; Horsts, 2011)
Quando a atuação verbal de caracterizar o corpo está sob direção discriminativa das imagens na mídia de consumo em detrimento do próprio corpo como referencial, têm-se um propicio para o fenômeno nomeado pela psiquiatria de distorção da imagem corporal (Vale; Elias, 2011). Segundo Magalhães (2011), a distorção da percepção corporal, ou seja, a representação do tamanho ou forma do corpo de maneira diferente da que pode ser avaliada por métodos objetivos, não constitui característica particular de pessoas que desenvolvem algum tipo de transtorno alimentar e se faz presente entre adolescentes e adultos de diferentes estratos da população, na atualidade. As influências socioculturais, as pressões da mídia e a busca incessante por um padrão de corpo ideal associado às realizações e felicidade estão entre as causas das alterações da percepção da imagem corporal, gerando insatisfação, em especial para indivíduos do gênero feminino.
Nesse contexto, a pesquisa torna-se relevante pois os acadêmicos de nutrição podem apresentar uma aproximação no desenvolvimento de transtornos alimentares, já que estão inseridos em ambientes que a imagem corporal é muito valorizada, e possuem um maior conhecimento em relação aos alimentos e nutrientes, isso deveria os tornar mais capacitados para lidar com os padrões de beleza imposto pela sociedade atual, no entanto, estes acadêmicos podem utilizar os conhecimentos técnicos para tentar alcançar o “corpo perfeito” direcionado pelos padrões da sociedade, e esse processo possivelmente irá acarretar em transtornos alimentares.
A prevenção e tratamento desses transtornos requer um acompanhamento de uma equipe multiprofissional, sendo que o nutricionista é o profissional qualificado para orientação alimentar e nutricional aos grupos de risco, assim, torna-se importante acompanhar o acadêmico de nutrição desde a sua formação teórica e prática.
Portanto, o seguinte trabalho teve como objetivo analisar a ocorrência de transtornos alimentares em acadêmicos do curso de Nutrição, de um centro universitário privado, localizado no município de Sobral, Ceará.
Metodologia
Nesta pesquisa, utilizou-se a abordagem quantitativa, descritiva. Segundo Marconi e Lakatos (2010), na pesquisa descritiva os fatos são observados, registrados, analisados, classificados e interpretados, envolve o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados: questionário e observação sistemática. Assume, em geral, a forma de levantamento de dados.
A abordagem quantitativa considera o que pode ser quantificável, o que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. (Kauark; Manhães; Medeiros, 2010)
O estudo foi desenvolvido em um centro universitário, localizado no município de Sobral, Ceará.Os participantes foram selecionados de acordo com a quantidade de alunos cursando disciplinas direcionadas ao acompanhamento de pacientes com patologias, de forma voluntária e aleatória, uma amostra de 26 acadêmicos.
Os dados da pesquisa foram coletados por meio de um questionário estruturado, que consta da caracterização dos participantes e possui três questões específicas e, logo após, foi aplicado o Teste de Atitudes Alimentares versão português (TAA - 26), que é um instrumento utilizado para o rastreamento de indivíduos suscetíveis ao desenvolvimento de Anorexia Nervosa e Bulimia Nervosa. No primeiro momento, foi aplicado o questionário estruturado que é composto de questões especificas, em que as respostas foram analisadas de acordo com a frequência que surgirem e foram comparadas entre si. No segundo momento, foi aplicado o TAA que foi analisado de acordo com a sua pontuação por questão, o ponto de corte estabelecido é de 20 pontos. Acima desse valor, os participantes foram classificados como grupo de risco ao desenvolvimento do transtorno alimentar e se a soma dos pontos for abaixo de 20, indica normalidade.
Considerando a disponibilidade dos participantes da pesquisa, foi solicitado que, após aceitação verbal, os mesmos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que obedeceu aos preceitos éticos e legais da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) /Ministério da Saúde (MS). (Brasil, 2012)
O projeto desta pesquisa foi apreciado pela Pró-Diretoria de Pesquisa e Pós-Graduação - PROPESP do Centro Universitário pesquisado, que expediu a carta de anuência e em seguida, efetuou - se o preenchimento e submissão dos protocolos da pesquisa na Plataforma Brasil, que foi assinado pela coordenadora do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) em Sobral – Ceará, mediante o parecer consubstanciado nº 2.416.745 e Certificado de Apresentação para Apreciação Ética – CAAE nº 68772017.0.0000.5053.
Diante do exposto, a pesquisa pode trazer benefícios, mesmo que não imediatos, com a divulgação dos resultados para a comunidade científica numa perspectiva de melhorar o ambiente universitário em relação a se ofertar locais para uma alimentação de qualidade e que os acadêmicos possam arcar financeiramente. As informações e orientações relacionadas com essa temática são relevantes para a sociedade que impõe um culto excessivo a magreza, sendo os transtornos alimentares uma prevalência nos dias atuais.
Resultados e discussão
A avaliação dos questionários que investigam a sintomatologia para rastreamento de transtornos alimentares, o TAA – 26, que indica a presença de padrões alimentares anormais e fornece um índice de gravidade de preocupações típicas de pacientes com transtorno alimentar, particularmente, intenção de emagrecer e medo de ganhar peso. Esses indicadores podem predizer a abertura de condutas impróprias na tentativa de “perda de peso” e da “busca do corpo considerado como ideal” (Cavalcanti, 2013). Considerou-se pontuação igual ou maior que 20 sugestiva de comportamento alimentar de risco para transtornos alimentares e menor de 20 ausência de risco para transtorno alimentar. Para os autores do TAA -26, um resultado maior que 20 pontos indica um teste positivo e o entrevistado poderá ser incluído em um grupo de risco, passando por entrevista clínica para averiguar se os critérios diagnósticos são totalmente preenchidos (Bighetti, 2003). Assim, obteve-se o seguinte gráfico.
Gráfico 1. Representação dos resultados por semestre do TAA - 26, aplicado aos participantes dessa pesquisa.
Ocorrência de transtornos alimentares em acadêmicos do curso de nutrição (Sobral, 2017)
Fonte: Pesquisa direta, 2017
É possível observar no gráfico acima,que 26,92% dos universitários participantes possuem riscos elevados para desenvolver transtornos alimentares, desse valor somente 3,84% são do sexo masculino. Ressaltando assim o que afirma a literatura, sobre a predominância de mulheres em cursos na área da saúde, e a preocupação constante com sua imagem corporal. Os estudantes que apresentam baixo risco ou nenhum para desenvolvimento de transtornos alimentares foram 73,07%. Assim como no estudo de Silva; Oliveira e Nemer (2012), em que o TAA - 26, obteve os valores de 21,7% das estudantes apresentaram alto risco de desenvolverem transtornos alimentares, e 41,7% apresentou baixo risco para transtornos alimentares. Segundo Alvarenga; Scagliusi e Philippi (2011), em sua pesquisa identificaram que 26,1% das universitárias brasileiras da área da saúde vêm apresentando risco de desenvolver transtornos alimentares com preocupações anormais com a alimentação e o peso corporal. Prevalências de alto risco de transtornos alimentares maiores do que 20% são preocupantes e apontam que bailarinos, modelos e profissionais da área da saúde, principalmente os nutricionistas, apresentam maior risco de desenvolvimento de transtorno alimentar. (Garcia; Castro; Soares, 2010)
Além disso, também é possível notar no gráfico 1, que a maior frequência de alto risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares envolve aqueles matriculados no 8º semestre do curso de Nutrição. Como afirma Soares; Andrade; Rumin e Molina (2009), ocorre a tendência sugestiva da elevação da ocorrência dos transtornos alimentares ao longo do desenvolvimento dos cursos de graduação. É plausível que a intensificação das exigências institucionais ligadas aos cursos de graduação contribua para esta elevação.
Ao avaliamos o TAA- 26 como sugere Bighetti (2003), por questões, em que cada questão apresenta seis opções de resposta, conferindo-se pontos de 0 a 3, dependendo da escolha (sempre = 3 pontos, muitas vezes = 2 pontos, às vezes e/ou poucas vezes = 0 pontos, raramente = 0 pontos e nunca = 0 pontos). As 26 questões estão divididas em três escalas ou fatores obtidas a partir de análise fatorial, cujos conceitos e números estão a seguir: (I) Escala da dieta itens nº 1, 6, 7, 10, 11, 12, 14, 16, 17, 22, 23, 24 e 25: reflete uma recusa patológica a comidas de alto valor calórico e preocupação intensa com a forma física; (II) Escala de Bulimia e preocupação com os alimentos itens nº 3, 4, 9, 18, 21, 26: refere-se a episódios de ingestão compulsiva dos alimentos, seguidos de vômitos e outros comportamentos para evitar ganho de peso; (III) Escala de controle oral itens nº 2, 5, 8, 13, 15, 19, 20: demonstra o auto–controle em relação aos alimentos e reconhece forças sociais no ambiente que estimulam a ingestão alimentar. Como pode-se observar no gráfico abaixo.
Gráfico 2. Representação dos resultados da análise do TAA- 26, de acordo com as escalas citadas acima.
Ocorrência de transtornos alimentares em acadêmicos do curso de nutrição. (Sobral, 2017)
Fonte: Pesquisa direta, 2017
De acordo com a análise das escalas, foi possível verificar que 73,04% da amostra dessa pesquisa responderam o teste com respostas pontuadas que conferem com a escala I que reflete uma recusa patológica a comidas de alto valor calórico e preocupação intensa com a forma física.Segundo a literatura, existe uma maior incidência de transtornos alimentares em estudantes de cursos universitários nos quais a aparência física é importante, como por exemplo, o curso de Nutrição. Segundo Cavalcanti (2013), acredita-se que pessoas que já são apreensivas com o seu porte físico podem optar por esta área justamente por já possuírem um interesse pessoal pelo assunto; porém, essa teoria ainda é controversa. A dieta para emagrecer é um dos fatores mais frequentes que originam os transtornos alimentares. É sabido que as mulheres jovens em sua maioria estão constantemente preocupadas com seu corpo, peso e alimentação (Cavalcanti, 2013). E isso se confirma, ao questionar as estudantes se houve alguma mudança na sua forma de se alimentar durante o curso de Nutrição, pois 69,23% responderam que sim, afirmando que se preocupam com a qualidade dos alimentos consumidos, e passaram a se preocupar mais com a saúde, e que aumentaram a ingestão de frutas e verduras.No entanto algumas alunas afirmaram que com o desenvolvimento da faculdade, não conseguiam se alimentar nos horários adequados e realizar todas as refeições diárias.
A pesquisa de Cavalcanti (2013), ressaltou que o aumento na tendência ocorreu devido as boas práticas alimentares aprendidas durante o curso ou se ao surgimento de algum tipo de transtorno alimentar, pois 81% dos alunos de nutrição do 7º semestre responderam “sim” nas respostas à pergunta livre formulada (Durante o curso de nutrição, você percebeu alguma diferença em relação a sua forma de se alimentar? Se sim, cite qual(is).). Essa elevada percentagem e as mudanças relatadas nas respostas à pergunta livre formulada ao 7º semestre podem ser consideradas positivas, visto que a maioria dos alunos relatou ter passado a ter uma alimentação mais saudável e adquirido hábitos mais saudáveis no decorrer do curso.
Mostrando assim que há uma preocupação com uma alimentação saudável, mas que essa adequada alimentação como citada nos parágrafos anteriores, não ocorre devido a vários fatores que acarretam uma graduação. Mas de acordo com Cavalcanti (2013), em sua pesquisa o curso de nutrição auxiliou na melhora dos hábitos alimentares dos alunos. No entanto Magalhães (2011), ao realizar a análise dos conteúdos das discussões focais de sua pesquisa, mostrou que as alunas desejam controlar o próprio corpo, pela alimentação, mas tem dificuldade para realizá-lo, apesar do conhecimento adquirido.
Os valores de IMC (Kg/m²), revelaram que a maioria da amostra (38,46%) encontra-se com sobrepeso (IMC > 24,9 Kg/m2). Como mostra o gráfico abaixo.
Gráfico 3. Representação dos valores em porcentagem do IMC da amostra.
Ocorrência de transtornos alimentares em acadêmicos do curso de nutrição (Sobral,2017)
Fonte: Pesquisa direta, 2017
Verificou-se na avaliação do estado nutricional como o gráfico acima mostra que 34,61% eram eutróficos (IMC=18,5 a 24,9 Kg/m2), 15,38% são desnutridos (IMC< 18,5 Kg/m2) e 38,46 % estão com sobrepeso (IMC > 24,9 Kg/m2) e 11,54% com obesidade (IMC> 30 Kg/m2).
A realização da avaliação antropométrica permitiu ampliar a análise da possível influência do estado nutricional no comportamento alimentar. A maioria dos estudantes que apresentaram TAA - 26 com valores iguais ou maior que 20 estavam segundo o IMC com sobrepeso. Com isso sendo possível analisar que o excesso de peso e de gordura corporal aumentou as chances de insatisfação com a imagem corporal e o risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares dos acadêmicos. A insatisfação com a imagem corporal apresentou associação com o estado nutricional, avaliado pelo IMC. Os autores observaram um aumento na insatisfação à medida que o IMC aumentava. (Martins; Pelegrini; Matheus; Petroski, 2010)
Apenas 16,66% da amostra foi considerada eutrófica com TAA - 26 acima de 20, ou seja, com risco elevado de desenvolvimento de TA. Os universitários eutróficos e insatisfeitos com a sua imagem corporal indicam uma preocupação exagerada com a estética corporal (Silva; Oliveira; Nemer, 2012). Houve prevalência de eutrofia (IMC=18,5 a 24,9 Kg/m2) em 30,77% entre os universitários com baixo ou nenhum risco para desenvolver TA.
Conclusões
Os resultados encontrados nesse estudo são bastante expressivos, devido à complexidade dos transtornos alimentares, sendo que é preocupante a prevalência do total de universitárias do curso de Nutrição que estão insatisfeitas com o peso e as dimensões corporais, indicando assim a necessidade de maior atenção à saúde desta população no espaço acadêmico, principalmente por se tratarem de estudantes da área da saúde.
Além dos valores encontrados nessa pesquisa estarem de acordo com a literatura, esse estudo também mostrou que as futuras nutricionistas com excesso de peso, apresentaram maior risco de estarem insatisfeitas com a sua imagem corporal, assim estando mais propícias a desenvolverem transtornos alimentares, e isso foi constatado com prevalência exatamente no penúltimo semestre do curso o 8º semestre, ou seja, universitárias, que em pouco tempo, estarão no mercado de trabalho. Entretanto, ainda fazem-se necessários mais estudos a respeito das causas ligadas ao surgimento dessa patologia, e das prováveis consequências da atuação profissional desses estudantes.
O nutricionista deve ser o profissional que consegue aderir a seus preceitos de uma alimentação saudável e adequada, ou seja, transformar em ação todos os conhecimentos sobre os diferentes aspectos da nutrição e alimentação adquiridos na sua formação acadêmica.
No entanto, o ato de se alimentar envolve vários aspectos da vida, pois uma alimentação saudável não depende apenas de ciência nutricional, tem a ver com cultura alimentar, sabor dos alimentos, convívio social, condições financeiras, sociais e psicológicas. Portanto, é fundamental que haja continuidade de pesquisas sobre relação dos alunos de nutrição e os TA para que ocorra o aprofundamento sobre o tema, suas causas, e essa tendência para o desenvolvimento de transtornos alimentares.
Referências
Alvarenga,
M. S., Scagliusi, F. B., Philippi, S. T. (2011). Comportamento de risco para
transtorno alimentar em universitárias brasileiras. Rev. Psiq. Clín. vol. 38, n 1, pp. 3-7.
Bighetti,
F. (2003). Tradução e validação
do eating attitudes test (EAT - 26) em adolescentes do sexo feminino na cidade
de Ribeirão Preto - SP. 101 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de
Enfermagem, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo,
Ribeirão Preto.
Brasil.
Ministério da Saúde (2012). Saúde Mental em dados-12. Informativo
eletrônico v. 5, n. 9.
Cavalcanti,
J. C. M. (2013). O desenvolvimento de
transtornos alimentares em estudantes de nutrição. 23 f. TCC (Graduação)
- Curso de nutrição, Faculdade de Ciências da Educação e Saúde, Centro
Universitário de Brasília – UNICEUB, Brasília.
Cruz,
A. C., Stracieri, A. P. M., Horsts, R. F. M. L. (2011). Percepção
corporal e comportamentos de risco para os transtornos alimentares em estudantes
de um curso de nutrição. Revista
Nutrir Gerais: Revista digital de
nutrição, Ipatinga, vol. 5, n. 9, pp.821-840.
Garcia,
C. A., Castro T. G., Soares R. M. (2010). Comportamento alimentar e imagem
corporal entre estudantes de Nutrição de uma universidade pública de Porto
Alegre- RS. Rev HCPA. vol. 30, n.3,
pp. 219-224.
Kauark,
F. S., Manhães, F. C., Medeiros, C. H. (2010). Metodologia
da pesquisa: um guia prático. Itabuna: Via Litterarum.
Magalhães,
P. (2011). Comportamento alimentar,
estado nutricional e imagem corporal de estudantes de nutrição: aspectos
psicossociais e percurso pedagógico. 163 f. Tese (Doutorado) - Curso
de Curso de Pós-graduação em Alimentos e Nutrição, Área de Ciências
Nutricionais, Universidade Estadual Paulista Faculdade de Ciências Farmacêuticas,
Araraquara - SP.
Malta,
D. C. (2014). Doenças Crônicas Não Transmissíveis, um grande desafio da
sociedade contemporânea. Ciência
& Saúde Coletiva, vol. 19, n. 1, pp. 4-7.
Marconi,
M. A. de, Lakatos, E. M. (2010). Fundamentos
de Metodologia Científica (7ª ed.). São Paulo: Atlas.
Martins
C. R., Pelegrini A., Matheus S. C., Petroski E. L. (2010). Insatisfação com a
imagem corporal e relação com estado nutricional, adiposidade corporal e
sintomas de anorexia e bulimia em adolescentes.
Rev. Psiquiatr. RS; vol. 32, n.1, pp.19-23.
Philippi,
Sonia Tucunduva (2014). Pirâmide dos
alimentos: fundamentos básicos da nutrição (2ª ed.). Barueri, SP:
Manole.
Silva,
J. D., Oliveira, A. V. K., Nemer, A. S. A. (2012). Influência do estado
nutricional no risco para transtornos alimentares em estudantes de nutrição. Ciência
& Saúde Coletiva, Ouro Preto, vol. 12, n. 17. pp. 3399-3406.
Soares, L.M., Andrade, A. P., Rumin, C. R., Molina, C.
M. G. L. (2009). Presença de transtornos alimentares em universitárias dos
cursos de Nutrição, Educação Física e Psicologia. Revista Omnia Saúde, Minas Gerais, vol.6,
n.1, pp. 1-13.
Souza,
J. V., Bastos, T. P. F., Oliveira, M. F. A. (2014).Perfil dos Alunos Universitários
dos Cursos de Educação Física e Fisioterapia em Relação à Alimentação e
a Atividade Física. Revista Práxis, Campo
Grande, v. 13, n. 11, pp.104-113.
Vale, A.M.O., Elias, L.R. (2011). Transtornos alimentares: uma perspectiva analítica comportamental. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva. São Paulo, vol. 13, n. 1, pp. 10-15.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 24, Núm. 256, Sep. (2019)