Avaliação do estado nutricional e evidências de 

dismorfismo corporal em acadêmicos de Nutrição e Psicologia

Evaluation of nutritional status and evidence of body 

dysmorphism in Nutrition and Psychology students

Evaluación del estado nutricional y evidencias de dismorfismo 

corporal en estudiantes de Nutrición y Psicología

 

Juliana Vieira Almeida Silva*

julianapsy@hotmail.com.br

Francieli Peixoto**

frazinhapeixoto@hotmail.com

Mirella Teixeira Souza Alves**

mirellah__@hotmail.com

Maria Verônica Zink***

mariaveronicazink@gmail.com

 

*Graduação em Psicologia. Mestrado em Administração pela Universidade do Vale do Itajaí

Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina

em Psicologia da Saúde, Processos Psicossociais

e Desenvolvimento Psicológico. Psicóloga Clínica desde 2001

**Graduada em Nutrição pela Universidade do Vale do Itajaí

***Graduada em Psicologia pela Universidade do Vale do Itajaí (2018) e possui Capacitação em 

Competências da Mediação Judicial através do Tribunal de Justiça de Santa Catarina

(Brasil)

 

Recepção: 31/05/2018 - Aceitação: 07/02/2019

1ª Revisão: 08/01/2019 - 2ª Revisão: 07/02/2019

 

Este trabalho está sob uma licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

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Resumo

    Atualmente, o padrão estético estabelecido é que todos os indivíduos devem ser iguais, procurando às vezes uma beleza inalcançável. Deste modo, alguns estão sujeitos a desenvolverem o Transtorno Dismórfico Corporal, que é um distúrbio caracterizado por uma insatisfação com a autoimagem, além de estar associado com um defeito minuciosa na aparência que comumente não existe. Com isso, o objetivo do presente estudo foi analisar o estado nutricional e preocupação com a aparência corporal numa população de 184 acadêmicos dos cursos de Nutrição e Psicologia de uma universidade comunitária de Santa Catarina, segundo os critérios do DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). Os procedimentos utilizados para coleta de dados foram questionários com variáveis sociodemográficas, bem como, perguntas relacionadas a prática de exercício físico compreendendo perguntas que envolvia, por exemplo, o fato de realizar dieta com orientação de um profissional. E ainda, questionário de múltipla escolha que envolviam questões sobre preocupação com algum aspecto da aparência, se havia comportamento repetitivo e se esta preocupação causava sofrimento. Para avaliação do estado nutricional, foi referido o peso e a altura para cálculo do IMC, visto que a maioria dos acadêmicos encontram-se eutróficos. A Escala de Silhuetas foi utilizada para os participantes identificarem qual imagem corporal se enquadravam e qual gostariam de ter, sendo observado que 27,72% estavam satisfeitos e 72,28% estavam insatisfeitos com a sua imagem atual. Após a análise estatística, observou-se que apenas 5,98% dos acadêmicos avaliados apresentavam os indícios do Transtorno Dismórfico. O curso de Nutrição apresentou mais resultados significativos nas correlações avaliadas ao ser comparado ao curso de Psicologia, em relação a não apresentar sofrimento em relação ao seu corpo, mesmo estando insatisfeitos e a maioria dos estudantes são eutróficos.

    Unitermos: Avaliação nutricional. Imagem corporal. Dismorfismo corporal.

 

Abstract

    Currently, the established aesthetic standard is that all people should be equal, looking sometimes for a unattainable beauty. Thus, some are subject to develop the Body Dysmorphic Disorder, which is a disorder characterized by a dissatisfaction with self-image, in addition to being associated with a detailed defect that does not exist. Therefore, the aim of this study was to analyze 184 academic courses of Nutrition and Psychology of a community college in Santa Catarina, the nutritional status and concern with body appearance, according to the DSM-5 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders). The procedures used for data collection were questionnaires on sociodemographic variables, as well as questions related to physical exercise and diet performed with professional orientation. Furthermore, it was proposed multiple-choice questions about concerns with some aspects of the appearance, if there was repetitive behavior and if this concern caused suffering. For assessment of nutritional status, it was referred weight and height to calculate BMI, as most academics are eutrophic. The Silhouette Scale was used for participants to identify which body image is framed and which would like to have, being observed that 27.72% were satisfied and 72.28% were dissatisfied with your current image. After statistical analysis, it was observed that only 5.98% of the evaluated academics showed indications of Dysmorphic Disorder. The course of Nutrition presents the most significant results in the correlations evaluated when compared to the course of Psychology, in relation to not presenting suffering in relation to their body, even being dissatisfied and most of the students are eutrophic.

    Keywords: Nutritional assessment. Body image. Body dysmorphism.

 

Resumen

    Actualmente, el patrón estético establecido es que todos los individuos deben ser similares, buscando a veces una belleza inalcanzable. De este modo, algunos están sujetos a desarrollar el trastorno dismórfico corporal, que es un trastorno caracterizado por una insatisfacción con la autoimagen, además de estar asociado con un defecto minucioso en la apariencia que comúnmente no existe. Con ello, el objetivo del presente estudio fue analizar el estado nutricional y preocupación con la apariencia corporal en una población de 184 estudiantes de los cursos de Nutrición y Psicología de una universidad comunitaria de Santa Catarina, según los criterios del DSM-5 (Manual Diagnóstico y Estadístico de Trastornos Mentales). Los procedimientos utilizados para la recolección de datos fueron cuestionarios con variables sociodemográficas, así como, preguntas relacionadas con la práctica de ejercicio físico que comprende cuestiones que involucran, por ejemplo, el hecho de realizar dieta con orientación de un profesional. Y además, cuestionario de múltiple elección que involucra cuestiones sobre preocupación con algún aspecto de la apariencia, si había comportamiento repetitivo y si esta preocupación causaba sufrimiento. Para evaluar el estado nutricional, se mencionó el peso y la altura para el cálculo del IMC, ya que la mayoría de los estudiantes son eutróficos. La Escala de Siluetas fue utilizada para que los participantes identificaran en qué imagen corporal se encuadran y cuáles deseaban tener, siendo observado que el 27,72% estaba satisfecho y el 72,28% estaba insatisfecho con su imagen actual. Después del análisis estadístico, se observó que sólo el 5,98% de los estudiantes evaluados presentaba los indicios del Trastorno Dismórfico. El curso de Nutrición presentó más resultados significativos en las correlaciones evaluadas, comparado con el curso de Psicología, en cuanto a no presentar sufrimiento en relación a su cuerpo, aun estando insatisfechos y la mayoría de los estudiantes son eutróficos.

    Palabras clave: Evaluación nutricional. Imagen corporal. Dismorfismo corporal.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 23, Núm. 250, Mar. (2019)


 

Introdução

 

    A busca incessante pelas medidas certas e o corpo perfeito, levam as pessoas a sofrerem com distúrbios ligados a preocupação excessiva com a aparência. Este distúrbio é conhecido como dismorfismo corporal, sendo descrito como um transtorno de ordem psicológica, que se caracteriza pela preocupação com uma deformidade ou por um defeito imaginário (Nascimento et al., 2012). Acredita-se então, que os mais afetados com este problema são os jovens, por estarem sempre preocupados se serão aceitos no meio em que desejam se relacionar.

 

    A percepção da imagem corporal pode ser determinada como uma ilustração do que se tem em mente acerca do tamanho, forma do corpo, dos sentimentos relacionados a essas características, bem como as partes que a constituem (Coqueiro et al., 2008). A distorção desta imagem está diretamente associada a dismorfia corporal, o que levam os indivíduos a dificuldades de relacionamentos sociais. Os comportamentos mais frequentes em indivíduos dismórficos, dependendo da situação, é de evitar ou checar sua imagem no espelho por inúmeras vezes e alguns tentam ainda camuflar-se, seja com roupas ou gestos. Este é um fator preocupante, pois quem tem esse transtorno pode até mesmo, cometer suicídio por não se aceitar (Pires et al., 2014).

 

    O estado nutricional e a imagem corporal são motivos para insatisfação de muitos jovens universitários, podendo ser entendido como um fenômeno de mudanças comportamentais. Parece existir entre este grupo uma excessiva busca pelos padrões de beleza que a sociedade impõe e que nem sempre são considerados saudáveis (Coqueiro et al., 2008). Sendo assim, um método muito utilizado para saber o estado nutricional é o valor estabelecido pelo Índice de Massa Corporal (IMC), um meio rápido, mas que não está relacionado com o nível de adiposidade do corpo.

 

    Do mesmo modo, a preocupação com a questão da alimentação, da imagem corporal e a probabilidade de transtornos alimentares é crescente. De acordo com universitários questionados em um estudo anterior, o percentual em relação à satisfação com o peso é baixa, enquanto os que não estavam completamente satisfeitos, equivale a 76%. Logo, a insatisfação corporal pode justificar o aumento do número de cirurgias plásticas, ingestão de laxantes e inibidores de apetites na tentativa de encontrar uma aparência adequada a parâmetros da sociedade (Costa et al., 2010).

 

    Nos últimos anos, ocorreu uma grande mudança com relação a figura corporal masculina e feminina, trazendo assim, uma padronização de um modelo do "corpo perfeito". As pessoas estão buscando se mostrarem com uma imagem que, na maioria das vezes, são influenciadas pela mídia, o que visam ser ideais para serem aceitas. É estabelecido um padrão estético, onde todos devem ser iguais e os indivíduos são classificados de acordo com o padrão físico em que se apresentam (Porto; Lins, 2009).

 

    Um meio de identificar o nível de satisfação da figura corporal é através da escala de silhuetas, o que leva em consideração a diversidade de etnias que existe na população brasileira com adaptações conforme o biótipo, as diferenças de gênero, faixa etária e aspectos culturais e sócio demográficos (Nicida; Machado, 2014). Esta escala auxilia na avaliação do grau quanto ao contentamento com a sua imagem, direcionando para condutas terapêuticas (Miranda et al., 2012). Além disso, constitui-se de um instrumento eficaz para avaliação do grau de insatisfação com o peso e as dimensões corporais, sendo estimado o que é percebido da própria imagem corporal (Kakeshita; Almeida, 2006).

 

    Os estudantes da área da saúde estão ainda mais suscetíveis à preocupação com a imagem corporal, podendo estar sujeitos a vários transtornos, inclusive o dismórfico; há evidências que, frequentemente, os acadêmicos de Psicologia costumam distorcer a sua imagem, apontando alguns fatores de riscos, entre eles, sociais e culturais (Discola; Almeida; Rebustini, 2007). Porém, existem poucos estudos, que tem como objetivo avaliar a preocupação excessiva com a figura corporal entre os universitários deste curso.

 

    O período em que os indivíduos frequentam a universidade os torna ainda mais vulneráveis a distúrbios nutricionais e psicológicos em decorrência do distanciamento de familiares, mudanças do meio social, ansiedade e estresse, no qual também pode estar associados a preocupações ou por muitas obrigações acadêmicas para cumprir. Um bom exemplo são os estudantes do curso de Nutrição, em média 6,2% destes, apresentam distúrbio de imagem corporal grave (Bosi et al., 2006).

 

    Assim, o objetivo deste estudo é analisar o estado nutricional e preocupação com a aparência com acadêmicos dos cursos de Nutrição e Psicologia de uma universidade comunitária de Santa Catarina, segundo os critérios do DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais)

 

Metodologia

 

    De acordo com os objetivos em que se propõe, trata-se de uma pesquisa quantitativa de caráter exploratória, o qual foi realizado com uma amostra de 184 acadêmicos dos cursos de Nutrição e Psicologia, matriculados regulamente em uma universidade comunitária de Santa Catarina. A população do estudo foi submetida à aplicação de um questionário com perguntas de múltipla escolha, no primeiro semestre de 2015.

 

    Na amostra utilizaram-se pessoas do sexo feminino e o masculino, as quais estivessem inscritas do primeiro ao sexto período dos referidos cursos, os demais períodos foram excluídos os alunos por se encontrarem em diferentes campos de estágios dificultando o acesso aos mesmos. E devido ao fato dos alunos poderem ter menos conhecimentos sobre o tema abordado, não influenciando assim os resultados.

 

    Os critérios de inclusão eram acadêmicos de 20 a 59 anos de idade, classificados como adultos, visto que após essa idade já é considerada população idosa, de acordo com o Protocolo do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Brasil, 2008), matriculados nos respectivos períodos mencionados anteriormente.

 

    Assim, foram excluídos da pesquisa, adolescentes e idosos, acadêmicas gestantes, bem como, àqueles que não responderam o questionário corretamente. A exclusão de adolescentes e idosos foi devido a Escala de Silhueta ser formulada apenas para a população adulta (de 20 a 59 anos); e as acadêmicas gestantes apresentam alterações corporais, conforme o estado em que se encontram.

 

    Os procedimentos utilizados para coleta de dados foi um questionário a partir dos critérios do DSM-5 (American Psychiatric Association, 2014) que está relacionado com a preocupação exagerada com um defeito ou falha na aparência física que não são notáveis, ou seja, não se torna perceptível para as demais pessoas. Antes da aplicação dos questionários, foi realizado o convite para participação dos alunos presentes na sala de aula e esclarecido o tema do estudo. Após isso, eles assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, comprovando que estavam dispostos a participar da pesquisa. Quanto ao questionário, foi elaborado pelas pesquisadoras, abordando variáveis sócio demográficas, como idade, estado civil, cidade na qual residem, profissão, peso, altura, prática de exercício físico e costume de fazer dietas frequentemente sem orientações de um profissional.

 

    Desse modo, ainda foi proposta questões de múltipla escolha a respeito do Transtorno Dismórfico corporal baseadas também nos critérios de diagnóstico do DSM-5 (American Psychiatric Association, 2014), entre elas, se apresentava preocupação com algum aspecto da aparência, frequência e descrição caso houvesse comportamento repetitivo, se a preocupação interferia em alguma área da vida e se causava sofrimento. Para que o acadêmico fosse identificado com indícios de ter o transtorno, o mesmo deveria apresentar alguns comportamentos relatados através do questionário, como preocupar-se com a aparência, apresentar comportamento repetitivo e referir sofrimento.

 

    Para avalição da imagem corporal (IC) foi utilizada a Escala de Silhuetas Brasileiras para Adultos (Kakeshita et al. 2009), que é composta por 15 silhuetas distintas. Assim, após ser entregue duas escalas, foi solicitado aos estudantes que indicassem a figura que melhor representava a sua figura corporal atual e, ainda que eles apontassem àquela que gostariam de ter. Logo, os estudantes foram classificados como satisfeitos ou insatisfeitos com a sua imagem corporal, de acordo com o que assinalaram na escala. Quanto mais próxima à variação estiver do zero, mais desejada é a estimação, sendo que a insatisfação corporal diminui. Quando os resultados se mostram negativos, conclui-se que há uma subestimação do corpo real e que a ansiedade é focada na silhueta de tamanho menor. Assim, quando os resultados apresentam positivos a silhueta maior se mostra mais desejada (Laus et al., 2013), Quando a variação entre a silhueta atual e a que gostaria de ter fosse igual a zero, classificou-se como satisfeito, e se diferente de zero insatisfeito.

 

    O estado nutricional foi avaliado mediante ao IMC, cálculo utilizado para verificar se o peso está de acordo com a altura (peso corporal dividido pela estatura ao quadrado), sendo utilizadas medidas referidas pelos próprios acadêmicos através do questionário. Conforme a classificação do IMC (Brasil, 2004) os estudantes, foram divididos em baixo peso (IMC < 18,5), eutrófico (IMC ≥ 18,5 e < 25), sobrepeso (≥ 25 e < 30) e obesidade (IMC ≥ 30).

 

    Posteriormente, os dados coletados na pesquisa foram tabulados em planilhas do Excel e analisados por metodologia estatística descritiva (média e desvio padrão) através do programa Epi Info. Vale ressaltar que este estudo foi apresentado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Itajaí, sendo aprovado com parecer n. 1.089.298 de 29 de maio de 2015.

 

Resultados

 

    A população do estudo foi composta por 184 acadêmicos, dos quais 92 alunos (50%) eram do curso de Nutrição e 92 (50%) do curso de Psicologia, sendo 84% do sexo feminino e 16% do sexo masculino (quadro 1). A média de idade dos acadêmicos corresponde a 26 anos. Em relação ao estado civil, observou-se que 70,65% dos acadêmicos eram solteiros, 27,72% eram casados e 1,63% eram divorciados. Ainda foi questionado sobre a profissão que exercem, mas a maioria dos universitários relataram apenas estudar (60,33%) e os demais tem ocupações diferentes na área comercial (39,67%).

 

Quadro 1. Dados sócio demográficos dos acadêmicos dos cursos de Nutrição e Psicologia

Dados socio demográficos

N

%

Sexo

Feminino

155

84

Masculino

29

16

Cidades em que residem

Itajaí

65

35

Balneário Camboriú

45

24,46

Itapema

10

5,43

Brusque

9

9,89

Navegantes

19

10,33

Outras cidades

36

19,33

Estado civil

Solteiro(a)

130

70,65

Casado(a)

51

27,72

Divorciado(a)

3

1,63

Profissão

Estudante

111

60,33

Empresário(a)

4

2,21

Auxiliar

8

4,42

Vendedor(a)

5

2,76

Outros

53

29,28

 

    Ao avaliar o estado nutricional, baseado no cálculo do IMC, observou-se que 6,52% estão em baixo peso, 72,83% são eutróficos, 16,85% encontram-se em sobrepeso e 3,80% são considerados obesos.

 

    Quando perguntado sobre se o participante praticava exercício físico, 57,61% responderam praticar e 42,39% negaram praticar algum tipo de exercício físico. Os que praticam exercícios, 23,58% realizam suas atividades até duas vezes na semana, 31,14% três vezes na semana e 45,28% quatro ou mais vezes na semana. As atividades realizadas são musculação/academia (48,12%), caminhada (18,86%), corrida (13,20%) e outras atividades como dança, remo, surf, entre outras (19,82%).

 

    Sobre o comportamento de fazer dieta, 38,04% assinalaram que sim e 61,96% negaram adotar este estilo de vida. Dos que relataram fazer dieta frequentemente, questionou-se se a mesma era feita sob orientação de um profissional com o conhecimento adequado, 44,28% responderam que sim e 55,72% disseram que não são orientados.

 

    Em relação a ter algum tipo de preocupação com a aparência, 61,41% alegaram preocupar-se e 38,59% relataram não ter nenhum tipo de preocupação. As preocupações citadas são relacionadas com o peso (30,98%), excesso de gordura abdominal (18,58%), aparência de modo geral (11,50%), preocupação com alguma parte específica do corpo (19,47%), além disso, foi relatado preocupação com o cabelo e pele (19,47%).

 

    No quesito de apresentarem comportamento repetitivo, como olhar-se no espelho repetidamente, arrumar-se mais de uma vez, trocar de roupa, medir a circunferência de partes do corpo, etc., 39,68% afirmaram ter este comportamento e 60,32% responderam que não apresentavam nenhum tipo de repetição. Sobre a frequência, 58,90% sempre realizam o comportamento, 5,47% raramente e 35,91% apresentam poucas vezes. Houve ainda, relatos da descrição deste comportamento, no que se observou que 67,12% olham-se no espelho frequentemente, 8,22% arrumam-se excessivamente, 10,96% trocam várias vezes de roupa ou optam por àquelas que não mostram muito o corpo, 2,74% sempre medem a circunferência da cintura, 5,48% se pesam todos os dias e 5,48% têm outros comportamentos como comparar-se com outras pessoas.

 

    Observou-se que dos acadêmicos entrevistados, 10,87% assinalaram que o comportamento repetitivo interfere e 89,13% negaram afetar em alguma área da sua vida. Um dos critérios adotados para indício do diagnóstico do Transtorno Dismórfico são se estes comportamentos e preocupações causam sofrimento ao indivíduo que o apresenta, sendo que 8,7% responderam que sim, 69,02% negaram e 22,28% disseram que às vezes.

 

    Os resultados demonstraram que existe uma baixa taxa de acadêmicos que se encontram satisfeitos com a sua imagem corporal. Segundo a escala de silhuetas, 27,72% assinalaram estar satisfeitos e 72,28% estão insatisfeitos com a sua imagem atual.

 

    Além disso, encontrou-se uma relação estatisticamente significativa entre a preocupação com a aparência e o resultado da escala de silhuetas em ambos os cursos, sendo Nutrição (r = 0,001; p <0,005) e Psicologia (r = 0,044; p <0,005), ou seja, acadêmicos que apresentaram preocupação com a aparência, também se mostraram insatisfeitos com a sua imagem corporal. Entre as variáveis, se a preocupação causaria algum sofrimento e o resultado da escala de silhuetas, apenas o curso de Nutrição apresentou resultados significativos (r = 0,002; p <0,005). Observou-se que a maioria dos estudantes (69,02%), não apresentaram sofrimento, mas estão insatisfeitos com sua imagem corporal.

 

    As variáveis de comportamento repetitivo e a escala de silhuetas quando relacionadas, apenas o curso de Nutrição apresentou valores significativos (r = 0,004; p < 0,005). Sendo assim, os acadêmicos deste curso que estão insatisfeitos com sua imagem, não apresentam nenhum tipo de comportamento repetitivo.

 

Em relação ao sexo e a classificação nutricional, apenas o curso de Nutrição apresentou resultados estatisticamente significativos (r = 0,028; p <0,005), pelo qual a maioria, tanto do sexo feminino quanto o masculino, encontram-se em eutróficos. Porém, constatou-se que no sexo feminino, houve um número maior de acadêmicas com baixo peso e sobrepeso.

 

    Quanto à adesão de dietas com relação ao estado nutricional (IMC), ambos os cursos apresentaram valores significativos, Psicologia (r = 0,002; p <0,005) e Nutrição (r = 0,011; p <0,005). No curso de Psicologia, os acadêmicos com baixo peso e eutróficos, não relataram fazer dieta, mas os alunos em sobrepeso e obesidade a maioria fazem dieta com frequência. Os dados de Nutrição apresentam-se semelhantes, observando que há mais estudantes que realizam estas.

 

    Identificou-se também, uma relação significativa entre a exercício físico e o estado nutricional dos acadêmicos de Nutrição (r = 0,045; p <0,005). Deste modo, os que se encontram em eutrofia e sobrepeso praticam mais exercício físico dos que se encontram em baixo peso e obesidade. Contudo, não foram encontrados resultados significativos no curso de Psicologia nas variáveis exercício físico e o estado nutricional.

 

    Quando relacionada as variáveis da classificação do estado nutricional (IMC) e resultado da escala, nenhum dos dois cursos obteve dados estatisticamente significativos.

 

    A respeito dos indícios de Transtorno Dismórfico Corporal, apenas 5,98% dos acadêmicos avaliados se encontraram dentro dos critérios que indicam este transtorno, sendo 6,52% do curso de Nutrição e 5,43% do curso de Psicologia.

 

Discussão

 

    O Transtorno Dismórfico corporal torna-se reconhecido por alguns critérios específicos, como preocupação excessiva com um defeito ou falha na aparência física que não são notáveis, sendo aparentemente leves para as demais pessoas. A maioria dos indivíduos portadores deste distúrbio apresentam comportamentos repetitivos, entre eles, olhar-se por inúmeras vezes no espelho, bem como, comparar a sua aparência com a de outros (American Psychiatric Association, 2014). Logo, alguns destes critérios surgem com frequência em estudantes que participaram do presente estudo.

 

    Assim sendo o estado nutricional e a imagem corporal são motivos para insatisfação de muitos jovens universitários, podendo ser entendido como um fenômeno de mudanças comportamentais (Coqueiro et al., 2008). Os dados referentes ao estado nutricional demonstram que os acadêmicos de Nutrição e Psicologia, em sua maioria (72,83%), estão classificados como eutróficos. Em um estudo realizado por Vitolo, Bortoline e Horta (2006), que avaliou a prevalência de compulsão alimentar em acadêmicos de diversos cursos, entre eles na área da saúde, corrobora com os dados encontrados, sendo que 77,77% dos acadêmicos entre eles os de Nutrição e Psicologia, também apresentavam-se eutróficos.

 

    Em relação a pratica de exercício físico evidenciamos que 57,61% dos acadêmicos praticam algum exercício físico, enquanto 42,39% dos estudantes são sedentários. Em trabalho semelhante realizado com estudantes do Rio Grande do Sul, que buscou avaliar percepção da autoimagem corporal, estado nutricional e prática de exercício físico, constatou-se que 66,7% dos estudantes do curso de Nutrição encontravam-se fisicamente ativos e apenas 6,7% eram sedentários. Não foram encontrados dados que relacionassem a prática de exercício físico em estudantes do curso de Psicologia. A exercício físico quando desenvolvida regularmente apresenta benefícios físicos e emocionais positivos, além de estar diretamente ligado à estética corporal, o que contribui para um maior conhecimento do indivíduo em relação ao seu corpo, gerando assim, o aumento da autoestima (Bracht et al., 2013).

 

    Atualmente, vem sendo feita uma associação entre beleza, sucesso e felicidade com um corpo mais magro, porém este pensamento tem levado as pessoas à prática de dietas abusivas e de outras formas não saudáveis para regular o peso (Laus; Margarido; Braga, 2009). Observou-se nos acadêmicos avaliados, que 38,04% adotam algum tipo de dieta e que 44,28% destes fazem dieta com acompanhamento profissional. Em estudo realizado no Vale do Araguaia, que avaliando o uso de medicamentos para perda de peso e índice de massa corporal em universitários, encontrou dados semelhantes, onde 47,38% dos acadêmicos relataram realizar algum tipo de dieta (Toledo; Castro; França; Ferrari, 2010).

 

    Foram também relacionados no presente estudo o estado nutricional e se os acadêmicos costumavam fazer dieta, identificando-se que em ambos os cursos, os acadêmicos em sobrepeso e obesidade relataram fazer mais dieta do que os que encontram-se em baixo peso e eutrofia. Sabe-se que o comportamento alimentar é um aspecto importante a ser avaliado, pois parece estar diretamente ligada a preocupação com o peso. Existem evidências que pessoas com transtornos alimentares apresentam também distorção da imagem corporal. E que uma dieta adequada e com acompanhamento de um nutricionista, auxilia no melhor desempenho físico, garante o aporte adequado de nutrientes e possibilita melhores resultados na perda de peso (Laus; Margarido; Braga, 2009).

 

    É visto que os indivíduos que apresentam o transtorno dismórfico, em sua maioria preocupam-se exageradamente com algum aspecto na aparência que é imperceptível ao olhar das outras pessoas (American Psychiatric Association, 2014). Entre os acadêmicos avaliados 61,41% referiram preocupar-se com algo de sua aparência e de acordo com as preocupações relatadas, identificou-se uma preocupação elevada com o peso (30,98%) e excesso de gordura abdominal (18,58%). Em um estudo realizado por Santos, Meneguci e Fontes (2008), foi constatado que acadêmicas de Nutrição apresentam uma preocupação maior com o peso, sendo também um dos motivos da escolha do curso. Porém, não foram encontrados estudos anteriores relacionando a preocupação com o peso dos acadêmicos do curso de Psicologia. Deste modo, a preocupação em excesso com o peso e a forma corporal torna-se preocupante, por estar relacionada com transtornos alimentares.

 

    Entre os indicativos do Transtorno Dismórfico, encontram-se também o comportamento repetitivo, sendo que estes comportamentos são resultados de alguma preocupação com a imagem corporal e podem causar algum tipo de sofrimento para o individuo que o apresenta. No presente estudo identificou-se que 30,97% dos indivíduos relataram ter o comportamento repetitivo, entre eles, os mais comuns foram olhar-se no espelho frequentemente e arrumar-se em excesso. Logo, foi constatado que 8,7% dos estudantes apresentaram sofrimento com relação a preocupação e 22,8% sofrem as vezes. Estes, ainda podem ser considerados como sintomas de transtornos de ordem compulsivos repetitivo, como o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). Estudo aponta que 8 a 37% das pessoas que possuem o transtorno dismórfico, tendem a ser portadoras do TOC. Esta informação torna-se relevante, já que o transtorno tem alto nível de preocupação com a imagem e baixa autoestima (Nascimento, Moreira, Lunal & Fontenelle, 2010).

 

    Quanto aos resultados obtidos da escala de silhuetas (figura 1), observou-se baixa incidência de acadêmicos satisfeitos com a sua imagem corporal (27,72%), sendo que 72,28% dos estudantes avaliados estão insatisfeitos com a sua imagem atual. Segundo resultados de um estudo realizado em uma universidade do Rio Grande do Sul, composta por 31 acadêmicos, concluiu-se que 51,7% dos estudantes apresentaram algum grau de distorção corporal (Bracht et al., 2013). Sendo relacionados o resultado da escala de silhuetas e a preocupação com a aparência, constatou-se então, que estes acadêmicos também estavam insatisfeitos com sua imagem corporal, segundo a escala.

 

Escala de silhuetas para adultos

Figura 1. Escala de Silhuetas para adultos proposta por Kakeshita et al. (2009), que são utilizadas para avaliação da imagem corporal.

 

    Em pesquisa realizada com intuito de identificar a insatisfação com a imagem corporal em acadêmicos de diversas áreas de conhecimento, foram encontrados resultados distintos, o qual indica que os acadêmicos apenas encontraram-se insatisfeitos, de acordo com a escala de silhuetas e não em relação ao preenchimento do questionário. Os indivíduos que apresentam alta insatisfação com sua imagem corporal estão suscetíveis a desenvolver transtornos alimentares, além de optarem por dietas inadequadas e prática excessiva de exercícios (Miranda et al., 2012).

 

    De acordo com os universitários avaliados, 5,98% retrataram indícios de Transtorno Dismórfico Corporal, conforme os critérios do DSM-5. Sendo assim, em um estudo de Bracht et al. (2013), demonstraram que de 31 acadêmicos avaliados, 6 (19,4%) apresentaram distorção da imagem corporal considerada leve e apenas 4 (12,9%) distorção moderada. Desse modo, os achados referentes à distorção da imagem podem estar relacionados ao transtorno, tornando maior o percentual de estudantes que não estão satisfeitos com o seu corpo. Em relação a população em geral, estudo demonstra que há prevalência de 0,8 a 1,7% do Transtorno Dismórfico. As pessoas que apresentam este transtorno tendem a ter baixo convívio social e gastam parte de seu tempo preocupadas com a aparência, além disso, buscam com frequência tratamentos estéticos para amenizar o desconforto com a sua imagem corporal (Nascimento et al., 2010).

 

    O presente estudo apresentou algumas limitações em relação aos dados presentes no questionário por tratar-se de respostas auto referidas, o que leva a informações subestimadas ou superestimadas, podendo interferir nos resultados, caso o participante estivesse sob influência de algum transtorno relacionado à imagem corporal. Assim, isto pode influenciar na fidedignidade dos resultados como, do IMC e da escala de silhuetas atual. Outra questão relevante é que essas informações referem-se a amostra pesquisada, não podendo ser generalizadas.

 

Conclusões

 

    Percebe-se então, que nesta pesquisa a maioria dos estudantes encontra-se com estado nutricional eutrófico, conforme a classificação do IMC e que existe um baixo indício de Transtorno Dismórfico Corporal entre os acadêmicos avaliados. Mas, ainda assim, os mesmos estão insatisfeitos com a sua silhueta atual, podendo ser analisada através da escala. Em relação aos cursos, observou-se que o curso de Nutrição apresentou mais resultados estatisticamente significativos nas correlações avaliadas ao ser comparado ao curso de Psicologia.

 

    Os achados reforçam a ideia de que os estudantes com estado nutricional adequados almejam atingir um padrão de magreza estabelecido pela sociedade. Tais questões devem servir de alerta, tendo em vista que estes fatores estão diretamente relacionados com outros tipos de transtornos alimentares, como consumo alimentar inadequado e excesso da prática de exercício físico. Assim, sugerem-se mais estudos com relação ao tema abordado e a promoção de campanhas de saúde que esclareçam dúvidas para a população sobre o assunto.

 

Referências

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 23, Núm. 250, Mar. (2019)